Uma onda de ataques de dezenas de drones lançada pela Ucrânia atingiu em dois dias três refinarias na Rússia, em uma ação que o presidente Vladimir Putin disse ter como objetivo perturbar a eleição presidencial prevista para o próximo fim de semana, mas que analistas veem como uma tentativa de abalar a economia russa, altamente dependente do petróleo.
Esta quarta-feira foi o segundo dia seguido de ataques do tipo contra instalações petrolíferas do país — na terça-feira outra refinaria foi atingida — envolvendo 12% de sua capacidade de refino, na mais ampla ofensiva contra infraestrutura russa desde o início da guerra há dois anos, segundo o jornal Washington Post. Ao todo, seis regiões sofreram ataques.
Não ficou claro quantos danos foram causados à instalação em Ryazan, a cerca de 200km de Moscou, maior refinaria de petróleo da Rosneft PJSC, com capacidade de produção de 17,1 milhões de toneladas por ano, ou cerca de 340 mil barris por dia.
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O ataque de drones “deu início a um incêndio” que foi posteriormente extinto, disse nesta quarta-feira o governador regional Pavel Malkov em seu canal Telegram, sem dar detalhes sobre a extensão dos danos. Duas pessoas foram hospitalizadas, informou o serviço de notícias Tass.
A refinaria, que é o principal fornecedor de combustíveis para motores para as regiões russas ao redor da capital, foi o segundo alvo atingido nos dois últimos dias em meio a ataques ucranianos contra instalações que representam mais de 10% da capacidade de processamento de petróleo da Rússia.
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Segundo o Ministério da Defesa russo, as suas forças interceptaram 65 drones durante a madrugada desta quarta-feira nas regiões de Belgorod, Bryansk, Voronej, Kursk, Ryazan e São Petersburgo, em um dos maiores ataques dos últimos meses.
— O objetivo principal, não tenho dúvida, se não for prejudicar as eleições presidenciais na Rússia, é pelo menos tentar impedir de alguma forma que os cidadãos expressem sua vontade — disse Putin numa entrevista à TV estatal Rossiya 1 e à agência RIA Novosti nesta quarta-feira, acrescentando que "outro objetivo é conseguir algum tipo de trunfo em um possível processo de negociação".
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Os ataques destacam como a invasão da Ucrânia, que em 24 de fevereiro completou dois anos, vem levando a um aumento de insegurança para os russos comuns que vivem em regiões próximas da fronteira.
Mais tarde também nesta quarta, a refinaria independente de Novoshakhtinsk, na região de Rostov, no sul da Rússia, interrompeu as operações após um novo ataque de drones, disse o governador regional, Vasily Golubev, no Telegram, sem dar detalhes sobre quaisquer danos.
A instalação tem capacidade de 5,6 milhões de toneladas por ano, ou cerca de 112 mil barris por dia.
Desde o início deste ano, a Ucrânia tem utilizado drones para atingir importantes fábricas russas de processamento de petróleo, desde o Mar Negro até ao Mar Báltico. À medida que os combates nas linhas da frente oscilam a favor de Moscou, Kiev tem tentado dificultar as exportações de produtos petrolíferos do país e sua capacidade de enviar combustível às suas forças na linha de frente e obter divisas.
Os ataques de janeiro reduziram a capacidade de refino russa em 400 mil barris/dia, informou ao Financial Times o analista sênior Viktor Katona, da plataforma de inteligência global de comércio Kpler. Desde então, a produção aumentou de novo, mas os novos ataques podem levar a uma interrupção total de até 14% da capacidade russa de refino. Preocupações com tal possibilidade causaram um aumento de 2% no preço internacional do petróleo nesta quarta-feira.
— Estamos sistematicamente implementando uma estratégia meticulosamente calculada para reduzir o potencial econômico da Federação Russa — disse uma fonte da Inteligência da Ucrânia à rede CNN. — Nosso objetivo é privar o inimigo de recursos e diminuir o fluxo de dinheiro do petróleo que a Rússia canaliza diretamente para a guerra e a matança de nossos cidadãos.
A onda inicial de ataques em fevereiro afetou quase um quinto da capacidade de processamento de petróleo bruto do país, mas no início de março a indústria já começava a se recuperar.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que era “totalmente justo” infligir perdas ao Estado russo em retaliação aos ataques de mísseis e drones que matam e ferem civis em seu país. Andriy Yermak, chefe de Gabinete de Zelensky, afirmou que Kiev está "combatendo tudo o que financia o Exército russo e a guerra”.
— Acho que todos veem que nossos drones funcionam, e funcionam em longa distância — disse Zelensky em discurso na noite de terça-feira. — Nossa capacidade de ataques de longa distância é a verdadeira maneira de avançar em direção à segurança de todos.
A onda de ataques que começou na terça-feira danificou uma unidade da refinaria Norsi da Lukoil PJSC em Nijny Novgorod, a 775km da fronteira com a Ucrânia, e atingiu um depósito de petróleo na região de Oryol. Os drones ucranianos também visaram repetidamente a principal refinaria de exportação da Surgutneftegas PJSC, em Kirishi, na costa do Báltico, de acordo com o governador da região de São Petersburgo, Alexander Drozdenko.
O governador da região sul de Voronej, na Rússia, Aleksandr Gusev, por sua vez, disse que 30 drones foram destruídos. Algumas infraestruturas e propriedades residenciais sofreram “danos menores”, segundo ele.
Outras instalações também foram atacadas pelos ucranianos nos últimos dois dias, como a base aérea de Buturlinovka e um campo de pouso militar em Voronej, ambas a cerca de 200km da fronteira.
Os ataques ocorrem enquanto a Rússia se prepara para as eleições presidenciais de 15 a 17 de março, que foram rigidamente controladas pelo Kremlin e devem garantir uma vitória esmagadora a Putin e mais seis anos no poder.
Na entrevista, Putin disse que a Rússia exigiria garantias de segurança para considerar negociações para pôr fim à guerra na Ucrânia e reiterou que as “realidades no terreno” deveriam ser a base de quaisquer negociações.
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— Estamos principalmente interessados ??na segurança da Rússia — disse Putin. — Prosseguiremos a partir disso.
Fonte: O Globo