Nos bastidores do impeachment
Postado por Magno Martins
Folha de S.Paulo
Na sessão do Senado em que a presidente afastadaDilma Rousseff fez sua defesa e, provavelmente, seu último discurso na Presidência da República, a advogada de acusação Janaína Paschoal se preocupava com o acirramento de ânimo entre os convidados.
Por isso, enviou mensagens a parte dos seus convidados para pedir "educação" e "respeito". Pediu para que se comportassem para não serem expulsos da galeria.
Confira outras informações sobre os bastidores do impeachment:
Reflexo
Assim que a presidente afastada terminou seu discurso, senadores aliados de Temer saíram pelo plenário mostrando a colegas notícias sobre como o mercado financeiro reagiu à fala da petista. O dólar caiu e a bolsa subiu.
Cara de paisagem
Ex-petista, a senadora Marta Suplicy (PMDB-SP) entrou no Senado um minuto antes de Dilma. Com a chegada da ex-aliada, a candidata à Prefeitura de de São Paulo passou a apertar ininterruptamente o botão para chamar o elevador, conseguindo por segundos escapar do constrangimento.
Nas ondas
O PT organizou a transmissão da sessão em mais de 1.500 rádios comunitárias de todo o país, movimento que intitulou de "cadeia da legalidade". Lula e apoiadores de Dilma falaram durante o dia.
Festa
Dúvida até esta sexta, Telmário Mota (PDT-RR) foi bastante festejado pelos dilmistas após o discurso em que indicou voto contra o impeachment. Kátia Abreu (PMDB-TO) foi uma das mais efusivas nos cumprimentos.
Lado mau da força
Telmário quis saber se, em eventual volta ao Planalto, Dilma iria governar com a parte má do PMDB. "Deus me livre do que o sr. chamou de o PMDB do mal", respondeu a petista.
Unidos...
Eduardo Cunha não conseguiu assistir a todo o discurso e interrogatório da petista. Enquanto a presidente afastada se defendia do impeachment, ele terminava de revisar as cartas que enviará a deputados para tentar evitar a cassação de seu mandato na Câmara.
...pelo destino
Ainda assim, viu o suficiente para saber que era um dos principais alvos da petista. "Ela está mentindo demais. Qual projeto de urgência que não foi votado? Tá agressiva. Em resumo: jogou a toalha", comentou com um interlocutor.
Ameaça
Os senadores Aécio Neves (PSDB-MG) e Eunício Oliveira (PMDB-CE) relataram ter recebido e-mail idêntico nesta segunda-feira, intitulado "Aviso". Ambos eram chamados de "canalha asqueroso". Anexa à mensagem com a ameaça de morte, aparecia uma imagem de um cadáver coberto de sangue.
Bandeira branca
Aécio admitiu ter ficado surpreso pela forma educada com que Dilma se dirigiu a ele durante o interrogatório. "Achei que ela ia pra cima. Estava pronto para pedir direito de resposta, mas não precisou."
Cunha critica discurso de Dilma e diz que ela mente
Postado por Magno Martins
Folha de S.Paulo
Citado diversas vezes por Dilma Rousseff ao longo de seu depoimento nesta segunda-feira (29) no Senado, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que deu o ponta pé inicial ao processo de impeachment da petista, criticou a fala da adversária e afirmou que ela "mente".
"A presidente afastada segue mentindo contumazmente, visando a dar seguimento ao papel de personagens de documentário que resolveu exercer, após a certeza do seu impedimento, em curso pelo julgamento em andamento", afirmou no texto. Para o peemedebista, Dilma usa a estratégia de repetir uma mentira até que ela se torne verdade.
Cunha menciona que o argumento da presidente afastada de que foi vítima de "abuso de poder" por parte dele já foi analisado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) e "não teve sucesso", o que "reafirma a lisura" do ato.
O deputado afastado avalizou o processo de impeachment em dezembro e, desde então, tem sido acusado de dar seguimento ao caso em retaliação ao PT, que se negou a votar a favor de Cunha no processo de cassação do qual o deputado é alvo.
"As tentativas de barganhas para que eu não abrisse o processo de impeachment partiram do governo dela e por mim não foram aceitas, como já declarei em diversas oportunidades, denunciando com nomes e detalhes essas tentativas. Isso sim foi chantagem".
Cunha destaca ainda o fato de o processo contra Dilma, que chega a sua etapa final, ter sido avalizado pela Câmara, com votos favoráveis de 367 deputados, e ter seguido seu curso no Senado.
O peemedebista reclamou ainda das afirmações da presidente sobre as chamadas "pautas bomba", negando que tenha dado seguimento a propostas prejudiciais ao governo. Também afirmou que ela mentiu mais uma vez ao dizer que a Câmara esteve paralisada no início de 2016.
"O Senado Federal, em um julgamento com amplo direito de defesa, vem confirmando que a presidente afastada cometeu crime de responsabilidade. Todos os atos por mim praticados estão sendo confirmados até o momento e, ao que parece, está sendo confirmado que decretos da presidente afastada foram editados sem autorização legislativa, o que configura o crime de responsabilidade".
O ex-presidente da Câmara, que renunciou ao mandato em 7 de julho, encerrou atacando ainda o que chamou de "figurino do golpe". Em sua fala, Dilma disse por diversas vezes não ter cometido crime de responsabilidade e ser vítima de um "golpe parlamentar". Para Cunha, esse termo "parece caber mais na história da eleição dela do que na história do impeachment".
Dilma festeja seu desempenho; “decepção” com tucano
Postado por Magno Martins
Folha de S.Paulo – Marina Dias
Dilma Rousseff chegou ao Senado às 9h03 desta segunda-feira (29) com a missão de controlar os ânimos e centrar esforços na defesa de sua biografia. Auxiliares haviam orientado a presidente afastada a "não meter os pés pelas mãos" nos embates com adversários e a manter o tom emocional nas suas intervenções.
Após quase sete horas de sessão no plenário, com um prato de sopa apoiado no colo, Dilma comemorava sua atuação "contida" e "firme".
Ao lado de aliados, em uma das salas da presidência do Senado durante o intervalo do fim da tarde, a petista disse que o momento de maior decepção até ali havia sido seu embate com o senador José Aníbal (PSDB-SP), seu amigo, segundo ela, há mais de 50 anos.
No plenário, Aníbal afirmou que a petista havia feito uma gestão "desastrosa". Ela respondeu que estava surpresa de ouvir a crítica de um ex-aliado, ao lado de quem lutou na época da ditadura.
Contou, entre parlamentares e ex-ministros, que deu aulas de reforço para o hoje senador tucano, ajudando-o a passar no vestibular, e que foi ele a primeira pessoa que a visitou quando ela saiu da prisão. Disse que preferia não falar de política com Aníbal desde que foram para "lados opostos".
Eram quase 19 horas e Dilma aparentava cansaço, sua voz já estava começando a falhar após o longo interrogatório a que estava sendo submetida. O dia da presidente afastada havia começado bem cedo, com um café da manhã no Palácio da Alvorada com ex-ministros, parlamentares, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o cantor e compositor Chico Buarque.
Chico, inclusive, foi tietado pelos presentes e inspirou a brincadeira que Dilma repetiu pelo resto do dia: seu advogado, José Eduardo Cardozo, não poderia mais "jogar charme para ninguém", porque Chico "estava roubando todas as atenções". Cardozo, conhecido por ser o "galã" entre os petistas, virou a vítima favorita dela no terceiro dia de julgamento.
Quando entrou no plenário do Senado, às 9h43, porém, Dilma estava bastante sóbria. Cumprimentou o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Ricardo Lewandowski, que preside a sessão do julgamento do impeachment, e se sentou na ponta direita da tribuna. Num primeiro momento, não sorriu.
Começou a relaxar após seu discurso de quase 50 minutos e conseguiu se manter contida nos embates. Mas permaneceu Dilma quando ajeitou o microfone de Cardozo, pediu ao assessor Bruno Monteiro seus óculos de leitura apenas com um gesto brusco feito com as mãos e levantou as sobrancelhas quando contrariada.
Foi assim quando o senador José Medeiros (PSD-MT) afirmou que não era a democracia que estava sendo "carcomida por fungos", mas "o poder de compra dos brasileiros". |