Técnicas de controle exigem conhecimento técnico e qualificação
O uso controlado de fogo como instrumento na agricultura e na prevenção de queimadas é instrumento importante para o combate aos incêndios descontrolados e queimadas, porém demanda conhecimento técnico e qualificação dos profissionais que irão aplicá-lo.
Seu uso foi regulado no final de julho, por meio da Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo, e é avaliado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) como estratégia integrada e relacionada aos aspectos sociais, saberes tradicionais e técnicas, com fins de conservação dos ecossistemas naturais, diminuição de conflitos sociais relacionados a seu uso e de incêndios, principalmente em áreas remotas.
Para entender um pouco mais sobre o manejo com fogo, a Agência Brasil consultou especialistas. Vladimir Arraes, coordenador da Operação São Paulo sem Fogo, que organiza os esforços do governo paulista na prevenção de queimadas e incêndios criminosos ou acidentais nos meses de seca, explicou que uma das principais ferramentas é a Queima Prescrita, que consiste em uma técnica planejada e controlada de uso do fogo, empregada por especialistas (geralmente brigadistas ou engenheiros florestais) para reduzir a quantidade de material combustível (como folhas secas, galhos e vegetação densa) em área específica.
Seu uso, comum em unidades de conservação como as geridas pela Fundação Florestal, na qual Arraes atua, ajuda a prevenir incêndios descontrolados e a manter a saúde de ecossistemas que dependem do fogo.
"É executada em condições meticulosamente monitoradas, como clima adequado, umidade e ventos moderados, para garantir que o fogo fique confinado à área planejada. Seus efeitos são benéficos para o manejo ambiental, prevenindo incêndios maiores e promovendo a biodiversidade", completa o gestor.
Outra técnica importante é o uso de fogo como instrumento para controlar incêndios, o chamado contrafogo. Se trata do "fogo ateado de encontro a um incêndio florestal ou campestre para impedir-lhe a propagação, técnica que exige conhecimento especifico de manejo", completa Arraes. Ambas as técnicas são de uso de brigadistas, bombeiros técnicos e engenheiros florestais.
A queimada controlada, por sua vez, é o uso do fogo para fins agrícolas, e pode ter diferentes finalidades, como explicou o professor Edson Vidal, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP), para quem "o uso do fogo foi e sempre será uma alternativa viável em alguns contextos e biomas como o cerrado, desde que siga orientações técnicas e científicas.
O fogo é ferramenta de manejo importante por contribuir para promover resultados ecológicos. O manejo da queimada deve levar em consideração a frequência, intensidade e época da queima e se o período não é atípico como agora, em que a seca extrema aliada à umidade baixa deixa os recursos florestais bem suscetíveis ao fogo". Ela pode ter diversas finalidades e deve ser autorizada pelos órgãos de controle estaduais.
Entre as funções que pode desempenhar estão o controle, com estímulo ou diminuição de nutrientes disponíveis no solo, da produção de folhas e frutos ou mesmo de algumas espécies de animais ou plantas em uma região, ou ainda para ralear ou adensar a vegetação.
"Dessa forma, o uso do fogo pode ser instrumento de manejo e contribuir para a manutenção de pastagens naturais protegendo ecossistemas do Cerrado de forma adequada e com poucos recursos financeiros investidos", complementa o professor.
Embora haja alternativas em estudo, sua popularização depende de recursos técnicos mais complexos, como é o caso de alternativas com uso de maquinário para trituração de vegetação, que pode ser usada como adubo verde no lugar do fogo, explicou Vidal.
Tanto a queimada quanto o incêndio descontrolados e sem finalidade são crimes, com reclusão que pode variar de seis meses a quatro anos, dependendo da intenção e dos meios usados. Seus impactos são intensos e foram experimentados nos últimos meses, quando o país viu a quebra de marcas históricas de incêndios em diversos biomas.
Os incêndios florestais continuam consumindo a flora do Pantanal brasileiro e vitimizando milhares de animais, de onças-pintadas a veados-catingueiros. A área arrasada pelo fogo já se aproxima dos 2 milhões de hectares, só no Mato Grosso do Sul. O impacto gerado na fauna local é incalculável.
O trabalho dos bombeiros, socorristas, técnicos e voluntários que continuam na região tem se dividido entre a tentativa de conter as chamas e o resgate e monitoramento de milhares de animais, que lutam para sobreviver em meio ao fogo. O sinal mais claro do sofrimento dos bichos, muitas vezes, é percebido nas patas queimadas pelo chão quente.
Em Campo Grande (MS), o Hospital Veterinário Ayty, vinculado ao Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras), tornou-se referência no atendimento dos animais socorridos nos incêndios do Pantanal. Para lá, foram levadas, por exemplo, duas onças-pintadas – Miranda e Antã – que foram encontradas com ferimentos graves em áreas atingidas pelas chamas.
Miranda é uma onça fêmea, com cerca de 2 anos de idade. Ela foi encontrada no dia 15 de agosto, com as quatro patas queimadas, numa operação de resgate que mobilizou representantes de vários grupos e instituições ambientais. Miranda se abrigava dentro de uma manilha e mancava, segundo trabalhadores rurais que a avistaram.
Depois de passar por tratamento com uso de ozônio e pomadas especiais, ela está quase curada, perto de receber alta. De acordo com a médica veterinária Jordana Toqueto, que trabalha no Cras, o procedimento dependerá da melhora dos incêndios na região. Afinal, existe o risco de soltar a onça na natureza e ela se ferir, novamente, no fogo.
ONÇA ANTÃ NÃO RESISTIU AOS FERIMENTOS E MORREU
O quadro da onça macho Antã era considerado mais grave que o de Miranda. Ele morreu na manhã de quinta-feira (12/9), após sofrer uma parada cardíaca, enquanto era preparado para mais uma sessão de ozonioterapia para recuperar as patas.
Além dos ferimentos graves, com queimaduras mais profundas que as de terceiro grau, ele apresentou, ainda, problemas no pulmão por causa da inalação de fumaça. As ultrassonografias revelaram, também, alterações no fígado e na bexiga.
O felino foi encontrado no dia 17 de agosto, na região de Passo do Lontra, em Miranda (MS), mesmo município onde a fêmea foi capturada. Ele foi resgatado com 72 kg, peso muito abaixo do que seria o ideal: 100 kg.
O Hospital Veterinário Ayty costuma receber cerca de 2,5 mil bichos por ano. Em 2024, com uma área queimada que já ultrapassa em mais de 155% a dimensão de 2020 – quando houve a pior temporada de incêndios no Pantanal sul-mato-grossense –, essa quantidade deve ser atingida em breve.
MAIS DE 50 SERPENTES MORTAS EM 800 METROS
Uma das equipes que disponibilizou técnicos e voluntários na região do Pantanal, desde julho deste ano, é a ONG Grad Brasil (Grupo de Resposta a Animais em Desastres). A presidente Carla Sássi falou ao Metrópoles e destacou a diferença entre os tipos de vítimas das queimadas, quando se tratam de animais, inclusive as chamadas “vítimas invisíveis”.
Segundo a representante da entidade, os répteis e anfíbios fazem parte dessa categoria. Tais animais tendem a ser mais atingidos pelo fogo e morrem mais, mas não são contabilizados, pois ficam, muitas vezes, imperceptíveis na vastidão de áreas arrasadas por incêndios.
Em vídeo recente publicado pela ONG no Instagram, um dos brigadistas que integra a operação Pantanal Norte fez um alerta sobre o tema. O profissional encontrou mais de 50 serpentes queimadas, em um trecho de 800 metros; elas foram colocadas em uma sacola. Vários outros animais maiores, queimados pelo caminho, ficaram para trás, por serem grandes demais.
“Foi numa área da reserva São Francisco do Perigara. Isso acontece no Pantanal inteiro. É um número muito grande de serpentes, lagartos e anfíbios que não conseguem fugir do fogo”, conta Carla Sássi.
“Nunca vivemos um período de incêndios consecutivos assim”
A presidente do Grad Brasil destaca que a dimensão dos incêndios na região, neste ano, e a rapidez com que eles avançaram não permitiram a fuga dos animais, tampouco que eles se recuperassem de queimadas de anos anteriores. A sensação, segundo ela, é que os ciclos de incêndios florestais se emendam um no outro, sem trégua.
“A população de várias espécies acaba ficando comprometida e há uma diminuição grande na quantidade de animais. Em 2020, tivemos grande comoção social, inclusive no meio artístico, e neste ano não estamos vendo a mesma movimentação midiática. Muito disso é porque esse tipo de notícia acaba se tornando algo repetitivo. De 2020 para cá, não paramos de enfrentar incêndios”, diz Sássi.
O quadro suscita preocupação em relação ao futuro.
Carla Sássi prevê uma diminuição brusca de espécies mais sensíveis e um aumento daquelas que conseguem sobreviver e continuam se reproduzindo. De certa forma, isso tende a quebrar o balanço da cadeia animal na região e, claro, comprometer a biodiversidade.
“Nunca vivemos um período de incêndios consecutivos assim e de temperaturas tão altas. É tudo muito complexo e o trabalho de combate, monitoramento e resgate fica cada vez mais dificultoso”, afirma.
Mais açaí, mais alimento e mais biodiversidade nas florestas de várzea. Esses são alguns benefícios gerados a partir do Manejo de Mínimo Impacto de Açaizais Nativos, tecnologia desenvolvida pela Embrapa e adotada em comunidades da região do Marajó, no estado do Pará. Mais de 5 mil agroextrativistas já participaram de cursos sobre o manejo, que atualmente conta com o apoio do projeto Sustenta e Inova, coordenado pelo Sebrae em parceria com a Embrapa e financiado pela União Europeia.
“Antes tínhamos açaizais que estavam muito fracos, improdutivos e com difícil acesso. Após trabalhar o manejo de mínimo impacto, podemos ver com os próprios olhos que a área mudou totalmente. Aumentou a produtividade, a área ficou mais acessível e segura para quem colhe o açaí. Está dando muito certo, temos um açaí maravilhoso de total qualidade e rendimento”, afirma Maria Oneide Alves Mendes, agroextrativista (Portel, PA).
“Faço o manejo há três anos e a produtividade está começando a aumentar. Mas já sentimos uma grande diferença, principalmente na qualidade do açaí. Antes tínhamos um fruto mais ressecado e isso mudou totalmente”, detalha Telma Lacerda Gomes, agroextrativista (Portel, PA).
“O manejo fez toda a diferença no açaizal. A produtividade aumentou bastante, os cachos são grandes e as palmeiras ficaram mais baixas, facilitando a colheita. Melhorou muito para mim e para a comunidade”, ressalta Anízio Gomes Filho, agroextrativista (Portel, PA)
Manejar para produzir
O Manejo de Mínimo Impacto de Açaizais Nativos preconiza o equilíbrio entre os açaizeiros e outras espécies de palmeiras e árvores presentes nas áreas manejadas. A técnica proporciona o aumento da produtividade dos açaizais de 1 t/ha/ano para 3 a 6 t/ha/ano a partir do terceiro ano de manejo e mantém a biodiversidade nas florestas de várzea.
“O manejo contribui para uma mudança de paradigma na restauração da floresta. Busca-se o aumento da biodiversidade dentro das áreas para a promoção de ciclagem de nutrientes, e isso rebate na produtividade”, afirma o pesquisador Anderson Sevilha, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF), coordenador do projeto Sustenta e Inova na instituição.
Benefícios que vão além da produção
O projeto Sustenta e Inova dá continuidade à trajetória do Bem Diverso, que atua na região desde 2019, e atualmente se configura como um programa, de acordo com Sevilha. Um dos grandes legados desse trabalho foi a criação do Manejaí, em Portel, centro de referência em manejo, conservação e restauração de agroecossistemas.
A iniciativa, fruto da articulação entre pesquisa, extensão rural e comunidades, está presente em quatro municípios no Marajó (Portel, Muaná, Salvaterra e Breves) e já formou 131 agentes facilitadores, entre técnicos e agroextrativistas, que levam o Manejo de Mínimo Impacto às populações ribeirinhas da região. “O Manejaí atua também no empoderamento de mulheres e jovens da comunidade, fortalece as relações tradicionais e promove o protagonismo e o desenvolvimento das capacidades locais”, destaca Cesar Augusto Andrade, coordenador do escritório da Embrapa no Marajó.
Os benefícios do manejo sustentável vão além do aumento da produtividade e manutenção da biodiversidade, envolvem questões sociais, como afirma Anderson Sevilha. “O movimento em torno do manejo cria um ambiente de discussão e debate sobre direitos humanos, condições de trabalho, segurança alimentar e melhoria nas condições de vida das populações”, finaliza.
Sobre o projeto Sustenta e Inova
O projeto busca desenvolver e implementar práticas agrícolas sustentáveis e inovadoras, além de promover o desenvolvimento das cadeias de valor na Amazônia brasileira. Com atuação na região do Marajó, a Embrapa participa do projeto a partir de capacitações em Manejo de Mínimo de Açaizais Nativos, manejo de produtos florestais não-madeireiros, meliponicultura, piscicultura, beneficiamento de produtos da sociobiodiversidade, produção de alimentos, sistemas agroflorestais, saneamento rural e uso de ferramentas digitais.
Financiado pela União Europeia, Sustenta e Inova é coordenado pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e conta com a parceria da Embrapa, do IPAM, e Cirad (Centro Francês de Pesquisa Agrícola para o Desenvolvimento Internacional).
Relacionada: Manejo de Mínimo Impacto de Açaizais Nativos (youtube.com) – O vídeo mostra o resultado das capacitações sobre o Manejo de Mínimo Impacto de Açaizais Nativos realizadas pela Embrapa Amazônia Oriental com agroextrativistas da comunidade do Rio Pracuúba Grande, município de São Sebastião da Boa Vista (Marajó, PA), que atuam junto à empresa Polpanorte na comercialização de frutos do açaí.
A Polícia Federal abriu mais de 30 inquéritos para investigar queimadas em regiões Brasil, disse a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva
As queimadas que têmcoberto parte do Brasil de fumaça viraram caso de polícia. Isso porque a Polícia Federal (PF) começou a investigar a ação de criminosos em incêndios ocorridos em florestas e propriedades rurais.
A PF abriu dois inquéritos para apurar o surgimento de focos de queimada em São Paulo. E existem outros 31 inquéritos para apurar incêndios na Amazônia e no Pantanal, informou a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, após participar de reunião convocada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
No interior do estado de São Paulo, 34 cidades estão em alerta máximo para queimadas – chamadas de “atípicas” pela ministra – e 24 enfrentam focos ativos de incêndio, segundo o jornal Globo. O governo estadual decretou situação de emergência em 45 municípios.
Até a publicação desta nota, dois homens tinham sido presos no estado de São Paulo, acusados de provocar incêndios, disse o governador de SP, Tarcísio de Freitas (Republicanos), em coletiva de imprensa. As prisões ocorreram em São José do Rio Preto no sábado (24) e em Batatais no domingo (25).No entanto, São Paulo não é o único estado a enfrentar queimadas e suas consequências. A fumaça atingiu seriamente cidades de Goiás e Minas Gerais, por exemplo. Em Goiânia, a falta de visibilidade levou ao fechamento do Aeroporto Internacional Santa Genoveva. Em Minas, ocorreram 68 focos de incêndio em 27 municípios.
Foto: Reprodução
A fumaça das queimadas também atingiram Brasília. Foi isso (também) que levou o presidente Lula a convocar uma reunião com a ministra do Meio Ambiente. Funcionários do Ibama também participaram. Após a reunião, Marina disse que há forte suspeita de que as queimadas no estado de São Paulo fazem parte da articulação de um “novo dia do fogo” – o primeiro ocorreu na Amazônia e no Pantanal em 2019.
Na semana passada, o Olhar Digital apontou que a fumaça das queimadas na Amazônia e no Pantanal criou uma espécie de corredor de fumaça. E esse corredor tomou proporções tão grandes que dava para vê-lo em imagens de satélite.O “corredor de fumaça” apareceu por conta de outro fenômeno, conhecido como “rios voadores” – corredores de umidade atmosférica que vão da região amazônica até o centro-sul.
Na falta de água evaporada (porque fazia tempo que não chovia) e excesso de queimadas, ele virou um “rio atmosférico de fumaça”, segundo Estael Sias, meteorologista da MetSul.
Até o momento, 20 das 62 cidades estão em estado de emergência.
A cidade de Envira, no Amazonas, já sofre com a possível maior seca dos últimos anos, com dez mil pessoas afetadas. O município tem pouco mais de 17 mil habitantes e fica na região sudoeste do Amazonas e distante 1.200 km de Manaus.
Além de afetar mais da metade da população local, a seca também isola comunidades, encalha embarcações e tem causado problemas de abastecimento de insumos na cidade.
O governo do Amazonas diz que este ano poderá ser mais severo do que o ano passado, quando o estado enfrentou a pior seca já registrada na história. Até agora, 20 das 62 cidades estão em estado de emergência. Em Manaus, o nível do Rio Negro já baixou 54 centímetros somente em julho.
No ano passado, a seca também causou problemas em Envira, isolando comunidades e causando problemas de abastecimento. Este ano, porém, o fenômeno começou mais cedo na região. Em 16 de julho de 2023, o Rio Tarauacá, que passa pela cidade, registrava 8,55 metros. Um ano depois, nesta terça-feira (16), o rio está medindo 5,26 metros.
De acordo com dados da Defesa Civil, cerca de sete mil pessoas foram afetadas pela seca dos rios Tarauacá e Envira na área urbana do município, enquanto outras três mil enfrentam os impactos na zona ribeirinha. A situação se tornou tão crítica que a prefeitura decretou estado de emergência.
A distância do município em relação aos demais agrava a situação. Normalmente, é mais viável chegar a Envira por Feijó, cidade do Acre a 89 km de distância, utilizando barco ou avião, os únicos meios de transporte disponíveis. No entanto, com a seca, essa já difícil situação se torna ainda mais desafiadora.
Ainda, no Acre, a seca também já se tornou um problema, poucos meses após o estado enfrentar uma cheia recorde em fevereiro."A situação é bastante delicada e ainda estamos no mês de julho. Nunca tivemos um rio tão baixo. Nesse mesmo período, no ano passado, o rio estava dois metros acima do que está hoje. O normal são os barcos saírem de Feijó (AC) de manhã e chegarem aqui pela noite ou na manhã seguinte. Hoje, barcos com 10, 15 toneladas estão demorando dez dias para fazer esse trajeto", relata Ismael Dutra, chefe da Defesa Civil municipal.
Dutra alerta ainda para o risco de desabastecimento de itens de consumo diário da população."As comunidades rurais dos rios Envira Alto e Tarauacá Alto estão quase que 95% afetadas. Temos três bairros na cidade afetados diretamente. 70% da mercadoria que chega a Envira vem de Feijó. Para chegar gás e outros alimentos está complicado. Também estão faltando algumas verduras, como o tomate. Do jeito que o rio está baixando diariamente vamos ter muitas outras comunidades isoladas em breve", disse Ismael.A gravidade da situação levou o líder da Defesa Civil a recomendar que os habitantes das áreas ribeirinhas busquem refúgio na cidade.
"Estamos pedindo que a população guarde alimentos, que as pessoas que estão em comunidades rurais, principalmente as que tenham problemas de saúde, possam vir para a sede do município porque existe sim um risco de isolamento."
ESTADO DE EMERGÊNCIA
Foto: Reprodução/Internet
As previsões apontam para uma seca em 2024 tão severa quanto a do ano anterior. Em resposta a isso, o governo estadual decretou estado de emergência em 20 municípios situados nas regiões dos rios Juruá, Purus e alto Solimões.Além disso, devido aos incêndios florestais que têm ocorrido no sul do Amazonas, em Manaus e na região metropolitana, o governo também emitiu um decreto de emergência ambiental para o estado. Ambos os decretos terão uma validade de 180 dias.
As principais prioridades do plano de contingência incluem o fornecimento de água potável e insumos médicos, apoio à produção agrícola, logística para manter o funcionamento das escolas estaduais, assistência humanitária e dragagem dos rios.
A secretária de saúde, Nayara Oliveira, informou que municípios como Guajará, Envira e Ipixuna, localizados na calha do Juruá, já estão recebendo medicamentos e insumos para saúde. Nessas áreas, o transporte fluvial já está sendo prejudicado devido à baixa dos rios.