“Não vou abandonar minha luta contra a corrupção e se a polícia conseguir provar meu envolvimento com a bandidagem eu renuncio a meu mandato”.  O desafio do presidente da Assembleia Legislativa, Hermínio Coelho, lança desconfianças sobre as investigações que culminaram na Operação Apocalipse e, pior, sugere o uso do Estado na retaliação de desafetos políticos do governador Confúcio Moura (PMDB).

Hermínio, afastado do cargo da presidência do Legislativo pelo período de 15 dias, é o maior crítico do Governo da Cooperação desde o primeiro dia de mandato. Já apresentou relatórios ao Ministério Público de falseamento de dados no orçamento do estado, denunciou esquemas ilícitos de parentes do governador com empresas de consignação e recentemente criticava a indicação do secretário de Segurança Pública, Marcelo Bessa, para o cargo vitalício de conselheiro do Tribunal de Contas. “Não que Bessa não tenha capacidade e merecimento, mas fui contra porque era um presente do Confúcio, barganha para que ele mantivesse silêncio absoluto sobre as falcatruas das irmãs (Cira e Cláudia Moura), do cunhado (Francisco de Assis) e do próprio governador”, diz repetidas vezes o parlamentar.

Nesta sexta-feira advogados de Hermínio Coelho enfrentaram dificuldade para localizar o processo e entender o porquê do afastamento do deputado e quais as reais acusações contra ele. “O processo simplesmente desapareceu. Nós acionamos a Comissão de Prerrogativas da OAB porque isso jamais aconteceu, nem em Operação Dominó, nem em Operação Termópilas. Nós precisamos dos autos para que Hermínio apresente sua defesa e possa retomar as suas funções” - explicou o advogado Nelson  Canedo.

De acordo com o despacho da Justiça, Hermínio Coelho é acusado de ter ligação com Márcio César Silva Gomes,  um dos envolvidos no  esquema que, segundo a polícia, ia do tráfico de entorpecentes à fraude de cartões de crédito, passando pelos  crimes de peculato e corrupção. Também pesa sobre ele a denúncia de que mantinha 12 servidores fantasmas no gabinete.  “Márcio é meu amigo há 15 anos. Se ele é bandido eu não sei, mas se for tem mesmo que estar na cadeia. Pra mim ele jamais propôs nada de ilícito”.

O deputado Hermínio Coelho informou que solicitou ao presidente em exercício, Maurão de Carvalho, a exoneração imediata de todos os citados no inquérito. “Não há fantasmas no meu gabinete. Se algumas dessas pessoas têm envolvimento com bandidos parabenizo a polícia. Aliás, esse tal Beto Baba e esse outro Fernando da Gata já deveriam estar na cadeia há muito tempo. O estranho de me envolverem com esses safados é que eu sempre vinha fazendo denúncia contra eles na tribuna e no próprio Ministério Público”.

DENÚNCIA CONTRA CONFÚCIO É PROTOCOLADA NO MP

Coincidência ou não, dois dias antes da Operação Apocalipse, Hermínio Coelho protocolou mais uma denúncia contra o govenador Confúcio Moura, suas irmãs e cunhado. Anexados ao relatório estão cópias de cheques emitidos em nome de Jader Machado Azevedo para pagamento de despesas de campanha não contabilizadas na prestação de contas do então candidato ao governo junto à gráfica Graff-Norte. Também estão nas mãos de membros do Ministério Público comprovantes de depósito bancário nas contas de Francisco Assis e Cláudia Moura. Os valores seriam referentes à propinas que a dupla recebia sob o comando do próprio governador para garantir a contratação de uma empresa de software de Brasília.

FANTASMAS NO GOVERNO

Hermínio Coelho revelou ainda, durante entrevista coletiva à imprensa, que o governador Confúcio Moura nomeou 748 pessoas em cargos comissionados nos últimos noventa dias. “Se ele não tem dinheiro para dar aumento para professor como é que tem para colocar tanto comissionado?”, questionou Hermínio.
O deputado entregou também uma relação com pelo menos sete servidores fantasmas do governo:
 

JAQUELINE FERREIRA GOIS MESQUITA (EX-PREFEITA DE COSTAS MARQUES)
ELOISA HELENA BERTOLETTI (EX-PREFEITA DE PRIMAVERA)
APARECIDA COZENDE LIMAS BORGES;
JAIRO BORGES FARIA (EX-PREFEITO DE SÃO FRANCISCO)
EDLEI TIMBÓ PASSOS;
SUELLEN HOLANDA REGO (ESPOSA EX-PREFEITO DE ALVORADA)
CHARLES LUIS PINHEIRO (EX-PREFEITO VALE DO PARAÍSO)

De acordo com Hermínio, nessa lista há ex-prefeitos e esposas de políticos que já trabalham como cabos eleitorais para reeleger Confúcio Moura. “E todos recebem salários acima de 7 mil reais”.