O que leva algumas pessoas a transarem em lugares ermos, perigosos e/ou com o risco de serem flagradas? E a fazerem coisas que colocam suas vidas em risco, como transar em carros em alta velocidade, praticar barebacking (dispensar intencionalmente o preservativo em relações sexuais, inclusive casuais) ou se meter em fantasias perigosas como a asfixia erótica, que supostamente potencializa o orgasmo ao restringir o oxigênio no cérebro?
Segundo especialistas, a explicação é complexa e tem a ver com os mesmos mecanismos que movem quem sofre de transtorno do comportamento sexual compulsivo.
De maneira geral, essas pessoas buscam mais prazer. Normalmente, na visão delas, ele pode ser aumentado com a sensação de medo e de perigo.
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MEDO E EXCITAÇÃO
Isso acontece principalmente porque o medo gera componentes físicos parecidos com os da excitação sexual, principalmente a percepção cardíaco-respiratória. Afinal, muitos dos hormônios gerados nessas duas experiências têm sensações físicas semelhantes. Muitas vezes, as pessoas reconhecem essa semelhança inconscientemente e buscam combinar o medo à excitação para amplificar a sensação de prazer que esses componentes ocasionam juntos.
O sistema límbico do cérebro é um dos grandes responsáveis pela combinação entre sexo e perigo. Ele é uma espécie de "central das emoções" e é a parte mais "primitiva" do sistema nervoso central. Suas estruturas estão conectadas, por sua vez, com outra estrutura fundamental no cérebro, que é a "central das recompensas pelo prazer".
Como acontece como outros animais, funcionamos na base da recompensa, ou seja, a satisfação de um desejo gera uma sensação de bem-estar intensa, que é o prazer. No sexo, funciona assim: o desejo pressupõe a falta e a espera, a construção de uma fantasia. Assim, a esperança de realizá-lo movimenta e faz trabalhar a mente.
O sistema límbico entra em ação, sendo que o primeiro grande gatilho é a testosterona, tanto no homem como na mulher, que promove a produção de substâncias que geram a sensação de prazer. Dopamina e oxitocina são produzidas em altíssimas quantidades e inundam o cérebro produzindo a sensação intensa de prazer, uma recompensa frente ao desejo.
Porém, em uma situação extrema de perigo, fisiologicamente o desejo aumenta em uma escala muito maior e, consequentemente, o prazer tende a ser na mesma proporção elevada. O problema começa quando a busca por essas situações extremas passa a se tornar a regra, e não a eventualidade, ou seja, quando o sexo começa a se transformar num verdadeiro vício, numa necessidade premente e somente é satisfeito em situações limítrofes.
O cérebro hiperestimula esse processo, tornando-o um círculo vicioso: quanto mais se busca e se vivencia circunstâncias arriscadas no sexo, e se obtém um prazer mais elevado, mais se quer repetir e mais alto torna-se o limite a cada nova experiência.
Foto: Reprodução
SOFRIMENTO E DANO
Já explicações com base na psicanálise indicam que provavelmente essas pessoas procuram aplacar sentimentos de extrema solidão, culpa, repressão de desejos tidos socialmente como "incomuns", vergonha e desespero, além de tentar inibirem a própria incapacidade de vivenciar o afeto por alguém. Há uma impossibilidade de entrega e de compartilhamento de prazer no encontro com o outro.
A grande questão que deve ser levantada relaciona-se a dois pontos: sofrimento e dano. Se as condutas de risco não trazem sofrimento e perigo real aos envolvidos numa relação consensualmente estabelecida, não há como se falar em patologia que deva ser tratada. Entretanto, se existe sofrimento é preciso buscar ajuda, principalmente de uma terapia.
Embora muitos possam julgar e ver esse comportamento como inadequado ou imoral, a verdade é que as pessoas que praticam ou têm fantasias sobre situações inusitadas devem se sentir livres para viver essas fantasias, desde que estejam conscientes do impacto que suas ações possam ter sobre elas e sobre os outros.
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Quando essa avaliação é prejudicada, ou as decisões tomadas geram sentimentos negativos como arrependimento ou culpa, havendo ou não um prejuízo imediato, a terapia pode ajudar a rever os conceitos dessa avaliação, possibilitando uma mudança de entendimento e comportamento. Grupos como o Dasa (Dependentes de Amor e Sexo Anônimos), com reuniões em todo o Brasil, podem tirar dúvidas e oferecer ajuda.
Fonte: Uol