O ministro da Educação voltou a criticar a escolha de Paulo Freire como referência de ensino brasileiro. Abraham Weintraub afirmou, em entrevista à rádio Jovem Pan, que ‘não tem raiva dele’.
— Tem até um mural muito feito dele no MEC que está lá assustando a criançada que passa por lá. Isso que ele é mundialmente conhecido, veja, a aspirina foi feita pelos nazistas. Eu uso, porque? Funciona — afirmou o ministro.
Nesta tarde, ele postou uma foto no Twitter uma foto do mural. “É ou não é feio de doer?”, escreveu o ministro.
Wintraub também compartilhou um tweet do deputado federal Carlos Jordy com um vídeo da entrevista em que ele fala de Paulo Freire. Na legenda, afirma que é uma “pena que perdemos tempo neste fetiche da esquerda”.
Na entrevista, Abraham Weintraub afirma que o MEC sugere o método de alfabetização fonético, mas que libera qualquer outro que tenha “critérios científicos comprovados”.
— Se o Paulo Freire fosse tão bom, ia ter mais um país usando o método dele. Coisa boa a gente copia e não tem nenhum país fora o Brasil que fala que o Paulo Freire é o modelo dele de educação. Onde tem? — questiona.
O livro “Pedagogia do oprimido”, de Paulo Freire, é a única obra brasileira a aparecer na lista dos 100 mais pedidos pelas universidades de língua inglesa, segundo o projeto Open Syllabus, que reúne dados do mundo acadêmico.
Além disso, é a terceira pessoa mais citada em todo o mundo no campo de Humanidades, de acordo com Google Scholar.
— E daí que ele recebeu o título de Doutor honoris causa (de Harvard)? O Lula também recebeu e tá preso, tá na cadeia, tá enjaulado — afirmou Weintraub à rádio.
As ideias do educador estão presentes nas principais universidades do mundo. No curso “Poder e Pedagogia: Indivíduo, Sociedade e Transformação”, ministrado pelo professor Houman Harouni na Universidade de Harvard, os trabalhos de Paulo Freire são um dos assuntos centrais de estudo.
Em discurso de cerimônia da pós-graduação em educação de Harvard (HGSE), em maio de 2018, o orador John Silvanus Wilson, que trabalhou no Departamento de Educação dos Estados Unidos e no Massachusetts Institute of Technology (MIT), foi aplaudido quando mencionou Paulo Freire.
Não é difícil encontrar o pensador brasileiro em outras renomadas universidades. Oxford tem um projeto de pesquisa chamado “Conhecimento para a libertação? A visão participativa de Freire, Fals-Borda, e Rahman”.
Em Cambridge, o professor Peter Roberts apresentou um seminário intitulado “Sonhos possíveis: Paulo Freire e a educação utópica”.
O professor Jason Stanley, em Yale, ministra o curso “Propaganda, Ideologia e Democracia”, em que a principal obra de Freire, “Pedagogia do oprimido”, integra a bibliografia. O livro, traduzido para mais de 20 idiomas, é o terceiro mais citado em artigos acadêmicos na área de humanas no mundo, de acordo com levantamento do professor Elliott Green, da London School of Economics.
Na Universidade Stanford, as obras de Freire compõem a bibliografia de vários cursos, como em “Equidade e Escolaridade” e “A centralidade da alfabetização no aprendizado e ensino”.