Projeção do IBGE é mais conservadora quando comparada com a do Conab, que estima recorde
A safra brasileira de grãos, cereais e leguminosas - como soja, milho e arroz - deve alcançar 311 milhões de toneladas em 2025, segundo a primeira previsão do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) do IBGE, divulgada nesta quinta-feira. O volume projetado representa um crescimento de 5,8% em comparação à safra deste ano, mas ainda é inferior ao recorde de 315 milhões de toneladas alcançado em 2023.
A projeção é mais conservadora quando comparada com a da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que espera safra recorde diante do aumento da área plantada e do ganho de recuperação da produtividade maior. Na estimativa da Conab, a produção deve alcançar 322,53 milhões de toneladas, aumento de 8,2% se comparado com o resultado obtido no último ciclo.
Segundo o IBGE, a safra maior no ano que vem será motivada pelo crescimento de 10,9% da produção de soja (ou acréscimo de 15 milhões de toneladas), seguido do aumento de 9,1% na produção de milho 1ª safra (equivalente a mais 2,08 milhões de toneladas), 6% na produção de arroz (633 mil toneladas a mais) e 18,1% na produção de feijão 1ª safra (164 mil toneladas adicionais).
Em contrapartida, a produção de algodão herbáceo em caroço e de milho 2ª safra devem cair no ano que vem. As retrações são estimadas em 0,7% (cerca de 37 mil toneladas a menos) e 1,8% (redução de 1,7 milhão de toneladas), respectivamente.
Segundo Carlos Barradas, gerente do LSPA, do IBGE, a safra deste ano enfrentou problemas climáticos em diferentes estados, como falta de chuvas e calor excessivo.
No Rio Grande do Sul, houve ainda excesso de chuvas e enchentes entre abril e maio, o que reduziu em cerca de cinco milhões de toneladas a produção total de grãos no Brasil.
— Para 2025, embora os preços dos principais produtos não estejam apresentando uma boa rentabilidade, se tivermos um clima se comportando próximo a uma normalidade esperada, com as lavouras apresentando uma boa produtividade, teremos uma recuperação da safra brasileira, o que é importante para o controle da inflação e para o aumento das exportações brasileiras.
A vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos EUA gerou impactos imediatos e uma série de projeções para o mercado de commodities agrícolas, especialmente devido à sua abordagem protecionista e à política “America First”. Esse cenário cria incertezas para o agronegócio global e apresenta tanto desafios quanto oportunidades para países exportadores, como o Brasil.
Uma das primeiras reações ao retorno de Trump foi a queda nos preços das commodities, puxada pela alta do dólar. Esse fortalecimento torna produtos americanos mais caros no mercado internacional, dificultando a competitividade dos grãos dos EUA em relação a países como Brasil e Argentina. Commodities agrícolas, principalmente soja e milho, tendem a sofrer com essas oscilações, enquanto o trigo e outros produtos considerados menos expostos às novas tensões comerciais mostram estabilidade relativa.
A soja, em particular, é uma das commodities mais suscetíveis às políticas protecionistas de Trump, que na gestão anterior manteve um relacionamento instável com a China, maior importador do grão. Qualquer retomada de tarifas ou embargos comerciais pode levar a China a reduzir novamente suas compras dos EUA, intensificando a demanda por fornecedores alternativos. Esse movimento favorece países como o Brasil, que possui uma posição estratégica para atender à demanda chinesa, possibilitando um aumento de exportações em caso de restrições ao comércio americano.
No entanto, as políticas de Trump também incluem subsídios e incentivos aos agricultores americanos, prática que busca compensar as perdas dos produtores locais em decorrência das barreiras comerciais. Esses subsídios não apenas sustentam a produção agrícola dos EUA, mas também criam distorções de mercado, uma vez que os produtores americanos conseguem se manter competitivos com preços baixos. Para o agronegócio brasileiro, isso pode significar a necessidade de adaptar-se rapidamente às flutuações do mercado e à concorrência com um setor americano subsidiado.
Além disso, uma política externa mais agressiva em relação ao Irã, como a que Trump adotou anteriormente, pode elevar a tensão no Oriente Médio e afetar o mercado de petróleo. Caso as sanções ao Irã sejam reforçadas, o preço do petróleo poderá aumentar, impactando diretamente os custos de logística e produção agrícola. Esse possível aumento nos preços de transporte e insumos é um fator relevante para o setor, que pode ver suas margens de lucro reduzidas em função dos altos custos operacionais.
Outra questão geopolítica relevante é o conflito Rússia-Ucrânia. A disposição de Trump em buscar um acordo rápido, possivelmente com concessões, pode alterar o fornecimento de grãos no mercado global, dado o papel estratégico da Ucrânia como exportadora de trigo e milho. Qualquer mudança abrupta no fornecimento desses produtos cria novas dinâmicas no comércio internacional, influenciando os preços e a oferta de grãos, que podem ser ajustados de acordo com os interesses comerciais dos EUA.
Para o Brasil, essa conjuntura pode resultar tanto em uma ampliação das oportunidades de exportação quanto em uma pressão adicional para os preços internos de commodities. O retorno de Trump sinaliza a possibilidade de um cenário de volatilidade, onde o planejamento dos produtores brasileiros precisará considerar tanto as demandas globais quanto os movimentos imprevisíveis da política externa dos EUA. É um momento de incertezas que só o tempo vai nos dizer qual será o rumo da nova geoeconomia.
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulgou, nesta sexta-feira (08.11), seu relatório mensal de oferta e demanda global, apresentando cortes nas previsões de produção e estoques de soja, milho e trigo para a safra 2024/25. A produção global de soja, agora estimada em 425,4 milhões de toneladas, sofreu uma redução de 0,8% em relação ao relatório anterior. No caso dos Estados Unidos, a previsão foi ajustada em 2,6% para baixo, totalizando 121,42 milhões de toneladas. A expectativa do mercado era de uma menor redução, projetando 123,92 milhões de toneladas.
Com a oferta de soja reduzida, o USDA também revisou para baixo as exportações americanas, que caíram 1,4%, ficando em 49,67 milhões de toneladas. Os estoques finais nos EUA foram diminuídos em 14,5%, atingindo 12,8 milhões de toneladas, abaixo da expectativa de 14,56 milhões. Para Brasil e Argentina, as previsões mantiveram-se praticamente inalteradas, com a produção brasileira de soja projetada em 169 milhões de toneladas e exportações em 105,5 milhões, ligeiramente acima do último relatório. Os estoques finais de soja no Brasil caíram 1,5%, para 33,51 milhões de toneladas, enquanto na Argentina a projeção de produção manteve-se em 51 milhões, com estoques reduzidos em 1,3%, para 28,98 milhões de toneladas.
No mercado de milho, o USDA elevou sua estimativa global para 1,219 bilhão de toneladas, mas revisou para baixo os estoques finais, agora em 304,14 milhões. Nos Estados Unidos, a previsão de produção foi ajustada para 384,64 milhões de toneladas, com exportações de 59,06 milhões e um estoque final de 49,23 milhões. No Brasil, a projeção de safra foi mantida em 127 milhões de toneladas, enquanto a estimativa de exportação subiu para 83,5 milhões. Já na Argentina, Ucrânia, África do Sul e Rússia, as previsões de produção permaneceram as mesmas, destacando 51 milhões de toneladas para a Argentina e 26,2 milhões para a Ucrânia.
Quanto ao trigo, o USDA aumentou a projeção de colheita mundial para 794,73 milhões de toneladas, com um crescimento na produção do Cazaquistão que compensou cortes em outros países, como Rússia e Brasil. No Brasil e Argentina, a previsão de colheita foi reduzida em 500 mil toneladas, ficando em 8,50 milhões e 17,50 milhões, respectivamente. Nos Estados Unidos, a produção foi mantida em 53,65 milhões de toneladas. Apesar do aumento na oferta, a estimativa de consumo global foi ajustada para cima em 900 mil toneladas, reduzindo os estoques finais em 150 mil toneladas.
As exportações brasileiras de carne de frango seguem em alta, com destaque para a expansão em mercados estratégicos, como Ásia e América Latina. Segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o volume exportado em outubro totalizou 463,5 mil toneladas, refletindo um aumento de 15,4% em comparação ao mesmo mês de 2023.
Esse desempenho reflete a crescente demanda global, impulsionada, em parte, pela ausência de casos de Influenza Aviária na produção brasileira, que fortalece a competitividade do país no cenário internacional.
Entre os destinos que mais contribuíram para esse avanço, o Japão e o México registraram aumentos significativos de 19,2% e 21,6%, respectivamente. O crescimento no mercado filipino foi ainda mais expressivo, com alta de 73,9%.
Esses países, considerados estratégicos pela ABPA, valorizam produtos com maior valor agregado, o que impulsionou também as receitas das exportações brasileiras. Com isso, a receita total em outubro chegou a US$ 904,4 milhões, uma alta de 25% em relação ao mesmo mês do ano anterior.
Regionalmente, estados como Paraná, Santa Catarina e Goiás foram os principais exportadores de carne de frango, com destaque para Santa Catarina, que ampliou seus embarques em 27,1%. Essa expansão contínua reafirma o papel do Brasil como um dos maiores fornecedores de proteína avícola do mundo, especialmente em um cenário de demanda aquecida e preocupações sanitárias em outras regiões produtoras.
A multinacional Danone, que tem sede na França, está sendo acusada de boicotar a soja brasileira pela Aprosoja Brasil (Associação Brasileira dos Produtores de Soja). A empresa, no entanto, nega a informação e diz que continuará comprando o grão no país.
O imbróglio surgiu após o Mato Grosso aprovar uma lei que retira incentivos fiscais a empresas que aderirem à Moratória da Soja, acordo que prevê um compromisso de empresas brasileiras que vendem soja para a Europa de não comercializar produtos provenientes de áreas desmatadas dentro da Amazônia Legal.
O acordo foi assinado em 2006 entre a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE) e a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (ANEC) e o mercado internacional, e tem sido renovado anualmente.
A Aprosoja divulgou uma nota criticando a suposta decisão da Danone de boicotar o produto brasileiro e afirmou que a ação demonstra “desconhecimento ao processo produtivo no Brasil e um ato discriminatório contra o Brasil e sua soberania”.
“Nota-se que a ação da Danone está pautada na coerção da lei pela previsão de multa na hipótese de descumprimento da legislação que ainda nem entrou em vigor”, afirmou a associação. A Aprosoja também é contra a Moratória da Soja, alegando que o acordo afeta a comercialização de grãos em áreas desmatadas legalmente.
A Aprosoja ainda defende que o Brasil busque medidas de compensação, alegando que o acordo tem causado prejuízos a produtores brasileiros e suas cadeias produtivas. A associação sugere que o governo deveria notificar a União Europeia para que se adequasse a sua legislação.
A Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais) afirmou que a lei aprovada no Mato Grosso pode gerar “pode representar um risco à reputação do país como um produtor sustentável”. A moratória, segundo a entidade, foi criada para evitar a destruição da floresta e atender às demandas de clientes europeus, que defendem ações concretas contra o desmatamento.
O Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) também se manifestou sobre o tema e afirmou que o Brasil tem compromisso ambiental com o setor e com a legislação vigente. A pasta ainda classificou como arbitrárias as regras da União Europeia “arbitrárias, unilaterais e punitivas”