Ética é custo: a realidade brutal da escolha entre moral e acumulação ilimitada

Publicado em: 03/12/2025 15:53
Ética é custo: a realidade brutal da escolha entre moral e acumulação ilimitada
Foto: Reprodução

O caso Banco Master e a institucionalização da ética do lucro

A MULTIPLICIDADE ÉTICA E O IMPERATIVO DO CAPITAL

 

*Por Plínio Cesar A. Coêlho – O debate entre ética e lucratividade não é um dilema entre a moralidade e sua ausência, mas um conflito de sistemas éticos onde uma estrutura de valor é sistematicamente subjugada pela outra. De fato, a ética comporta diversas visões, mas no capitalismo, uma domina: a Ética da Acumulação Ilimitada.

 

Veja também

 

O petróleo de Urucu vai pra outro lugar: por que a gasolina em Manaus disparou após a privatização da refinaria?

 

Governo e Messias têm poucos dias para se resolverem com Alcolumbre

A empresa, ao optar pelo lucro, não está agindo de forma antiética; está sendo eticamente coerente com o valor supremo do sistema: a busca incessante pela reprodução ampliada do capital (D’), conforme a análise de Karl Marx. O empresário torna-se o portador desse imperativo estrutural, onde o obstáculo aos lucros é, em regra, um custo a ser ignorado.

 

O SACRIFÍCIO DA ÉTICA HUMANISTA: CASOS DE CONFLITO DE SISTEMAS

 

Cuba: ¿ëtica humanista o 'tribus' ideológicas? Análisis - El Vigía de Cuba

 

Os grandes escândalos corporativos são a prova de que, na hora da pressão, as empresas sacrificam a ética social e a legalidade para cumprir a Ética do Capital.

 

O Conflito de Éticas na Odebrecht: A construtora abandonou a Ética Deontológica (o dever de obedecer à lei e à honestidade) para priorizar a Ética Teleológica do Lucro e garantir contratos. A corrupção foi um meio racional para cumprir o fim da acumulação. As Lojas Americanas sacrificaram a Ética Deontológica de transparência, agindo segundo a Ética da Acumulação para manter o valor de mercado. Globalmente, a Volkswagen ilustra o sacrifício da Ética Humanista e Ambiental, priorizando a Ética Competitiva para manter o lucro sobre os custos da tecnologia limpa. Em todos esses casos, o ato percebido como “imoral” sob o ponto de vista social é, na verdade, um ato racional e funcional sob a Ética do Capital.

 

CONCLUSÃO E PERSPECTIVAS: O CAPITAL, O ESTADO E A LUTA PELO LIMITE

 

20.800+ Capitalismo fotos de stock, imagens e fotos royalty-free - iStock

Fotos: Reprodução

 

A Ética do Capital prevalece porque o Estado é o seu guardião institucional. O caso do Banco Master demonstra que o Estado, por meio da captura regulatória e de decisões que protegem o interesse privado (como o sigilo), atua para garantir a acumulação.

 

Diante de um Estado comprometido, a luta para impor a Ética do Limite (a ética da responsabilidade social, legal e ambiental) exige um contrapoder estrutural:

 

1. O Contrapoder da Exposição: A única forma de furar o sigilo e a proteção estatal é através da pressão da sociedade civil, do jornalismo investigativo e das esferas independentes.

 

2. O Cálculo de Risco do Capital Consciente: A pressão de fundos ESG impõe padrões éticos mais elevados, não por moralidade, mas porque o capital percebe que a falta de governança é um risco de falência que ameaça a acumulação no longo prazo.

 

3. A Luta Pela Internalização do Custo: A ética social só será implementada quando a ação política conseguir forçar o capital a internalizar os custos (ambientais, trabalhistas, de corrupção) que ele historicamente externaliza.

 

O LIMITE INEGOCIÁVEL DA ESTRUTURA

 

Chegamos ao ponto crucial da análise: a Ética do Limite que buscamos é estruturalmente incompatível com o imperativo do lucro e da reprodução infinita do Capital (D’).

 

A Ética do Limite que se busca é a síntese e a prevalência dos sistemas de valor sacrificados pelo Capital: ela exige a integridade legal, o bem-estar social e a sustentabilidade ambiental como valores inegociáveis.

 

A plena e duradoura prevalência da Ética do Limite só poderá ser alcançada com a quebra do modo de produção capitalista. Enquanto o sistema for regido pela acumulação como seu valor moral supremo, as vitórias éticas serão sempre parciais, constantemente tensionadas e reversíveis. A superação dessa contradição fundamental reside, portanto, na transição para um novo sistema pós-capitalista, único capaz de alicerçar a vida em sociedade sobre uma ética que não seja a do lucro.

 

 

 

*Plinio Cesar Albuquerque Coêlho é professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
É mestre em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e doutorando na Universidade de Ciências Empresariais e Sociais (UCES), em Buenos Aires.

LEIA MAIS
DEIXE SEU COMENT

Compartilhar

Faça um comentário