Marcos Maivado Marinho A Caninha Pelé virou mito no mundo dos destilados brasileiros depois que, logo após seu lançamento, o rei do futebol mandou recolher todas as unidades – reza a lenda que só existem 6 garrafas atualmente no mundo. Segundo o colecionador Giovani Moser, que descobriu sobre a cachaça, a Caninha Pelé foi retirada dos comércios logo no primeiro lote. A Copa do Mundo de 1958, na Suécia, revelou um dos maiores nomes que o futebol já teve: Edson Arantes do Nascimento, o nosso eterno Rei Pelé. O talento com a bola e ter conquistado um mundial com apenas 17 anos, fez do jogador do Santos, natural de Três Corações (MG), uma estrela dos gramados. Inspirado por toda aquela paixão nacional que se consolidava com a vitória na Copa do Mundo e percebendo a projeção de um herói brasileiro, o dono da usina Chiabrando & Amandola, de Piracicaba, no interior de São Paulo, quis fazer um produto que levasse o nome e o rosto do esportista famoso. Assim, o diretor da usina ofereceu o negócio ao Seo Dondinho, pai de Pelé, para que ele fosse o rosto da ‘Caninha Pelé’, uma cachaça branca que tinha no rótulo a figura do jogador com apenas 17 anos vestido com o terno da volta da Suécia ao Brasil. A proposta inicial era o equivalente hoje a R$ 900,00 anuais por 10 anos, o que Seo Dondinho negociou e subiu para R$ 9.000 ao ano pelo mesmo período – na época era bastante dinheiro, mas nada comparado com os contratos comerciais milionários dos dias de hoje. O FIM DA CANINHA PELÉ Após o acordo ser feito, Pelé recebeu um conselho de Zito, outro grande nome do futebol brasileiro e também ídolo do Santos, para desistir do negócio, pois poderia não pegar bem para a imagem do jovem atleta. Sobre a desistência em cima da hora, o rei do futebol até já deu declarações na mídia: “Era um ótimo cachê. Mas na hora H eu disse: pai, isso não é bom pra mim. Propaganda de pinga não pega bem”. A questão é que o primeiro lote da cachaça, na época, já havia sido distribuído para o comércio, e a usina Chiabrando & Amandola teve de fazer o recolhimento das garrafas às pressas. E foi assim que surgiu a lenda da Caninha Pelé. Diz a história que, por conta desta recolha, apenas algumas pessoas conseguiram ter acesso ao produto e que sobraram somente 6 garrafas. Mas não é bem isso que o pesquisador e colecionador de cachaças Giovani Moser acredita. O DESVENDADOR DO MITO DA CANINHA PELÉ Giovani Moser é natural de Bombinhas, Santa Catarina, e um apaixonado pela cachaça, história e trajetória do destilado brasileiro. Moser possui uma coleção de mais de 11 mil garrafas de cachaça e aguardente, dos mais variados períodos e rótulos raros. Com o sonho de montar o próprio museu da cachaça, Giovani passou a visitar outros museus dedicados ao destilado e coleções particulares de todo o Brasil. Ao fazer essas visitas, encontrou algumas Caninha Pelé pelo caminho e, quando se deu conta, a soma delas já dava mais de 6 garrafas que a lenda dizia existir. Segundo Moser, nas suas pesquisas já somou em torno de 25 unidades originais da Caninha Pelé entre museus e coleções particulares. “Hoje eu já consigo avaliar se um item é original ou não pelas características do produto”, pontua o colecionador Giovani Moser. Apesar da soma dar bem mais do que as 6 garrafas que diziam existir, podemos afirmar que achar uma Caninha Pelé original ainda é uma raridade que compete aos apreciadores e especialistas. E parafraseando a canção de Zeca Pagodinho com a devida licença poética: Você já viu uma Caninha Pelé? Eu, ao menos, nunca vi e nem bebi, só ouço falar. Fonte: ‘Mapa da Cachaça’ |