BRASÍLIA – Em 2023, 40% dos resíduos e 15% dos rejeitos gerados no Brasil não foram reaproveitados ou reciclados, segundo o Sistema Nacional de Informações em Saneamento do Ministério das Cidades. Melhorar a gestão desse material é um dos desafios para os 5.569 prefeitos que assumirão a gestão dos municípios brasileiros pelos próximos quatro anos.
Para o pesquisador Gesmar Santos, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), que desenvolve estudo sobre governança, investimentos e instrumentos das políticas relacionadas aos resíduos sólidos, ao analisar a proposta dos candidatos, o eleitor deve estar atento à forma como o saneamento é tratado como um todo. A partir daí, deve observar se a questão dos resíduos gerados no município é integrada às propostas apresentadas.
“O candidato a prefeito tem que lembrar que ele tem mecanismo de busca de recursos para aprimorar a gestão e tem obrigações como a de gerenciar os resíduos sólidos, de fazer a coleta seletiva, fazer a inclusão de catadores e buscar financiamento para os projetos.”
Relatório
De acordo com o relatório Panorama Global do Manejo de Resíduos 2024 (Global Waste Management Outlook 2024 em inglês) do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), no mundo, o resíduo sólido produzido por 2,7 bilhões de pessoas nem sequer é coletado por um serviço de limpeza urbana.
A falta de controle sobre esse material faz com que ele seja depositado em ecossistemas terrestres, aquáticos e na atmosfera na forma de poluentes, que impactam a saúde humana e o planeta por gerações, contribuindo para três crises globais: mudança climática: perda de biodiversidade e poluição.
No Brasil, embora o Panorama 2023 da Abrema (Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente) aponte que o serviço de limpeza urbana alcança 93% da população, o destino final do material coletado ainda é um desafio a ser superado por gestores municipais.
Ainda existem aproximadamente 3 mil lixões no Brasil. É a estimativa que temos entre aterro inadequado, depósito a céu aberto, valas e tudo mais o que consideramos lixões”, alerta Pedro Maranhão, presidente da instituição que reúne 200 empresas da cadeia de manejo de resíduos sólidos do país.
A Abrema tem trabalhado com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima no apoio às prefeituras para a geração de dados e a implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, que, entre outras medidas, prevê a adequação dos locais para a disposição final de rejeitos, ou seja, a substituição de ‘lixões’, por aterros sanitários adequados para receberem os materiais que não podem ser reintroduzidos em um ciclo econômico.
Economia
O presidente da Abrema explica que, do ponto de vista econômico, quando um município não planeja e executa um ciclo adequado para o resíduo sólido, ele efetivamente está desperdiçando recursos.
“Nós estamos perdendo o equivalente a centenas de barris de petróleo, mas de um petróleo que é de energia renovável. Com essa nova lei que foi aprovada no Congresso, do combustível do futuro, que prevê a substituição do gás fóssil por biometano, para descarbonizar a economia, os aterros sanitários podem virar verdadeiras reservas de energia renovável”, diz.
De acordo com o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento – Resíduos Sólidos (SNIS-RS 2022), do Ministério das Cidades, dos 5.060 municípios pesquisados, 2.585 municípios informaram já terem elaborado o Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS). O documento é a primeira etapa no planejamento para a adequação dos aterros sanitários, mas também apresenta um diagnóstico dos resíduos gerados, além das estratégias de correção e prevenção de todo o sistema da coleta à destinação final.
O Panorama da Abrema indica que o país gerou 77,1 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos, em 2022. São mais de 211 mil toneladas por dia, chegando a 380 quilos por habitante ao ano. Enquanto o Sudeste é responsável por 49,4%, a Região Norte foi responsável pelo menor percentual, gerando apenas 7,3 do total de resíduos produzidos no país.
Grande parte desse material tem alto potencial de reinserção no sistema econômico do país, seja por meio da logística reversa, com o recolhimento de bens obsoletos para reaproveitamento pela própria indústria produtora, ou ainda pela coleta seletiva, separação e uso desses recursos como matéria-prima.
Antes mesmo do rejeito chegar aos aterros, os resíduos resultantes das atividades domiciliar, de limpeza urbana, industrial, dos serviços de saúde, da construção civil, agrossilvopastoris, de serviços de transportes e da mineração podem gerar riqueza. “É uma engrenagem, que pode gerar renda e gerar emprego. É separação, é biometano, é biogás, é CDR [combustível derivado de resíduo], é reciclagem, e a economia começa a se mover, a cadeia produtiva começa a se mover e gerar renda para o próprio município”, destaca Maranhão.
Segundo Santos, o Brasil já tem exemplos de resíduos que alcançaram bons índices de destinação adequada. “A latinha de alumínio chegou a mais de 95% de reciclagem, pneus, eletroeletrônicos, embalagens de pesticidas, vidro, papel, papelão. Esses materiais que são mais facilmente inseridos na cadeia produtiva e recuperados, têm um valor econômico e é um fator positivo”, diz
Educação
Para que todo esse sistema funcione, Santos considera necessário envolver todas as esferas de governo, a iniciativa privada e também garantir o envolvimento da sociedade civil organizada. “A participação social necessita de ter conselhos dentro do município, de ter espaços para ter diálogo com a prefeitura, com a secretaria, para que a população faça denúncias, participe de campanhas educativas em que ela cobre também dos órgãos a prestação de serviços com qualidade.”
Outro ponto de destaque que o pesquisador acredita ser necessário estar na proposta dos candidatos à prefeitura é a educação ambiental, a partir de reunião de esforços da União, estados e municípios.
“A campanha de educação ambiental dos municípios deve ser em parceria com o Ministério do Meio Ambiente [e Mudança do Clima], governo do estado, com a Secretaria de Meio Ambiente do estado, no sentido de fazer com que a destinação dos resíduos seja adequada, que a coleta seja adequada, que os resíduos não sejam jogadas em túneis na cidade, em bueiros, em locais impróprios, nos rios principalmente”, diz.
Saúde
Santos destaca que quando a gestão municipal não tem essa visão global do sistema de saneamento, o resíduo sólido acaba impactando o sistema de saúde e aumentando as despesas do município, além de trazer riscos à população. “Quando esse sistema funciona de forma inadequada, vai gerar contaminação e prejuízos para a saúde. A chuva mistura água, esgoto e resíduos sólidos e afeta diretamente a saúde das pessoas”.
De acordo com o relatório do PNUMA, a estimativa é que de 400 mil a 1 milhão de pessoas no sul global morrem todos os anos por doenças relacionadas com resíduos mal geridos que incluem diarreia, malária, doenças cardíacas e câncer.
Propostas
Para Maranhão, os eleitores precisam estar atentos principalmente nas cidades onde os lixões persistem, em especial aquelas em que esses espaços ocupam áreas sensíveis, com regiões litorâneas, nascentes e leitos de rios.
“Eu costumo dizer que é um passo de cada vez e nós temos 20 degraus. O primeiro degrau é o prefeito deixar de jogar no lixão. O segundo passo, vamos estabelecer coleta seletiva, se tem catador, vamos resolver o problema dos catadores, da cooperativa, vamos fazer um galpão de separação. Então, vamos dar uma viabilidade econômica para os catadores também ter o seu sustento. Mas o primeiro degrau é dizer, prefeito, não jogue lá”, conclui.
Povos indígenas de Mato Grosso sofrem com os incêndios florestais. Foto: Erlie Runhamre Xavante
Os incêndios em terras indígenas no Brasil cresceram 80% em 2024. De janeiro a agosto foram queimados 3 milhões de hectares, um aumento de quase 1,4 milhão de hectares em comparação ao mesmo período do ano passado.
Segundo o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, o salto expressivo em 2024 sugere a possibilidade de incêndios florestais externos e fogo criminoso nesses territórios.
Isso estaria relacionado à intensificação de atividades ilegais e invasões, ou, em alguns casos, por queimas de roça que saíram do controle nessas localidades.
A situação é crítica nos biomas Amazônia, Cerrado e Pantanal, que apresentam queimadas próximas do máximo histórico. Por causa da fumaça dos incêndios e da seca rigorosa, o alerta é para a saúde no Acre, Amazonas e Rondônia.
O Ministério da Saúde informa que, em algumas cidades, mais do que dobrou o número de atendimentos por sintomas gastrointestinais, respiratórios e síndromes gripais. A ministra Nísia Trindade disse que a situação é de atenção.
Mais de 60 brigadistas atuam para controlar as chamas desde essa quarta-feira. Já foram lançados mais de 21 mil litros de água por helicóptero no combate ao fogo. Neste ano, a área queimada no Brasil foi 116% maior do que a registrada em 2023, atingindo 11 milhões de hectares.
Além disso, as perdas com incêndios causaram um prejuízo de quase R$ 15 bilhões, de junho a agosto, em cerca de 3 milhões de hectares de propriedades rurais, segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil.
Registro dos Jogos do Xingu, em 2022. Foto: Protásio de Morais
Os jogos do primeiro campeonato brasileiro de futebol, a Taça dos Povos Indígenas, serão entre os dias 26 e 30 de novembro, na Aldeia Multiétnica, na região da Chapada dos Veadeiros, em Goiás. Os times foram divididos em três grupos, com quatro equipes em cada um.
Cada povo será representado por um time masculino e um feminino. No total, a Taça contará com 2400 atletas de 48 povos indígenas.
Doze povos da região Centro-Oeste vão participar da primeira fase. O sorteio dos grupos aconteceu nesta quinta-feira (26).
Após a etapa do Centro-Oeste, entre fevereiro e junho do ano que vem, entram em campo as equipes das regiões Nordeste, Sul/Sudeste e Norte. Todas as etapas terão fase de grupos, classificatórias e finais.
A ideia é que o campeonato siga com novas edições, diz a diretora da produtora FourX, que organiza o evento, Libia Miranda.
A Taça dos Povos Indígenas conta com o apoio do governo federal, da CBF, que administra o futebol profissional no Brasil, e da Seleção Indígena de Futebol do Brasil e das Américas.
As queimadas no Acre deverão impactar negativamente a economia do Estado com a redução de recursos naturais, como açaí, buriti e madeira. A afirmação é da professora doutora da Universidade Federal do Acre (Ufac), Sonaira Silva, do campus Floresta, em Cruzeiro do Sul.
A especialista em queimadas e incêndios florestais diz que das mais de 100 mil hectares já consumidas pelo fogo no Acre este ano, quase 5 mil são de floresta nativa, causando graves impactos ao bioma amazônico.
Segundo a pesquisadora, as florestas que sofrem com o fogo levam décadas para se regenerar e, mesmo após 15 ou 20 anos, muitas não conseguem recuperar o número de árvores, a biomassa e a diversidade de espécies.
“Este ano, as queimadas têm atingido tanto áreas desmatadas quanto as mais preservadas, como a de Pentecoste, Campinarana e a Serra do Divisor, que são ambientes de alta biodiversidade. O ideal é evitar ao máximo que o fogo entre nas áreas de floresta, pois o impacto é muito maior do que se imagina. Quando o fogo afeta a floresta, também prejudica a economia local, reduzindo a disponibilidade de recursos como açaí, buriti e madeira”, pontuou.
Ela reforça a necessidade de medidas urgentes para conter as queimadas. “O momento é de atenção total. É fundamental que as pessoas evitem usar fogo para limpeza de áreas ou roçados, pois até uma pequena queimada pode sair de controle e causar danos irreversíveis. Mesmo onde houve chuvas, o fogo continua se propagando. O vento carrega a fumaça para dentro da cidade, tornando o ar ainda mais poluído e perigoso para a saúde”, finalizou.
O Brasil enfrenta sua oitava onda de calor do ano, com temperaturas que podem ultrapassar os 40°C, especialmente no Centro-Oeste. Após um breve alívio causado por uma frente fria no fim de semana, o ar quente e seco voltou com força, atingindo o Centro-Sul do país. Segundo o Climatempo, as altas temperaturas devem se estender até, pelo menos, o dia 8 de outubro, com baixas na qualidade do ar e maior risco de incêndios.
As regiões mais afetadas incluem o interior de São Paulo, oeste de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, sul do Mato Grosso e Goiás. Algumas capitais, como Campo Grande, já devem registrar 40°C nesta segunda-feira (30). Em Cuiabá, a previsão é que os termômetros atinjam essa marca a partir de terça-feira (1), conforme o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Segundo Fábio Luengo, meteorologista da Climatempo, a expectativa é que o calor permaneça acima da média até a metade de outubro.
Além das altas temperaturas, a baixa umidade do ar também preocupa. Luengo explica que as altas temperaturas são comuns durante a primavera, já que a atmosfera está mais aquecida nessa transição do inverno para o verão. “As temperaturas sobem rápido e não tem tanta umidade como no verão, o que permite que as temperaturas subam por mais tempo”, comenta o meteorologista.