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Brasil : Mais da metade da extração ilegal de madeira no Amazonas se concentra em 4 municípios na região da BR-319
Enviado por alexandre em 17/09/2024 00:33:44

O Greenpeace Brasil realizou sobrevoo no sul do Amazonas e no norte de Rondônia para monitorar o desmatamento e queimadas em julho de 2024. Foto: Marizilda Cruppe/Greenpeace Brasil

Os municípios de Canutama, Humaitá, Lábrea e Manicoré, situados na área de influência da rodovia BR-319, concentraram 57% de toda a madeira extraída ilegalmente no estado do Amazonas, entre agosto de 2022 e julho de 2023. Foram 22.212 hectares (ha) de florestas exploradas de forma não autorizada ou sem a devida identificação de ilegalidade durante o período nesses quatro municípios, uma área equivalente a mais de 22 mil campos de futebol.

Os dados são do estudo “Monitoramento da degradação florestal no Interflúvio Madeira-Purus: análise da exploração madeireira”, produzido pelo Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), organização que integra o Observatório BR-319. O foco do estudo foi a exploração madeireira, um dos principais agentes da degradação florestal na Amazônia, que resulta na perda de qualidade ambiental e/ou biodiversidade das florestas.

O levantamento analisou a área compreendida por 13 municípios do interflúvio Madeira-Purus, a partir de dados do Sistema de Monitoramento da Exploração Madeireira (Simex) e da plataforma Timberflow, do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), com aquisição e processamento digital de imagens de satélite executados no Google Earth Engine.

Conforme o mapeamento, entre agosto de 2022 e julho de 2023, um total de 50.037 ha de floresta foi explorado para extração de madeira no Amazonas. Destes, 36,8 mil ha (77%) foi explorado de forma ilegal, com os municípios de Lábrea, Manicoré e Boca do Acre liderando a exploração não autorizada.

Entre os municípios da área de influência da BR-319, Lábrea concentra 32% da extração ilegal de madeira de todo o Amazonas, o equivalente a 12.377,22 ha de floresta. Manicoré vem em segundo, com 7.239,31 ha (19%), seguido de Humaitá, com 1.387,37 ha explorados (4%) e Canutama, com 1.208,39 ha (3%).

“Os dados apresentados revelam que em todos os municípios mencionados, a extração ilegal de madeira é significativamente maior do que a extração legal. Isso indica um problema crítico de fiscalização e controle das atividades florestais no estado do Amazonas. Os dados apresentados reforçam a necessidade de políticas públicas mais eficazes para combater a extração ilegal de madeira. Isso inclui a intensificação das ações de fiscalização, a promoção de alternativas econômicas sustentáveis para as comunidades locais e o fortalecimento das leis ambientais. É importante ressaltar que a degradação florestal contribui para a liberação de carbono armazenado nas árvores, exacerbando as mudanças climáticas”, diz trecho da nota técnica.
Exploração madeireira em áreas protegidas

O estudo também mostrou que a degradação florestal não atinge somente as Florestas Públicas Não Destinadas e propriedades privadas, mas também áreas protegidas como Terras Indígenas (TIs) e Unidades de Conservação (UCs). As TIs Jacareúba-Katawixi, Kaxarari e Tenharim-Marmelos, por exemplo, somaram cerca de 8.170 ha de degradação no período analisado. Os Parques Nacionais (Parnas) Mapinguari e Campos Amazônicos – unidades de conservação integral onde a exploração madeireira é ilegal – apresentaram 1.736 ha de área florestal degradada.

Segundo a publicação, as informações da extração madeireira em áreas protegidas demonstram “a influência direta das estradas e ramais, na facilitação de acesso às áreas e a movimentação de maquinários e pessoas para auxiliar o processo de corte, separação e transporte de madeira oriunda das áreas identificadas”.

“É um cenário preocupante, principalmente pela exploração em Unidades de Conservação de proteção integral como os Parques Nacionais, além da grande quantidade de degradação em terras indígenas, isso reflete a falta de fiscalização na região Amazônica, aliada a falta de transparência dos processos de licenciamento que corroboram para o aumento da ilegalidade no estado”, afirma um dos autores da nota, Heitor Pinheiro, especialista em geoprocessamento e analista do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam).

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Observatório BR-319 ... - Veja mais em https://portalamazonia.com/meio-ambiente/extracao-ilegal-madeira-am/

Brasil : Superlua e eclipse parcial ocorrem juntos nesta terça-feira. Entenda
Enviado por alexandre em 17/09/2024 00:24:10

Superlua
Superlua: a lua cheia no dia 19 de agosto deste ano (Foto: Valter Calheiros/ATUAL)
Por Caio Possati, do Estadão Conteúdo

SÃO PAULO – Um conjunto de eventos astronômicos poderá ser visto, a olho nu, nesta terça-feira (17) à noite em todo o Brasil. Fãs e astronomia e interessados em observar o céu terão a oportunidade de ver uma superlua, um eclipse lunar parcial e também a uma conjunção planetária envolvendo Saturno. Especialistas afirmam que a simultaneidade dos fenômenos é rara.

A superlua se caracteriza pelo evento no qual a Lua, satélite natural da Terra, aparenta ter aumentado de tamanho, ficando maior e 30% mais brilhante. Isso ocorre quando Lua, que rotaciona em torno do nosso planeta em órbita elíptica (e não circular), se posiciona no ponto mais próximo da Terra, chamado de Perigeu. Além disso, ocorre também quando a Lua se encontra em sua fase cheia. O próximo evento do tipo é previsto para 17 de outubro deste ano.

O eclipse lunar parcial ocorre quando a sombra da Terra, gerada pela luz solar, cobre parte da Lua, deixando-a obscurecida por alguns momentos. No caso desta terça-feira, a Lua terá 3,5% da sua área de disco encoberta, e a previsão é de que o evento poderá ser visto entre as 23h12 de terça e a 0h16 de quarta-feira.

“Apenas 0,085% do diâmetro da Lua será encoberto pela sombra da Terra, mas o mais significativo é a fração da área do disco da Lua a ser encoberta, e nesse caso será de 3,5%”, diz o professor Roberto Dell-Aglio Dias da Costa, do Instituto de Astronomia da Universidade de São Paulo (USP). “A visualização será difícil por conta da pequena fração da Lua oculta pela sombra da Terra, mas poderá ser vista, sim, desde que as condições meteorológicas permitam.”

Etapas do Eclipse Lunar de 17-18 de setembro de 2024 (horários de Brasília), conforme observatório da Unesp:

Entrada da Lua na penumbra da Terra: 21:41 (dificilmente perceptível a olho nu)

Entrada da Lua na umbra: 23:13

Meio do eclipse: 23:44

Saída da Lua da umbra: 00:16

Saída da Lua da penumbra: 01:47

Antes de o eclipse parcial lunar despontar, os interessados também poderão observar a olho nu, no início da noite, uma conjunção planetária entre a Lua e Saturno, na constelação de Aquário. O evento está previsto para acontecer entre as 17h08 e as 21h08 pelo horário de Brasília. “Durante toda a noite Saturno e a Lua estarão muito próximos”, explica o professor Roberto Dell-Aglio.

A fumaça dos incêndios que se espalham pelo Brasil e a chegada de uma frente fria que trouxe chuva e encobriu o céu em parte do País podem, no entanto, dificultar a visualização dos fenômenos. “Se o céu estiver coberto pela fumaça das queimadas, vai ficar mais difícil de ver Saturno ou notar um brilho mais modesto da Lua. É capaz que, nos lugares mais afetados pelas queimadas, nem se perceba que esteja ocorrendo o eclipse”, afirma Cássio Barbosa, professor do departamento de Física da Faculdade de Engenharia Industrial (FEI).

Dell-Aglio também acredita que a névoa ou a fumaça atrapalhem a possibilidade de ver os fenômenos com nitidez. “Quanto pior for a visibilidade do céu, mais difícil será de observar. Mas, como Saturno e a Lua são bem brilhantes, se não houver nuvens será possível ver, sim. Ainda que com qualidade pior.”



Brasil : Saiba qual quantidade de água beber para enfrentar o calor intenso
Enviado por alexandre em 17/09/2024 00:18:31

Bebendo água
Beber água na quantidade certa é essencial para manter hidratação no calor intenso (Foto: Murilo Rodrigues/AM ATUAL)
Por Feifiane Ramos, do ATUAL

MANAUS — Em meio a recordes de calor em Manaus, com temperaturas que atingiram 39 °C, a hidratação é essencial para a saúde da população. O clima extremo e a umidade elevada tornam a ingestão adequada de água obrigatória para manter o bem-estar e prevenir problemas de saúde. Nesta segunda-feira (16) a capital amazonense registrou temperatura de 37 °C graus às 14h, conforme o Climatempo.

O nutricionista Thauã Malinowski explica que a ingestão mínima de água deve ser ajustada conforme as condições individuais. Ele recomenda consumir pelo menos 2 litros de água por dia, com a necessidade podendo aumentar em caso de atividade física intensa. “Quando praticamos atividade física, é aconselhável aumentar a quantidade para até 3 litros diários”, diz Malinowski.

O nutricionista cita uma forma de calcular a quantidade mínima de água necessária com base no peso corporal: “A pessoa deve multiplicar 35 ml pelo peso do corpo. Por exemplo: 70 kg (peso da pessoa) × 35 ml = 2.450 ml (ou aproximadamente 2,5 litros) por dia. Este valor é recomendado para estimar a ingestão diária de água para uma pessoa em condições normais”.

“A desidratação traz uma série de fatores negativos para nosso corpo, principalmente para o intestino e rins, causando uma série de doenças subjacentes da desidratação prolongada. A sede persistente, urina escura, fadiga, fraqueza, tontura e pele seca são sinais de desidratação”, explica.

Thauã Malinowski adverte sobre o consumo excessivo de água, que pode levar à hiponatremia, um estado onde os níveis de sódio no sangue ficam abaixo do normal devido à quantidade excessiva de líquido.

“Quando há uma ingestão desenfreada de água, o nosso corpo entra em um estado hiponatêmico e expulsa vitaminas e minerais. Então, tem que saber beber água também, tá? Não é só beber na loucura, não”, ressalta.

Reinaldo Vásquez, pós-graduado em nutrição clínica e esportiva, afirma que nem sempre 2 litros de água são suficientes para suprir as necessidades do corpo, especialmente em condições extremas.

Ele também utiliza o cálculo de peso corporal, mas em um contexto em que uma hidratação maior é necessária. “Então como é feito esse cálculo? Você calcula 50 ml vezes o seu peso corporal. Por exemplo, se peso 70 quilos, você multiplica esse peso por 50 ml, o que dá um total de 3 litros e 500 ml. É muito fácil, muito simples”, explica Vásquez.

Alimentação

Além da água, os especialistas enfatizam a importância de uma alimentação equilibrada para manter o corpo hidratado e saudável em dias quentes. Alimentos como melancia, uva, abacaxi, morango, laranja, pepino e verduras como couve, alface, rabanete e repolho são recomendados.

“Geralmente são alimentos que chamamos de tropicais, como frutas e saladas. Tudo que seja dessa vertente, com alta composição de água ou cítricos, é muito bom para hidratar o corpo e cuidar da nossa pele”, recomenda Reinaldo Vásquez.

Os nutricionistas alertam que o consumo excessivo de alimentos gordurosos pode causar um “desequilíbrio” na hidratação e no funcionamento do organismo. “As ‘refeições leves’ devem compor de forma harmônica e saudável nossas refeições, pois elas ajudam na maior absorção de vitaminas e minerais essenciais para o nosso organismo”, afirma Thauã Malinowski.

Vásquez acrescenta que alimentos processados, embutidos, gordurosos, com muito sódio ou bebidas alcoólicas podem aumentar a sensação de calor, fraqueza e reduzir a disposição, pois esses itens fazem com que o corpo retenha mais líquidos. “Isso pode levar a ganho de peso e a complicações cardiovasculares”, alerta.

Sobre os riscos de uma ingestão inadequada de alimentos e líquidos durante a onda de calor, Malinowski observa que é importante não confundir sede com fome, o que pode levar à desidratação e causar danos ao estômago e intestino, além de gerar doenças metabólicas com o tempo.

Para aqueles que praticam atividades físicas, seja ao ar livre ou com pesos, Reinaldo Vásquez afirma que se manter hidratado é essencial para um bom desempenho e para a saúde. “Você tem que estar sempre com uma garrafa de água por perto, água de coco, porque o que hidrata o nosso corpo é somente a água. Então, mantenha sempre isso por perto e beba pequenos goles constantemente”, recomenda.



Brasil : Calor mata mais que chuva, mas não preocupa candidatos a prefeito
Enviado por alexandre em 16/09/2024 10:45:23

Novo fenômeno climático pode causar calor intenso como cheias (Imagem: YouTube)
Sol intenso; calor aumenta no Brasil, mas evento climático não preocupa candidatos a prefeito (Imagem: YouTube)
Agência Pública selo
Por Rafael Oliveira, da Agência Pública

SÃO PAULO – Ondas de calor matam mais que chuvas. E de maneira silenciosa. “Muito provavelmente, o Rio Grande do Sul neste ano terá mais pessoas que infelizmente vão falecer em função de ondas de calor do que aquelas que faleceram diretamente vinculadas ao incidente das chuvas de maio”, afirma Renato Corradi, diretor no Brasil do Iclei, uma rede global de governos locais comprometidos com a sustentabilidade.

A menos de um mês do primeiro turno das eleições municipais, o país passa por uma nova e intensa onda de calor, chegando a figurar como a região mais quente do hemisfério sul na segunda semana de setembro. Pelo segundo ano consecutivo, o mês veio com temperaturas muito acima da média para o período, com termômetros passando dos 40 ºC em boa parte do Brasil. O calor que temos passado nos últimos anos, ressalta Corradi, não é a mais variação normal de temperatura ao longo do ano. São as mudanças climáticas agindo.

Apesar da gravidade do cenário, se depender dos candidatos a prefeito de cidades que estão passando por picos de calor, a situação pode permanecer ruim ou até piorar. A Agência Pública mergulhou nos planos de governo de candidatos a prefeito de cinco médias e grandes cidades que passaram por ondas de calor sem precedentes desde o ano passado: Rio de Janeiro (RJ), Cuiabá (MT), Corumbá (MS), Unaí (MG) e Balsas (MA).

O resultado: a adaptação não é uma prioridade. Segundo o levantamento, nos cinco municípios analisados, menos de um a cada três candidatos fala diretamente sobre o tema. Dos 26 planos de governo analisados, somente oito abordam, em diferentes níveis de profundidade, as ondas de calor que vêm atingindo as suas respectivas cidades.

A reportagem conversou com especialistas no tema, que apontam: as cidades ainda não estão preparadas para lidar com as ondas de calor, apesar de existirem medidas simples que poderiam ser tomadas para dar mais qualidade de vida à população. Eles apontam também como a forma como as cidades são geridas acaba piorando a situação.

Praia no Rio de Janeiro: litoral concentra maior parte da população brasileira (Foto: Tomaz Silva/ABr)
Praia no Rio de Janeiro: altas temperaturas no verão (Foto: Tomaz Silva/ABr)

O Rio de Janeiro continua quente

É impossível falar de ondas de calor no Brasil sem citar o Rio de Janeiro. A capital fluminense, além de registrar com frequência temperaturas acima de 40 ºC – chegou a 42,5 ºC no ano passado –, frequentemente ganha as manchetes por alcançar índices de sensação térmica alarmantes, beirando os 60 ºC. A medição considera a temperatura e a umidade relativa do ar.

Na eleição carioca de 2024, somente quatro dos nove candidatos abordam diretamente o calor, em diferentes níveis de profundidade. A arborização urbana aparece no programa de cinco candidatos e a climatização de ônibus e salas de aula é tópico em sete dos nove planos de governo.

Atual prefeito e favorito à reeleição ainda no primeiro turno, Eduardo Paes (PSD) promete climatizar todas as salas de aulas da cidade e quer criar o programa “ZN Verde”, para “produzir mudas em larga escala para arborizar e reduzir as ilhas de calor na Zona Norte”, a mais quente do Rio.

Seus dois principais adversários são os deputados federais Alexandre Ramagem (PL) e Tarcísio Motta (PSOL).

O ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), apoiado por Jair Bolsonaro, também propõe a instalação de ar-condicionado nas escolas. Seu plano de governo defende a implementação de programas de reflorestamento em áreas degradadas. O foco, no entanto, é especialmente em encostas e margens de rios, sem relacionar isso com as ondas de calor.

Já o programa apresentado por Tarcísio aborda a temática com bastante recorrência. Em uma das seções do plano, o psolista aponta que “as condições de habitabilidade” da cidade estão em risco, questionando como os cariocas vão “suportar as ondas de calor do verão”. O candidato defende a atualização da Estratégia de Adaptação às Mudanças Climáticas municipal e a revisão e efetiva implementação do Plano Diretor de Arborização Urbana, “começando pelas ilhas de calor e regiões mais quentes da cidade”. Tarcísio sugere também a climatização de ônibus e escolas e a implementação de descontos no IPTU para edifícios que, entre outras medidas, “promovam políticas ecológicas de redução do calor”.

Entre os demais candidatos, que não passam de 1% nas pesquisas de intenção de voto, a atenção dada ao tema varia.

O deputado federal Marcelo Queiroz (PP) defende a climatização de ambientes, criação e recuperação de áreas verdes para mitigar os efeitos das ilhas de calor e a construção de infraestruturas que resistam a eventos climáticos extremos, incluindo ondas de calor. 

Carol Sponza, candidata do Novo, também fala em ar-condicionado em escolas e sugere descontos no IPTU, mas não aborda o calor diretamente em seu programa. O bolsonarista Rodrigo Amorim (União), que está com a candidatura indeferida, tem como única proposta no tema garantir ar-condicionado em 100% dos ônibus da cidade.

Seca de 2023 no município de Benjamin Constant, no Alto Solimões - (Foto: Divulgação/Defesa civil)
Seca no Amazonas: calor intenso e rios sem água (Foto: Divulgação/Defesa civil)

No campo da esquerda, Cyro Garcia (PSTU) lembra que o “microclima piora” a cada ano e que isso tem relação com a “ausência de vegetação e ampliação da manta asfáltica”, mas não apresenta propostas para resolver o problema. Juliete Pantoja (UP) aborda as mudanças climáticas, mas não cita diretamente as ondas de calor, ainda que proponha a climatização de escolas e replantio de árvores. Já o candidato do PCO, Henrique Simonard, apresenta o plano único do partido para o país, que não fala de mudanças climáticas.

“Cuiabrasa” e a arborização

Entre os municípios analisados pela Pública, o campeão de calor é Cuiabá (MT), que tem registrado as maiores temperaturas do país entre todas as capitais nos últimos anos. No dia 11 de setembro, por exemplo, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) marcou 42,2 ºC em uma das estações de medições da capital mato-grossense. No ano passado, Cuiabá chegou a registrar 44,2 ºC.

O município no Centro-Oeste, que já foi conhecido como “cidade verde”, ganhou recentemente o apelido de “Cuiabrasa”. As mudanças climáticas têm papel preponderante, mas não é só isso: segundo um estudo do Instituto Centro de Vida (ICV), Cuiabá perdeu mais de 55 mil hectares, o equivalente a 17% da sua cobertura vegetal, entre 1988 e 2017. E, segundo o engenheiro florestal Lucas Araújo, que atua no ICV em Cuiabá, esse processo continuou ocorrendo, com outros 7,9 mil hectares perdidos entre 2018 e 2023. 

As últimas gestões municipais, avalia Araújo, adotaram algumas iniciativas de arborização em conjunto com outros órgãos e com a iniciativa privada, mas, por outro lado, promoveram projetos que pioram a arborização. “Como a construção do Contorno Leste, que é uma avenida que extrapola o limite do perímetro urbano. [Esse tipo de construção] também vai fomentar a perda da cobertura vegetal”, aponta.

Para o analista em geotecnologias do ICV, a despeito de medidas ambíguas das últimas gestão, a arborização é uma medida popular entre o eleitorado local, além de necessária para combater as ondas de calor. Não por acaso, a defesa da pauta aparece, com diferente ênfase, no plano de governo dos quatro candidatos a prefeito, de bolsonaristas a petistas.

É o caso do deputado federal Abilio Brunini (PL), apoiado por Jair Bolsonaro, ex-presidente e notório negacionista das mudanças climáticas. Na contramão de seu padrinho político, Brunini dedica boa parte de seu programa de governo ao tema. Logo na introdução, diz que está cada dia mais “mais difícil viver em uma cidade com o clima cada vez mais abafado e quente” e critica o atual prefeito, Emanuel Pinheiro (MDB), por cortar árvores. Diz também que quer construir uma cidade preparada “para [lidar com] os impactos do calor extremo e da escassez hídrica”.

O candidato do PL, arquiteto e urbanista de formação, traz uma série de propostas de combate às ondas de calor, como arborização urbana, incentivos na conta de IPTU para quem adotar medidas sustentáveis e climatização de salas de aula e ônibus.

Posicionado do outro lado do espectro político, o petista Lúdio Cabral também traz a adaptação às ondas de calor em Cuiabá como central em seu programa, lembrando que “a alta temperatura e a baixa umidade do ar” causam impactos na saúde, em especial de pessoas mais vulneráveis, como idosos e crianças.

Lúdio defende uma série de medidas de arborização e reflorestamento para trazer “conforto ambiental”, além de propor a climatização de ônibus e de estações de ônibus. O deputado estadual sugere também uma política municipal de adaptação e mitigação das mudanças do clima.

Eduardo Botelho, do União Brasil, fala em “escolas com menos cimento, mais verde e mais ventilação” e quer incentivar a “arborização no perímetro urbano”. O candidato traz ainda outras propostas relacionadas às mudanças climáticas, mas sem relação direta com as ondas de calor e seus impactos.

Já Domingos Kennedy (MDB), apoiado pelo atual prefeito, fala apenas em arborização urbana e climatização de abrigos de ônibus, sem se aprofundar no tema do calor.

A última pesquisa Quaest, divulgada no final de agosto, traz Botelho com 31%, seguido de Abilio Brunini, com 25%, e Lúdio, com 21%. Kennedy tem 5% das intenções de voto. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.

Planos de governo

Além das duas capitais, a Pública analisou também os planos de governo de candidatos de três municípios com histórico recente de ondas de calor e população acima de 80 mil pessoas. Nessas cidades, o tema aparece ainda menos.

Corumbá, por exemplo, chegou a registrar 43,3 ºC em novembro do ano passado. A despeito disso, nenhum dos quatro candidatos do município sul-mato-grossense de 96 mil habitantes falou sobre as ondas de calor que vêm atingindo a cidade. 

O candidato Luiz Antônio Pardal (PP), apoiado pelo atual prefeito, Marcelo Iunes (PSDB), defende arborização urbana e o combate a incêndios florestais, mas não relaciona as medidas ao calor extremo. 

O ex-senador Delcídio do Amaral (PRD), que foi cassado e chegou a ser preso no âmbito da Operação Lava Jato, mas depois foi inocentado, fala apenas em “abrigos nos pontos de ônibus”, proposta que também aparece no plano de André Campos (PL). Já Dr. Gabriel, do PSB, defende que Corumbá se torne uma “cidade carbono zero”, mas nada fala sobre calor.

O cenário é ainda pior em Balsas, que registrou 41,9 ºC em setembro do ano passado, além de ter ultrapassado os 40 ºC na segunda semana de setembro. O município maranhense de 101 mil habitantes tem três candidatos à prefeitura e nenhum deles abordou as ondas de calor.

O candidato do PRD, Alan da Marissol, não propôs nenhuma medida que se relacione com o tema, mesma situação do candidato Professor Francisco Cunha, do Novo. Já o atual vice-prefeito, Celso Henrique (PP), fala em “potencializar os serviços ecossistêmicos e a biodiversidade da cidade” com projetos de arborização urbana, mas não aborda diretamente o calor.

Em Unaí, apenas um dos seis candidatos tratou diretamente do calor em seu plano de governo, ainda que de maneira tímida. A cidade mineira de 86 mil habitantes chegou a registrar 42,6 ºC em novembro de 2023.

Trata-se de Alino Coelho, do PSDB. Ele propõe um programa de incentivo à arborização urbana, que pode “proporcionar sombra, melhorar a qualidade do ar e ajudar a regular a temperatura urbana”. Coelho é apoiado pelo atual prefeito, José Gomes Branquinho, do mesmo partido. Branquinho foi vice de Antério Mânica, ex-prefeito condenado por chacina de quatro fiscais do trabalho, que fiscalizavam fazendas da região.

Os candidatos Calixto Souto (PSB), Andréa Machado (PRD), Chicão Sincero (PT) e Thiago Martins (PL) sugerem diferentes medidas de arborização, mas não falam sobre as ondas de calor. Rafhael de Paulo, do Novo, não traz nenhuma proposta relacionada ao tema.

Cidades despreparadas

As cidades estão preparadas para lidar com essa nova realidade? “Infelizmente, não”, aponta Renato Anelli, doutor em arquitetura e urbanismo e coordenador de um grupo de pesquisa que aborda estratégias para a redução das vulnerabilidades das cidades brasileiras às mudanças climáticas na Universidade Mackenzie. “Pelo contrário, inclusive: elas estão agravando essas condições [de calor extremo] à medida em que se faz um processo de verticalização muito denso e que agrava a situação de aquecimento da superfície e do ar”. A isso, explica Anelli, se soma a falta de espaçamento entre os prédios e a redução de áreas verdes nas zonas urbanas. 

Em outras palavras, o calor que vem da atmosfera é sentido de forma mais intensa pela população por conta da maneira como estamos construindo as cidades. Ao invés de se dissipar, o calor permanece mais tempo na superfície, formando as chamadas “ilhas de calor”, em especial nas grandes cidades.

Os prefeitos que serão eleitos em outubro não têm o poder de interromper sozinhos o processo de aumento da temperatura média do planeta. Mas é justamente no âmbito municipal que medidas mais diretas de combate a esse tipo de evento climático extremo podem ser tomadas, apontam pesquisadores. 

“O gestor público no Brasil não incorporou dentro do seu contexto de planejamento territorial, de planejamento urbano, as questões relacionadas ao clima. Com relação às ondas de calor, é menos ainda”, afirma Jean Ometto, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e coordenador científico do AdaptaBrasil, plataforma que reúne informações sobre diversos riscos de impacto das mudanças do clima para cada um dos 5.570 municípios do país.

Fornecimento de água de maneira pública, disponibilização de ambientes climatizados de maneira mais ampla, incentivos a construções que possuam melhor ventilação natural e protocolos de saúde, em especial considerando populações mais vulneráveis ao calor extremo, estão entre as medidas apontadas pelos especialistas ouvidos pela Pública. Eles citam também suspensão de atividades de risco quando temperatura e umidade atingirem certos níveis, mudanças nas leis de zoneamento, criação de planos de ação climática e avanços na comunicação e na educação ambiental e climática como centrais neste novo cenário.

Afinal, ainda que recebam menos atenção do poder público do que extremos climáticos relacionados à chuva, as ondas de calor matam muito mais, e de maneira silenciosa.



Brasil : Terra tem agosto com temperatura 1,51°C acima do nível pré-industrial
Enviado por alexandre em 16/09/2024 09:08:30


A temperatura do planeta ultrapassou no mês de agosto deste ano 1,51 graus Celsius (°C) acima do nível pré-industrial, pelo 13º mês nos últimos 14 meses. Foi o agosto mais quente da Terra da série histórica do Serviço Copernicus para as Alterações Climáticas da União Europeia, com uma temperatura média do ar na superfície 0,71 °C acima da média do período 1991 a 2020.

A média na temperatura global, de setembro de 2023 a agosto de 2024, foi a maior registrada para qualquer período de 12 meses 0,76 °C acima do período entre 1991 e 2020 e 1,64 °C acima da média pré-industrial de 1850 a 1900.

A temperatura média da superfície do mar para agosto de 2024 foi 20,91°C, considerando as zonas Temperadas e Intertropical, a cerca de 10 metros de profundidade. De acordo com Serviço Copernicus para as Alterações Climáticas, esse é o segundo valor mais alto já registrado para o mês, e apenas 0,07°C abaixo de agosto de 2023.

De acordo com o Boletim Agosto de 2024, publicado pela instituição nesta sexta-feira (6), é provável que o ano de 2024 supere as temperaturas registradas em 2023. “Essa sequência de temperaturas recordes está aumentando a probabilidade de 2024 ser o ano mais quente já registrado. Os eventos extremos relacionados à temperatura testemunhados neste verão só se tornarão mais intensos, com consequências mais devastadoras para as pessoas e o planeta, a menos que tomemos medidas urgentes para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.", afirmou a diretora adjunta do Copernicus Climate Change Service, Samantha Burgess.

Na análise hidrológica, a instituição constatou ainda que agosto foi mais seco do que a média na maior parte da América do Sul e registrou a incidência de incêndios florestais no Brasil.

Financiado pela União Europeia, o Copernicus é o principal programa de observação da Terra que utiliza medições de satélites, navios, aeronaves e estações meteorológicas em todo o mundo, para produzir análises de dados sobre da atmosfera, marinho, Terra, alterações climáticas, segurança e emergência.

O programa é coordenado e gerido pela Comissão Europeia e implementado em parceria com Estados-Membros, Agência Espacial Europeia (ESA), Organização Europeia para a Exploração de Satélites Meteorológicos, Centro Europeu de Previsões Meteorológicas em Médio Prazo, entre outros.

Edição: Aécio Amado

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