De acordo com um relatório atual da ONU, entre 691 a 783 milhões de pessoas passaram fome em 2022, com uma faixa média de 735 milhões. Isso representa um aumento de 122 milhões de pessoas em comparação com 2019, antes do início da pandemia por Covid.
A Bíblia diz que “haverá fomes em vários lugares”, conforme Mateus 24 e, no livro de Apocalipse, diz que haverá um tempo de escassez extrema de alimentos, em todo o mundo, de acordo com Apocalipse 6, onde é descrito de forma simbólica, a passagem do “cavalo preto”, por ocasião da abertura do terceiro selo. Diante das atuais notícias, podemos dizer que esse tempo está próximo.
A África continua sendo a região de maior risco quando se trata da crise global da fome, de acordo com o relatório intitulado “Situação da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo”, publicado na quarta-feira (12) por cinco agências especializadas das Nações Unidas — Agricultura e Alimentação, Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola, Fundo das Nações Unidas para a Infância, Organização Mundial da Saúde e o Programa Alimentar Mundial.
As cinco agências alertam coletivamente que, se a crise da fome continuar, um dos “17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU” de acabar com a fome até 2030 não será alcançado.
‘O maior desafio que já vimos’
“A fome está aumentando enquanto os recursos de que precisamos urgentemente para proteger os mais vulneráveis estão ficando perigosamente escassos. Como humanitários, estamos enfrentando o maior desafio que já vimos”, disse a diretora executiva do Programa Alimentar Mundial (WFP, da sigla em inglês), Cindy McCain, em um comunicado compartilhado com o Christian Post.
“No WFP, estamos comprometidos em trabalhar com todos os nossos parceiros, antigos e novos, para criar um mundo onde ninguém questione quando chegará a próxima refeição”, ela disse.
Enquanto as autoridades observaram em seu relatório que a crise de fome persistente foi exacerbada pela pandemia, repetidos choques climáticos e conflitos como a guerra na Ucrânia, o presidente do FIDA, Alvaro Lario, divulgou uma declaração insistindo que um mundo sem fome pode ser alcançado com “investimentos estratégicos” e “vontade política”.
“Precisamos que a comunidade global aja com rapidez, inteligência e compaixão para reverter o curso e virar o jogo contra a fome”, disse.
‘Fome em proporções bíblicas’
Em 2020, quando a pandemia começou a se desenrolar, David Beasley, chefe do Programa Mundial de Alimentação, alertou em uma apresentação ao Conselho de Segurança da ONU que o número de pessoas passando fome poderia passar de 135 milhões para mais de 250 milhões.
Ele descreveu a pandemia de coronavírus como “a pior crise humanitária desde a Segunda Guerra Mundial”. Ele previu que cerca de 300.000 pessoas poderiam começar a morrer de fome diariamente em “proporções bíblicas”.
O último relatório mostra que, embora a fome tenha diminuído na Ásia e na América Latina, ela ainda estava aumentando na Ásia Ocidental, no Caribe e em todas as sub-regiões da África em 2022. Cerca de uma em cada cinco pessoas na África enfrenta fome, que é mais do que o dobro da média mundial.
Áreas rurais e urbanas
Além da crise global de fome, o relatório destaca que mais de 3,1 bilhões, ou 42% da população mundial, não puderam pagar uma alimentação saudável em 2021. Esse número representa um aumento de 134 milhões de pessoas a mais do que em 2019.
Com as tendências de urbanização mostrando que quase 7 em cada 10 pessoas viverão em cidades até 2050, as agências destacaram as disparidades entre as populações rurais e urbanas e como a urbanização influencia os sistemas agroalimentares.
O relatório alerta para o crescente consumo de alimentos altamente processados nas áreas periurbanas e rurais de alguns países e que a insegurança alimentar é mais prevalente nas áreas rurais do que nas urbanas.
Uma maior incidência de desnutrição infantil foi observada nas áreas rurais do que nas urbanas, enquanto crianças com excesso de peso foram ligeiramente mais prevalentes nas áreas urbanas.
Meses de seca abrem brecha para propagação de incêndios causados por ação humana: a floresta não pega fogo sozinha.
Com informações do IPAM
Floresta amazônica coberta pela fumaça de incêndios em área grilada. Foto: Bibiana Garrido/IPAM
A "temporada do fogo" na Amazônia brasileira é o período com maior ocorrência de incêndios florestais, na estação seca do bioma, e só existe porque tem gente que continua usando o fogo em práticas agropecuárias e no processo de desmatamento: 81% dos focos de calor ocorrem de agosto a novembro, na média dos últimos sete anos, com base em dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Durante a estação seca, a vegetação e a matéria orgânica no solo ficam propícias à queima e espalham as chamas com maior velocidade, o que pode criar incêndios. O ar menos úmido também favorece o alastramento do fogo e dificulta o combate.
"A principal fonte de ignição dos incêndios florestais na Amazônia é humana, por práticas produtivas ainda ligadas ao desmatamento e ao manejo de pastagem. Descargas elétricas por raios seriam a fonte natural, entretanto, essas ocorrem normalmente no período de chuvas, quando a Amazônia está mais úmida, difícil para o fogo se alastrar", explica Ane Alencar, diretora de Ciência no IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e coordenadora da rede MapBiomas Fogo.
Na maior parte do bioma no Brasil, a seca começa em julho e vai até outubro, chegando ao auge a partir de agosto. Segundo o MapBiomas Fogo, também entre agosto e novembro está 75% de toda a área queimada na Amazônia de 1985 a 2022.
Embora as condições não sejam homogêneas em um ecossistema continental, a relação entre seca e fogo permanece: o norte amazônico acima da linha do Equador, por exemplo, tem menos chuva no primeiro trimestre. Neste ano, Roraima registrou alta de 95% na área queimada até abril.
A fumaça de incêndios de grande proporção na Amazônia foi notícia quando "o dia virou noite" na cidade de São Paulo ‒ naquele agosto de 2019, fazendeiros combinaram a ação criminosa que ficou conhecida como Dia do Fogo. Em 2022, a fumaça chegou de novo ao Sudeste brasileiro e alcançou países como Bolívia e Peru.
Temporada do fogo
A área queimada na Amazônia de agosto a novembro do ano passado foi de 5,4 milhões de hectares, mais que o dobro dos 2,2 milhões de hectares queimados de agosto a novembro de 2021. Dos últimos dez anos, 2017 foi o que mais queimou no período: foram 6,7 milhões de hectares, área maior que o estado da Paraíba. Os dados de área queimada mensal são da plataforma MapBiomas Fogo.
Há pelo menos 38 anos tem-se registro da temporada de fogo no bioma, indicam os dados do MapBiomas. O mês de setembro é o que tem maior ocorrência (30,4%). Na série histórica, 1997 é o ano com maior concentração de área queimada entre agosto e novembro. Cerca de 92%, ou 7,2 milhões de hectares, dos 7,8 milhões de hectares atingidos pelo fogo naquele ano foram queimados nesses meses.
Veja os dados sobre cicatrizes do fogo na Amazônia 1985-2022 AQUI.
O fogo caiu com a implementação do PPCDAm (Plano de Prevenção de Combate ao Desmatamento da Amazônia), o que reflete a relação entre incêndios e desmate, ainda que não na mesma proporção. O plano reduziu em 83% o desmate no bioma entre 2004 e 2012.
A queda na área queimada foi de 46% entre agosto e novembro de 2004 (6,4 milhões de hectares) e os mesmos meses de 2012 (3,5 milhões de hectares). A média da área queimada na temporada de fogo nos oito anos anteriores ao plano (1995-2003) foi de 1,45 milhão de hectares; nos oito anos durante a aplicação do plano, foi de 1,49 milhão de hectares. Nos oito anos depois da conclusão da fase do PPCDAm (2013-2021), ficou em 1 milhão de hectares.
"O PPCDAm é um plano focado na redução do desmatamento e da degradação florestal na Amazônia. Em ambos, o contexto o fogo é peça central, pois está diretamente relacionado com o desmatamento e é um dos principais vetores de degradação das florestas da região", comenta Alencar.
Tipos de fogo
"O incêndio florestal é gerado pelo fogo de desmatamento e pelo fogo de pastagem, então se a gente reduzir os dois, a gente vai reduzir os incêndios florestais por consequência",
diz a pesquisadora.
Alencar descreve os três tipos de fogo mais comuns na Amazônia brasileira:
1. Fogo de desmatamento: segue o processo de desmatamento; depois de derrubada e seca, a área é queimada 2. Fogo de manejo: provocado para "limpeza de pastagem" em área de pasto nativo ou cultivado, também chamado de fogo de pastagem 3. Incêndio florestal: é o fogo que se espalha e entra na floresta, com impactos diretamente proporcionais à frequência; pode ser originado por chamas que fugiram ao controle humano ou por ação criminosa
Onde queima
Pará, Mato Grosso e Roraima foram os estados com maior ocorrência de fogo na Amazônia de 1985 a 2022. Entre as cidades com maior área queimada na série estão: São Félix do Xingu, Cumaru do Norte e Altamira, no Pará; Porto Velho, capital de Rondônia; Santana do Araguaia, também no Pará; e Vila Bela da Santíssima Trindade, em Mato Grosso.
A Amazônia tem 43,6% de tudo o que queimou no Brasil de 1985 a 2022: o acumulado chega a 80,9 milhões de hectares dos 185,7 milhões de hectares queimados no país. Em relação à área do bioma, 19,2% pegou fogo nesses 38 anos. Pastagens foram o tipo de vegetação mais atingida (56%), seguidas por florestas (44%).
Só em 2022, foram 7,9 milhões de hectares queimados no bioma, um aumento de 50% em relação a 2021, quando 5,3 milhões de hectares foram queimados.
Como o clima interfere
A Amazônia tem uma precipitação média anual de 2.300 milímetros, com regiões que podem chegar a chover 3.500 milímetros por ano. Na estação chuvosa, calcula-se uma precipitação média de 10 milímetros por dia; já na estação seca, alguns locais podem ter 50 milímetros de precipitação mensal.
É o que se conhecia até agora. As mudanças climáticas causadas por ação humana têm alterado o padrão de chuva. Há uma tendência de diminuição da duração da estação chuvosa e aumento da duração da estação seca, principalmente no sul do bioma.
Projeções indicam maior probabilidade de eventos climáticos extremos de chuva e seca, com impacto multiplicado em grandes extensões de áreas desmatadas, como o arco do desmatamento ‒ do leste e sul do Pará em direção oeste, passando por Mato Grosso, Rondônia e Acre.
El Niño
Além das alterações no clima consequentes do superaquecimento global, a chegada de um El Niño forte em 2023 pode aumentar ainda mais a temperatura. O fenômeno climático que aquece as águas do oceano Pacífico tende a levar mais seca para a Amazônia, criando um ambiente que favorece ainda mais a propagação do fogo.
"Os anos de El Niño são sempre preocupantes para a Amazônia, pois a seca é mais severa e isso aumenta muito a probabilidade de uma queimada se tornar um incêndio florestal", alerta a pesquisadora.
Em 1982 e 1983, um El Niño intenso contribuiu para o período com menor índice pluviométrico da Amazônia em 50 anos. A queda na chuva chegou a 70% em Manaus, em plena estação chuvosa.
Prevenção
Alencar ressalta que o controle do uso do fogo é chave para reduzir a frequência e intensidade dos incêndios na floresta: "Como não podemos controlar o clima, podemos, sim, controlar o uso do fogo pelas pessoas". Para o bioma amazônico, o MIF (Manejo Integrado do Fogo) prevê a adoção de técnicas de prevenção, com atividades de conscientização sobre o uso do fogo em pastagens, além do reconhecimento da vegetação por mapeamentos, do trabalho na criação de aceiros e barreiras à passagem do fogo em áreas de risco, também com a formação de brigadas locais.
O Amazonas foi o estado com o maior aumento no custo por litro de combustível
Combustível Foto: Pixabay
De acordo com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Brasil (ANP), desde o início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a gasolina ficou 11,8% mais cara.
A análise feita pela agência mostra ainda que em sete estados brasileiros o combustível ficou mais de 15% mais caro, se comparado com a última semana de dezembro de 2022.
O estado com maior aumento na gasolina foi o Amazonas, onde o combustível é vendido a R$ 6,30 o litro. Esse valor é 25,7% maior que os R$ 5,33 registrado no final do ano passado.
Outros estados com alta significativa foram: Acre (19,5%), Rondônia (17%), Sergipe (15,5%), Paraíba (15,4%), Espírito Santo (15,2%) e Amapá (15,1%). Já entre os estados com menor aumento temos Distrito Federal (6,9%), Minas Gerais (6,9%), Ceará (6,8%), Bahia (5,6%) e Piauí (2,2%).
Um dos motivos para o aumento foi o fim da isenção da alíquota parcial do Pis/Cofins e da Cide que voltou a ser aplicada aos combustíveis. Além disso, desde 1º de junho os estados passaram a adotar uma alíquota única de ICMS, aplicando uma tarifa de R$ 1,22, valor superior ao que era cobrado em 20 estados.
E, por fim, desde o 29 de junho o governo federal retomou a cobrança da alíquota cheia do Pis/Cofins, o que aumentou o combustível em R$ 0,27 por litro e mais R$ 0,07 da Cide, totalizando um aumento de R$ 0,34 por litro de gasolina.
Determinação é da Justiça. Segundos o MP e o MPF, diversos povos não foram considerados pelos estudos e podem ter as terras e o modo de vida impactados pelo empreendimento.
Com informações do g1 Rondônia
A Justiça Federal determinou que a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) refaçam ou complementem os estudos de impacto ambiental que incluem terras indígenas e comunidades tradicionais na área afetada pela Hidrelétrica Tabajara.
A decisão se deu após pedido do Ministério Público de Rondônia (MPRO) e do Ministério Público Federal em Rondônia (MPF-RO), alegando que os grupos não foram contemplados na análise inicial e que, com a implantação da hidrelétrica localizada em Machadinho D'Oeste (RO), esses povos teriam suas terras e modo de vida impactados.
Os órgãos afirmam que a Funai aceitou o Estudo do Componente Indígena (ECI) que considerava apenas a Terra Indígena (TI) Tenharim-Marmelos, sem mencionar as outras terras que estão próximas à usina, e disse ainda não foram realizados estudos conclusivos sobre a possível alagação no sul da TI Tenharim-Marmelos.
Área da Usina Hidrelétrica Tabajara, no Rio Machado, em Machadinho D'Oeste (RO). Foto: Reprodução
O documento também menciona que a Funai emitiu o Termo de Referência Específico (TRE) de forma incompleta, deixando de considerar várias Terras Indígenas sujeitas a impactos, assim como não foram feitos estudos sobre os grupos de indígenas isolados.
Com base nos argumentos dos Ministérios Públicos, a Justiça Federal determinou que a Funai refaça o ECI e o TRE para incluir as terras indígenas Jiahui, Tenharim Rio Sepoti, Tenharim do Igarapé Preto, Pirahã, Ipixuna, Nove de Janeiro e Igarapé Lurdes. Também devem ser feitos estudos de campo na parte sul da TI Tenharim-Marmelos para obtenção de informações aprofundadas sobre as consequências das obras e possível alagação permanente dessa área. A decisão da Justiça também obriga a análise dos impactos na área que coincide com a área de circulação de grupos isolados.
Já o Ibama deverá fazer um Estudo do Componente Tradicional (ECT) para colher dados primários das comunidades tradicionais localizadas nas áreas de influência do empreendimento e, se for o caso, propor medidas compensatórias ao grupos que usufruem das 16 reservas extrativistas e unidades de conservação localizadas em Machadinho e em Vale do Anari (RO). O descumprimento da decisão por parte do Ibama, Funai e do empreendedor acarretará em multa de R$ 100 mil por obrigação descumprida. A Funai e o Ibama não deram retorno até a última atualização desta matéria.
De acordo com o AdaptaBrasil, boa parte da região possui altos graus de vulnerabilidade e insegurança alimentar.
Com informações do Brasil 61
Mais da metade dos municípios da Amazônia Legal, ou seja, 62% deles, não possuem condições e estruturas mínimas para enfrentar as consequências da crise climática, colocando, assim, boa parte da região em altos graus de vulnerabilidade e insegurança alimentar. Os dados são do AdaptaBrasil.
A nutricionista Camila Pedrosa explica que a segurança alimentar se refere ao acesso aos alimentos em qualidade e quantidade suficientes para atender às necessidades dietéticas da população, de maneira geral. E as mudanças nos padrões de temperatura podem impactar diretamente na produtividade das safras.
"Em cada período do ano a gente tem uma disponibilidade de diversos alimentos, a disponibilidade de água tanto no período de seca quanto esse período de muita chuva, também vai modificar os padrões de produção. Então lugares que chove muito e que a gente tem cheias, vai impactar no crescimento e na qualidade dessa produção agrícola", expõe.
Foto: Divulgação/InfoAmazonia
O meteorologista Mamedes Melo avalia que a previsão para os próximos dias na Amazônia Legal é de chuva somente no extremo da região. Ou seja, chuva mais para o norte e noroeste do Amazonas, grande parte de Roraima e Amapá, norte e talvez nordeste do Pará. Não serão chuvas volumosas, mas existe previsão de chuva.
O Mato Grosso é o estado com o maior número de municípios em vulnerabilidade, ou seja, menor capacidade adaptativa de municípios frente aos efeitos das mudanças climáticas, que incluem planejamento, logística e manutenção. Ao todo, são 24 municípios do Estado que passam por essa dificuldade. Em seguida aparecem Tocantins, com 15, e Maranhão com 10.