O pastor Isac Santos em foto publicada no facebook que rendeu polêmica sobre evangelização de indígenas Irmã Aurora chora ao lembrar dos Irantxe Manoki, tribo indígena que vive no extremo norte de Mato Grosso. “Eu sou como uma mãe para eles” conta ela emocionada em entrevista ao Olhar Direto. As lágrimas são porque Aurora Figueiredo de Amorim não visita a tribo desde 2014, quando teve de abandonar a pregação no meio da floresta por falta de apoio financeiro da igreja onde congrega.
“Os índios tem sede de Deus, eles são necessitados, as pessoas acham que indígenas são bichos, ninguém se importa muito com eles. Eu oro dia e noite porque quero muito voltar. Eu os amo acima de todas as coisas e eles me têm como mãe”, reflete ela.
A evangélica diz que começou as missões depois que recebeu um chamado divino: “Um dia eu tive uma visão, sonhei que andava no meio de homens estranhos, que estavam seminus, mas na hora do sonho eu não entendi que era Deus me mandando pregar para eles”, narra. Em 2011 ela e o marido, Joares Amorim, iniciaram o trabalho missionário.
Desconfiança
A primeira parada foi em Brasnorte, à 552 km de distância de Cuiabá. O casal evangélico conheceu alguns indígenas no município que facilitaram a entrada deles nas aldeias. As primeiras visitas e os primeiros cultos foram tensos. Aurora relatou ter sido ameaçada de morte. “Eles tentaram me matar uma vez, porque quando eu cheguei começou a morrer índios e eles acharam que eu era amaldiçoada”.
Aos poucos, a comunidade passou a aceitar desatenta aquela religião estranha. Para aumentar a intimidade, os pregadores dormiam um dia em Brasnorte e passavam outros dois ou três na aldeia. “Tinha vezes que eles se irritavam e expulsavam a gente, e aí a Funai mandava a gente sair, se eles aceitassem que a gente voltasse nós voltávamos”, explica.
O clima de animosidade durou muito tempo e a história só mudou quando Aurora teve uma nova visão. “Deus me disse que eu deveria comprar balinha, irmão”, a missionária obedeceu. “No dia seguinte eu comprei logo cinco quilos de balinha, eu gritei bem alto que ia dar balinha e um monte de índio veio para ouvir a palavra de Deus”, acrescenta.
Assim Aurora foi ganhando a confiança da comunidade e de pouco a pouco conseguiu converter e batizar indígenas das tribos Irantxe Manoki, Enawenê-nawê e Parecis. Na aldeia dos Manokis, uma igrejinha foi construída e um índio convertido tornou-se cacique.
Debate religioso
O debate sobre evangelização de indígenas voltou à tona depois que o pastor goiano Isac Santo publicou uma foto em sua página pessoal em que comemora o batismo de índios Xavantes do município de Água Boa. A ação foi bastante criticada pelos internautas e a maioria das reações a imagem foi negativa.
A foto foi publicada no mês passado, mas Isac conta que até hoje tem recebido mensagens sobre o caso. A maioria, segundo ele, repleta de ameaças e xingamentos. Ele conta que aquela não foi a primeira vez que os Xavantes tiveram contato com líderes protestantes. “Outro pastor já tinha feito um trabalho lá eles há quatro meses nos pediam para serem batizados”.
Segundo Isac, os Xavantes procuram o evagelho porque a Bíblia lembra a eles uma vida fraterna e comunitária, muito próximo daquilo que eles viviam. Quando não havia contato com o homem branco e o alcoolismo e a violência não era um problema. “Eles são muito família eles vem no evangelho um resgate disso. Eles perceberam que a igreja vai ajudá-los na preservação da cultura”, afirma ele.
Na última cerimônia, 38 xavantes foram batizados. O pastor afirma que o número é muito pequeno, perto de uma população de mais de 15 mil pessoas. Apenas no município de Água Boa vivem aproximadamente 2 mil xavantes.
olhar direto
|