Regionais : PC investiga se promotor foi assassinado por milicianos ou se crime teve motivação passional
Enviado por alexandre em 16/01/2018 19:32:08


O promotor de Justiça Marcus Vinicius da Costa Moraes Leite, encontrado morto na manhã desta terça-feira ao lado do corpo da mulher, a servidora do Ministério Público estadual Luciana Alves de Melo, no apartamento do casal, na Barra da Tijuca, era um ferrenho combatente das milícias. Por quase 10 anos, ele atuou na promotoria de Campo Grande, na Zona Oeste, e há quatro meses, integrava o Grupo de Atuação Especializada e Combate ao Crime Organizada (Gaeco), justamente por conta da sua experiência contra este tipo de quadrilha.

Além dessa linha de investigação, policiais da Delegacia de Homicídios da Capital (DH) não descartam a hipótese de crime passional. O casal, segundo amigos, tinha um histórico de brigas por motivo de ciúmes. Chama atenção o fato de não haver sinais de arrombamento, nem de roubo no imóvel, que fica na Rua Coronel Paulo Malta.

Os dois corpos estavam na cama de casal, com a arma do promotor ao lado. A polícia ainda não sabe quem atirou, mas peritos pretendem fazer um exame nas mãos de Marcus Vinícius ou de Luciana, para saber se há vestígios de pólvora. A ideia é descartar, ou não, a hipótese de crime passional. Há indícios de que eles morreram na madrugada de domingo para segunda-feira. A filha do casal, de 9 anos, não estava no apartamento no momento do crime.

A última grande operação contra as milícias, na qual o promotor atuou, ocorreu em 23 de dezembro, junto com a DH Capital e a Coordenadoria de Combate a Corrupção e Lavagem de Dinheiro (CCC-LD). Na época, os investigadores forma cumprir 31 mandados de prisão e 42 de busca e apreensão, contra milícias da Zona Oeste, Costa Verde e Baixada Fluminense. A quadrilha é ligada ao miliciano Carlos Alexandre Braga, o Carlos Carlinhos Três Pontes, morto pela DH em abril do ano passado. Contra o bando, há acusações da prática de homicídios, extorsão, roubo, receptação, porte e posse ilegal de armas.

O casal costumava ser visto juntos malhando numa academia da Barra da Tijuca. A família de Marcus Vinícius sempre foi do município de Niterói. O pai do promotor, o violinista Carlos Fernandes de Carvalho Leite, o Carlinhos, que morreu em 2010 aos 86 anos, integrou o grupo original do Época de Ouro, fundado por Jacob do Bandolim, em 1965. Ele morreu de insuficiência respiratória.


Promotor encontrado morto defendia rigidez na Justiça e foi criticado por discriminação


O promotor encontrado morto ao lado da mulher, nesta terça-feira, na Barra da Tijuca, era defensor de uma Justiça rigorosa e punitiva, apoiava políticos conservadores e amava motocicletas e tatuagens. Uma varredura nas redes sociais de Marcus Vinícius da Costa Moraes Leite mostra que ele costumava curtir publicações de apoio à aplicação de um direito penal rígido. O promotor também aparece sorridente em fotos no perfil da mulher, Luciana Alves, achada morta ao lado dele.

"O presídio está lotado? F***-se. É só não estuprar, não sequestrar, não praticar latrocínio que tu não vai para lá p****", lê-se em uma publicação curtida pelo promotor, postada pela página "Bolsonaro Opressor 2.0", em janeiro do ano passado. Em outra postagem, de abril de 2014, Moraes Leite comentou que Jair Bolsonaro "é o cara".

Marcus Vinicius foi achado morto junto com sua mulher em um apartamento na Barra. Os dois tinham marcas de tiros, e uma arma foi encontrada no local, onde não havia sinais de arrombamento. Segundo a Delegacia de Homicídios (DH), as características encontradas apontam para homicídio seguido de suicídio. Não estão descartadas, porém, outras hipóteses.

No ano passado, Moraes Leite causou polêmica ao usar o termo "índios" como xingamento durante uma audiência pública promovida pelo Ministério Público do Rio. No evento, moradores de comunidades e policiais discutiam sobre segurança pública. Temas como a violência contra inocentes e a saúde dos agentes resultaram no acirramento de ânimos na reunião. Quando um dos participantes opinou que "os bandidos possuíam direitos demais", houve vaias e aplausos.

"Não tem respeito, só tem índio nessa porra!", gritou o promotor na tentativa de retomar o silêncio no recinto. Ele foi confrontado por representantes das comunidades, e a segurança do evento foi acionada para evitar troca de socos, segundo o site especializado "Conjur". O portal diz que, à época, ele não se manifestou sobre a acusação de discriminação.

Em junho de 2016, ele curtiu uma postagem de uma página de apoio à jurista Janaína Paschoal, conhecida por assinar o pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. A publicação, que reproduz uma declaração de Janaína, critica o abuso de autoridade e ressalta que este comportamento é o motivo pelo qual "o país está desse jeito".

Na maior parte das fotos abertas ao público no Facebook, o promotor mostra o seu amor por motocicletas e por tatuagens. Doze de seus grupos na rede social aludiam à venda e ao debate de amantes de veículos Harley-Davidson. Ele curtia fotos de amigos com o conservador Bolsonaro e posts de uma loja especializada em produtos militares.

A última movimentação em seu perfil foi em outubro do ano passado. Mas o promotor chegou a curtir a última foto da mulher, Luciana Alves, em 7 de janeiro, quando ela posou na piscina de um hotel no México. Embora não publicasse imagens com a companheira, Moraes Leite era figura constante nas redes dela. Até novembro, os dois posavam sorridentes em eventos de moto e em celebrações pessoais.

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