Muito falamos aqui sobre o processo de naturalização do sexo. Até décadas atrás, o tema era um completo tabu para grande parte da sociedade e os que tratavam o sexo com normalidade eram vistos como transgressores e devassos, mas desde a Revolução Sexual da década de 60, esse estigma vem sendo desfeito e o sexo casual vem sendo cada vez mais aceito pelas pessoas. Isso significa que as pessoas estão fazendo cada vez mais sexo, certo? Talvez não! Recentemente a empresa SimpleTexting divulgou uma pesquisa feita com 1000 norte-americanos com o intuito de descobrir a que eles renunciariam para manter o uso cotidiano de seus smartphones. Uma das abdicações mais surpreendentes foi justamente o sexo. Veja alguns dos números: - em um período de um mês, 40% dos homens prefeririam manter o uso dos smartphones que as relações sexuais;
- entre a Geração Z, o percentual de respondentes que optariam por um mês de uso do celular invés de sexo sobe para 56%;
- na população geral, essa taxa ficou em 47%.
Lembrando que a Geração Z contempla aqueles nascidos entre 1995 e 2015. Uma tendência similar já havia sido identificada entre os Millenials, aqueles que nasceram entre 1980 e 1994, que foram apontados como a geração sexualmente mais inativa desde a Grande Depressão. O estudo que apontou esse fato também foi realizado com indivíduos norte-americanos e foi publicado pela revista científica Archives of Sexual Behavior. Essa pesquisa apontou a seguinte escalada: 6% dos nascidos na década de 60 entre 20 e 24 afirmaram não ter parceiros sexuais desde os 18 anos. entre os Millenials de 20 a 24, essa parcela subia para 15%. Possíveis Causas Há duas correntes hipotéticas para explicar esse fenômeno entre os especialistas. A primeira é quanto ao maior acesso à informação. Desde a epidemia do vírus HIV a partir da década de 80, a educação sexual também passou a ser muito mais abrangente e disseminada entre as mais diversas camadas sociais como uma das formas mais eficazes na prevenção ao vírus. Essa crescente em divulgação de informação de qualidade sobre o sexo também foi impulsionada por diversos outros fenômenos sociais nos últimos 30 anos, criando uma consciência muito maior aos riscos de uma atividade sexual tanto para a saúde quanto para o planejamento familiar. Isso, por si só, pode ter refreado os impulsos por liberdade sexual e aumentado os crivos dos jovens na tomada de decisão quanto à vivência de sua sexualidade. Outra influência do aumento e evolução da informação nos últimos anos, magnanimamente potencializada pelo advento tecnológico e pleno desenvolvimento da comunicação digital, é a sexualidade atrelada a uma maior politização da juventude mundial. Nas primeiras eclosões da liberdade sexual, o sexo era ainda muito atrelado, além de todos os fatores que já debatemos em outros momentos, à rebeldia e demonstração clara e ativa de uma conquista social quanto às liberdades individuais. Conforme é atingida a fase de estabilidade dessas conquistas, a ideia de liberdade sexual amadurece e ganha novas interpretações sociais, podendo influenciar no aprofundamento e ampliação dos crivos quanto a uma sexualidade ativa e saudável, extrapolando os filtros de ‘poder fazer sexo’ e questionando o ‘querer’ e o ‘dever’, além de até mesmo o direito a não querer fazer sexo se consolidando, conquista muito em voga nas searas de empoderamento feminino e emancipação da mulher dentro das relações afetivas. Chegando a questões de cunho emocional, estão os novos padrões de ciclos e estilos de vida da sociedade contemporânea, principalmente da parcela mais jovem, pertencente ainda à Geração Z e aos Millenials. Definido por alguns como “amadurecer mais tarde”, os jovens estão levando mais tempo para sair da casa dos pais/parentes e assumir o protagonismo de suas próprias vidas, pois desenvolveram um viés diferente das gerações anteriores quanto ao que seria uma Vida Bem Sucedida, para eles muito menos atrelada ao sucesso profissional e bens materiais e sim priorizando conquistas emocionais e psicosociais. Esse “acréscimo” de fases no desenvolvimento dos jovens pode estar afetando direta e indiretamente seu interesse por sexo. Primeiro, por questões logísticas de ter menos liberdade de ambientes propícios para a prática, horários disponíveis e até mesmo o regramento do ambiente familiar. Em segundo plano, com tantas outras demandas priorizadas por eles, o sexo acaba ficando em segundo plano. Por último, ainda na seara emocional, está a contemporânea fragilização das relações afetivas, popularizada pelo aclamado filósofo Zygmunt Bauman como Era das Relações Líquidas, explicada por psicanalistas e especialistas como uma dificuldade em desenvolver vínculos afetivos e lidar com eles no longo prazo, implicando em medos, fobias e falta de manejo afetivo que leva os jovens a evitar os relacionamentos. Sexualidade com Naturalidade Esses variados motivos e causas para a diminuição do interesse em sexo das novas gerações podem estar relacionados entre si ou configurar fatores isolados a depender do caso. Pode também indicar uma nova fase da relação das sociedades com a sexualidade e suas liberdades, sendo um fenômeno passageiro ou que se consolidará no médio prazo. Sem querer fazer previsões ou análises complexas, que não é nosso intuito, é importante que saibamos as tendências do comportamento humano com relação ao sexo para analisarmos nossas próprias necessidades sem sentir a pressão social por estarmos enquadrados ou não aos padrões – que são variados e diversos. A moral da história continua a mesma – a sexualidade afeta cada um de nós de maneira única e individual, o que vale para um, pode não fazer nenhum sentido para o outro e não há nada de errado nisso! A sexualidade saudável exige que tenhamos um olhar atento ao que nosso corpo e mente nos pedem e saibamos dialogar tais desejos com nossos parceiros de forma a respeitá-los e sermos respeitados. Como você tem percebido a sua sexualidade? É do time dos que estão transando mais ou menos? Conta pra gente! Imagem Destacada por Saulius Rozanas via Pixabay
|