Por Daniel Haidar/El País Enquanto o mundo político debate as possíveis consequências legais das conversas de Deltan Dallagnol e Sergio Moro publicadas pelo site The Intercept, o procurador e o ex-juiz da Lava Jato, agora ministro da Justiça, repetem um discurso que lhes ajuda a conter os riscos de investigações na esfera criminal, o único tipo de cerco que poderia apreender seus telefones celulares e verificar a autenticidade dos diálogos vazados. Moro e Dallagnol, desde as primeiras conversas vazadas, afirmam que os diálogos poderiam ter sido adulterados por hackers que roubaram criminosamente as conversas. Afirmaram ainda que não podiam provar essa eventual adulteração porque apagaram os aplicativos do Telegram de seus celulares e, consequentemente, as mensagens. “Várias análises mostraram que os diálogos são falseáveis. A origem são pessoas acusadas de crimes, inclusive de falsificação, e quem tem o documento com os diálogos não o apresentou para verificação”, repetiu Dallagnol em entrevista à rádio CBN, na sexta-feira, após a prisão dos hackers suspeitos de ter tentado roubar dados de seu celular e de quase mil autoridades. Mesmo depois que o principal detido confessou o suposto crime à Polícia Federal e disse não ter alterado o conteúdo, o procurador de Curitiba segue repetindo que suas conversas podem ter sido mudadas e não é possível cotejar com as originais (ainda que não detalhe se apenas deixou de usar o Telegram no celular ou se apagou a conta em si no serviço, o que mudaria o tempo de armazenamento do conteúdo). O jornal El País, no entanto, obteve documentos da própria Operação Lava Jato e fez entrevista com o fornecedor de uma ferramenta utilizada pela Polícia Federal que demonstram que, sim, é possível recuperar, em muitos casos, mensagens apagadas do Telegram e de outros aplicativos. Tanto é possível resgatar mensagens deletadas de SMS, WhatsApp, Telegram e até de outros aplicativos que peritos da PF recuperaram várias conversas dos celulares de presos da Lava Jato. Desde o começo da megainvestigação em Curitiba, em 2014, a Superintendência da Polícia Federal no Paraná utiliza a tecnologia que executa a tarefa. Trata-se de um dispositivo eletrônico batizado de UFED (Universal Forensic Extraction Device), parecido a um microcomputador em formato de maleta, que foi vendido pela empresa israelense Cellebrite. O dispositivo, que também é oferecido como aplicativo para instalação em computadores ou notebooks, já foi vendido para outras unidades policiais do país. A ferramenta funciona da seguinte forma: uma vez apreendido o celular, basta conectar por cabo o celular à maleta ou ao computador com a ferramenta instalada. Pelo aplicativo da Cellebrite, o perito escolhe se faz a extração integral dos dados ou se produz relatórios específicos. A Cellebrite, no entanto, explica que nem sempre é possível recuperar mensagens deletadas de um aparelho celular. É preciso que os dados estejam acessíveis na memória interna do aparelho, que costuma deixar os dados registrados mesmo depois de deletados dos aplicativos, ou na nuvem de dados do aplicativo utilizado. Também é preciso que a versão do aplicativo da Cellebrite esteja atualizada para acessar os sistemas operacionais mais recentes dos aparelhos. A empresa israelense oferece novas atualizações à medida em que fabricantes como Apple e Samsung criam novos sistemas operacionais.
Oficializada nesta quarta-feira (31), pelo ministro da Saúde Henrique Mandetta, a opção pelo nome Médicos pelo Brasil, em substituição ao Mais Médicos, reforça a escalada do governo do presidente Jair Bolsonaro para substituir as principais marcas das gestões dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, do PT, no governo federal. Alterações como essa já foram sinalizadas pelo Planalto em relação ao programa habitacional Minha Casa, Minha Vida (que também terá um novo nome), ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e até à Lei Rouanet, sancionada durante a gestão de Fernando Collor de Mello e mesmo assim associada às administrações petistas pelo presidente Jair Bolsonaro. Agora, a ordem é tratar a legislação como Lei de Incentivo à Cultura, sem menção ao sobrenome do idealizador, o diplomata Sérgio Paulo Rouanet. O mesmo tratamento dado ao Mais Médicos será dedicado ao Minha Casa, Minha Vida pelo Ministério do Desenvolvimento Regional, sob o comando do ministro Gustavo Canuto. As mudanças vão abranger o nome — já foram ventilados os novos Casa Brasil ou Casa Brasileira — assim como as regras para beneficiários. Uma das intenções da pasta é reduzir o espectro de famílias beneficiadas com as vantagens habitacionais: hoje, são contempladas as que têm renda mensal até R$ 9 mil, com faixas de benefícios diferentes para o financiamento de imóveis. Na nova versão, o limite abrigaria famílias com renda de até R$ 6,9 mil (o equivalente a sete salários mínimos). Está prevista também uma divisão do programa em duas vertentes: as casas cujos habitantes têm renda baixíssima não seriam alugadas com custos, enquanto as que forem ocupadas por pessoas de renda baixa e média terão aluguéis baixos transformados em uma “poupança imobiliária” para adquirir o imóvel. No caso do PAC, o Ministério da Economia não pretende aceitar novos projetos a serem construídos com os recursos do projeto, conforme noticiado pela “Folha de S. Paulo” e pelo jornal O Globo. O programa era uma das principais bandeiras petistas desde o lançamento, em 2007, e chegou a ganhar uma segunda versão em 2011. Agora, o objetivo é financiar apenas as obras já iniciadas. Para garantir que isso aconteça, um novo repasse foi liberado no início deste mês, voltado para construções paralisadas que tenham orçamento de até R$ 10 milhões. Além do esvaziamento de recursos, uma das principais apostas exibidas na vitrine do PAC, a construção da usina nuclear de Angra 3, será retomada em parceira com a iniciativa privada dentro do escopo de outra iniciativa, o Programa de Parcerias e Investimentos (PPI), criado pelo ex-presidente Michel Temer (MDB). Tentativas de reciclar programas de gestões anteriores não são, no entanto, exclusividade do governo Bolsonaro. Temer, por exemplo, já havia tentado substituir o PAC pelo programa Avançar, em 2017. O mesmo fez Lula com o Bolsa Família, resultado de políticas implementadas pelo antecessor, Fernando Henrique Cardoso.
O Globo O presidente Jair Bolsonaro adiou, por recomendações médicas, o seu plano de saltar de paraquedas. O desejo, revelado no mês passado, já estava desenhado e incluiria um pouso na água, em uma represa em Goiânia, para diminuir os riscos. Agora, deve ficar para o próximo ano, contou o presidente ao jornal O Globo na terça-feira em seu gabinete no terceiro andar no Palácio do Planalto. Na mesma conversa, o presidente contou que, em vez de gel, usa laquê no cabelo. Na entrevista exclusiva, Bolsonaro, ao ser questionado se suas falas recentes, alvos de críticas e contestação, são planejadas ou apenas resultado de impulsividade, respondeu que é “assim mesmo” e “não tem estratégia.” O mesmo vale para seu ímpeto aventureiro, o que tem exigido capacidade extra de sua segurança para lidar com imprevistos, como o passeio de moto no litoral de São Paulo e a decisão de pilotar um jet-ski em Goiânia. O salto de paraquedas é o único arroubo até aqui que foi postergado. Neste caso, não porque os apelos do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) foram atendidos, mas por determinação do cirurgião geral Antonio de Macedo, médico que cuidou da recuperação do presidente após a facada em setembro de 2018, durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG). — Não desisti. O Dr. Macedo (cirurgião) pediu para esperar mais um pouco. O pouso seria na água, mas, mesmo assim, ele acha que ainda tem risco, disse Bolsonaro. Procurado, o médico confirmou a determinação. — A recomendação é apenas por questão de prudência. Ele está com estado físico e saúde ótimos, mas é desaconselhado o salto devido ao impacto ao pousar com cirurgia recente, disse Macedo, mencionando o fato de o presidente ter passado por três cirurgias em menos de um ano, a última em janeiro. O presidente disse que a vontade de saltar não é em busca de mídia, mas deve-se ao fato de ter integrado a Brigada Paraquedista do Exército. Ele revelou ainda que, na semana passada, entrou em túnel de vento que simula saltos no Comando de Operações Especiais do Exército, em Goiânia. Segundo Bolsonaro, a aventura foi registrado em vídeo, mas ainda está em sigilo. — Não faço isso para me aparecer, eu sou paraquedista. Não tem risco. Fiz isso a vida toda, alegou. ‘Eu uso laquê’ A revelação foi mais uma feita na conversa de 15 minutos. A entrevista não estava agendada, mas Bolsonaro, após participar de um evento no Planalto, atendeu ao pedido da repórter e autorizou que o acompanhasse até o gabinete. Imediatamente, sem ouvir seus auxiliares da área de comunicação, pediu que os seguranças liberassem a repórter para acompanhá-lo. O diálogo não pôde ser gravado. Na entrada do gabinete, os celulares e a bolsa da repórter tiveram que ficar guardados. Entretanto, Bolsonaro, que havia dito que não daria entrevista, emprestou a própria caneta Bic para que suas declarações fossem anotadas. Na semana em que cortou o cabelo durante uma transmissão ao vivo na internet, Bolsonaro, de bom humor, ainda fez outra revelação ao ser questionado se havia parado em uma farmácia na cidade de Itatiaia, durante a campanha eleitoral, para comprar um gel de cabelo antes de ir para uma cerimônia de formatura de cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman): — Não é gel. Eu uso laquê.
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