Rio Guaporé: uma joia do turismo rondoniense O Web Jornal Rondôniavip percorreu 1.250 quilômetros do rio, entre Guajará-Mirim e Pimenteiras durante 15 dias de viagem de barco e comprovou vocação para pesca esportiva. Reportagem especial de Felipe Corona, com fotos de Beethoven Delano/Cineamazônia. Rio Guaporé: uma joia do turismo rondoniense
O Rondôniavip embarcou em uma grande aventura com a equipe do Cineamazônia Itinerante, que percorreu 14 cidades, durante 15 dias de viagem pelos Rios Mamoré e Guaporé, entre Guajará-Mirim e Pimenteiras. A viagem começou no dia 29 de agosto e terminou em 12 de setembro e percorreu 1.250 quilômetros na fronteira natural entre Brasil e Bolívia.
No primeiro trecho da saga ficou a expectativa para chegar logo a San Lorenzo (Bolívia) e Surpresa, distrito pertencente a Guajará-Mirim. Logo após a cidadezinha, vem o belo encontro das águas entre os Rios Mamoré e Guaporé.
Logo após esse ponto, aportamos na vila quilombola Forte Príncipe da Beira, que abriga a construção história terminada em 1776 pelos portugueses e utilizada para defender o território contra a tentativa do domínio espanhol. Hoje, o lugar recebe visitantes de várias partes do estado, interessados em conhecer um pouco da história rondoniense. Alguns grupos de escolas também fazem excursões até o forte para conhecê-lo e respirar cultura.
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Pouquinho adiante, seguindo pelo rio e separadas por apenas 30 quilômetros, vem uma das principais cidades do Rio Guaporé: Costa Marques, com mais de 15 mil habitantes. Ela é o ponto principal de partida ou chegada para quem quer fazer uma das principais atividades da região, a pesca esportiva, cuja alta temporada acontece entre os meses de junho a novembro, que também é o período o verão amazônico. “Normalmente, vem gente de todo o Brasil, especialmente, São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Goiás e Brasília. Raramente tem grupos organizados de Rondônia viajam conosco, mas semana passada, ficamos 10 dias no rio com uma turma de Guajará-Mirim. Eles viajam despreocupados conosco e percorremos o trecho entre Guajará e Costa Marques”, afirmou João Torres, comandante de um barco que navega há vários anos pelas águas dos Rios Mamoré e Guaporé.
Ele explica ao Rondôniavip que existem verdadeiros “consórcios” organizados voltados para pesca esportiva em todo o país, que planejam a vinda durante um ano e sempre estão no Rio Guaporé. “Por exemplo, tem um grupo chamado Pesca dos Forgados, que é uns 30 homens de Goiás e Minas. Eles contam com três coordenadores que fazem o levantamento da despesa da viagem. A média do gasto por pessoa, com alimentação e bebida, ficou em 1.500 reais. A pessoa pode optar em pagar em uma parcela só ou dividir em cinco de 300 reais. Fica bacana e o cara só se preocupa com a vara de pescar e a passagem de avião até Porto Velho ou Ji-Paraná. Daí, eles vêm de táxi ou ônibus até Costa Marques e embarcam com a gente. Está tudo incluso nesse valor. Eles só precisam se mexer se a cerveja acabar”, disse Torres, aos risos.
Nessa época, o nível do Guaporé está muito baixo. Ainda há a fumaça provocada pelas queimadas, comum nas fazendas de criação de gado que estão na região do vale. Não foi raro o barco Canuto, que transportou o Cineamazônia Itinerante e o Rondôniavip, encalhar. Em outras duas oportunidades, por segurança, a embarcação não navegou a noite, por conta da falta de visibilidade do curso d’água, que também têm muitos bancos de areias e pedrais.
Belezas e dificuldades
Definitivamente, um dos pores-do-sol mais lindos de Rondônia está no Rio Guaporé. A lua cheia também fica incrível junto com o céu super estrelado nesta época de pouquíssimas nuvens no céu. Mas, tanta beleza tem o seu preço: em várias vilas, os atores principais não são as populações, e sim, as mutucas e piuns, bichinhos minúsculos, cuja picada é doída e coça bastante, criando pequenos hematomas vermelhos ou rosados.
Muitas vezes, nem um bom repelente dá conta de parar a sanha “picadora” desses pequenos vampiros, que nos colocam a fazer uma verdadeira coreografia com as mãos e pés. Um dos piores locais é no entorno do Forte Príncipe da Beira. À noite, nossa permanência só foi possível após o Exército jogar ao vento óleo diesel com uma máquina de fumacê, que espantou as nuvens com milhões de bichinhos.
Quem percorre estas paragens, até se acostuma com esses “pequenos” incômodos. “Tem gente que vem todos os anos ou pra quem pode a gente já avisa: pra ficar sossegado, só usando calça, camisa de mangas longas e botas. O repelente vai nas poucas partes que vão descobertas. Muitas vezes não funciona, pois até na beira dos olhos, os piuns picam. Mas, acho que paisagem compensa, pois muita gente reclama no começo. Depois que saem daqui, só falam bem”, disse Ivanildo Ferreira, um piloto de voadeira que nasceu praticamente dentro do Rio Guaporé.
Acesso e acomodações
O acesso é difícil para as pequenas comunidades, como o Quilombo de Santo Antônio, aonde só se chega com rabeta (canoa de madeira com motor de 5Hp), barco ou voadeira. Já o Quilombo de Pedras Negras, além de contar com uma confortável pousada com 10 quartos, ainda tem a facilidade de uma pista de pouso, disponível para quem tem condições de alugar um avião, fora o belo rio.
Com isso, as opções mais fáceis para chegada, partida e acomodações ficam em Costa Marques, Porto Rolim, Pimenteiras ou Cabixi. A primeira conta com linhas regulares de ônibus intermunicipais, táxis-lotação (que partem de Cacoal ou Ji-Paraná) e a BR-429. As outras três, têm estradas de acesso em boas condições de tráfego.
Para facilitar a vida de alguns, ainda há barcos, chalanas ou iates, como um que encontramos em pleno feriado de Sete de Setembro, com toda a estrutura para a comodidade dos hóspedes: salão climatizado para refeições, camarotes com ar-condicionado, banheiros, churrasqueira e várias voadeiras para aqueles que querem pescar em locais mais sossegados.
Costa Marques tem opções de pousadas e hotéis, junto com Porto Rolim, que conta com uma pista para pouso de aviões de pequeno porte. Pimenteiras também tem algumas opções de pousadas, mas simples, sem muito luxo. “Em Porto Rolim soube de uma pousada que a Ana Maria Braga vai lá todos os anos pescar. Ela vai de avião e aterrissa lá mesmo. Passa três, quatro dias só na tranquilidade, desligada do mundo”, afirmou Reinaldo Miranda, outro piloto de voadeira que também transporta pescadores e turistas pelo Guaporé.
Falando em se desconectar do mundo, se você é viciado em internet e redes sociais, prepare-se: na maioria das pequenas comunidades não há nenhuma possibilidade de ligação com a rede mundial de computadores ou até mesmo, sinal de telefone fixo ou celular. Isso só é possível em alguns municípios, como Costa Marques, Porto Rolim, Pimenteiras e Cabixi, por exemplo.
Apoio
Para alguns, falta mais divulgação e apoio de poderes públicos e até da iniciativa privada, que não investe mais em acomodações mais preparadas. “Raramente ouço alguém dizer que viu alguma matéria ou propaganda na televisão, jornal ou internet. Sempre é alguém que veio, gostou e comentou com os amigos e a família. Todos os anos, uma ou outra produtora de São Paulo entra em contato comigo para fazer filmagens da natureza. Não sei como conseguem meu telefone, mas me ligam. Também é difícil alguém que trabalha em algum governo ou prefeitura chegar com a gente e perguntar se a gente precisa de algum apoio ou ajuda. Quem está nisso é porque gosta muito e tem condições de continuar. Se você quiser entrar, tem que ter força de vontade e algum dinheiro, pois as distâncias encarecem muito os preços dos produtos”, destacou João Torres.
O Rondôniavip comprovou isso na prática. Uma caixinha com 12 latas de cerveja, de uma marca mais popular, que em Porto Velho pode custar 25 reais, em uma das comunidades ao longo do Rio Guaporé não sai por menos de 50 reais. Isso tudo por conta das dificuldades e opções de transporte. “Uma vez por mês, pego meu barco e vou até Costa Marques fazer compras. São quatro horas de voadeira e compro tudo que sai bastante: cerveja, refrigerante, açúcar, óleo, feijão, arroz e outras coisinhas. Gasto muito, então, tenho que repassar o preço. Se tivesse barcos que subissem e descessem o rio sempre, ficava mais fácil e barato pra todo mundo”, apontou Edivaldo Figueira, dono de um pequeno mercadinho próximo no Quilombo de Pedras Negras.
Mesmo com essas dificuldades, seja uma viagem mais curta ou longa, para passeio ou pesca esportiva, a viagem pelo Guaporé sempre vale a pena. Seja pelo pôr-do-sol ou pela noite enluarada e estrelada. Falta somente os próprios rondonienses descobrirem esse tesouro que está bem no quintal de casa, pois paulistas, mineiros, goianos, paranaenses e brasilienses gostam muito e voltam sempre.
FONTE RONDONIAVIP
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