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Brasil : VIAGRA/MULHER
Enviado por alexandre em 06/06/2022 22:32:30

O que a história do fracasso do viagra feminino ensina sobre sexualidade das mulheres

O viagra chegou às prateleiras em 1998 e se tornou um sucesso praticamente instantâneo de vendas.

 

Descoberta por acaso pela Pfizer, a "pílula azul" se tornou uma máquina de fazer dinheiro. Só nos primeiros três meses, os americanos compraram o equivalente a US$ 400 milhões da droga para disfunção erétil.

 

Não demorou para que a indústria farmacêutica voltasse os olhos para a outra metade do mercado - as mulheres - e visse aí uma oportunidade de dobrar seus lucros.

 

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"Eu comecei a estudar fisiologia sexual bem na época em que o viagra apareceu. E a sensação era de que, naquele momento, muito dinheiro passou a fluir para a pesquisa em sexologia", relembra Nicole Prause, neurocientista e pesquisadora ligada à Universidade da Califórnia (UCLA).

 

"Nunca tínhamos visto nada naquela magnitude. Nossa ciência [fisiologia sexual] ainda é de certa forma marginalizada, é vista como uma área arriscada. Há muitas companhias que não querem nem chegar perto desse assunto."

 

Corta a cena. Quase 25 anos e muitos milhões de dólares depois, a indústria farmacêutica nunca conseguiu emplacar uma versão da "pílula azul" para as mulheres.

 

Propaganda do viagra de 2006: ao mirar as mulheres, indústria farmacêutica tentou replicar abordagem usada para disfunção erétil masculina — Foto: Reprodução/Pfizer

 

O fracasso, que abriu espaço para uma discussão mais ampla sobre a sexualidade feminina, é também uma história sobre os tabus e os equívocos em torno do desejo e da libido das mulheres, como ressaltam os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil.

 

Viagra foi aprovado pela FDA nos EUA em 27 de março de 1998 — Foto: HO/AFP

 

A BUSCA PELA 'PÍLULA ROSA' 

 

A história do viagra masculino é bastante conhecida.

 

O medicamento hoje usado para disfunção erétil foi descoberto por acaso: "Nós estávamos desenvolvendo um remédio para angina, um problema no coração", conta à BBC News Brasil o médico Mitra Boolell, que trabalhava no departamento de pesquisas da Pfizer no Reino Unido na época.

 

"Quando alguns dos participantes do testes clínicos começaram a relatar que vinham tendo mais ereções que o normal. Nós inicialmente não demos muita atenção, achamos que se devia ao fato de os participantes serem homens jovens."

 

A decisão de investigar melhor veio quando um trabalho publicado por pesquisadores americanos mostrou como um dos componentes do fármaco que eles vinham testando (chamado inibidor PDE5) agia sobre o tecido do corpo cavernoso do pênis, aumentando a circulação sanguínea na região.

 

"Meu chefe pediu que organizasse um estudo para entender se aquilo era real ou um 'acidente'", lembra Boolell.

 

Tempos depois, as pesquisas com o viagra mostrariam que esse aumento da circulação era de fato capaz de provocar ereções e de mantê-las por mais tempo.

 

E a primeira abordagem da indústria farmacêutica ao voltar seus esforços para um possível viagra feminino se baseava exatamente nesse princípio: literalmente bombear mais sangue para a vagina e para o clitóris.

 

"O tecido que dá origem aos órgãos sexuais femininos e masculinos é o mesmo nas fases iniciais do desenvolvimento do feto", explica Boolell.

 

Desejo sexual se manifesta de forma diferente entre mulheres e homens — Foto: Getty Images/Via BBC

 

"Esse tecido vai se diferenciando à medida que é exposto aos hormônios, mas as células-tronco que dão origem aos órgãos sexuais são essencialmente as mesmas [em meninos e meninas]. E a enzima fosfodiesterase tipo 5 [PDE5] também está presente no tecido genital feminino. Então nós pensamos: 'Bom, se funcionou com os homens, tem uma boa chance de que tenha impacto nas mulheres'."

 

Mas não foi bem assim. Os exames fisiológicos chegavam a mostrar um aumento da circulação sanguínea na vagina e no clitóris, mas tanto as participantes do grupo placebo quanto as que estavam tomando viagra não relatavam melhora na função sexual.


Outras farmacêuticas realizando pesquisas semelhantes vinham se deparando com o mesmo problema - o que não chegava a ser surpresa para os especialistas em fisiologia sexual que já pesquisavam como a questão do fluxo sanguíneo se encaixava na equação da satisfação sexual.

 

Esse era o caso da cientista Nicole Prause, na época envolvida em um dos projetos do viagra feminino nos EUA.

 

O aumento do fluxo de sangue para os órgãos sexuais também faz parte da resposta sexual feminina. Quando uma mulher fica excitada, o corpo intensifica a circulação sanguínea nas paredes vaginais e no clitóris, que aumenta de tamanho, assim como os pequenos lábios - um processo chamado vasocongestão.

 

O problema é que, muitas vezes, as mulheres não chegam nem a se dar conta de que isso acontece.

 

"Nós estudamos isso por anos e, para as mulheres, não é tão fácil autoavaliar a vasocongestão", ressalta Prause. "Então nós sabíamos que a chance de fazermos algo nesse sentido e de que as mulheres relatassem que de fato estavam sentindo alguma coisa era praticamente zero."

 

A maioria dos problemas sexuais das mulheres não tem relação com um fluxo insuficiente de sangue para região genital, destaca Lori Brotto, professora do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, e diretora do Laboratório de Saúde Sexual da mesma instituição.

 

Especialmente o mais comum deles: a perda ou a redução do desejo sexual.


Nos homens, aliás, o viagra não funciona sem desejo - é preciso "ativação" do cérebro para que haja ereção. A questão central, nesse caso, é que o mecanismo de manifestação do desejo é bastante diferente entre homens e mulheres.

 

Na visão de Prause, ainda que tudo isso estivesse claro desde cedo para muitos dos cientistas envolvidos nas pesquisas, o potencial de vendas de uma droga que pudesse chegar ao mercado com o mesmo marketing do viagra fez com que muitas farmacêuticas ignorassem os alertas.

 

"Nós avisamos que não iria funcionar", ela reitera.

 

Então estudante de pós-graduação no prestigioso Kinsey Institute, Prause acompanhava seu mentor quando, no começo dos anos 2000, se envolveu em um dos projetos do viagra feminino.

 

Na primeira reunião com o grupo que conduziria a pesquisa, uma surpresa: apenas homens - a maioria acima dos 50 anos, médicos e sem PhD, ou seja, sem treinamento aprofundado em pesquisa científica.

 

Prause era a única mulher presente.

 

"Tinha uma secretária também, que entrava na sala às vezes para servir bolinhos", ela brinca, emendando que acredita que os envolvidos "estavam lá com a melhor das intenções, que queriam ajudar as mulheres e realmente achavam que estavam diante de algo que poderia fazer isso".

 

Ainda assim, a sensação é de que "não houve um debate razoável sobre o que é resposta sexual feminina - os gatilhos para o desejo e a excitação, a conexão (ou desconexão) entre o que acontece no cérebro e no restante do corpo - e sobre por que aquela abordagem provavelmente não iria funcionar".

 

"E isso não é algo único daquela empresa", completa a cientista.

 

Desenvolvido inicialmente como antidepressivo, flibanserin foi lançado nos EUA em 2015 com o nome comercial Addyi — Foto: Reuters/Via BBC

 

O FRACASSO DA PRIMEIRA ONDA DE PESQUISAS 


Boolell concorda que a indústria farmacêutica deveria "ter ouvido mais as mulheres".

 

Remédio Vyleesi foi aprovado nos Estados Unidos para tratamento de mulheres com perda do desejo sexual — Foto: Divulgação

 

Em 2004, quando a Pfizer anunciou que estava suspendendo seu projeto, ele deu uma série de entrevistas para explicar os motivos.

 

"Há uma desconexão em muitas mulheres entre as mudanças na genitália e as mudanças no cérebro [durante a resposta sexual]", disse na ocasião. "Essa desconexão não existe entre os homens. Homens têm ereções consistentemente na presença de mulheres nuas e querem fazer sexo. Com as mulheres, as coisas dependem de uma miríade de fatores."

 

Depois do fracasso, as farmacêuticas gradativamente fecharam as torneiras e o ciclo do financiamento abundante para pesquisas em fisiologia sexual minguou.

 

Prause, que a essa altura já estava no departamento de Psiquiatria da Universidade da Califórnia como pesquisadora associada, começou a enfrentar resistência interna na instituição para continuar tocando um estudo sobre orgasmo e depressão.

 

Apesar de ter conseguido financiamento privado para sua pesquisa, ouviu da universidade que não poderia aceitar o dinheiro - uma postura que ela atribui ao caráter "controverso" de sua pesquisa. Terminado seu contrato com a UCLA, ela resolveu fundar a Liberos, um instituto de pesquisa independente.

 

"Há ainda um grande estigma em relação a qualquer coisa que se proponha a lidar com problemas sexuais das mulheres", diz ela.

 

"Uma pílula é considerado algo 'aceitável', mas qualquer coisa mais ligada à sexualidade é vista por muitas empresas como algo que pode causar dano à imagem, algo que pode ser visto como pornográfico. Há muita resistência."

 

A NOVA APOSTA NOS ANTIDEPRESSIVOS 


Passadas quase duas décadas, uma farmacêutica não havia desistido do viagra feminino - mas focava em outro órgão, o cérebro.

 

Em 2015, a Sprout colocou no mercado o flibanserin, medicamento originalmente desenvolvido como antidepressivo e que atua nos níveis dos hormônios dopamina e serotonina com a promessa de aumentar a libido feminina.

 

A droga foi recebida de forma crítica pelos especialistas. Primeiramente, pela eficácia, considerada baixa. Nos testes clínicos, o aumento no número de episódios sexuais satisfatórios (uma medida relativamente subjetiva usada pelo órgão regulatório americano, o FDA, para avaliar essa categoria de medicamentos) observados em um mês entre as participantes ficou entre 0,5 a 1, quando comparado aos resultados do grupo submetido ao placebo.

 

Ou seja, no intervalo de um mês, as mulheres que tomavam o medicamento relataram um episódio sexual satisfatório - ou menos - a mais do que aquelas que o não tomavam.

 

Muita gente considerou que o custo-benefício não valia a pena. Ao contrário do viagra, o flibanserin tem de ser tomado diariamente, e pode causar tontura, fadiga e náusea. Também não pode ser consumido por mulheres que ingerem álcool - como o uso é diário, quem opta por tomá-lo tem de parar de beber.

 

A droga chegou a ser rejeitada duas vezes pelo Food and Drug Administration (FDA), o órgão regulatório americano, antes de ser aprovada.
Uma das vozes críticas foi a da professora do departamento de Psicologia da Universidade de Utah Lisa Diamond, que pesquisa a sexualidade feminina. A cientista chegou a participar, a convite da farmacêutica que lançou o flibanserin, de um painel com especialistas que simulava o formato adotado pelo FDA - um procedimento que as empresas às vezes fazem para se preparar melhor para o processo "real".

 

Com acesso aos dados da pesquisa, chamaram-lhe atenção os registros diários dos relatos dados pelas participantes aos pesquisadores e o fato de que as mulheres que estavam no grupo placebo também tinham experimentado aumento da libido.

 

"A partir do momento em que as mulheres começaram a se perguntar sobre desejo, elas passaram a sentir desejo! Não seria mais barato comprar um diário do que tomar uma pílula?", ela brinca.

 

"Nós obviamente depreendemos de dados como esses que o desejo é uma experiência complexa. Envolve atenção. Não é como uma bolha que estoura, é uma experiência consciente. E se a única maneira pela qual você consegue medir é perguntando às pessoas, o dado é enviesado. É diferente de uma ereção, que é algo observável. A excitação feminina é tão mais complicada..."

 

Nesse sentido, Diamond menciona uma área de pesquisa da sexualidade feminina chamada de estudos de concordância, que investiga a conexão e desconexão entre a resposta sexual fisiológica e a resposta cerebral.

 

Nos homens, na maioria das vezes a excitação sexual subjetiva - ou seja, o que acontece no cérebro - conversa com o que está acontecendo na genitália. O homem sente desejo e tem uma ereção.

 

No caso das mulheres, é mais comum que ocorra uma desconexão entre as duas esferas. Uma mulher pode ter sinais físicos de excitação - o aumento de fluxo sanguíneo para a vagina e clitóris, por exemplo -, mas não necessariamente sentir desejo ou vontade de se engajar em alguma atividade sexual, e vice-versa.

 

"Pessoalmente acho que muito disso tem a ver com o fato de que, para os meninos, quando estão crescendo, é mais fácil ligar os sentimentos com o que está acontecendo no corpo. Meninas não são encorajadas a explorar o próprio corpo e não têm a menor ideia do que está acontecendo lá embaixo - então muitas mulheres acabam dissociando o corpo da cabeça", diz a pesquisadora.

 

"E a ideia de que você pode consertar isso com uma pílula é uma loucura, é não entender a complexidade do desejo sexual."

 

O ENIGMA DO DESEJO FEMININO 


As vendas do flibanserin nunca decolaram. O medicamento hoje é licenciado em poucos países - o Brasil não está entre eles. Outras abordagens farmacológicas - como o Vyleesi, injeção de bremelanotida aprovado nos EUA em 2019 para mulheres em pré-menopausa com baixa libido - tampouco se mostraram frutíferas.

 

Parte do fracasso pode ter relação com o fato de que o desejo tem uma dimensão psicológica relevante para as mulheres.

 

É o que ajuda a explicar, por exemplo, porque a baixa libido as afeta mais que aos homens. Depressão, ansiedade, estresse, baixa autoestima, conflitos no relacionamento, vergonha do parceiro - tudo isso interfere mais no desejo feminino do que no masculino, pontua a professora Lori Brotto, da Universidade da Colúmbia Britânica.

 

"Os homens também se beneficiam dos efeitos dos níveis mais elevados de testosterona, que os permite sentir uma forma mais espontânea de desejo", ela acrescenta.

 

O desejo espontâneo foi durante muito tempo a ideia pré-concebida do que era desejo: uma vontade que simplesmente aparece, como a fome ou a sede. As correntes mais modernas do estudo da sexualidade feminina têm investigado, contudo, o que chamam de desejo sexual responsivo, aquele que surge como consequência de um estímulo.

 

Uma das cientistas que introduziu esse conceito no início dos anos 2000 foi a canadense Rosemary Basson. A pesquisadora também é autora da ideia da resposta sexual cíclica, que questiona o esquema da resposta sexual feminina como algo direto e linear - desejo, excitação, orgasmo e resolução.

 

Para Basson - e uma legião de cientistas hoje -, as coisas não são tão simples assim. O modelo linear tradicional, que vem de estudos das décadas de 60 e 70, ignora o que ela descreve como "componentes importantes da satisfação da mulher: confiança, intimidade, respeito, comunicação, afeto e prazer pelo toque".

 

Segundo ela, a resposta sexual das mulheres pode ser linear - quando não têm parceiro fixo, no início de um relacionamento, por exemplo. Já mulheres em relacionamentos mais longos tendem a experimentar a resposta sexual cíclica, em que desejo e excitação são etapas de um processo que se retroalimenta e também envolve intimidade emocional e estímulos sexuais psicológicos.

 

Essa discussão é importante não apenas para entender melhor as mulheres, mas para saber diferenciar o que são problemas que de fato precisam de tratamento e o que é da natureza da sexualidade feminina.

 

SE NÃO UMA PILULA, O QUE ENTÃO? 


Lori Brotto, diretora do Laboratório de Saúde Sexual da Universidade da Colúmbia Britânica, vem estudando o uso de mindfulness (atenção plena) para tratar mulheres com baixa libido, com resultados bastante positivos.

 

Por meio da prática, ela conta, as mulheres conseguiram ganhar mais consciência das mudanças físicas que acontecem antes e durante a atividade sexual - a vasocongestão ou as sensações parecidas com "formigamento" típicas da excitação -, o que pode lhes ajudar a aumentar ou manter o desejo sexual subjetivo.

 

"Vimos que o mindfulness também atua sobre a miríade de pensamentos negativos que as mulheres com problemas sexuais têm de si mesmas, reduz o nível de autocrítica e aumenta a autocompaixão."

 

Prause acredita que, a essa altura, a indústria farmacêutica tenha desistido de procurar uma pílula que resolva os problemas sexuais das mulheres. "O que tenho visto são startups tocadas individualmente por alguns cientistas com ideias mais inovadoras."

 

A sua startup, a Liberos, ainda realiza pesquisas, mas recentemente a cientista voltou à UCLA.

 

Da última vez em que esteve ligada à universidade, em meados dos anos 2010, ela começou a enfrentar dificuldade para continuar seus experimentos em psicofisiologia sexual quando um "senhor" que tinha bastante poder sobre a política de financiamento de pesquisa na instituição "parecia realmente incomodado" com o que ela se propunha a investigar.

 

"Eu sempre amei a universidade, a ideia de ser cientista, de descobrir conhecimento - isso sempre teve mais apelo pra mim do que o mercado. Ele se aposentou, eu voltei", ela conta.

 

Desta vez, ela tentou se colocar numa posição que considera mais segura. Está no departamento de Medicina, focada em áreas ligadas à sexualidade feminina, mas agora como estatística.

 

"Eu brinco que ninguém precisa de um sexólogo, mas todo mundo precisa de um estatístico…"

 

Depois de trabalhar com a pesquisa do viagra, Boolell se afastou dos testes clínicos relacionados à sexualidade. Passou por outras farmacêuticas na Suíça, França e Estados Unidos, mas em setores ligados às cardiopatias e à diabetes, suas áreas de expertise. Hoje atua como consultor em Londres.

 

No fim da conversa por telefone, a reportagem pergunta se ele acha que uma droga vai algum dia resolver os problemas sexuais das mulheres.

 

"Seria triste se fosse uma pílula, né? Acho que somos mais do que isso."

 

 

"As pessoas hoje querem uma pílula para tudo - para perder peso, resolver seus problemas sexuais. Mas o corpo é muito mais do que isso. Nós somos resultado de milhões de anos de evolução. O corpo humano é uma máquina incrível - e acreditar que uma pílula pode resolver todos os problemas é uma visão acanhada." 

 

Fonte: G1

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Brasil : KOMBUCHA
Enviado por alexandre em 06/06/2022 22:29:45

Saiba o que é Kombucha e qual é o seu impacto na saúde

Você sabe o que é kombucha? Apesar de existir há mais dois mil anos, a bebida vem sendo popularizada nas redes sociais nos últimos tempos, e talvez você já tenha se perguntado sobre o que se trata.

 

Trata-se de uma bebida fermentada feita a partir de bactérias e leveduras misturadas com açúcar e chá preto ou verde. Essas colônias, que parecem “um cogumelo flutuando no líquido”, de acordo com a “Women’s Health”, de onde são as informações, passam por um processo de fermentação — e é isso que separa o kombucha de outras bebidas.

 

Apesar de ter essa origem um tanto quanto diferente, a bebida oferece muitos benefícios à saúde. Alguns deles, segundo a nutricionista Lisa Moskovitz, são a melhora da digestão e da função imunológica. Além disso, o processo de fermentação faz com que o kombucha se torne repleto de probióticos, vitaminas B e enzimas, além de ajudar a desinchar o corpo.

 

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Todo mundo pode beber kombucha?

 

Antes de decidir adicionar a bebida ao cardápio, contudo, há duas coisas importantes que você deve saber:

 

NÃO BEBA DEMAIS

 

Enquanto consumir um pouco de kombucha é bom para a saúde, muito pode causar problemas como azia. Além disso, ela não é indicada para gestantes ou pessoas com o sistema imunológico comprometido, pois as bactérias ainda podem causar efeitos indesejados.

 

“Algumas versões podem ser não pasteurizadas, especialmente versões caseiras, que resultam em reações tóxicas e podem ser prejudiciais para o feto”, explica Lisa.

 

Se você está com a saúde em dia, não precisa se preocupar muito com as versões compradas em lojas de produtos naturais, mas consumir uma versão caseira da bebida pode ser mais arriscado.

 

 

EVITE VERSÕES ALCOÓLICAS

 

A fermentação é também o processo pelo qual o álcool é produzido. Então, tecnicamente, todo kombucha é um pouquinho alcoólico. “Algumas versões passam tempo suficiente em fermentação para conter tanto álcool quanto uma cerveja light”, aponta a nutricionista. A dica para garantir um kombucha o mais saudável possível é sempre checar o rótulo antes de beber e optar pelas versões de baixo teor alcoólico.

 

Fonte: Gooutside

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Brasil : CÚRCUMA
Enviado por alexandre em 06/06/2022 22:26:07

Conheça os benefícios do tempero para a saúde

Já faz algum tempo que a cúrcuma vem sendo cada vez mais apreciada na culinária brasileira, não é mesmo? De cor alaranjada, esse tempero em pó é produzido a partir da raiz de uma planta que pertence à família do gengibre e possui outros nomes conforme a região do país, como açafrão-da-terra ou açafroa.

 

Contudo, você sabe o motivo de tamanha popularidade? Pois é! Seu potencial antioxidante e anti-inflamatório fez com que cada vez mais pessoas incorporassem a cúrcuma em seu cardápio com o intuito de emagrecer ou de desinflamar o corpo. Mas, o uso da cúrcuma vai muito além disso, viu?

 

De acordo com o nutricionista Diego Ricardo, a cúrcuma "atua na recuperação muscular pós-treinos, é cardioprotetora, antifúngica, antibacteriana, ajuda a regular a pressão arterial, é diurética e também neuroprotetora", elenca o profissional.

 

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Como incluir a cúrcuma na alimentação?

 

Para quem ficou interessado em aproveitar todos os benefícios da cúrcuma na alimentação, saiba que é possível consumir essa especiaria de muitas formas. Entre elas, as mais populares são por infusão, tintura ou extrato.

 

Porém, o uso da cúrcuma como condimento pode ser a maneira mais prática e acessível de incluí-la no dia a dia. Nesse sentido, vale adicionar o tempero em pó em molhos, carnes, caldos e até mesmo no preparo do arroz.

 

Contraindicações no uso da cúrcuma:

Apesar de apresentar muitos benefícios para a saúde, o nutricionista alerta que a cúrcuma não é recomendada para gestantes e crianças. "O uso também não é indicado para pessoas que possuem obstrução de ductos biliares, alergia à curcumina ou que fazem uso de algum medicamento que altera o processo de coagulação do sangue", explica Diego Ricardo.

 


 

Vale lembrar também que mesmo com baixa toxicidade para o corpo, seu consumo deve ser feito de maneira equilibrada, tudo bem? "A ingestão exagerada do condimento pode causar diarreia, náuseas e alterações de pH. Além disso, o alimento também pode afetar na absorção do ferro. É importante consultar um profissional nutricionista para a recomendação adequada da especiaria, a fim de evitar danos à saúde devido à ingestão desajustada", conclui o profissional. Por isso, quem consome a cúrcuma com o intuito de emagrecer, o ideal é aliar junto a uma alimentação saudável e atividades físicas. 

 

Fonte: Alto Astral

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Brasil : ORGULHO PARAÍBA
Enviado por alexandre em 02/06/2022 09:37:18

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Cientista paraibana é a primeira brasileira a ganhar bolsa de estudos no MIT
Ela é a primeira brasileira escolhida para a edição de estreia doFred Trajano Postdoctoral Fellows Fund, programa de bolsa de estudos de pós-doutorado no MIT(Massachusetts Institute of Technology), organizado pelo hospital Albert Einstein em parceria com o CEO do Magazine Luiza, que dá nome ao programa. A cientista da computação Chrystinne Fernandes desenvolve pesquisas na área da saúde por meio da análise de dados e aplicações IoT (internet das coisas), que conecta objetos comuns à internet.

Seu trabalho aparece em primeiro lugar na lista de profissões em alta demanda para os próximos anos, segundo o relatório Future of Jobs, do Fórum Econômico Mundial. “É uma área maravilhosa, com muito potencial de carreira. Se com a minha trajetória eu conseguir inspirar uma mulher a entrar na área, vou ficar muito feliz”, diz a pesquisadora.

Poucas colegas em TI

Quando se formou na UFPB, Chrystinne tinha apenas 5 colegas mulheres entre os 30 alunos de sala. Nesse período, teve uma ou duas professoras mulheres. “Sempre me dei bem com isso, mas claro que faz falta.”

As mulheres compõem 20% da força de trabalho em tecnologia, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O setor era – e continua sendo – um território masculino, mas, aos poucos, os números começam a refletir alguma mudança.

Um levantamento da Catho mostra que entre janeiro e fevereiro deste ano a presença das mulheres chegava a 23,6% dos postos do setor. Entre os três finalistas do programa que chegaram à etapa de entrevista com Frederico Trajano, havia duas mulheres. “Como a gente não tem tantas referências, foi muito especial”, diz Chrystinne. “A proposta do programa tem sinergia com um princípio que sempre norteou minha vida profissional e pessoal, o de levar ao acesso de muitos o que é privilégio de poucos”, afirma o empresário.

A pesquisadora vai aprimorar os conhecimentos em análise de dados ao estudar no Laboratório de Fisiologia Computacional do MIT, líder mundial no campo da construção e curadoria de conjuntos de dados clínicos, com especialistas do mundo todo.

Serão dois anos nos Estados Unidos, com reuniões quinzenais com pesquisadores do Einstein para trocar conhecimentos sobre tecnologia e saúde. “Eu vou tentar ao máximo extrair o conhecimento de lá e trazer para o Brasil, a minha ideia é agregar valor para a pesquisa brasileira.”

O currículo e a experiência internacional pesaram para a aprovação, segundo ela. Mas o fato de ter sido orientada pelo professor e diretor do laboratório de engenharia de software da PUC-Rio, Carlos Lucena, também contou. Pioneiro na área da computação no Brasil, foi uma das primeiras pessoas a usar um computador no país.

Mulheres na tecnologia

O dia em que recebeu a notícia foi, segundo Chrystinne, o melhor de sua vida. De Patos, interior da Paraíba, ela foi criada com os três irmãos somente pela mãe, depois de seu pai ter sido assassinado quando ela tinha seis meses de idade. Sempre foi uma aluna dedicada e apaixonada por exatas, daí a escolha pela ciência da computação. Ela não tinha nenhuma referência na área, mas sua mãe foi uma grande inspiração da mulher forte que ela sonhava ser.

A pesquisadora incentiva meninas e mulheres a seguir carreira na tecnologia, setor que vem se expandindo e demandando profissionais, e aconselha: “Não podemos levar a sério os preconceitos e o que as pessoas falam, temos que nos colocar.”

Fonte: Blog Chico Soares

Créditos: Polêmica Paraíba

Brasil : ECOCÍDIO
Enviado por alexandre em 31/05/2022 23:55:46

Precisamos da Amazônia para evitar ecocídio climático do planeta

Em mais de quatro décadas de pesquisas guiadas por perguntas intrigantes, a Amazônia quase sempre esteve no centro dos estudos feitos por Carlos Nobre. Algumas das respostas que encontrou ajudaram a desvendar o papel vital que a floresta desempenha para o clima local e global.

É a esse conjunto de conhecimento que ajudou a produzir que Nobre atribui o reconhecimento da Royal Society, a academia científica mais antiga do mundo, que acaba de elegê-lo como membro internacional. Antes dele, o único brasileiro a figurar na Royal Society havia sido o imperador Dom Pedro 2º, que integrou a lista não como cientista, mas como membro da realeza.

Pesquisador aposentado do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Nobre é copresidente do Painel Científico da Amazônia (SPA, na sigla em inglês) e atualmente ligado ao Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP).

Em 1990, quando deu os primeiros alertas ao mundo sobre a possibilidade de a exuberante Floresta Amazônica perder sua capacidade de se regenerar devido ao avanço do desmatamento, Nobre jamais imaginou assistir à floresta se aproximar desse ponto.

Em 2007, com base em modelos matemáticos rodados em computador, Nobre apontou que, caso 40% da Floresta Amazônica desaparecessem, a densa mata alcançaria um ponto crítico de desequilíbrio ou inflexão (tipping point), e perderia a capacidade de se manter como vegetação densa. Em 2017, essa projeção foi corrigida: em vez de 40%, 20% de destruição seriam suficientes para a morte da floresta.

Um estudo publicado em março deste ano pelo jornal Nature Climate Change revelou que, nas últimas duas décadas, a Floresta Amazônica vem demorando cada vez mais para conseguir se recuperar de longos períodos de estiagem, o que resulta em danos aos ecossistemas e deixa o bioma mais próximo de seu ponto de inflexão, após o qual a floresta não terá mais capacidade de se regenerar.

Em entrevista à DW, Nobre retoma as descobertas que ajudou a fazer sobre a Amazônia e ressalta: “Se a gente quer se salvar do risco de ecocídio climático do planeta, temos que manter o carbono na floresta.”

Saiba mais: Garimpo ilegal provocou 90% das mortes por conflitos no campo em 2021, aponta CPT

“Nos últimos 3 anos e meio, com o atual governo federal do Brasil, vimos um descontrole proposital, uma política de expandir a agropecuária, de levar a mineração a tomar tudo ali – áreas indígenas, protegidas, tudo. Nós voltamos, por incrível que pareça, para as décadas de 1970 e 1980”, lamenta.

O que o reconhecimento da Royal Society representa para o senhor e para a ciência brasileira?

Acho que é um reconhecimento da preocupação não só da ciência, mas de toda a população mundial, a brasileira inclusive, com o futuro da Amazônia.

A Amazônia está correndo um enorme risco de desaparecer, de perder a maior biodiversidade do planeta. E como eu tenho me dedicado há mais de quatro décadas à pesquisa da Amazônia e sou muito preocupado em demonstrar cientificamente estes riscos que estão acontecendo – o impacto das mudanças climáticas, da degradação e do fogo – acho que esse foi um reconhecimento da contribuição da ciência para mostrar quão perto estamos desse ponto de não retorno.

Sou um pesquisador que trabalhou muito, muito envolvido com experimentos científicos na Amazônia ao longo da minha carreira. Esses experimentos foram lá estudar como a floresta interage com o clima, como a biodiversidade interage com a manutenção dessa belíssima floresta.

Eu julgo que esse foi um reconhecimento não só individual, foi muito muito mais um reconhecimento da coleção de pesquisas de que participei ao longo dos últimos 40 anos, pelo fato de eu sempre ter chamado muito a atenção sobre a importância da Amazônia para a biodiversidade do planeta, para a estabilidade climática, para combater as mudanças climáticas e o risco que ela corre.

O momento atual do Brasil é delicado, em especial devido ao aumento do desmatamento na Amazônia nos últimos quatro anos. Como o senhor avalia essas ameaças que a floresta e seus habitantes têm sofrido?

Avalio que estamos num momento muito crítico – e não só no Brasil. Se pegarmos os índices de desmatamento de 2021, veremos que todos os países que têm Floresta Amazônica mostraram aumento do nível de desmatamento nos últimos anos.

Na Colômbia, houve uma pequena redução em 2019 e 2020, e depois aumento em 2021. Os únicos países que têm parte dessa floresta tropical que não tiveram aumento de desmatamento são países que ainda têm uma grande área com a floresta protegida: Suriname, Guiana e Guiana Francesa – mas é uma porção menor.

Grande parte da Amazônia, 85% dela, é motivo de grande preocupação porque os desmatamentos cresceram nos últimos anos. Além disso, está crescendo a degradação florestal. Quando se retira a madeira – e no Brasil isso é quase que totalmente ilegal, é uma indústria criminosa –, se começa a abrir a floresta. Para chegar à árvore valiosa, um pequeno caminho é feito para a passagem do trator, que depois serve de entrada para outras pessoas que vão lá cortar e colocar fogo nas árvores – para eventualmente aquilo se tornar um área sem floresta e dar lugar à pecuária ou agricultura.

Nos últimos 15 anos, a área degradada foi o dobro da desmatada. Na Amazônia como um todo – 6,5 milhões de quilômetros quadrados originalmente de floresta – já tivemos 18% desmatados e 17% degradados.

Quando a degradação aumenta muito, você expõe o solo. E temos o aquecimento global aumentando a temperatura, que já subiu 1,5 ºC em toda a Amazônia, e nas área desmatadas é ainda mais quente. Você começa a fazer a floresta que levou milhões de anos para ser muito resiliente ao fogo ficar mais inflamável.

Só 4% da radiação solar que atinge a copa das árvores chega à superfície do solo. Quando você entra dentro da floresta, você vê que tem pouca luz e é muito úmido. Se cai uma descarga elétrica ali, o fogo não se propaga, porque toda a vegetação está muito úmida. Quando se começa a desmatar, o sol entra mais e seca o solo. Então o fogo passa.

Cerca de 95% – ou mais – do fogo na Amazônia têm causa humana, não é causado por descargas elétricas (raios). E hoje esse índice aumenta exponencialmente. O incêndio em áreas degradadas se propaga às vezes até por quilômetros.

Quando o fogo queima os troncos, aquelas árvores vão morrer nos próximos dois anos. Ou seja, elas perdem toda a vegetação, o sol entra e começa a secar mais ainda tudo.

Muito do fogo é criminoso. Ele é colocado nessa floresta degradada para ir queimando, acabando com a floresta. Outra parte são incêndios que partem do uso do fogo na agropecuária na Amazônia. Nas pastagens, é comum o pecuarista usar o fogo, e o fogo pula da pastagem para a floresta degradada que está ali do lado.

Nós temos que mudar, nos policiar, ter uma atitude muito diferente, senão iremos de fato passar do ponto de não retorno, estamos na iminência desse ponto.

Quando o senhor, há mais de 30 anos, publicou esse artigo científico que apresentou o chamado tipping point, o ponto em que a Floresta Amazônia já está tão desmatada que perde a capacidade de manter sua cobertura vegetal, usando modelagem computacional e cálculos matemáticos, o senhor imaginava que veria isso acontecer de fato na Amazônia?

Em 1990, 1991, quando publicamos os dois trabalhos iniciais desse estudo de modelos matemáticos, os modelos eram muito mais simplificados que os de hoje em dia. Os modelos hoje permitem projetar o que as mudanças climáticas vão fazer, o impacto do desmatamento, mas, mesmo assim, lá atrás já deu para ver que se a gente tirasse a floresta, ela não voltaria em todo o sul da Amazônia.

Esse resultado lá da década de 1990 mostrou que o clima dessa região indicava que, sem a floresta, a estação seca ficaria muito longa. E uma estação seca de seis meses seria o clima do Cerrado. Por isso que eu criei o termo risco de “savanização” da floresta.

Em 1990, a gente tinha saído da ditadura militar, que era quem patrocinava a substituição da floresta por esse modelo de uso extrativista dos recursos, de tirar, de queimar árvores para gerar fertilizantes para pastagem, que foi muito forte. A Constituição de 1988 criou uma proteção para todos os biomas brasileiros, povos indígenas, populações tradicionais.

A Constituição começou a sinalizar um caminho de redução, mas não necessariamente isso aconteceu. Tivemos um super recorde de desmatamento em 1994, o maior do registro histórico, com 29 mil quilômetros quadrados, e depois 27 mil quilômetros quadrados desmatados em 2004.

De qualquer modo, lá trás, em 1990, aquilo parecia ser um risco muito distante, que talvez, um dia, pudesse acontecer de desmatarmos muito. Em 1990, não tínhamos tido a Rio-92 [ou Eco-92], não se falava tanto de mudanças climáticas. Então, a minha expectativa era positiva, principalmente quando o Brasil fez o seu plano de controle de desmatamento e queimada, o chamado PPCDAm [Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia], em 2004, e depois tivemos um enorme sucesso de redução. De 2004 a 2013, foi a maior redução de desmatamento de florestas em todo o mundo.

Aquilo nos deu um grande otimismo, porque parecia que o Brasil iria zerar suas emissões de CO2 rapidamente a partir de 2012. Mas, infelizmente, o que vimos a partir da forte recessão em 2015: uma diminuição muito grande na efetividade das políticas públicas do PPCDAm porque diminuiu muito a eficácia dos órgãos de fiscalização, parou o processo de demarcação de reservas indígenas.

Nos últimos 3 anos e meio, com o atual governo federal do Brasil, vimos um descontrole proposital, uma política de expandir a agropecuária, de levar a mineração a tomar tudo ali – áreas indígenas, protegidas, tudo. Nós voltamos, por incrível que pareça, para as décadas de 1970 e 1980. Quando havia mais de 20 mil garimpeiros na Terra Indígena Yanomami, por exemplo.

Quando publiquei o trabalho lá trás, jamais poderia imaginar que 30 anos depois teríamos voltado para aquele modelo de acabar a Floresta Amazônica. Esse é o maior risco que temos que atacar, como talvez a mais importante prioridade de política ambiental.

A ciência tem apontado caminhos possíveis para a conservação da Floresta Amazônica. Como tem sido a participação efetiva da política e da economia nesse sentido?

Há inúmeros elementos que mostram que o potencial econômico da floresta em pé é muito maior que o de derrubar floresta. Muito dessa política expansionista agropecuária, da mineração, tem muito mais a ver com um valor cultural do agronegócio, bastante atrasado do Brasil, que valoriza mais o tamanho da propriedade agrícola que o valor econômico da produção daquela área.

A produtividade da agropecuária na Amazônia é baixíssima. Um hectare no estado do Pará, por exemplo, que é motivo de reclamação do governador Helder Barbalho em público, gera cerca de 70 a 80 quilos de carne por ano. Há algumas poucas fazendas no Pará que são muito mais produtivas com o sistema integrado chamado lavoura-pecuária-floresta, que tem uma rotação de pastagem, gerando até mais de 500 quilos de carne por ano por hectare. Ou seja, sete vezes mais produtivas que a média da Amazônia.

A justificativa é uma cultura de posse de terra, que é histórica no Brasil. Quando a gente olha para o total dos quase 3 milhões de quilômetros quadrados já alterados dos biomas naturais brasileiros – 20% na Amazônia, 50% no Cerrado, mais de 80% na Mata Atlântica – nós vemos que ainda a maioria das propriedade agrícolas, principalmente na Amazônia, têm baixíssima produtividade agrícola. Então não se explica que essa expansão seja necessária para gerar mais alimentos, mais produtos agropecuários. Na época em que houve a redução dos desmatamentos, de 2004 a 2013, a produção de soja e carne na Amazônia dobrou.

A pecuária ocupa 64% de toda a área desmatada, com pastagens; 14% deram lugar a várias culturas agrícolas, e 20% foram abandonados e a floresta está se regenerando.

E o potencial econômico da floresta? Inúmeros estudos hoje mostram o potencial de sistemas agroflorestais, que são culturas agrícolas de floresta. Há o exemplo de uma cooperativa em Tomé-Açu, no Pará, que produz mais 120 produtos de 64 diferentes espécies da floresta. E o bem-estar social dos cooperados melhorou, é uma cooperativa bem estruturada.

Vários estudos mostram que um hectare de agropecuária, da mais produtiva, rende 100 dólares por ano. Um hectare com sistema agroflorestal como esse do Pará rende entre 500 e mil dólares por ano. A soja mais produtiva na Amazônia rende 200 dólares.

O potencial econômico dos produtos florestais e sistemas agroflorestais é muito superior ao da agricultura. E nem se compara com madeira, até porque 80% da madeira é roubada, não entra no sistema econômico. O mesmo vale para o garimpo, que é ilegal, com roubo de ouro, que está na mão de poucas pessoas, na maior parte, associadas ao crime organizado.

O grande desafio é transformamos a economia da Amazônia na chamada bioeconomia de floresta em pé. Temos defendido que esse é o caminho para salvarmos a Amazônia.

O relatório do Painel Científico da Amazônia (SPA, na sigla em inglês), do qual sou copresidente, um documento de 1.300 páginas de muito rigor científico, traz algumas conclusões muito fortes. Uma delas é a moratória do desmatamento e da degradação do uso do fogo de imediato pra salvar a Amazônia. No sul da Amazônia, estamos à beira do precipício deste ponto de não retorno, a floresta já dá todas os sinais que ela está se “savanizando”.

Eu gosto de falar esse termo entre aspas para explicar que o Cerrado brasileiro é uma savana tropical, se desenvolveu em 50 milhões de anos, tem a maior biodiversidade do mundo entre as savanas, uma enorme armazenamento de carbono. E o Cerrado evolui totalmente em sintonia com o fogo, as árvores têm resistência ao fogo. Ele também tem uma enorme quantidade de raízes que armazenam muito carbono.

Essa savanização da Amazônia não vai fazer a floresta virar um Cerrado: ela vira um ecossistema com o clima do Cerrado, com estação seca de seis meses, mais quente, com descargas elétricas gerando fogo, mas com uma biodiversidade muito reduzida e quantidade de carbono muito menor.


A outra conclusão do painel foi um amplo projeto de restauração, que eu estou chamando de Arco do Reflorestamento, com um milhão de quilômetros quadrados, para ser a contrapartida do Arco do Desmatamento, essa enorme área que vai desde o Atlântico até quase os Andes.

O projeto ajudaria a floresta a talvez se salvar do ponto de não retorno. A estação seca já cresceu em todo sul da Amazônia cinco semanas em relação à década de 1980. Se aumentar mais cinco semanas, já será o clima do Cerrado, e a estação seca muito longa não mantém a floresta.

O grande potencial socioambiental da Amazônia está na riqueza de sua biodiversidade e também temos que aprender muito com o conhecimento dos povos tradicionais, indígenas, quilombolas, ribeirinhos, que vivem ali há milhares de anos e sempre viveram com a floresta em pé. Temos que combinar ciência com inovação tecnológica e conhecimentos tradicionais para essa bioeconomia de floresta em pé.

Por que a Floresta Amazônica é importante não apenas para o Brasil, mas para o mundo, como este reconhecimento da Royal Society demonstra?

Primeiro lugar, se a gente quer se salvar do risco de ecocídio climático do planeta, temos que manter o carbono na floresta. Se for para esse outro estado de “savanização”, ela perde no mínimo 300 bilhões de toneladas carbono. O máximo que nós podemos emitir para ficar no limite de aquecimento de 1,5 ºC são 400 bilhões de toneladas – isso contando tudo, queima de combustíveis fósseis, agricultura, etc. Então, só a Amazônia pega três quartos desse limite.

Nós temos a maior biodiversidade do planeta. É um valor humano manter a biodiversidade, mas tem benefícios ecológicos, de manter todos esses microrganismos na Amazônia. Se a gente começar a desconfigurar essa complexa relação entre as espécies na Amazônia, corremos um risco também de gerar inúmeras pandemias.

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