MANAUS – A Amazônia é gigante. Isso faz com que, com alguma facilidade, fiquemos distraídos com a sua imensidão e potencialidade, com isso ficamos pulando de ideia em ideia, de projeto em projeto, sem nada concluir. Há potencial de fármacos? Certamente. Mas até hoje não temos um remédio da copaíba, andiroba ou capeba. Por mais que existam fitoterápicos ou a sabedoria popular fazendo uso recorrente destas dádivas.
Há uma novidade que é chamar de “estação da fumaça”, como se fosse natural ter que ficar respirando fumaça numa época do ano. Isso é inaceitável, mas ao colocarmos desta forma, acontece uma normalização da fumaça, como se ela não pudesse ser combatida, tanto pelo Governo Federal quanto pelo Governo Estadual ou as diversas Prefeituras que compõem a região. Onde há fumaça, há fogo, já diz o velho ditado. Falamos muito da fumaça e nada ou quase nada do fogo por trás de tanta fumaça.
Há oportunidade de conexões do Amazonas com a Panamazônia? Certamente. Há como ligar o Pacífico ao Atlântico, passando pelo Amazonas? Certamente. Isso pode ser feito? Certamente. Vale a pena fazer? Com certeza. É uma prioridade? Claro que não. Enquanto falamos de ligações com o Pacífico, seja pelo IIRSA (Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana), desde Manta, Lima, Paita ou Chankay, nos esquecemos do que é a nossa prioridade e nos distraímos.
Pode ser feita uma ferrovia entre Manaus e Porto Velho? Ou entre Manaus e Boa Vista? Evidente que sim. Vale a pena fazer, no curto ou médio prazo, do ponto de vista de investimentos de infraestrutura? Não. Mas, vez por outra, voltamos ao debate público, como se nada tivesse sido aprendido do debate anterior sobre o mesmo tópico.
A presença humana traz risco para a floresta Amazônica? Claro que sim. Por isso vamos ficar imóveis e nada fazer na região? Claro que não. Ter esta expectativa é a pior das distrações. Precisamos romper esta expectativa, temperando com os interesses nacionais. É uma distração olhar todo o projeto na região apenas sob o prisma ambiental, com um longo prazo que nunca chega, tal qual será equivocado analisar os projetos apenas pela percepção econômica, maximizando ganhos de curto prazo, ignorando o longo prazo que chegará.
O maior dos desafios que temos é o de rompermos a distração todas as vezes em que caminhamos para um lugar equilibrado. Assim tem sido com a BR-319: quando caminhamos para a sua reconstrução, alguém reapresenta um projeto descartado, seja da ferrovia, seja da rota para o Pacífico. Como se isso fosse solucionar a questão de não termos conexão com o Sudeste do Brasil.
Da mesma forma com as hidrovias: superimportantes, mas são apenas “hidrovias”. Toda seca, fala-se da dragagem, como se isso fosse resolver. Nunca resolveu, mas seguimos a deliberar como se fosse resolver. Tal qual o sobrepreço dos armadores. Não será pela regulagem que resolveremos problemas de desequilíbrios de oferta x demanda.
A chave está na abundância de alternativas: com a rodovia conectando Manaus ao Brasil, os armadores serão compelidos a cobrar um preço justo.
Augusto César Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, onde é responsável pelas Coordenadorias de Infraestrutura, Transporte e Logística.
Os artigos publicados neste espaço são de responsabilidade do autor e nem sempre refletem a linha editorial do AMAZONAS ATUAL.
BRASÍLIA – O Ministério da Saúde orienta que a população evite, ao máximo, a exposição ao ar livre e a prática de atividades físicas e usem máscaras e bandanas de tecido por conta da fumaça de incêndios registrados nas regiões Norte e Sudeste do país.
A diretora do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador, Agnes Soares, alertou que o risco é maior para crianças e idosos, além de pessoas com doenças prévias, como hipertensos e diabéticos.
Outro grupo que deve se manter vigilante é o de pessoas com alergias e problemas respiratórios, como asma e bronquite crônica. Para Agnes, essas populações reagem de forma mais rápida e intensa à contaminação por fumaça.
Os possíveis sintomas da exposição à fumaça incluem ardência nos olhos, irritação na garganta e sensação de fechamento da laringe, além de manifestações mais sérias e que podem sinalizar que o pulmão foi afetado, como o chiado característico da bronquite. “Se o episódio (de dispersão da fumaça) dura de três a quatro dias, pode ser mais sério para a população”, diz Agnes.
Sobre a manutenção das aulas em regiões atingidas pela fumaça, a secretária disse que não há um marco legal sobre o tema. A recomendação é que os municípios, ao tomarem suas decisões, levem em consideração o risco para doenças respiratórias, sobretudo em meio a episódios prolongados.
O recomendável, segundo ela, é avaliar caso a caso, determinando desde a redução de atividades físicas até o fechamento das escolas.
Casos de doenças
De acordo com a secretária, não há monitoramento em tempo real de casos de doenças respiratórias e outros quadros advindos da exposição à fumaça registrados em Upas (Unidades de Pronto Atendimento) e serviços de emergência. Mas, segundo a diretora, há relatos de aumento desse tipo de atendimento, sobretudo nas alas de pediatria.
Os cuidados com crianças incluem evitar ao máximo a exposição prolongada à fumaça e, sempre que possível, garantir o estoque de medicações controladas, além de promover hidratação abundante, de forma a garantir que as mucosas se mantenham úmidas.
“Não é hora de brincar, de andar de bicicleta, de pular corda. Para os idosos, não é o momento de sair pra fazer atividades que não sejam estritamente necessárias. Se precisar sair, use proteção, como máscaras e bandanas, para reduzir o contato com partículas nas vias respiratórias”, diz.
A Amazônia registrou um total de 3.430 queimadas entre os dias 24 e 25 de agosto, com 1.442 focos de incêndio no domingo e 1.988 na segunda-feira. Isso representa uma média de 1,19 queimada por minuto, segundo informações do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Desde o início do ano até essa segunda-feira, o bioma já acumulava 52.104 focos de calor, o que reflete um aumento significativo de 81% em comparação aos 28.787 focos observados no mesmo período de 2023.
Nos últimos dias, o Brasil tem enfrentado sérias dificuldades em diversas regiões, com nuvens de fumaça se espalhando por vários estados. Além dos incêndios localizados, como os que ocorreram em São Paulo e nos biomas do Cerrado e Pantanal, a fumaça das queimadas no Norte do país também tem contribuído para agravar a situação.
Durante a última semana, houve um aumento expressivo nas queimadas na Amazônia. Na quarta-feira, 21 de agosto, foram identificados 1.635 focos de incêndio. Na quinta-feira, o número caiu para 924, mas logo voltou a subir, com os satélites do Inpe detectando 1.659 pontos de fogo, sendo 1.265 apenas no sábado.
Agosto, mesmo antes de terminar, já é o mês com o maior número de queimadas em 2024, totalizando 27.181 focos até o momento. Até então, julho liderava esse ranking com 11.434 registros.
Embora os números sejam preocupantes, esse aumento é consistente com um padrão histórico observado desde o início do monitoramento das queimadas pelo Inpe em junho de 1998. Geralmente, o fogo começa a se intensificar em junho, atinge seu pico em setembro e diminui logo depois, acompanhando o ciclo de seca durante o verão amazônico.
Vale destacar que as condições de seca severa têm favorecido as queimadas na Amazônia e em outras partes do Brasil. O Distrito Federal e outras 16 unidades da federação estão passando pela pior estiagem dos últimos 44 anos, conforme o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
Os estados mais impactados pela seca incluem Amazonas, Acre, Rondônia, Mato Grosso, Pará, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Piauí, Maranhão e Tocantins. Além disso, o Cemaden identificou que 3.782 dos 5.570 municípios brasileiros estão enfrentando algum nível de estiagem, sendo que 404 desses municípios estão em situação de estiagem extrema.
Comunidades indígenas e ribeirinhas do estado do Amazonas já sentem os efeitos da seca intensa de 2024, com reduções dos níveis dos rios, mortandante de peixes e isolamento. Imagem da seca em Tabatinga, na região do Alto Solimões (AM) (Foto: Defesa Civil).
Manaus (AM) – Isolados e se alimentando do que conseguem colher na roça ou se aventurando a atravessar a fronteira para pescar. Os moradores de comunidades indígenas amazônicas lutam para não voltar para casa sem ter o que comer ou beber. Água potável? A água barrenta é levada ao fogo, na esperança de que a fervura devolva alguma pureza. Um pano comum serve de filtro. No improviso, muitas comunidades estão “se virando” para superar uma estiagem que se imagina ser tão severa quanto a de 2023. Atualmente, 20 municípios e mais de 250 mil pessoas são afetadas pela seca severa no Amazonas, de acordo com a Defesa Civil Estadual.
Na capital Manaus, o rio Negro chegou nesta sexta-feira (23) à marca de 21,93m. No ano passado, no mesmo período, o nível estava em 24,83m. No município de Tabatinga, o Solimões registrou 0,4m. No ano passado, nesse mesmo dia, o rio marcava 2,61m.
O Serviço Geológico do Brasil (CPRM) expediu nesta sexta-feira o Alerta de Vazante do Amazonas de 2024. Aumentou a probabilidade de novas marcas históricas na estiagem deste ano. Em Tabatinga, o Solimões tem 65% de chance de superar a marca mínima de 2023. Em Manaus, esse percentual é de 16%, com o Negro ultrapassando os 12,70m de 2023. É a primeira vez que a CPRM emite alerta de seca em sua história.
Miryam Tikuna, líder indígena moradora da comunidade Filadélfia Ūtchigüne, onde vivem 387 famílias, no município de Benjamin Constant (a 1.533 quilômetros de Manaus), na região do Alto Solimões, revela que nas últimas semanas, os indígenas de seu povo passaram a arriscar a sorte pescando em águas do Peru. No lado do Brasil, os peixes estão morrendo nas altas temperaturas.
“Isso está sendo mais perigoso ainda, porque daqui a pouco, os peruanos, nossos vizinhos, podem não gostar disso. Se a situação piorar, eles vão começar a revidar, a proteger o território deles, porque eles também precisam”, admite.
Ela conta que Benjamin Constant, um dos municípios mais afetados pela seca, possui poucos lagos e igarapés. Essa condição hidrológica dificulta o suprimento de necessidades emergenciais, pois há menos opções para pescar. As embarcações estão sem acesso à cidade e os moradores se sentem ilhados.
“Parece que estamos numa ilha sem conexão. Não tem água potável para as comunidades indígenas e para a área rural. É muito difícil ter acesso ao igarapé onde a gente tomava banho; não tem mais como usar”, lamenta a liderança indígena à Amazônia Real.
Para Miryam, o pior ainda está por vir, já que do céu não há qualquer sinal de chuva. “Quando chove, é aquela chuva rápida, chuva de verão”, comenta. Os peixes estão morrendo, e não há nenhum lago perto da comunidade.
Miryam revela que a ajuda humanitária prometida pelas autoridades não chega a todas as comunidades. Pela Associação de Mulheres Indígenas Tikuna (Amit), ela faz parceria com outras entidades para que seu povo possa receber suprimentos, medicamentos para diarreia, e filtros de barro para tratar a água. Lá também não há caixa d’água.
A líder indígena descreve o sofrimento de seu povo. “Estamos fervendo a água para poder beber. Algumas famílias fervem a água barrenta mesmo. Depois, colocam um pano para tirar o barro. Tem um cheiro muito forte. Temos que beber com o nariz fechado. Quando você está com sede, tem que beber assim mesmo. Não dá para esperar”, conta.
Ela afirma que comunidade sonha em cavar um poço e comprar uma bomba d’água. O grande problema, segundo Miryam, é o preço cobrado pelas empresas: uma média de 5 mil reais por dia trabalhado. “Esse é o preço da diária. E quantos dias eles precisam para encontrar água? Uns três dias. A gente nunca vai ter água com esse valor. Não temos fundos para isso.”
Na comunidade de Miryam Tikuna, a alimentação vem da roça, de onde se obtém mandioca, batatas e bananas. Mas até manter os plantios é difícil, já que falta água para regar. E como nenhuma embarcação consegue chegar até o local, os produtos disparam de preço. “Um quilo de açúcar, na estiagem do ano passado, chegou a custar 13 reais. O galão de água custava 27 reais. Tudo aumenta”, conta Miryam.
Tríplice fronteira
Localizado na região da tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, o município de Tabatinga (a 1.106 km de Manaus) é um dos mais castigados pela estiagem. A presidente da Federação Indígena do Povo Kukami Kukamiria do Brasil, Peru e Colômbia (Federação Kokama – TWRK), Gladis Kokama, falou sobre a situação do município que, na seca extrema, acaba recebendo as mercadorias que deveriam ir para os municípios de Benjamin Constant e Atalaia do Norte, pois estes se encontraram sem navegabilidade.
“Todos vêm para Tabatinga para pegar embarcações, e às vezes, as embarcações podem até sofrer um acidente devido à seca. Tem várias praias surgindo, então os comandantes têm que ter cuidado. Está pior do que no ano passado”, analisa.
Gladis Kokama se diz incrédula com o que vê sobre a estiagem de 2024. “Estou vendo com meus próprios olhos. Atravessei o rio até chegar em Santa Rosa, no Peru, e as pessoas já estão tomando banho no meio do rio. Eu não acreditava”, diz.
A liderança indígena aposta que a educação ambiental poderia ajudar a reverter esse quadro tão grave que o Amazonas enfrenta hoje. “Eu tenho muita esperança na educação. Inclusive, sou professora, pedagoga, e atualmente trabalho no apoio pedagógico no município de Tabatinga. Vejo essa necessidade. Deveríamos mudar essa parte curricular, não só aqui, mas no Estado do Amazonas e no Brasil inteiro”, finaliza.
A seca em Coari
No Médio Solimões, o município de Coari (a 363 km de Manaus) também vivencia os impactos da seca. As populações mais afetadas são as que moram em comunidades ribeirinhas e indígenas. A cacica da comunidade São José da Fortaleza, Maria Dione, do povo Apurinã, relata que até a atividade de manejo de pirarucu, que os moradores do local utilizam para alimentação e também como fonte de renda, está prejudicado. “Não conseguimos tirar o peixe porque os igarapés secaram. Não dá para entrar no canal porque ficou tudo seco”, lamenta.
Em São José da Fortaleza vivem 57 famílias e aproximadamente 300 apurinã. Para chegar à comunidade indígena, que fica no rio Copeá, é necessário quase um dia de viagem a partir da sede do município. Dione afirma que, por ora, a situação não é tão grave, mas já espera pelo pior no próximo mês, quando a estiagem deve chegar em seu ponto alto. “Em setembro, eu não sei como a gente vai se virar. Ano passado, num tempo desse [agosto], não estava aparecendo assim o barranco [referindo-se ao barranco da entrada da comunidade]. Ano passado o barranco só apareceu em setembro”, compara.
A cacica afirma que, além da estiagem severa, é difícil conviver com tanto calor. “Agora é quente! Até as 9 horas, 10 horas, a gente suporta, depois não suporta mais. Uma hora o sol vai acabar conosco. É terrível! Isso é o homem branco que está fazendo, acabando com todas as matas”, finaliza.
Floresta evita efeito da seca
Não é de hoje que os cientistas alertam para a gravidade das alterações climáticas e necessidade de se planejar para o pior, e isso inclui evitar desmatamento para mitigar os efeitos da seca. Em 2024, com a situação cada vez mais crítica da natureza e dos rios, os especialistas voltam a destacar a urgência nos compromissos ambientais e planejamento pelas autoridades e sociedade.
O pesquisador Renato Sena, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), avalia que a seca de 2024 é a continuidade da seca de 2023, quando a região amazônica foi impactada pela estiagem severa causada pelo El Niño. Para Sena, a seca deste ano será desafiadora com “provável drástica redução dos níveis dos rios”, o que vai comprometer principalmente as populações mais suscetíveis (ribeirinhos), com dificuldades no acesso ao transporte, saúde, educação, água e abastecimento, também poderemos observar danos a fauna e flora da região.
“Infelizmente esta é uma tendência dos próximos anos. Temos observado desde o início do século 21 a intensificação e aumento de frequência de eventos extremos sejam cheias ou grandes vazantes nos rios da região se comparado às séries históricas disponíveis”, observa o pesquisador do Inpa.
Sena alertou que, além dos ciclos naturais do clima, como aquecimento dos Oceanos Pacífico e Atlântico, a interferência humana tem papel fundamental no equilíbro climático. “É inegável o papel do homem, na alteração do ambiente natural, ocasionando desmatamento, elevação das temperaturas dos oceanos e queimadas em grandes regiões”.
Estudioso dos impactos da seca na floresta, o cientista Jochen Schongart, também do Inpa, destaca a necessidade de se restaurar em grande escala as áreas degradadas que se encontram, na maior parte, localizadas no sul da bacia Amazônica. “Temos que evitar novos desmatamentos e incêndios para que o efeito da seca seja mitigado”, sugere o cientista, que é pesquisador-titular da Coordenação de Dinâmica Ambiental.
Ele explica que uma cobertura florestal intacta ajuda a mitigar os efeitos da seca e da estiagem esfriando a atmosfera e na emissão de várias partículas da biota da floresta. Esse processo ajuda na formação de nuvens.
A seca meteorológica causada pelo Atlântico Tropical Norte, a perda da cobertura florestal e os incêndios alteram, segundo o pesquisador, a física e a química da atmosfera resultam num atraso da formação de nuvens e, com isso, no retorno das chuvas.
“Todo aquele vapor de água gerado não entra na bacia amazônica, resultando em condições de secas extremas, principalmente na região Sul e Sudoeste da bacia amazônica. Esse mecanismo continua e estamos observando que os níveis de água dos afluentes no Sul da bacia Amazônica, como Madeira e o próprio Solimões, já estão em níveis bastante críticos”, assinala o pesquisador.
Schongart explica que a estiagem de 2024 será tão desafiadora quanto a de 2023, quando se estabeleceu o recorde da série histórica. “Varia de região para região. Temos que estar muito atentos às regiões que ficam no Sul da bacia amazônica, onde há também o aumento do desmatamento, da degradação florestal e dos incêndios.”
Segundo o Schongart, os fenômenos climáticos e meteorológicos nos oceanos, em sinergia com a perda da cobertura florestal, com a degradação florestal e com as queimadas em larga escala, piora a situação no Sul da região da Amazônia. “Além da seca, temos ondas de calor que afetam tanto a biodiversidade quanto a saúde humana”, alerta.
Defesa Civil
O secretário municipal de Proteção e Defesa Civil de Tabatinga, Donizete Cruz, conduz uma equipe de 17 profissionais na luta para mitigar os efeitos da estiagem. Segundo Cruz, a cidade tem 53 comunidades afetadas de forma direta. Dessas, 39 ficaram totalmente isoladas e o restante, parcialmente. Só nesse município, a Defesa Civil estima que pelo menos 10 mil pessoas foram afetadas diretamente pela estiagem.
“Decretamos a situação de emergência no dia 15 de julho. Acionamos o governo do Estado e o governo federal. O governo do Estado está enviando um subsídio alimentar para a calha do Alto Solimões e também para o município de Tabatinga. A ideia é deixar abastecido agora em setembro, que é o pico da estiagem, tanto com água quanto com alimentos para essas populações”, pontua Cruz.
Ele afirma que as primeiras ações da Defesa Civil do município foram no sentido de adequar um sistema de água que havia nas escolas para que também atendesse à população. O secretário garante que as questões envolvendo combustível, insumos e água potável no município estão sob controle.
À reportagem da Amazônia Real, Donizete relata como é viver as experiências com secas extremas de forma sequencial. “A gente tem que se adaptar, né? Essa nova mudança climática, esse novo mundo aí, nós ainda não nos recuperamos da seca de 2023, já entramos na de 2024. É um desafio”, descreve.
Para Cruz, é preciso quebrar paradigmas, a começar pela população. “Alguns hábitos, algumas atitudes, precisamos mudar, começando por casa, para amenizar essa situação. Não é tão fácil, mas precisamos nos adaptar, precisamos ser resilientes. Antigamente, uma grande seca de rio acontecia a cada 10 anos; hoje, não”, lamenta.
São Paulo de Olivença
A situação não é muito diferente em São Paulo de Olivença (a 991 km de Manaus), como descreve o coordenador de operações da Defesa Civil do município, Lucas Gomes. Com a missão de “não deixar nenhuma comunidade desassistida”, Lucas lembra que o município está executando a perfuração de poços artesianos para comunidades que viram seus lagos secarem e ficaram sem água potável.
São Paulo de Olivença tem 84 comunidades rurais e indígenas em estado de emergência. São pelo menos 5.600 famílias afetadas, conforme dados da Defesa Civil, mas a situação ainda pode piorar. “Eu tenho certeza que em breve a Cosama (Companhia de Saneamento do Amazonas) vai sentir um impacto porque o igarapé de onde ela retira água já está começando a descer rapidamente devido à estiagem. Hoje, já estamos enfrentando dificuldade de navegação devido aos bancos de areia que estão surgindo rapidamente”, alerta Lucas.
A rápida descida do nível dos rios no município de São Paulo de Olivença deu origem a uma das histórias mais dramáticas da estiagem de 2024, até aqui, quando o pescador Belmiro Tavares, de 85 anos, saiu para pescar e foi surpreendido pela rápida seca do rio, ficando encalhado a aproximadamente sete quilômetros de sua casa. Ele tentou sair para desencalhar a canoa e acabou ficando três dias atolado na lama, até ser localizado por um drone e resgatado pela Defesa Civil de São Paulo de Olivença.
O governo do Estado diz ter distribuído 226 toneladas de alimentos para as regiões mais afetadas. Diz ainda ter instalado 24 purificadores de água, sendo 10 deles direcionados para a calha do Alto Solimões, além de enviar 100 caixas d’água para melhorar o acesso à água potável.
Seca em Tabatinga, na região do Alto Solimões (AM) (Foto: Defesa Civil).
Seca em Tabatinga, na região do Alto Solimões (AM) (Foto: Defesa Civil).
Seca em Tabatinga, na região do Alto Solimões (AM) (Foto: Defesa Civil).
Seca em Tabatinga, na região do Alto Solimões (AM) (Foto: Defesa Civil).
É graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pelo Centro Universitário Nilton Lins. Tem MBA executivo em Gestão de pessoas e coaching, pelas Faculdades Idaam. Iniciou no jornalismo profissional em 2003, tendo trabalhado em veículos como Jornal A Crítica, Correio Amazonense, Jornal do Commercio e Zero Hora (RS). Na televisão trabalhou na TV A Crítica, Rede TV! Manaus, e na rádio A Crítica, como comentarista. Está na equipe de jornalistas investigativos da agência Amazônia Real desde o ano de 2021. É o vencedor do Prêmio Petrobras de Jornalismo de 2015, com a reportagem “Chute no Preconceito”.
Formada em comunicação social com ênfase em jornalismo pela Universidade Nilton Lins, é estudante de Ciências Biológicas no Instituto Federal do Amazonas (IFAM). Em sua trajetória, passou pela assessoria de comunicação do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e publicou artigos pela organização internacional de mudanças climáticas Climate Tracker. Em 2019, participou da 1ª Oficina de Jornalismo Socioambiental da Amazônia Real e foi social media na agência entre julho de 2020 e janeiro de 2021. Empenha-se em fazer reportagens que representem a diversidade amazônica e dê espaço para as populações falarem sobre suas próprias realidades, a partir do jornalismo científico e socioambiental. (wericalima@amazoniareal.com.br)