Regionais : ‘‘Vaquinha’’ virtual e doações de amigos e parentes custeiam procedimento de paciente negligenciada pelo Hospital de Base
Enviado por alexandre em 13/08/2019 23:24:11

Elvanir Marques, de 30 anos, não conseguiu fazer o exame de Colangiopancreatografia Retrógrada Endoscópica (CPRE) na unidade de saúde pública porque o aparelho não estava funcionando

Porto Velho, RO – A família de Elvanir Alves Araújo Marques, de 30 anos, não quis esperar o desfecho trágico que atingiu em cheio a vida de Luciene Gomes, a grávida de Jacy-Paraná.

Luciene, mesmo após pedir socorro a amigos dentro do Hospital de Base, acabou morrendo no começo de agosto na condição de interna do nosocômio público.

“Fatalidade”, disseram os médicos responsáveis em coletiva de imprensa.

O caso foi tratado no editorial do jornal eletrônico Rondônia Dinâmica do último sábado (10).

RELEMBRE
Governo de Rondônia precisa se responsabilizar pela morte de paciente grávida no Hospital de Base

Em relação a Elvanir, o roteiro seguia linha semelhante. Já internada, chegou a enviar mensagem ao marido, o estudante de fisioterapia Rudson Marques, em tons de desespero e despedida: e o mau presságio tinha, de fato, razão de existir.

Pressionada tanto emocional quanto psicologicamente, a vendedora de doces e salgados chegou ao ápice da angústia ao dizer, em mensagem de texto encaminhada via WhatsApp ao companheiro, que não seria “vontade de Deus” a obtenção da cura.

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– Me fale tudo, meu amor.

– [...] acho que não é a vontade de Deus que eu me cure.

– Eu acho que Ele não quer.

– Ele tem um plano maior. E eu vou perder vocês [aqui, a paciente inclui o filho do casal].

– Mas eu não queria isso.

– MEU AMOR.

– Eu quero cuidar de vocês.

– Eu amo tanto vocês.


As mensagens de fundo verde foram enviadas por Elvanir de dentro do HB

O problema de Elvanir Alves está ligado à obstrução da bile em decorrência de cálculos na vesícula. E ela estava internada no Hospital de Base justamente a fim de fazer a cirurgia de retirada do órgão.

Após realizar exames, houve mudança de planos: a paciente teria de passar antes da intervenção cirúrgica por um procedimento denominado como Colangiopancreatografia Retrógrada Endoscópica (CPRE). 

O problema é: a máquina que realiza a CPRE estava quebrada.

Rudson Marques recorreu ao Ministério Público (MP/RO) enquanto sua esposa chegou a vomitar sangue no hospital público com problemas sérios de digestão, especialmente após a colocação de uma sonda alocada no trato intestinal. Elvanir não conseguia sequer ingerir água sem passar mal, e a situação, ainda de acordo com o marido, piorou após a inserção da sonda.

 “No MP/RO fui bem atendido. Mas a pessoa que me recebeu informou sobre a existência de uma ação coletiva contra o HB, e que a unidade de saúde teria 90 dias para arrumar o aparelho onde é realizado a CPRE. Então, ficamos de mãos atadas”, declarou à reportagem.

Abaixo, Rondônia Dinâmica reproduz a íntegra do relato apresentado pelo marido. Antes da veiculação desta notícia, a reportagem tentou contato via telefones institucionais com a direção do HB e também diretamente na Secretaria de Estado Saúde (Sesau/RO), gerida pelo médico Fernando Máximo, para que a instituição e a pasta pudessem apresentar suas respectivas versões sobre os fatos narrados pela família de Elvanir Alves: não houve retorno, vez que as chamadas sequer são atendidas.

O espaço continua aberto para eventuais esclarecimentos.


Elvanir Alves Araújo Marques está traumatizada pelo atendimento recebido o HB

O relato do marido

Segundo Rudson Marques, sua esposa foi internada no dia 25 de julho no Hospital de Base já com a intenção de fazer a cirurgia. Quando chegou no momento de operar, o médico responsável a avaliou e percebeu que Elvanir ostentava na pele e nos olhos tons amarelados, denotando, a princípio, sintomas de amarelada icterícia.

“Ele disse: ‘Olha, não vou fazer tua cirurgia porque praticamente vou te abrir no escuro, já que está ocorrendo alguma outra coisa e a gente não sabe o que é’”, asseverou.

A paciente fez exames como ressonância magnética e a ultrassom do abdome total: entre um exame e outro não demorou sequer cinco minutos, mas, neste interim, o médico teria ido embora alegando não ter condições de esperar.

“Acabou que a ultrassom foi feita no dia seguinte. Ela ficou internada, identificaram a pedra e marcaram a cirurgia para sexta-feira. Passou uma semana. Na segunda semana de internação minha esposa começou a passar muito mal, porque tudo o que comia, voltava. Então colocaram uma sonda nela. Quando colocaram a sonda, ela piorou muito. Vomitou muito, pediu para tirar a sonda. Uma enfermeira foi muito ignorante com ela, quem a tratou como se fosse filha foi uma técnica”.

Quando retiraram a sonda, ainda de acordo com os fatos narrados por Rudson,  Elvanir passou a vomitar sangue, e o desespero, então, só aumentou.

Uma médica apareceu para atendê-la no domingo e sacramentou:

“Olha, a gente não tem mais o que fazer. A gente está até pensando em te dar alta”, reproduziu o companheiro da paciente.

 “O que a gente fez? No domingo à tarde tiramos ela do hospital. Porque já estavam querendo dar alta. Depois houve uma sucessão de coisas erradas. Chamaram minha mulher de mentiroso, disseram que ela já fez a cirurgia, enfim, horrível”.

Rudson Marques diz que a divulgação do caso através da página Humor em PVH foi imprescindível aos desdobramentos positivos. O próprio HB ligou para ele e informou a compra do equipamento.

 

Campanha em página de humor mobilizou população para ajudar paciente a fazer o procedimento CPRE

 

“Agora? Depois de 18 dias? Depois que há má repercussão nas redes sociais o ‘negócio’ aparece assim?”, questionou.

Mesmo com o equipamento de volta à unidade pública, Elvanir Alves passará pela CPRE hoje, ao meio-dia, no Hospital 9 de Julho.

A família só conseguiu realizar o procedimento por causa da ajuda de pessoas que se engajaram à causa pulverizada incialmente na página Humor em PVH.

A irmã relatou à redação que uma “vaquinha” virtual também foi lançada a fim de ajudar no custeio das despesas; familiares garantem que quaisquer valores sobressalentes serão destinados a pessoas carentes em situação de vulnerabilidade em termos de saúde, especialmente as do interior.

“De qualquer forma, o tratamento tem duas etapas. Como será após a realização da CPRE? Ainda há a cirurgia de retirada de vesícula para fazer. Como minha esposa vai voltar pro Hospital de Base depois de todo esse trauma?”, questionou Hudson deixando a pergunta às autoridades do Estado e à direção do HB.

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