Às vezes é preciso perder o equilíbrio por amor. A vida nos provoca o tempo todo, e em alguns momentos ela nos desafia a sair de nossa zona de conforto, ficar à flor da pele, e sermos corajosos o bastante para deixar sangrar um pouco mais o nosso coração Rupi Kaur, uma das escritoras mais lidas da atualidade, em seu intenso livro “Outros jeitos de usar a boca”, diz:“Eu não sei o que é viver uma vida equilibrada. Quando fico triste eu não choro, eu derramo. Quando fico feliz, eu não sorrio, eu brilho. Quando fico com raiva, eu não grito, eu ardo. A vantagem dos sentidos extremos é que, quando eu amo, eu dou asas. Mas isso talvez não seja uma coisa tão boa, porque eles sempre vão embora. E você precisa ver, quando quebram meu coração eu não sofro, eu estilhaço…” Muita gente se identifica com a escritora indiana, com seu jeito poderoso de se expressar e viver a vida. E confesso que carrego um tanto dessa intensidade também, talvez por tentar dar voz àquilo que me toca e sensibiliza, mas principalmente por desejar experimentar a vida em toda sua grandeza, com suor, saliva e lágrimas. Na série “Virgin River”, há um episódio em que Annette O’Toole, atriz que interpreta Hope, diz: “Se você quiser proteger seu coração, vai evitar muita dor. Mas também vai viver uma vida pela metade”. Me lembro do momento em que ouvi essa frase na série, justamente saindo da boca de uma personagem que tentava, a muito custo, se blindar do sentimento que ainda nutria pelo ex marido. Ela havia passado uma vida tentando negar aquele amor e, naquele momento, aconselhava uma das jovens a não fazer o mesmo. É vital proteger o próprio coração, mas não podemos passar uma vida inteira fugindo dos estilhaços que podem nos atingir quando experimentamos viver um grande amor. Às vezes é preciso perder o equilíbrio por amor. A vida nos provoca o tempo todo, e em alguns momentos ela nos desafia a sair de nossa zona de conforto, ficar à flor da pele, e sermos corajosos o bastante para deixar sangrar um pouco mais o nosso coração. Tentar, arriscar e perceber que fomos modificados para sempre é algo que pode até nos fazer em pedaços, mas também nos mostra que fomos fortes o bastante para arder, brilhar, estilhaçar… e atravessar. O silêncio, o autocontrole e a sensatez são características louváveis, que demonstram bom senso, equilíbrio e juízo. Porém, acreditar que o amor é um jogo e não ousar lançar os dados é o mesmo que escolher fugir e se despedaçar por não suportar ficar, se estilhaçar e finalmente avançar. Viver uma vida pela metade, nos blindando da dor, é uma opção. Mas não sei se nos torna pessoas mais felizes. Fugir da intensidade, agindo de forma distante e fria, nos protege da ferida. Mas o risco… ah o risco nos aproxima da experiência de estarmos vivos, e mesmo que nos corte ao meio, nos ensina que somos capazes de nos erguer de novo. E, com sorte, de amarmos melhor.
Há muita confusão entre a dor de amor verdadeira e a dor de ter sido trocado, substituído, ou, em outras palavras, dor de perceber que a vida do outro simplesmente seguiu sem você. Nos consideramos importantes demais. E perceber que alguém com quem construímos vínculos consegue seguir a vida tranquilamente sem a nossa companhia, pode machucar. Hoje, com a felicidade e o desapego expostos na vitrine do Instagram, essa dor advinda do fim incomoda ainda mais. Adoro a música “Acima do Sol”, da banda mineira Skank. Nela, Samuel Rosa canta: “Assim ela já vai achar o cara que lhe queira como você não quis fazer…” e eu fico imaginando as inúmeras histórias que podem ser narradas com esse refrão, de relações que acabaram por falta ou não de amor, mas em que as pessoas só perceberam que havia um sentimento, tarde demais. Porém, muitas vezes esse sentimento não é genuinamente amor, e sim orgulho ferido. É claro que se houve afeto, conexão, sentimento e vínculo, não se trata exclusivamente de um sentimento de perda, mas há muita confusão entre a dor de amor verdadeira e a dor de ter sido trocado, substituído, ou, em outras palavras, dor de perceber que a vida do outro simplesmente seguiu sem você. Nos consideramos importantes demais. E perceber que alguém com quem construímos vínculos consegue seguir a vida tranquilamente sem a nossa companhia, pode machucar. Hoje, com a felicidade e o desapego expostos na vitrine do Instagram, essa dor advinda do fim incomoda ainda mais. Pois, além de percebermos que a vida do outro seguiu, essa capacidade de virar a página se torna pública e, nesse caso, nossa “humilhação”, também. A sensação é a de que estamos sendo observados para saber qual dos dois supera mais rápido, qual dos dois sorri primeiro, qual dos dois consegue desapegar melhor, qual dos dois faz a fila andar num tempo menor. Porém, a vida não é uma corrida pra ver quem vira a página com mais facilidade, ou consegue encontrar graça no dia a dia sem a companhia do outro. O orgulho, em certa medida, serve para nos proteger e blindar nossa autoestima. Quando nos sentimos vulneráveis na presença de alguém, é comum nos arriscarmos menos. É como se o orgulho nos resguardasse da dor; como se ele fosse o guardião da nossa autoestima, impedindo que nos machuquemos tanto ao sermos rejeitados por alguém especial. É comum nos depararmos com pessoas que após um término de relacionamento, dá de ombros como se não tivesse perdido grande coisa. Ou alguém que comumente é confiante e atrevido, ficar cheio de medo e timidez ao abordar alguém que lhe é especial.No livro “Ensaios de amor”, de Alain de Botton, ele diz: “É uma das ironias do amor o fato de que é mais fácil seduzir com segurança aqueles por quem estamos menos atraídos”. Isso realmente é uma ironia, um paradoxo, mas com certeza uma verdade. Quando não estamos tão atraídos, não nos protegemos tanto. Assim, nos arriscamos mais. E, muitas vezes, somos muito mais bem sucedidos na conquista. Porém, quando há envolvimento emocional e sentimos o quanto poderemos ficar abalados com uma negativa ou um vácuo, nos blindamos. E acabamos caindo nos joguinhos do orgulho, que nada mais são que tentativas desesperadas de preservar nosso ego intacto. Em outro livro: “Orgulho e Preconceito”, de Jane Austen, há uma passagem que diz: “A vaidade e o orgulho são coisas diferentes, embora as palavras sejam frequentemente usadas como sinônimos. Uma pessoa pode ser orgulhosa sem ser vaidosa. O orgulho se relaciona mais com a opinião que temos de nós mesmos, a vaidade com o que desejamos que os outros pensem de nós”. Assim, o orgulho seria o guardião da sua auto estima. Porém, se por um lado ele é importante para impedir que você seja “trouxa” ou “capacho”; por outro lado, quando você tem uma autoestima muito frágil, ele te blinda de simplesmente viver e se arriscar. Assim, uma pessoa que constrói muros em torno de si e se blinda – muitas vezes passando a imagem de alguém auto suficiente e bem resolvida – pode ser uma pessoa com medo e com a autoestima frágil. “O orgulho se relaciona mais com a opinião que temos de nós mesmos” Se proteja a ponto de não permitir que pisem em você, mas não deixe que o orgulho o impeça de se arriscar e viver as coisas boas da vida. Viver carregando a eterna dúvida do “e se…” nos adoece e rouba nossa liberdade. E talvez um dia, tarde demais, possamos perceber que um “não” seria o pior que nos ocorreria, mas o “sim” teria mudado nossa vida. Quanto ao orgulho ferido, ou a percepção de que a vida do outro seguiu muito bem sem você, meu conselho é: filtre seus sentimentos e reconstrua sua autoestima longe do binóculo alheio. Siga seu caminho e dome sua curiosidade: desista de fuçar, stalkear, acompanhar. Cuide de você e liberte seu coração dessa mágoa. Toque seu barco sem perder a fé em si mesmo e, quando a maré subir demais, apenas não desista. Um dia de cada vez, sem pressa, sem necessidade de mostrar ao mundo que superou. Apenas não desista… |