A popularidade e a credibilidade dos dois maiores governantes de Portugal sofreram abalos no intervalo de poucos dias. Antes considerado um território livre de grandes e recentes escândalos políticos, o país acompanha incrédulo dois casos distintos e simultâneos de suspeita de corrupção e favorecimento envolvendo o presidente Marcelo Rebelo de Sousa e o o primeiro-ministro António Costa, que pediu demissão.
Na manhã desta terça-feira, Costa foi surpreendido pela notícia que está sendo investigado pelo Ministério Público em inquérito que corre no Supremo Tribunal de Justiça.
A Procuradoria Geral da República informou que a suspeita sobre o primeiro-ministro é que ele tenha feito “intervenção para desbloquear procedimentos” em negócios de extração e exploração de lítio e hidrogênio verde por empresas particulares em Montalegre e Sines.
Veja também
Harry despreza o pai ao recusar convite de aniversário do rei Charles
Lula está 'semeando medo na sociedade argentina', diz Milei, sem apresentar provas, em programa de TV na Argentina
Algo inimaginável há alguns anos e que levou Costa e Marcelo Rebelo a se reunirem duas vezes hoje. Costa teria apresentado seu pedido de demissão ao presidente no segundo encontro. E, depois, confirmou em pronunciamento.
— Apresentei minha demissão ao presidente. Encerro etapa com consciência tranquila. Foram quase oito anos aos quais me dediquei com toda a minha energia. Saio disponível para colaborar com a Justiça (...) Ninguém está acima da lei — declarou.
A revelação surgiu na sequência de uma operação da Polícia de Segurança Pública e do Ministério Público realizada na manhã de hoje. Um dos alvos das buscas foi o Palácio São Bento, residência oficial do primeiro-ministro.
Consultor e considerado um dos melhores amigos de Costa, Diogo Lacerda Machado foi detido, assim como o chefe de gabinete do primeiro-ministro, Vítor Escária. O prefeito de Sines, Nuno Mascarenhas, integrante do Partido Socialista do qual Costa é secretário geral, também foi detido. Dois empresários tiveram mandado de detenção decretado.
E a dimensão antes inédita desta mancha de suspeita corrupção pairou sobre pastas importantes do governo, que pode ver o indiciamento dos ministros do Ambiente, Duarte Cordeiro, e Infraestruturas, João Galamba, além do ex-ministro João Pedro Matos Fernandes.
Marcelo Rebelo também enfrenta suspeitas envolvendo supostos pedidos de favorecimento para o acesso de duas bebês brasileiras a remédio milionário. A Inspeção Geral das Atividades em Saúde (IGAS) investiga o caso.
A “TVI” fez uma reportagem, divulgada na última sexta-feira, na qual levanta suspeita que o presidente possa ter interferido para que as gêmeas, que têm cidadania portuguesa, recebessem o remédio de dose única Zolgensma. O medicamento, que custa € 2 milhões (R$ 10,5 milhões) por unidade, é considerado o mais caro do mundo.
O tratamento para a rara doença neurodegenerativa EMA foi realizado mesmo com a oposição da equipe de neuropediatria do Hospital de Santa Maria, administrado pelo Sistema Nacional de Saúde (SNS). As crianças viviam no Brasil e não tinham número do SNS, mas conseguiram a consulta. O hospital abriu uma auditoria.
Mãe das gêmeas, Daniela Martins primeiro negou o favorecimento. Mas ao fim da entrevista acabou falando, com as câmeras ainda ligadas.
"Dei de cara com a médica. Ela falou para mim que não ia dar, que não tinha mandado eu ir lá. Aí a gente usou nossos contatos, né? Aí entrou o pistolão que você falou. Conheci a nora do presidente, que conhecia o ministro da Saúde, que mandou um e-mail para o hospital."
Presidente da Câmara de Comércio Portuguesa em São Paulo, Nuno Rebelo de Sousa é filho de Marcelo Rebelo, que negou, em duas ocasiões, ter agido para favorecer as gêmeas.
— Se tivesse feito, tinha dito: ‘fiz isso’. Não, não fiz. Não falei ao primeiro-ministro, não falei à ministra, não falei ao secretário de Estado, não falei ao diretor-geral, não falei ao presidente do hospital nem ao conselho de administração. Não falei — disse ele, indicando que poderia ir à Justiça:
Curtiu? Siga o PORTAL DO ZACARIAS no Facebook, Twitter e no Instagram
Entre no nosso Grupo de WhatApp e Telegram
— Vendo a reportagem, ninguém aparece dizendo que eu falei com essa pessoa. Se aparecer alguém, eu aí não tenho outro remédio se não, eventualmente , ir a tribunal comparar a minha verdade com a verdade dessa pessoa. Os portugueses têm direito de saber se o presidente está mentindo ou se está dizendo a verdade. Não se trata do dever da defesa da minha honra, mas do dever da defesa do presidente da República.
Fonte: O Globo