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Brasil : Extração ilegal de madeira aumentou 19% na Amazônia
Enviado por alexandre em 24/10/2024 09:53:59

A área com extração ilegal de madeira na Amazônia cresceu 19% em um ano, passando de 106 mil hectares entre agosto de 2021 e julho de 2022 para 126 mil hectares entre agosto de 2022 e julho de 2023. O total equivale à retirada de madeira em 350 campos de futebol por dia sem autorização dos órgãos ambientais. As informações lançadas durante o 8º Fórum de Soluções em Legalidade Florestal – O Futuro das Florestas na Amazônia, foram compiladas pelo Sistema de Monitoramento da Exploração Madeireira (Simex), a cargo de uma rede de organizações de pesquisa ambiental: ICV, Idesam, Imaflora e Imazon.

As áreas de exploração madeireira foram identificadas e mapeadas por meio de imagens de satélite e contrapostas às autorizações de exploração emitidas pelos órgãos ambientais. O Simex é o principal indicador da atividade madeireira legal e ilegal na região amazônica. Os índices reúnem informações de sete estados (Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Roraima).

No total, a área de florestas nativas explorada para fins madeireiros foi de 366 mil hectares, sendo 65% de forma legalizada. Mato Grosso liderou no quesito extensão de área florestal dedicada à exploração madeireira, com 60%, ou cerca de 200 mil hectares. Em seguida, ficaram Pará e Amazonas – 14%, cada um, na casa dos 50 mil hectares.
Veja o infográfico completo:
infografico_simex_amazonia_ago2022_jul2023_ptBaixar
Perfil da ilegalidade

A maior parte da extração ilegal (71%) aconteceu em imóveis rurais privados. Ou seja, os principais protagonistas dessa prática criminosa estão identificados em cadastros públicos e são passíveis de responsabilização. Nessa categoria, em torno de 650 imóveis estão envolvidos na extração ilegal, sendo que apenas 20 deles responderam por quase um terço dos ilícitos.

“O problema tem endereço bem conhecido e precisa ser combatido com eficácia”, aponta o coordenador de Inteligência Territorial do ICV, Vinícius Silgueiro. Ele lembra ainda que a ilegalidade não apenas cresceu, como se disseminou. “No ciclo anterior, Mato Grosso concentrava nove de dez municípios e áreas protegidas nos respectivos rankings de devastação ilegal. Esses postos agora estão ocupados também por regiões do Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima, o que mostra quão crônica é a atividade ilegal madeireira na Amazônia”.

O segundo tipo de território mais afetado pela extração criminosa foram as Terras Indígenas (com 16%), categoria mais atingida entre as áreas protegidas. As TIs Kaxarari e Tenharim Marmelos lideram o ranking e, não por acaso, ambas se situam em zona de influência da BR-319. As TIs são áreas de proteção integral, apenas para utilização indireta dos recursos naturais, com o objetivo de preservar os modos de vida dos povos tradicionais e a biodiversidade. No entanto, viram alvo fácil do crime, que invade esses territórios, promove degradação e ameaça os indígenas.
Ameaça ao mercado e às comunidades

André Vianna, diretor-técnico do Idesam, destaca que a exploração predatória afeta a oferta legal de madeira. “Há uma exposição a situações de risco para os trabalhadores que participam da atividade ilegal aliada a um impacto extremamente negativo para o mercado. O produto ilegal compete com a madeira licenciada, prejudicando todo o setor, tanto pelo achatamento do preço quanto em termos reputacionais, o que dificulta o acesso a mercados que valorizam o produto e pagam mais por ele.”

O cenário se agrava quando associado à constatação de uma queda de 17% na área de exploração autorizada, que passou de 288 mil hectares entre agosto de 2021 e julho de 2022 para 239 mil hectares entre agosto de 2022 e julho de 2023. Para Leonardo Sobral, diretor Florestal do Imaflora, aumentar o manejo florestal responsável é o caminho para combater as ilegalidades na extração madeireira e gerar benefícios para todo o planeta. “Com o acirramento das mudanças climáticas, o manejo florestal é fundamental para reduzir emissões e conservar a floresta em pé enquanto gera renda e desenvolvimento social. A extração ilegal leva à degradação, aumentando riscos de incêndios, perda de biodiversidade e conflitos fundiários.”

Dalton Cardoso, pesquisador do Imazon, destaca que a exploração madeireira realizada a partir de planos de manejo autorizados pelos órgãos ambientais precisa ocorrer de forma sustentável, gerar empregos e pagar impostos. “É muito importante que os governos criem mecanismos para incentivar a atividade legalizada e fiscalizá-la de forma efetiva. O aumento da ilegalidade gera danos ambientais, ameaça povos e comunidades tradicionais e enfraquece o setor madeireiro, além de prejudicar a imagem do país no mercado internacional”, afirma.
Forte queda na produção

A atividade madeireira foi objeto de um segundo mapeamento, também apresentado no 8º Fórum de Soluções. Produzido pela plataforma Timberflow, mantida pelo Imaflora e dirigida a operadores de mercado, esse mapeamento aponta recuo na produção madeireira da Amazônia. Segundo o levantamento, entre janeiro e dezembro de 2023, a extração de produtos madeireiros na região atingiu seu mais baixo patamar desde 2010, passando de uma média de 10 a 12 milhões de metros cúbicos de madeira em tora para 5,8 milhões de metros cúbicos.
Veja o estudo completo:
boletim_timberflow_15_julho_2024Baixar

Baseada em dados oficiais, como o Documento de Origem Florestal (DOF) e a Guia Florestal (GF), que registram origem e transporte de produtos madeireiros da Amazônia, a plataforma acaba de ser redesenhada, com apoio de especialistas da Universidade de São Paulo, para utilizar modelos matemáticos que permitem aos compradores da madeira amazônica  dimensionar a probabilidade do risco de ilegalidade em algum elo da sua cadeia de fornecimento.

Várias hipóteses se combinam para explicar a grande queda na produção em 2023. A primeira, apontada inclusive por produtores, é que a demanda caiu e os estoques estão altos no mercado interno, responsável por 92% do consumo. A segunda tem a ver com a imagem da madeira nativa. Poucos entendem que a produção madeireira sustentável é possível (e desejável), e o medo de envolvimento com madeira ilegal alimenta o surgimento gradativo de matérias-primas substitutas e mais baratas. “Um terceiro fator é a falta de uma estratégia para o setor, envolvendo atores públicos e privados. É preciso conectar as iniciativas públicas, como o impulso às concessões, a estratégias de valorização da atividade e de fomento do mercado, ou o futuro da atividade estará fortemente comprometido”, alerta Sobral.

A retração no consumo está presente no mercado interno e externo. E tem como agravante a concentração de 50% da demanda em apenas oito das mais de mil espécies madeireiras que a Amazônia oferece. As campeãs desse ranking são ipê, tauari e maçaranduba – o que prenuncia novos problemas para o setor. É que o ipê e o cumaru foram incluídos no Anexo 2 da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies de Fauna e Flora Selvagens em Perigo de Extinção. Com manejo responsável, elas podem ser exploradas, mas os produtores temem uma reação do mercado semelhante à que ocorreu quando o mogno brasileiro foi incluído nessa lista e simplesmente perdeu toda demanda.

Baseada em dados oficiais, como o Documento de Origem Florestal (DOF) e a Guia Florestal (GF), que registram origem e transporte de produtos madeireiros da Amazônia, a plataforma acaba de ser redesenhada, com apoio de especialistas da Universidade de São Paulo, para utilizar modelos matemáticos que permitem aos compradores da madeira amazônica dimensionar a probabilidade do risco de ilegalidade em algum elo da sua cadeia de fornecimento.

Várias hipóteses se combinam para explicar a grande queda na produção em 2023. A primeira, apontada inclusive por produtores, é que a demanda caiu e os estoques estão altos no mercado interno, responsável por 92% do consumo. A segunda tem a ver com a imagem da madeira nativa. Poucos entendem que a produção madeireira sustentável é possível (e desejável), e o medo de envolvimento com madeira ilegal alimenta o surgimento gradativo de matérias-primas substitutas e mais baratas. “Um terceiro fator é a falta de uma estratégia para o setor, envolvendo atores públicos e privados. É preciso conectar as iniciativas públicas, como o impulso às concessões, a estratégias de valorização da atividade e de fomento do mercado, ou o futuro da atividade estará fortemente comprometido”, alerta Sobral.

A retração no consumo está presente no mercado interno e externo. E tem como agravante a concentração de 50% da demanda em apenas oito das mais de mil espécies madeireiras que a Amazônia oferece. As campeãs desse ranking são ipê, tauari e maçaranduba – o que prenuncia novos problemas para o setor. É que o ipê e o cumaru foram incluídos no Anexo 2 da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies de Fauna e Flora Selvagens em Perigo de Extinção. Com manejo responsável, elas podem ser exploradas, mas os produtores temem uma reação do mercado semelhante à que ocorreu quando o mogno brasileiro foi incluído nessa lista e simplesmente perdeu toda demanda.
Virada estratégica

“As pesquisas divulgadas indicam que o mercado de madeiras nativas da Amazônia está diante de desafios importantes. O 8º Fórum de Soluções é um espaço voltado a pensar em como desenvolver e amadurecer estrategicamente a atividade madeireira legal”, afirma Sobral. Ele ressalta que o manejo florestal é uma solução, sobretudo para a região de maior pressão na Amazônia. “As áreas de interior, com floresta conservada e sem pressão para desmatamento, podem encontrar outros caminhos de desenvolvimento econômico e social. O desafio são as regiões florestais sob pressão de desmatamento, na fronteira da atividade ilegal e predatória”, explica.

A busca de conformidade legal, a melhoria na transparência de informações e a rastreabilidade da madeira nativa são parte fundamental de uma estratégia que visa expandir concessões florestais para realização de manejo florestal por empresas e cooperativas, impedindo que a extração ilegal e predatória se instale. “Além dos benefícios diretos que as concessões florestais trazem para as comunidades locais, elas também garantem a origem sustentável da madeira. Por isso, estabelecemos uma meta ambiciosa: expandir as concessões de 1,3 milhão para cerca de 5 milhões de hectares nos próximos anos”, diz Renato Rosenberg, diretor de Concessões Florestais e Monitoramento do Serviço Florestal Brasileiro.

*Com informações da Imazon ... - Veja mais em https://portalamazonia.com/meio-ambiente/extracao-ilegal-madeira-amazonia/

Brasil : Legistas da floresta querem saber: as grandes árvores da Amazônia estão morrendo?
Enviado por alexandre em 23/10/2024 13:42:56

Legistas da floresta querem saber: as grandes árvores da Amazônia estão morrendo?

RESERVA FLORESTAL ADOLPHO DUCKE (AM) — Dois pesquisadores, vestindo camisas e calças de mangas compridas para resistir aos mosquitos e botas de cano alto para evitar picadas de cobras, olham para uma árvore destruída. Está no chão, coberta por folhas de palmeira, que se estendem por toda a floresta. Até pouco tempo atrás, ela se elevava sobre a maioria das outras árvores dessa vasta floresta tropical.

“É óbvio que foi um raio”, diz Evan Gora, declarando a causa da morte da árvore. Ele é um cientista da equipe do Cary Institute of Ecosystem Studies em Millbrook, Nova York.

“É possível ver folhas queimadas na parte superior”, concorda Adriane Esquivel Muelbert. Ela é professora da Universidade de Birmingham, na Inglaterra. Adriane aponta para a folhagem enegrecida que está pendurada em dezenas de árvores que circundam o perímetro do enorme toco. As folhas estão queimadas apenas nos lados voltados para a abertura da copa, deixada quando a grande árvore tombou — evidência de uma descarga elétrica.

Como Sherlock Holmes desvendando um mistério de assassinato, os especialistas em ecologia de florestas tropicais apresentam seu raciocínio a dois pós-doutorandos de sua equipe. Quando um raio atinge uma árvore, diz Evan, a alta tensão flui através da folhagem entrelaçada para as árvores vizinhas, matando os galhos e criando um padrão distinto. Evan desenvolveu esse método para determinar o raio como causa da morte de árvores enquanto trabalhava em uma floresta tropical do Panamá. Hoje, ele identificou o mesmo padrão de vegetação morta e queimada em torno desse gigante caído na Amazônia brasileira. Nenhuma outra causa de morte de árvores tem esse aspecto.

“Às vezes, é possível ter muitas árvores mortas juntas, mas não com esse dano centralizado [queimado]”, comenta Adriane. “É como uma investigação da cena do crime”, diz Evan, com entusiasmo crescente.

Pode parecer estranho que dois cientistas de alto nível passem tanto tempo investigando a morte de uma única árvore em uma vasta floresta. Mas as implicações são importantes. Seu projeto de pesquisa, chamado “Gigante”, está explorando as causas da mortalidade das maiores árvores de florestas tropicais no mundo. O estudo pode ajudar a responder a uma questão importante da ciência da mudança climática: A floresta tropical intacta continuará absorvendo muito mais dióxido de carbono do que libera?

As regiões intocadas da Amazônia ainda estão armazenando uma quantidade considerável de CO2 e retardando o acúmulo atmosférico do gás que aquece o planeta e que os seres humanos liberam quando queimam combustíveis fósseis. No entanto, se a absorção de carbono cair significativamente na Amazônia e em outras florestas tropicais do mundo, as temperaturas globais poderão aumentar mais rapidamente do que sugerem os modelos atuais, tornando ainda mais difícil para a humanidade desacelerar as mudanças climáticas.

Pronto para voar

Os dois cientistas, junto com as pós-doutorandas Vanessa Rubio e Gisele Biem, reuniram-se aqui, na Reserva Florestal Adolpho Ducke, no Brasil, pela primeira vez. Seu projeto de pesquisa global, que durará três anos, só começou recentemente.

A Reserva Ducke, nos arredores de Manaus, abrange um quadrante de 93 quilômetros quadrados de floresta tropical antiga, reservada pelo governo federal para pesquisa. Os visitantes, como esta equipe e um elenco variado de estudantes e colaboradores, pernoitam em dormitórios caiados de branco e comem em um refeitório sem paredes, área que frequentemente compartilham com queixadas, urubus, gatos selvagens e jararacas — uma das cobras mais venenosas do mundo.

Os pesquisadores vieram para responder a essas perguntas cruciais sobre a absorção de carbono e também para aprimorar as habilidades de observação, praticar a coleta e o registro de dados e desenvolver o espírito de equipe. No primeiro dia, a equipe se concentrou na identificação de relâmpagos. No dia seguinte, o tópico serão as árvores derrubadas pelo vento.

Evan está ansioso para mostrar seu mais recente dispositivo de pesquisa. Em uma clareira perto de um prédio baixo de estuque que serve como sala de aula, laboratório e sede da reserva, ele abre o zíper de uma enorme mala coberta de tecido.

Ansioso como uma criança desembrulhando um presente de Natal, Evan coloca as metades da mala na horizontal e retira a fuselagem de um drone do tamanho de um skate. Ele trouxe esse drone Trinity Pro da Quantum Systems da Alemanha. A equipe o observa enquanto ele o monta.

“É o brinquedo mais legal de todos!”, exclama Evan. Então, como se estivesse oferecendo um peru de Natal, ele pergunta a Vanessa: “Você quer pegar uma asa?” Evan e Vanessa prendem a cauda de plástico e isopor e as asas de um metro.

As asas leves como penas e as pernas semelhantes a galhos fazem com que o drone pareça frágil. Mas Evan diz que se trata de uma ferramenta de pesquisa séria a um preço acessível. Esse modelo será lançado verticalmente, como um helicóptero — útil em uma floresta. Com uma única carga, ele pode voar horizontalmente como um avião e de forma autônoma por uma hora e meia a quase 64 quilômetros por hora. Sua câmera de alta resolução distingue objetos tão pequenos quanto uma moeda a 300 metros de altura. Sem ele, o projeto Gigante não poderia ser realizado.

While scouting for dead trees, Evan Gora and Adriane Esquivel Muelbert look up at a burned branch identified by rainforest specialist Flamarion Prado Assunção.
Durante a busca por árvores mortas, Evan Gora e Adriane Esquivel Muelbert olham para um galho queimado identificado pelo especialista em florestas tropicais Flamarion Prado Assunção. Foto: © Dado Galdieri/Hilaea Media.
Gigante team members Vanessa Rubio and Gisele Biem share insights on measurements and findings while scouting the forest for fallen giants.
Membros da equipe do Gigante, Vanessa Rubio e Gisele Biem, compartilham suas percepções sobre as medições e descobertas durante a busca de árvores gigantes caídas na floresta. Foto: © Dado Galdieri/Hilaea Media.

Legistas de florestas tropicais

Um estudo publicado na revista Nature em 2015 surpreendeu os cientistas. Ele constatou que a floresta amazônica intacta absorveu 30% menos dióxido de carbono na década de 2000 do que na década de 1990. Os autores sugeriram que a absorção de carbono das florestas tropicais do mundo — o sumidouro de carbono tropical — está falhando. Desde então, outros estudos confirmaram esse resultado e mostraram declínios semelhantes em florestas tropicais em outros lugares.

“Essas florestas estão proporcionando um enorme benefício gratuito à sociedade”, diz Simon Lewis, geógrafo da Universidade de Leeds, no Reino Unido, e coautor de vários desses artigos. Como muitos pesquisadores, ele concorda que os impactos da mudança climática são a principal causa da queda na absorção de carbono pelas florestas. Se não pararmos com isso logo, diz ele, “as florestas podem aumentar o problema [climático] em vez de mitigá-lo”. Até agora, a floresta amazônica absorvia cerca de 12% de todo o carbono liberado na atmosfera pela humanidade, embora a quantidade exata seja motivo de debate.

Um dos motivos pelos quais o sumidouro tropical de florestas intactas está diminuindo, de acordo com muitos cientistas, é que mais árvores estão morrendo e/ou morrendo mais jovens. Mas os pesquisadores não sabem o suficiente sobre por que e quando essas árvores morrem. Portanto, não é possível modelar com precisão e prever como esses fatores mudarão no futuro, criando incerteza nas previsões climáticas.

Prognósticos robustos exigem estimativas de absorção de carbono florestal. E, sem previsões climáticas precisas, as pessoas não podem antever com exatidão a velocidade e a consequente gravidade da crise climática.

Adriane e Evan esperam esclarecer a vida e a morte das maiores árvores tropicais, geralmente aquelas com diâmetro de tronco maior do que o de uma pizza grande, como o angelim-vermelho (Dinizia excelsa). Isso é importante porque essas árvores são responsáveis por uma parcela imensa da absorção de carbono de uma floresta tropical.

A swath of pristine rainforest in Adolpho Ducke Forest Reserve near Manaus, Brazil, that is being used by Gigante, a global forest research project studying big tropical trees.
Trecho de floresta amazônica na Reserva Florestal Adolpho Ducke, perto de Manaus, que está sendo usada pelo projeto Gigante para estudar as árvores de grande porte da Amazônia. Foto: © Dado Galdieri/Hilaea Media.

Os pesquisadores estimam que as árvores de grande porte sugam cerca de metade do carbono que uma floresta tropical absorve. A eficácia futura do sumidouro tropical provavelmente depende da longevidade desses indivíduos. Se o aumento do aquecimento, a redução das chuvas ou outros impactos da mudança climática encurtarem suas vidas, toda a floresta se tornará mais jovem e absorverá ainda menos carbono do que hoje. O sumidouro de carbono tropical poderá diminuir ou desaparecer. E, à medida que a morte de árvores em florestas intactas se intensifica, as florestas tropicais remanescentes do mundo podem até mesmo se tornar fontes significativas de carbono.

O crescimento das temperaturas médias e extremas, os padrões de precipitação e a intensidade das tempestades poderiam determinar de forma significativa o que acontece com as árvores grandes das florestas tropicais. Mas Adriane diz: “Das árvores grandes, não sabemos quase nada”.

Eles sabem tão pouco em parte porque essas árvores são raras e morrem com pouca frequência. Um estudo de 2018 em um local próximo à Reserva Ducke constatou que, de 5.808 árvores observadas durante um ano, 67 morreram. Dessas, apenas uma árvore era grande. Não é possível fazer inferências sobre como uma população se comporta estudando uma única árvore. Esse problema é agravado na hiperdiversidade da Amazônia, com mais de 10 mil espécies de árvores, com uma infinidade de estratégias de vida distintas.

Para analisar um conjunto suficientemente grande de árvores de grande porte, os cientistas precisam coletar informações detalhadas de mais terras tropicais do que já foi examinado. No entanto, estudar o histórico de vida de cada árvore de uma floresta tropical pelos métodos atuais é trabalhoso e caro. Normalmente, os trabalhadores florestais marcam e registram estatísticas como o diâmetro do tronco e a espécie (se conhecida) de cada árvore em terrenos de estudo do tamanho de campos de futebol. Assim como os recenseadores, esses trabalhadores atualizam seus registros em visitas sucessivas.

Evan Gora points to a perimeter surrounded by burned branches that suggest a lightning strike pattern
Evan Gora aponta para um perímetro cercado por galhos queimados, que sugerem uma queda de raio como causa de morte de uma árvore. Foto: © Dado Galdieri/Hilaea Media.

Em um artigo de 2020, Adriane identificou 189 desses terrenos em uma rede de locais de pesquisa da Amazônia chamada RainFor, que ela considerou grande o suficiente para incluir em um estudo de mortalidade de árvores. A área combinada desses espaços totalizou 331 hectares, equivalente ao dobro do Parque do Ibirapuera, em São Paulo. A partir dessa amostra de floresta, ela inferiu as causas da mortalidade de uma árvore amazônica média. Mas ela também concluiu que os dados da rede “não tinham a cobertura espacial e temporal necessária para fornecer informações sobre árvores grandes”.

Em outras palavras, até o momento, poucas árvores amazônicas de grande porte foram estudadas para determinar quanto tempo elas vivem e o que as mata. Adriane diz que a situação é pior nas outras florestas tropicais do mundo, na Ásia e na África.

É por isso que o orçamento da equipe incluiu o drone Trinity Pro de US$ 27 mil (aproximadamente R$ 148 mil). Com ele, o projeto Gigante pode estudar mais árvores grandes do que nunca. Estamos “mudando nossa abordagem de olhar no nível do solo, medindo os troncos das árvores, para usar um drone”, explica Evan.

Para o trabalho atual, eles irão monitorar um lote de 1.500 hectares dentro da Reserva Ducke. Isso pode não parecer muito extenso, mas a área contém cerca de 750 mil árvores mais grossas do que um poste de cerca e quatro vezes mais terra do que em todas as pequenas áreas estudadas no artigo de Adriane de 2020.

Em contraste com os terrenos do RainFor, que os pesquisadores de campo visitam uma vez a cada dois anos, o drone do Gigante pesquisará a área de estudo mensalmente. Além disso, a equipe do Gigante calçará repetidamente aquelas botas à prova de cobras e entrará em locais selecionados. Mais como legistas do que como recenseadores, eles só visitarão árvores grandes recém-mortas após a análise mensal das imagens do drone.

Evan Gora holds a drone he hopes will significantly scale up the data gathering power of Gigante’s big tree mortality investigation in tropical forests worldwide.
Evan Gora e o drone que está sendo usado para coleta de dados pelo projeto Gigante sobre a mortalidade de árvores de grande porte em florestas tropicais. Foto: © Dado Galdieri/Hilaea Media.

Burocracia e tentativa de sequestro

Mas há um problema. No acampamento-base da Reserva Adolpho, Evan desmonta o drone e coloca as peças de volta em seu estojo personalizado. Ele ainda não pode pilotá-lo. O Brasil, assim como os Estados Unidos, regulamenta os drones. Apesar de meses de tentativas, a equipe ainda não obteve permissão.

Eles já esperavam ter recebido as aprovações, mas Evan diz que há “algumas complicações”. No meio do processo de solicitação de licenças, o consultor que eles contrataram para ajudá-los com a papelada parou abruptamente de responder a mensagens de texto e ligações. Depois de um tempo, ele explicou que houve uma tentativa de sequestro. Ele não quis dar mais detalhes, mas disse que precisava de mais tempo para voltar ao trabalho. Semanas se passaram sem nenhuma outra comunicação, deixando a permissão para voar em um limbo.

“Podemos ter notícias dele a qualquer momento, ou talvez nunca mais”, diz Evan. “É preciso ter muita paciência”, explica ele.

Uma vez autorizada, a equipe voará com o drone sobre Ducke. O drone irá se deslocar para frente e para trás em um grande terreno retangular, fotografando a floresta em trilhas paralelas, como as faixas de um gramado meticulosamente cortado. Os pesquisadores juntarão as imagens, produzindo uma única renderização de toda a área. Com a ajuda de um programa de computador desenvolvido por colegas no Panamá, eles procurarão nessa composição as aberturas no dossel que apareceram desde os sobrevoos anteriores, cada uma delas sendo o sinal provável de uma ou mais árvores recém-caídas.

Em seguida, eles saem a pé e verificam cada um deles. Adriane chama cada uma dessas visitas de “necrópsia”. A equipe espera que de 10 a 20 novos locais de árvores mortas sejam abertos no dossel a cada mês — cerca de 500 árvores por ano, o dobro do que os cálculos mostram ser necessário para tirar conclusões estatisticamente significativas sobre a mortalidade de árvores grandes.

Evan Gora, left, discusses assembly of the $27,000 Trinity Pro drone with Gigante team members in Brazil’s Adolpho Ducke Forest Reserve.
Evan Gora, à esquerda, discute a montagem do drone Trinity Pro com membros da equipe do Gigante na Reserva Florestal Adolpho Ducke. Foto: © Dado Galdieri/Hilaea Media.
Flamarion Assunção, a guide and research assistant, spots lighting strike patterns around a fallen big tree in the Adolpho Ducke Forest Reserve near Manaus, Amazonas state, Brazil.
À esquerda, Flamarion Assunção, guia e assistente de pesquisa, detecta padrões de iluminação em torno de uma árvore grande caída na Reserva Florestal Adolpho Ducke, perto de Manaus. À direita, Adriane Esquivel Muelbert segura um Resistograph durante uma viagem de campo na Reserva Florestal Adolpho Ducke; a ferramenta é usada para ajudar a identificar madeira podre dentro das árvores. Fotos: © Dado Galdieri/Hilaea Media.

O que está em jogo

Com US$ 1,7 milhão em subsídios da National Science Foundation dos EUA e do Natural Environment Research Council do Reino Unido, Adriane e Evan também supervisionam uma pesquisa paralela no Panamá e, a partir do próximo ano, na Malásia, em Camarões e em um segundo local na Amazônia.

Cada equipe local usará métodos idênticos para coletar dados nesses locais, seguindo o que os pesquisadores chamam de “o protocolo”, para permitir comparações válidas entre os locais. Com o fervor dos que creem verdadeiramente, Adriane, Evan e seus acólitos, os pós-doutorandos, ensinarão o protocolo às equipes que estudam os outros locais nos trópicos.

Como o drone não pode ser pilotado hoje e a equipe do Gigante não pode coletar dados aéreos, os membros da equipe calçam botas e passam repelente de mosquitos. Chegou a hora do workshop de hoje sobre windthrow — termo técnico em inglês para árvores derrubadas pelo vento. Os quatro cientistas e um especialista florestal local percorrem vários quilômetros de trilhas na floresta tropical até chegar a um corte no dossel. Parece que uma mão gigante golpeou três árvores altas e largas, derrubando-as no chão e arrancando suas raízes do solo. Essas, por sua vez, esmagaram dezenas de árvores menores em um emaranhado traiçoeiro de galhos.

Evan vivenciou em primeira mão o momento em que uma árvore desse tamanho tomba. “É um som espetacular!”, diz ele. “Você ouve estalos quando as raízes são arrancadas do solo e as árvores ao redor são esmagadas.” Imagine um galho de uma polegada de espessura se partindo em dois, diz ele. “Agora multiplique esse diâmetro por alguns metros.”

Antes que a equipe consiga entender a confusão, uma chuva fraca se transforma em um aguaceiro. Encharcados, os pesquisadores amarram uma lona e esperam o tempo passar. Vanessa distribui um saco de paçocas. Eles comem e cantam músicas pop e a tempestade continua.

Em seguida, a equipe mede o diâmetro de cada tronco. Duas se qualificam como “gigantes” — para este estudo, árvores com mais de meio metro de diâmetro do tronco na altura do peito.

Enquanto Adriane e Evan observam com aprovação, Vanessa e Gisele notam que cipós se agarram às árvores derrubadas. Em suas planilhas de dados, as pós-doutorandas classificam a infestação de cipós em um fator de dois, indicando que a folhagem dos cipós cobre de 25% a 50% do dossel combinado. Essas trepadeiras impedem que a luz do sol chegue à copa da árvore e roubam a água de suas raízes. Às vezes, os cipós ficam tão pesados que arrastam as árvores para baixo.

A equipe observa que as folhas das árvores derrubadas ainda estão penduradas, mostrando que as árvores caíram enquanto estavam vivas. Indo para a base das árvores, eles observam que os pelos finos das raízes estão intactos. Essas estruturas delicadas se degradam rapidamente no calor e na umidade tropicais quando expostas ao ar. Com base nisso, eles concluem que as árvores caíram no último mês ou dois.

Se isso não fosse apenas um exercício de treinamento, a equipe também verificaria se as árvores caídas apresentavam danos causados pela podridão do seu miolo, sondando cada uma delas com uma ferramenta chamada Resistograph. O dispositivo parece uma arma de assalto; segurando-o por um cabo de pistola, os pesquisadores pressionariam a ponta do cano, que abriga uma agulha, contra um tronco e apertariam o gatilho. Uma queda na resistência à sonda sugere que a madeira está quebradiça devido a uma infecção fúngica, outra possível causa da morte da árvore.

A pós-doutoranda Vanessa Rubio limpa o suor do rosto enquanto aplica uma broca sem fio em uma árvore gigante em pé, tentando entender melhor seu perfil e verificar se há doenças e podridão interna. Foto: © Dado Galdieri/Hilaea Media.
Iluminado pela luz da manhã, um angelim-vermelho (Dinizia excelsa) se eleva acima do dossel da floresta amazônica. Foto: © Dado Galdieri/Hilaea Media.

Se uma árvore cai… o que a matou?

O vento claramente derrubou pelo menos uma dessas grandes árvores. Outras podem ter sido derrubadas por uma vizinha que tombou. Os pós-doutorandos marcam “W”, de wind (vento, em inglês) , em suas anotações. Mas será que o vento matou as árvores? O vento derruba árvores amazônicas com frequência; metade de todas as árvores que morrem por causas naturais é derrubada pelo vento, de acordo com Adriane. Por “naturais”, ela quer dizer que não foram mortas com uma motosserra. Mas, na verdade, está cada vez mais difícil traçar uma linha entre a morte natural e a antropogênica das árvores.

Um estudo recente estima que, até 2100, o aumento das tempestades na Amazônia, provocado pelas mudanças climáticas causadas pelo homem, gerará um aumento de 43% nas mortes por windthrow — queda causada por vento. E, embora os cientistas não saibam ao certo, o vento pode ter o maior impacto sobre as árvores maiores, uma vez que suas copas vulneráveis se elevam bem acima do dossel circundante, o que reduz a velocidade do vento.

Os pesquisadores têm a intenção de determinar se um fator, e não outro, “causa” a mortalidade. Evan explica que, embora o vento seja a provável causa imediata, ou próxima, da morte dessas árvores, pode não ser o que realmente as matou — a causa final. Investigar a morte de uma árvore é tão complicado do ponto de vista forense quanto encontrar uma pessoa morta na parte inferior de uma escada: ela morreu de uma pancada na cabeça ao cair ou do derrame que levou à queda?

A queda de um raio está entre os poucos diagnósticos de árvores mortas em florestas tropicais feitos com um alto grau de certeza. Evan descobriu que 40% das grandes árvores mortas que ele havia estudado em uma floresta tropical do Panamá haviam morrido imediatamente após a queda de um raio.

Se as quedas de raios aumentarem tanto quanto sugerem algumas projeções climáticas (um aumento global de até 50% até 2100), Gora e seus colegas estimam que a mortalidade de árvores de grande porte no Panamá poderá aumentar entre 9% e 18%. Essa mudança, por sua vez, reduziria a absorção de carbono pela floresta. Mas Evan adverte que os raios podem não desempenhar um papel semelhante em todas as florestas tropicais. A pesquisa do Gigante deve ajudar a determinar esse papel.

Postdoc Vanessa Rubio takes measurements of a tree trunk to categorize it as a big tree as the Gigante project team scouts the Amazon forest for fallen giants.
A pós-doutoranda Vanessa Rubio mede o tronco de uma árvore para classificá-la como uma árvore grande, enquanto a equipe do projeto Gigante vasculha a floresta amazônica em busca de árvores gigantes caídas. Foto: © Dado Galdieri/Hilaea Media.

Para investigar as causas finais da mortalidade, o novo protocolo do Gigante exige a coleta de informações sobre vários fatores de risco — condições que podem levar uma árvore à beira da morte antes que outro fator dê o golpe final.

Por exemplo, Evan explica: “Poderíamos descobrir que toda árvore que morreu devido ao vento tem uma carga enorme de cipós. Descobriríamos que os cipós estão causando a mortalidade, mesmo que a causa próxima que anotamos tenha sido o vento.” Outros fatores de risco a serem considerados incluem a podridão do miolo, infestações de insetos e estresse hídrico (excesso ou falta de água), que podem ser intensificados pelas mudanças climáticas.

Adriane diz que, como é difícil atribuir uma causa final para a morte de uma árvore, sua pesquisa sempre terá algum grau de incerteza. “Nunca chegamos à causa da morte. Chegamos à causa potencial da morte.” Ainda assim, ela está motivada pela necessidade urgente de prever a eficácia do sumidouro de carbono tropical nas próximas décadas.

Muitas mudanças nas florestas tropicais que estão ocorrendo agora, ou que estão sendo projetadas, podem aumentar a mortalidade das árvores e degradar o sumidouro de carbono tropical. A mudança climática está alterando os padrões de precipitação, ventos extremos e relâmpagos, enquanto as lianas estão se tornando mais abundantes na Amazônia e em algumas outras florestas tropicais, à medida que aumentam as áreas de perturbação humana e a intensificação do calor.

A classificação de todos esses fatores exige dias de trabalho árduo. No final desse dia, a equipe volta em fila indiana pela trilha lamacenta e escorregadia até a sede da Reserva Ducke. Gotas de água brilhantes penduradas nas folhas refratam réplicas em miniatura da floresta escurecida. A folhagem exala aromas florais doces, estranhamente com notas de alho.

Ao se aproximarem do acampamento base, eles param em uma grande árvore viva que se ergue como um trovão acima do dossel circundante. Uma harpia está sentada em um ninho de gravetos grande como uma banheira, apoiado em uma curva da copa. As harpias (Harpia harpyja), a maior ave de rapina da Amazônia, empoleiram-se no topo das árvores e da cadeia alimentar. Quando vista, a ave gira a cabeça em direção aos pesquisadores. Entusiasmada, Adriane abandona sua serenidade científica. “É por isso que as árvores gigantes são importantes”, ela exclama.

Para realizar esta reportagem, a Mongabay obteve apoio do Pendleton Mazer Family Fund, Abby Rockefeller e Lee Halprin.

Créditos

Brasil : Como as hidrelétricas estão acabando com os peixes no Rio Madeira
Enviado por alexandre em 23/10/2024 13:36:39

  • A Bacia do Rio Madeira possui a maior diversidade de peixes da Bacia Amazônica, com 1.406 espécies catalogadas, mas a interferência humana e a crise climática estão provocando um declínio significativo das populações de peixes.

  • De acordo com os cientistas, as centrais hidrelétricas da Bacia do Madeira afetaram o ciclo hidrológico a jusante devido a oscilações irregulares, com impacto nos padrões migratórios dos peixes.

  • Esses desequilíbrios reduziram em 39% a captura anual dos pescadores no município de Humaitá.

  • No Rio Madeira, a pesca se tornou mais cara e exigente, obrigando pescadores a viajarem mais longe e por mais tempo para manter uma produtividade razoável, o que levou muitos ribeirinhos a atividades ilegais, como mineração e desmatamento.

HUMAITÁ, Amazonas — Ao amanhecer, vinte pescadores receberam a informação de que peixes matrinxãs estavam descendo o rio Aripuanã em direção ao Madeira, o maior afluente da Bacia Amazônica. Era a oportunidade de interromper uma semana de pesca improdutiva em Novo Aripuanã, município do sul do Amazonas, para se dividirem em três canoas de madeira e irem para o rio. Deveria ser simples: só esperar o cardume, que nada na superfície, e lançar a rede.

Às 11 horas da manhã, sem sinal dos matrinxãs (Brycon melanopterus), metade dos pescadores desistiu e, na canoa maior, retornaram à cidade. Um pescador observava tudo desde as margens daquele encontro de águas brancas e pretas no Médio Madeira, ao mesmo tempo em que, logo à sua frente, vários botos cor-de-rosa (Inia geoffrensis) e tucuxis (Sotalia fluviatilis) surgiam para respirar enquanto caçavam peixes. “Talvez o cardume nem chegue aqui, porque o rio está muito seco”, diz Raimundo Dias.

No final de abril, a bacia do Madeira estava em transição da estação chuvosa para a vazante. Com o nível da água ainda alto, os peixes se agrupam em cardumes e migram dos lagos, afluentes e igarapés para se alimentar de frutos, sementes e invertebrados terrestres que caem nos igapós e nas várzeas do Madeira.

No entanto, há uma década, mudanças abruptas e frequentes nos níveis dos rios têm desorientado os padrões migratórios. Cientistas e pescadores atribuem esses picos irregulares às usinas hidrelétricas do Madeira, duas grandes unidades instaladas no estado vizinho de Rondônia. “Neste mês, a cheia e a seca já aconteceram umas quatro vezes. O nível estava alto ontem. Está muito difícil para os peixes”, diz Dias.

Pescadores aguardam um cardume de matrinxãs que desceu o Rio Aripuanã, na região de encontro das águas com o Madeira, em frente à cidade de Novo Aripuanã, Amazonas. Fotos: Bruno Kelly.

Nascido e criado em Novo Aripuanã, Dias tem 50 anos e sempre viveu da pesca, mas diz ele que manter a atividade tem sido cada vez mais difícil devido à redução das capturas no Madeira, o rio mais diversificado da Amazônia, com 1.406 espécies de peixes catalogadas. “Havia muita fartura, não tinha como não pegar peixe aqui. De 10 anos para cá, a pesca diminuiu. Essa hidrelétrica acabou com a gente”, diz o pescador.

A usina de Santo Antônio, em Porto Velho, entrou em operação em março de 2012 e tem a quinta maior capacidade energética do Brasil, e a de Jirau, instalada 115 quilômetros rio acima, opera desde setembro de 2013; é a quarta maior do país.

De acordo com Dias, as espécies mais afetadas pelas hidrelétricas são as mais consumidas localmente: pacu (Mylossoma), aracu (Leporinus fasciatus), sardinha (Triportheus auritus, T. angulatus), matrinxã (Brycon) e jaraqui (Semaprochilodus insignis, S. taeniurus). Espécies de peixes de alto valor comercializadas para as grandes cidades, como os bagres migratórios dourada (Brachyplatystoma rousseauxii) e piramutaba (B. vaillantii), também desapareceram.

Essa escassez tem impacto não só no comércio, mas também na alimentação dos moradores de Novo Aripuanã. O peixe, principal fonte de proteína da população ribeirinha da Amazônia, encareceu nos mercados e restaurantes. “A gente vendia um punhado de matrinxãs por cinco reais. Agora, custa até 40 reais”, diz Dias.

O pescador Raimundo Dias no encontro das águas dos rios Aripuanã e Madeira, em frente à cidade de Novo Aripuanã, Amazonas. Foto: Bruno Kelly.

Um rio imprevisível

Em Humaitá, município na divisa com Rondônia, a produtividade pesqueira é fortemente influenciada pela sazonalidade. Quando o rio seca, muitas espécies vêm do Baixo Amazonas, entram no Madeira pela foz e nadam rio acima até o rio de águas brancas, onde se reproduzem.

No entanto, o pescador José Pessoa, de 58 anos, diz que essa migração foi prejudicada porque o rio perdeu a correnteza após as barragens. “O peixe precisa de corredeiras para fazer a piracema”, explica, referindo-se ao período de reprodução. “Se não encontra no Madeira, ele pega o Amazonas, nada até o Solimões e vai embora. Aqui, a gente acaba não tendo nada.”

“Hoje em dia, o peixe que a gente pega por aqui é quando o nível da água fica um pouco mais alto, então o peixe sai dos lagos, viaja para outro e sobe [o Madeira]”, diz Pessoa, que pesca desde os 13 anos. “Este ano, com pouca cheia, não vai ter tanto, porque não tem água para eles viajarem.”

A pesca artesanal é também afetada pela crise climática, que intensifica os fenômenos meteorológicos. Em outubro de 2023, o Madeira sofreu a pior seca da história, quando atingiu 1,10 metro de profundidade, influenciado pelo El Niño e pelo aquecimento do Oceano Atlântico Norte. O Madeira baixou quase três metros em 15 dias, em junho de 2024, e Rondônia decretou estado de alerta para a seca.

Na comunidade de Paraisinho, localizada 10 km ao norte de Humaitá, a pesca se tornou “quase inexistente”, segundo João Mendonça, presidente da associação de agricultores locais, que também representa os pescadores. A comunidade se sustenta graças à agricultura de várzea, cuja produção é adquirida por programas governamentais de alimentação.

“O período que deveria estar secando está inundando”, diz Mendonça. “Quando deveria estar inundando, está secando. O peixe fica fora de controle. Eles não fazem a piracema na época certa. (…) Hoje, as pessoas vêm comprar frango [na cidade] porque está difícil pegar o peixe na comunidade, tanto no lago quanto nas margens do rio.”

O pescador João Mendonça, da comunidade de Paraisinho, próximo a Humaitá. “Quando é para estar alagando, está secando”. Foto: Bruno Kelly.

As barragens adotam o modelo a fio d’água, que retém menos água em seu reservatório, mas ainda assim afeta a hidrologia do Madeira. Depois de analisar os dados de descarga de três estações hidrológicas, os cientistas descobriram que “as operações da barragem aumentaram significativamente a variabilidade do fluxo diário e subdiário”.

Os cientistas mediram isso monitorando mudanças repentinas no fluxo do rio — ou eventos de “reversão”, as mudanças repentinas de um período de aumento para um período de queda dos níveis, ou vice-versa, em dois dias consecutivos. Esse evento quase dobrou (94%) na estação de Porto Velho, 5 km a jusante da barragem de Santo Antônio. Em Humaitá, a 255 km dessa usina, o aumento foi atenuado (13%), mas ainda significativo, segundo os pesquisadores, que atribuem os números às oscilações na demanda de energia.

“Os eventos diários de hidropisia [retenção de água] são muito frequentes devido à usina hidrelétrica, porque ela controla a quantidade de água que retém e que libera”, diz a bióloga Carolina Doria. Ela é coautora e coordenadora do Laboratório de Ictiologia e Pesca, da Universidade Federal de Rondônia. “Essa variação abrupta no mesmo dia tem um impacto muito grande sobre os peixes”.

O peixe sabe que precisa sair das planícies de inundação, florestas e lagos alagados e nadar até o rio principal quando o nível da água começa a subir diária e gradualmente, diz Doria. “Se essa cheia e seca acontecer, o peixe nem sai do afluente. Ele se perde. Fisiologicamente, há um descontrole.”

O pescador José Pessoa em seu barco, ancorado em Humaitá, Amazonas. Foto: Bruno Kelly.

Barreiras para a obtenção de peixes saudáveis

Os moradores de Humaitá estavam acostumados com períodos bem definidos para a pesca. “Os peixes que a gente mais esperava na cheia eram o jaraqui e a matrinxã. Na seca, era o pintado, o pacu e o curimatã”, diz Mendonça. “A gente pegava em grande quantidade. Hoje, não dá para contar com isso”.

A dinâmica dos peixes está intimamente ligada à disponibilidade de água na bacia, segundo Marcelo dos Anjos, coordenador do Laboratório de Ictiologia e Ordenamento Pesqueiro do Vale do Rio Madeira, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

“Estas espécies não deixaram de ocorrer ali devido a uma preferência ambiental, mas porque deixaram de ter acesso”, diz Anjos. “A fragmentação dos habitats tem levado ao declínio das populações de peixes”. Segundo ele, essa perda de conectividade está ligada a um conjunto de fatores: hidrelétricas, desmatamento, assoreamento dos rios, mineração de ouro, assentamentos e expansão do agronegócio.

Pescadores em uma canoa enquanto o dia amanhece com neblina no Rio Madeira, entre os municípios de Manicoré e Humaitá, Amazonas. Foto: Bruno Kelly.

Samuel de Moraes, presidente da associação de pescadores de Humaitá, observou que os ribeirinhos do Madeira não podem mais se planejar de acordo com a dinâmica natural do ambiente. “Se o rio estiver secando na lua nova, podemos ter uma boa produção, porque os peixes saem dos lagos para se reproduzir”, diz Moraes. “Agora temos a lua nova. Era para estar secando, mas está enchendo”. Ele também notou mudanças no comportamento dos peixes que vivem nos afluentes e lagos da bacia do Madeira.

Além das mudanças na vazão do rio, os peixes também sofrem com a má qualidade da água, que vem caindo no Madeira, de acordo com Adriano Nobre, biólogo da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). “As alterações antrópicas [feitas pelo homem] afetam diretamente a qualidade da água”, diz Nobre. “As mudanças no regime hidrológico feitas por hidrelétricas, a presença de mineração, o desmatamento, entre outros fatores, têm influência sobre a manutenção da vida aquática.

Em abril, pesquisadores da UEA começaram a desenvolver o primeiro Índice de Qualidade da Água (IQA) para um rio de águas brancas na Amazônia, para entender a saúde do Madeira. Em março, o grupo lançou o primeiro IQA para a Bacia Amazônica, desenvolvido para rios de águas pretas.

Os investigadores da UEA navegaram quase 800 km no Rio Madeira para avaliar o seu WQI; os resultados ainda não foram divulgados.

O pesquisador Adriano Nobre conversa com o peixeiro José Alvinei no mercado de Humaitá durante uma expedição realizada para coletar amostras para desenvolver o primeiro Índice de Qualidade da Água para um rio de águas brancas na Amazônia. Foto: Bruno Kelly.

A pesca em crise

No mercado local de Humaitá, Osvaldo de Araújo limpava branquinhas em sua banca enquanto relembrava a época em que pescava no Lago de Três Casas, 45 km rio abaixo. “Era tanto peixe que não dava para aguentar”, diz Araújo, um peixeiro de 63 anos. “A gente pegava qualquer espécie que quisesse.”

Araújo costumava pegar até meia tonelada de peixe em cinco dias em sua canoa, mas diz que hoje um pescador pode levar pelo menos 10 dias para pegar 100 quilos. “Nesse mercado, se não fosse o peixe de viveiro, essas bancas estariam vazias”, diz ele.

Houve uma redução de 39%, de 267 para 163 toneladas, na média anual do desembarque de peixes em Humaitá, segundo estudo da Ufam, comparando os períodos antes (2002-10) e depois (2012-16) das barragens. As espécies mais impactadas foram branquinha (Curimata inornata), pirapitinga (Piaractus brachypomus), tucunaré (Cichia), curimatã (Prochilodus lineatus), jaraqui e pacu. “Essas espécies são muito utilizadas na culinária local, principalmente entre os ribeirinhos, e também representam grande parte do esforço de pesca dessa população para o comércio regional”, diz o biólogo Rogério Fonseca, coautor do artigo e coordenador do Laboratório de Interações Fauna e Floresta da Ufam.

Peixes à venda no mercado municipal da cidade de Humaitá, Amazonas. Foto: Bruno Kelly.

No período analisado, os anos mais produtivos ocorreram antes da entrada em operação das hidrelétricas: 2002 (294 toneladas), 2006 (350) e 2011 (407). Já os piores desembarques de peixes aconteceram após as barragens: 2014 (158), 2015 (94) e 2017 (101). “Hoje, não estamos mais chegando a 100 toneladas”, diz Moraes.

A associação de Humaitá tem cerca de 3.700 pescadores. O impacto das barragens “representa uma perda de aproximadamente 1,8 milhão de reais por ano para a atividade pesqueira em Humaitá”, segundo os pesquisadores.

Outro estudo recente concluiu que cinco pontos de pesca tradicionais se tornaram improdutivos. Há também locais com forte declínio nas capturas. No Córrego Beem, antes o mais produtivo, a captura caiu 99%, de 164 toneladas para 1,3. No Lago Três Casas, a redução foi de um terço, de 4,2 para 2,8 toneladas. Os pescadores precisaram buscar lugares mais distantes e passaram a pescar em 25 novos locais, segundo os pesquisadores. Em cada viagem de pesca, os ribeirinhos adquirem combustível, gelo, contratam funcionários e compram alimentos para o tempo no rio. “Não vale a pena ir para longe”, diz Araújo. “Hoje, a despesa de uma canoa para ir a um lago é de 500, 600 reais. Se não trouxer peixe suficiente para cobrir os custos, não dá para ir de novo.”

Em 2013, mais de 1.500 pescadores de Humaitá entraram na Justiça contra as empresas proprietárias das usinas, com base em estudos que atribuíam às barragens impactos sobre a pesca e o pescado. As ações pediam danos morais e patrimoniais.

No entanto, o juiz de Humaitá considerou que os transtornos aos pescadores começaram durante a construção das usinas, em 2007, e decidiu que as ações estavam prescritas porque o prazo já havia passado. Os pescadores recorreram da sentença, e os processos estão agora no Tribunal de Justiça do Amazonas.

Canoas de pesca vazias ancoradas em Humaitá, Amazonas. Foto: Bruno Kelly.

Uma tradição em risco

Numa tarde de sexta-feira, muitas caixas cheias de jaraquis chegam ao mercado local de Manicoré, um município 355 km a jusante de Humaitá. “Este ano, esperávamos uma produção melhor, mas só agora esse peixe está chegando”, diz Ancelmo de Menezes, um pescador de 59 anos. Antes das barragens, ele conta que costumava capturar peixes em maior quantidade e diversidade. “Era matrinxã, era tudo. Agora, como vocês podem ver, só tem esse peixe aqui.”

“As espécies de peixes mais abundantes ficaram muito escassas”, diz Antônio Veiga, presidente da associação de pescadores de Manicoré. Para ele, o declínio só não foi maior porque Manicoré é cercada por cinco grandes afluentes do Rio Madeira, onde os lagos têm boa produtividade.

Segundo Veiga, que está à frente da associação há 25 anos, não houve nenhuma audiência ou consulta pública sobre as usinas hidrelétricas na região. “Não tínhamos conhecimento de nada de bom ou ruim que ela poderia trazer para o nosso município. Elas foram instaladas em Rondônia, mas o impacto veio para o Amazonas”, diz.

O pescador Ancelmo de Menezes segura um jaraqui no Mercado Municipal de Manicoré, Amazonas. Foto: Bruno Kelly.

“Ninguém tem o controle da situação. O pescador já não sabe quando é que a água vem, quando é que vai, como é que as margens vão ficar”, diz.

Em Manicoré, os transtornos no rio e nos peixes fizeram com que muitos pescadores desistissem e passassem a exercer outras atividades. Alguns começaram a garimpar ouro no curso principal do Madeira, o que também causa muitos danos ao rio, acrescentou Veiga, mas essa atividade ilegal está diminuindo após batidas da Polícia Federal. Em setembro de 2023, os agentes destruíram 302 balsas e dragas de garimpo espalhadas entre Manicoré e Autazes. Em maio de 2023, 86 embarcações foram desativadas na região de Humaitá.

“Gerações de pescadores estão sendo obrigadas a mudar de profissão. A mineração e o desmatamento estão à sua porta. As atividades ilegais estão sendo empurradas para estas pessoas, que se veem sem oportunidades”, afirmou Fonseca.

Balsas de garimpo ilegal no Rio Madeira, próximo ao município de Borba, Amazonas. Foto: Bruno Kelly.

Um futuro crítico

No final de junho, os pescadores de Novo Aripuanã ainda estavam surpresos com a ausência de cardumes de matrinxã. “Até agora, eles não desceram”, diz Allan de Barros, presidente da associação de pescadores da cidade. Esse é um exemplo da incerteza da atividade pesqueira causada pelo desequilíbrio do Madeira.

“Consumíamos de 100 a 150 toneladas de peixe por ano no município e exportávamos mais de 500 toneladas para Porto Velho e Manaus”, diz Barros. “Hoje, não pegamos nem o suficiente para atender a demanda da cidade. É um fenômeno fora do normal”.

Em Novo Aripuanã, a piramutaba subia o Madeira até três vezes por ano, mas, desde a instalação das barragens, “nunca mais vimos um cardume em nosso rio”, diz Barros. Ele também observa que as espécies de bagres diminuíram de tamanho: o filhote (Brachyplatystoma filamentosum) chegava a 80 kg e a dourada, a 40 kg, mas hoje não passam, respectivamente, de 10 kg e 6 kg.

Pescador em uma canoa no meio do Rio Madeira, próximo ao município de Borba, Amazonas. Foto: Bruno Kelly.

Em meio a esse contexto, o número de pescadores ativos na associação caiu quase pela metade. “Os peixes estão longe e a despesa é enorme”, diz Barros. “A cidade não tem fábrica de gelo ou subsídios para diesel e gasolina. Não temos uma câmara fria para armazenar o peixe, assim poderíamos vendê-lo mais barato na baixa temporada. Como o pescador irá tão longe para pegar esse peixe e vendê-lo por um preço justo?”

Os pescadores de Novo Aripuanã ainda não entraram na Justiça para serem reconhecidos como atingidos pelas barragens. Mas Barros diz que a melhor compensação seria um repasse contínuo de recursos, por exemplo, via royalties ou fundo de apoio, para que o município pudesse investir na piscicultura artesanal, a fim de atender às demandas dos cidadãos e ter recursos emergenciais para mitigar eventos extremos.

No encontro dos rios Madeira e Aripuanã, Raimundo Dias diz à Mongabay que a seca histórica de 2023 também contribuiu para o ano de pesca improdutiva na bacia do Madeira. Como resultado, os preços de outros tipos de alimentos também subiram. Com o rio secando rapidamente outra vez, Dias espera outra época difícil. “Se continuar secando assim até agosto ou setembro, teremos uma crise muito grande aqui”.

Kevin Damasio e Bruno Kelly juntaram-se à expedição ao Rio Madeira com o apoio da Mongabay e da Ambiental Media.

Créditos

Brasil : Chuvas intensas e ventania podem ocorrer em 10 estados, alerta Inmet
Enviado por alexandre em 23/10/2024 12:53:33


Chuvas fortes no Brasil. Foto: Divulgação

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu um alerta nesta terça-feira (22), sobre chuvas intensas e ventos fortes que devem afetar 10 estados brasileiros. O aviso, que classifica a gravidade em níveis, indica que Goiás, Acre, oeste do Amazonas e o Distrito Federal estão sob nível laranja, um dos mais críticos, que aponta para riscos elevados, apenas abaixo do nível vermelho.

O alerta para chuvas intensas será válido até as 10h de quarta-feira (23). Os estados em nível laranja podem esperar chuvas entre 30 e 60 mm/h, acompanhadas de ventos que variam entre 60 e 100 km/h. O Inmet ressalta os potenciais riscos, incluindo cortes de energia elétrica, queda de galhos de árvores, alagamentos e descargas elétricas.

Por outro lado, Roraima, Rondônia, partes centrais do Amazonas, Mato Grosso e uma pequena área de Belo Horizonte, São Paulo e Mato Grosso do Sul estão em alerta amarelo, com previsão de chuvas entre 20 e 30 mm/h e ventos de 40 a 60 km/h.

Além das chuvas, o Inmet prevê a formação de um ciclone extratropical entre o Uruguai e o Rio Grande do Sul, que se desenvolverá na noite de quarta-feira (23) e na madrugada de quinta-feira (24). Esse fenômeno meteorológico resultará em áreas de instabilidade, provocando pancadas de chuva no oeste do Paraná e no centro-oeste do planalto sul de Santa Catarina.

Brasil : Fortaleza é a cidade no Brasil onde mais se fala palavrão, diz estudo
Enviado por alexandre em 22/10/2024 12:14:19

Do ATUAL

MANAUS – Manaus é a terceira cidade mais “boca-suja” do Brasil. O manauara fala ao menos seis palavrões por dia, de acordo com estudo da Preply. Fortaleza, Rio de Janeiro e Brasília são campeões quando o assunto são as palavras de baixo calão.

Em Fortaleza, Rio de Janeiro e Brasília a média é de 8 xingamentos diários. São Paulo e Belo Horizonte, com 7 palavrões por dia, estão em terceiro lugar.

A plataforma de idiomas — que havia divulgado as localidades mais “rudes” e gentis do país —, entrevistou 1.600 residentes de 15 municípios nacionais. Eles disseram em que situações falam mais palavrões, com quem costumam ser mais “desbocados” e quando evitam dizer tais xingamentos.

Principais conclusões 

  • No geral, um brasileiro diz de 6 a 7 palavrões diariamente;
  • Fortaleza, Brasília e Rio de Janeiro são as cidades que mais falam palavrão, com uma média de 8 palavrões por dia;
  • São Luís é a cidade menos “boca-suja” entre as envolvidas na pesquisa;
  • Os homens brasileiros xingam com mais frequência (8 vezes por dia) do que as mulheres (5 vezes por dia);
  • Os brasileiros são mais propensos aos palavrões dentro de casa (47,83%) do que em outras situações
  • 56,99% da população se incomoda com a linguagem vulgar de outras pessoas

Embora o Sudeste concentre o maior número de “bocas-sujas”, de forma geral o estudo revelou que cada região do país possui seus bons e maus representantes.

A maior porcentagem de habitantes incomodados com palavras grosseiras ou ofensivas aparece em São Luís, no Maranhão, cidade cuja média é a mais baixa de toda a pesquisa: apenas 1 palavrão dito por dia.  

Comparado a outros países, o Brasil está longe de ser o mais desbocado do mundo. Muito pelo contrário. Segundo o estudo, também realizado na Inglaterra e Estados Unidos, somos quem mais dá bons exemplos em comparação com ambos, em que a taxa média de palavrões por dia é cerca de 10 e 21, respectivamente. Por aqui, a média nacional de xingamentos é de apenas 6,61 — três vezes menor, portanto, que o registrado pelos estadunidenses.

A quantidade de palavrões diários também costuma variar dentro de grupos específicos. Na comparação entre homens e mulheres, eles (8,48 vezes por dia) tendem a xingar mais do que elas (5,35 vezes por dia). O mesmo acontece entre os mais jovens e os mais velhos: como imaginado, brasileiros entre 16 e 24 anos (8,9 vezes) falam quase o dobro de palavreados por dia do que aqueles acima de 55 anos (4,74 vezes). 

Onde e quando surgem os palavrões

Para entender em que locais e circunstâncias os brasileiros mais falam palavrão, os entrevistados foram questionados sobre que tipo de situação tende a despertar os xingamentos. Embora as discussões de trânsito sejam típicas no Brasil, curiosamente apenas 16,65% dos brasileiros revelaram xingar enquanto dirigem. O comportamento é provável de acontecer em Campinas, onde 33,33% disseram recorrer a ofensas do tipo ao dirigir. 

Na verdade, a liberdade parece mesmo morar dentro de casa, considerando que quase 50% dos entrevistados selecionaram o local como aquele onde costumam praguejar como quiserem. Em São Luís, o município nacional menos “boca-suja”, 60% dos habitantes xingam mais quando estão no próprio lar. 

Em contrapartida, o baixo número de brasileiros (9,53%) que revelaram dizer palavrões durante o trabalho reflete uma máxima do mundo corporativo: não é de bom-tom usar linguagem obscena em contextos profissionais. Nem mesmo em Porto Alegre, cujos residentes são os mais propensos a isso (19,05%), a porcentagem chega a ser considerável.

Os adeptos aos palavrões sabem que nem sempre eles são usados para ofender outras pessoas. Muitas vezes, aliás, os xingamentos aparecem quando ninguém está por perto, em momentos de excesso de raiva e autodepreciação — exatamente como sugerem as respostas do levantamento.

Para se ter uma ideia, de acordo com a maior parte dos entrevistados, os palavrões são geralmente ditos a si (26,85%) ou a ninguém em particular (20,60%). Só em seguida aparecem outros envolvidos, como os amigos (17,42%), parceiros amorosos (12,99%), colegas de trabalho (7,70%), irmãos (6,54%) e até mesmo os próprios pais (0,96%).

Palavrão com hora e lugar: quando evitamos soltar palavrões

Pelo visto, ao que indicam as respostas, existe mesmo hora e lugar para dizer palavrão. Afinal, quando perguntados sobre o que os inibe de recorrer à linguagem chula, quase 80% da população revelou se abster de usá-la na frente de crianças (78,10%), do próprio chefe (76,88%) ou à mesa de jantar (76,57%).

Uma grande parcela dos respondentes ainda assinalou evitar palavreados do tipo perto de pessoas idosas (70,10%), enquanto um número menor disse dispensá-los mesmo quando estão com estranhos (60,89%).

Há quem se incomode com o palavrão no Brasil?

Segundo as descobertas, a batalha entre os que se constrangem e aqueles que não se importam está bastante dividida no Brasil, pois o número geral de incomodados beira os 60%. O mesmo se aplica à comparação entre homens e mulheres: há pouca diferença de opinião entre os gêneros, mesmo com elas (60,41%) se mostrando um pouco menos tolerantes do que eles (51,90%). 

Talvez a maior diferença em relação ao incômodo com os palavrões apareça quando colocadas lado a lado diferentes idades. Se, entre jovens de 16 a 24 anos, apenas 47,49% disseram não tolerar tal tipo de linguagem, 61,11% das pessoas com mais de 55 anos se mostraram intolerantes aos xingamentos. 

Por fim, para aqueles que não dispensam um bom palavrão, a dica é fugir de São Luís, Natal e Salvador, os municípios com o maior número de pessoas que demonstram incômodo com os palavreados. Manaus, Recife e Rio de Janeiro podem ser os destinos ideais nesse caso, tendo em vista os residentes mais abertos da pesquisa aos famosos “desbocados”.

Metodologia

Entre 2 a 7 de novembro de 2022, foram entrevistados, via Censuswide, 1.639 brasileiros residentes em 15 cidades do país (necessária residência de pelo menos 12 meses no município). Para determinar as localidades que mais xingam, os entrevistados compartilharam o número de vezes que xingam por dia, número posteriormente utilizado para calcular e classificar a média em cada município.



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