ÉPOCA Manhã do último dia 16, terça-feira, minutos depois de ser divulgada a decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, de suspender todas as investigações feitas com base no compartilhamento de dados bancários sem autorização judicial, atendendo a pedido da defesa do senador Flávio Bolsonaro: “Você não sabe o que está acontecendo! Você não tem noção do que está acontecendo, você não tem noção!”, berra ao telefone o advogado do senador, Frederick Wassef, a um interlocutor, aparentemente alguém íntimo. “A decisão… Amor… O meu nome… Tá o Brasil inteiro me ligando e me chamando de Deus! Você não tem noção! É uma bomba atômica! Amor, está comigo, te mando agora. O Flávio, o presidente, tudo infartado, chorando…”. As declarações acima foram ouvidas por ÉPOCA enquanto aguardava que Wassef conversasse por telefone com a reportagem. Escolhido pelo clã Bolsonaro para tomar conta do mais rumoroso caso que pesa contra a família — as movimentações financeiras atípicas do senador Flávio e de seu ex-motorista Fabrício Queiroz —, o advogado havia acabado de conquistar sua grande vitória. A relação com a família começou em 2016, quando a candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência ainda era tratada como um devaneio político. Usando uma expressão do mercado financeiro, é possível dizer que Wassef comprou na baixa e depois passou a surfar na alta. Durante a campanha eleitoral, o advogado frequentava a casa do então candidato no Rio de Janeiro. No sofá do futuro presidente, acompanhou as apurações dos votos nos dois turnos das eleições. Muito antes de a campanha começar, segundo um assessor do presidente, Wassef aparecia seguidas vezes no gabinete do então deputado em Brasília dizendo-se “amigo dos maiores PIBs do Brasil” e prometia apresentá-los a Bolsonaro. À medida que a relação foi se estreitando, o advogado passou a atuar como mentor das estratégias jurídicas da família. Entre outros casos, deu conselhos sobre as ações movidas pela deputada Maria do Rosário (PT-RS) contra o então deputado e sobre as movimentações atípicas de R$ 1,2 milhão feitas por Queiroz entre 2016 e 2017. No início de junho, assumiu oficialmente a defesa de Flávio no processo que apura a prática da “rachadinha” — quando funcionários nomeados devolvem parte dos salários ao político que os nomeou — no gabinete que o zero um ocupou por 16 anos na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. O ápice, até agora, foi a “bomba atômica” do STF no dia 16. O curioso é que Wassef está longe de ser um advogado famoso no país. O marco inicial de sua carreira foi o ano de 1992, data de seu registro na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). A contar pelos registros eletrônicos dos principais tribunais do país, ele não teve uma vida profissional muita ativa. Seu nome consta em poucos processos judiciais. Ele justifica: “Toda vida fui um cara discreto, não gosto de fama ou de holofote”, disse ele, na tarde da quarta-feira 24, numa sala na redação de ÉPOCA, no Rio. “Vou lá e faço tudo fisicamente. Assino. Você nunca vai achar meu nome nos processos eletrônicos, e faço de propósito. Não quero que saibam que advogo para o Flávio Rocha (acionista das lojas Riachuelo), para o David Feffer (acionista da Suzano Papel e Celulose)… Esses são os tipos de cara que se relacionam comigo, bilionários. Frequento a casa deles, advogo nas coisas íntimas do cara, da esposa, dos filhos, da empresa”, disse Wassef, em seu característico tom espalhafatoso, falando alto e alternando gestos desencontrados com passadas da mão no cabelo revolto. Procurado, o empresário Flávio Rocha, que chegou a se lançar como pré-candidato à Presidência nas eleições do ano passado, disse: “Ele nunca trabalhou para a gente. Nunca prestou nenhum serviço, o mais próximo foi na época de nossa campanha. Ele fazia parte de alguns grupos que se mobilizavam para divulgar as ideias lá em Brasília. Tinha centenas de pessoas que faziam isso, era um grupo difuso, ele não tinha um papel, era só um simpatizante. Mas nunca houve vínculo profissional, muito menos como advogado”. Até o fechamento desta edição, a reportagem não havia conseguido contato com o empresário David Feffer. Em entrevista a ÉPOCA, Wassef mencionou quatro criminalistas com os quais teria trabalhado. Procurados pela revista, dois não responderam e os outros negaram qualquer relação profissional com ele. Wassef parece ter ganho alguma visibilidade a partir da união estável que teve com a empresária Maria Cristina Boner Leo. Segundo pessoas próximas, José Luís Oliveira Lima e Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, conhecidos criminalistas do país, só conheceram Wassef porque ele era marido de Boner. Um dos processos que Wassef assina envolve a separação litigiosa da empresária com seu ex-marido Antonio Bruno Di Giovanni Basso, ex-vice-presidente de contas de mercado governamental da Microsoft. A relação amorosa entre o advogado e Boner começou antes que o casamento da empresária chegasse ao fim. Hoje Wassef insiste em dizer que o relacionamento dele com Boner acabou. Mas ele segue como representante legal da ex-companheira. Wassef, que enfrentou quatro cânceres e foi desenganado, cultiva uma paranoia: existiria um complô envolvendo Basso, pessoas ligadas à ex-mulher, jornalistas e criminosos interessados em acabar com sua reputação. A razão seria o sentimento de vingança do ex-marido, que foi condenado e preso por extorsão, processo no qual Wassef foi assistente da acusação. No início dos anos 90, Boner apareceu em uma foto com o bilionário Bill Gates para anunciar que representaria a Microsoft com exclusividade em vendas do software Windows para órgãos públicos brasileiros. Logo, a pequena revenda de softwares da empresária, chamada TBA Informática, se transformou na TBA Holding, que hoje reúne mais de 30 empresas. O império no mercado da tecnologia foi montado em conjunto: Boner, como representante da Microsoft, e Basso, como executivo da multinacional e depois sócio na TBA. Os dois saíram a fechar contratos por todo o país. Com o divórcio em 2007, o processo de partilha envolveu um patrimônio avaliado na época em R$ 300 milhões. A divisão dos bens foi interrompida depois de Boner ter acusado o ex-marido de agressão e extorsão. Basso passou sete meses preso. A partilha ainda corre na Justiça. Continue reading → |