Durante entrevista, governador reafirmou que rodovia vai tirar o Amazonas do isolamento do restante do país
Em meio à estiagem que já afeta mais de 250 mil pessoas no Amazonas, o governador Wilson Lima defendeu, mais uma vez, o fim do isolamento da região com a pavimentação da BR-319 (rodovia que liga Manaus a Porto Velho). Ele destacou a disponibilidade do Governo do Amazonas em cumprir todas as condicionantes ambientais necessárias para a execução segura da obra. Durante entrevista à CNN Brasil, nesta quinta-feira (22/08), o governador também avaliou o cenário da seca na região e deu detalhes sobre os trabalhos, no combate às queimadas.
“Não dá para o governo construir uma história de protetor da Amazônia colocando a população do Amazonas de joelhos. Nós estamos dispostos a atender a todas as condicionantes ambientais. Se é para colocar chip no carro que sai do Careiro até Porto Velho, não tem problema. Se é para colocar portal, câmera, balança para pesar carros, tudo isso o Governo do Estado está disposto a fazer”, disse o governador, ao ser questionado sobre os desafios ambientais ligados à BR-319.
Segundo o governador, a recuperação da rodovia é um pedido do povo do Amazonas para sair do isolamento, principalmente no período de estiagem, que compromete a navegação e, consequentemente, a chegada de insumos para a indústria e comércio. Para ele, a rodovia seria uma alternativa para minimizar os impactos da seca.
“Nós tivemos uma série de episódios que mostraram que a BR-319 é importante para o nosso povo. Agora, por exemplo, nós corremos o risco de ter um desabastecimento muito grande no comércio. No ano passado, nós tivemos entre 25% e 30% de desabastecimento no estado do Amazonas e a BR-319 seria agora a nossa salvação”, acrescentou Wilson Lima.
TRABALHOS
Durante a entrevista, o governador Wilson Lima citou, ainda, o trabalho executado pelo Governo do Amazonas, desde o início do ano, para alertar sobre os impactos da estiagem. Ele pontuou reuniões com diversos setores da economia, tais como indústria, comércio, instituições e empresas que tratam de serviços essenciais.
Sobre as ações humanitárias, Wilson Lima ressaltou o envio de 30 mil cestas básicas para municípios de três calhas de maior nível crítico dos rios Purus, Juruá e Solimões, além de entrega de caixas d’água e sistemas de purificadores de água do projeto Água Boa. O governador também destacou discussões com o Governo Federal para dar início ao processo de dragagem em trechos essenciais para a navegação.
Em relação às queimadas, o governador do Amazonas reforçou o trabalho das equipes em campo com 400 homens, sendo 300 do Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas (CBMAM), para combater os focos de incêndio em municípios do sul do estado, área que concentra a maior parte das queimadas.
FORÇA-INTEGRADA
Na quarta-feira (21/08), o governador Wilson Lima participou de uma reunião, coordenada pela Casa Civil do Governo Federal, com o objetivo de dar novos encaminhamentos para a questão das queimadas. Ministros e governadores alinharam ações entre União e estados para combater a crise climática.
Entre os encaminhamentos, o Governo Federal apresentou a criação de três frentes de trabalho interfederativas em zonas com maior número de focos de incêndio: Humaitá (AM) / Porto Velho (RO) Apuí (AM) e Novo Progresso (PA). O plano de ação e o cronograma de ações deverão ser alinhados com representantes dos estados do Amazonas, Pará e Rondônia, áreas onde as frentes atuarão de forma inicial.
Para colaborar com os trabalhos, Wilson Lima ofereceu os Centros Multifuncionais do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), localizados nos municípios de Humaitá, Apuí e Boca do Acre, para servir como base das ações do Governo Federal.
Em Brasília, o governador também tratou sobre a situação das dragagens de rios com o diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Fabrício Galvão. Ele pediu celeridade no processo de contratação de empresas responsáveis pela operação em trechos com licenças ambientais concedidas pelo Ipaam.
Dragas foram destruídas na calha do Rio Madeira, no Amazonas, em ação conjunta da Funai, PF e Ibama
A Polícia Federal realiza uma força operacional para proteger 15 mil territórios indígenas no Amazonas. Nesta semana, 223 dragas de garimpos ilegais foram destruídas na calha do Rio Madeira, no Amazonas. A Operação Prensa conta com ação conjunta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
O operação tem como objetivo proteger os territórios Arary, Cunhã Sapucaia, Lago do Limão, Setemã, Igarapé Açú e Kawa, de acordo com a Funai. Ao menos 30 dragas estavam em terras indígenas, entre as balsas destruídas no Rio Madeira e seus afluentes, Rio Aripuanã e Rio Manicoré.
“A prática da atividade na região, além de causar danos ao meio ambiente e à saúde pública em virtude da contaminação do rio por mercúrio e cianeto, também interfere na cultura de povos tradicionais, uma vez que áreas indígenas chegaram a ser invadidas pelos criminosos na região”, diz a PF
As expectativas dos agentes são de superar a operação “Draga Zero”, que destruiu 302 balsas de garimpo ilegal na mesma região, ano passado. De acordo com a PF, a ação é por tempo indeterminado.
“Os criminosos invadem as terras indígenas e levam álcool e drogas para as aldeias, o que causa a desestruturação social e cultural dos povos indígenas. Também há denúncias de assédio praticadas pelos garimpeiros contra jovens indígenas”, salientou a Funai.
Buscando garantir o direito ao meio ambiente equilibrado, o Ministério Público de Rondônia (MPRO) reuniu, nesta quinta-feira (22/8), diversas instituições para a criação de uma força-tarefa conjunta para combater os incêndios florestais no estado. A ação envolve o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental (Sedam), a Polícia Militar Ambiental e o Corpo de Bombeiros.
Situação atual
A estiagem severa que Rondônia enfrenta agrava a situação das queimadas nesta época do ano. A força-tarefa terá como foco a implementação de estratégias integradas para conter e minimizar os focos mais graves de incêndio, que têm se espalhado por várias regiões do estado.
O Coordenador do GAEMA, Promotor de Justiça Pablo Hernandez Viscardi, destacou: "Nosso objetivo é reduzir significativamente os principais focos de incêndio. A atuação coordenada das instituições busca unir esforços e recursos, garantindo uma resposta concentrada nos focos mais críticos das queimadas, que se intensificam com a seca prolongada."
Direito ao Meio Ambiente
O Promotor reforçou ainda que todos têm direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado. Cabe ao Poder Público o dever de protegê-lo e preservá-lo para as gerações presentes e futuras. O MPRO atua na defesa desse direito, promovendo ações e iniciativas para garantir a sua efetivação. É possível denunciar crimes ambientais online por meio doBalcão Virtual ou ligando para o número 127.
Atuação do GAEMA
O Grupo de Atuação Especial do Meio Ambiente (GAEMA) é um órgão do MPRO dedicado à defesa do meio ambiente. Ele trabalha para identificar, prevenir e reprimir atividades causadoras de degradação ambiental no estado de Rondônia, atuando de forma integrada com as Promotorias de Justiça do Meio Ambiente locais.
Por Iander Porcella, Caio Spechoto e Sofia Aguiar, do Estadão Conteúdo
BRASÍLIA – O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luís Roberto Barroso, afirmou que, muitas vezes, há uma “certa omissão” da atuação governamental na área ambiental em diversas partes do mundo. Em sua avaliação, é por causa disso que tais pautas passam a ficar sob responsabilidade do Judiciário.
“Muitas vezes, há uma certa omissão da atuação governamental, do Estado, em muitas partes do mundo e o Judiciário precisa saná-la. Mas há, sobretudo, uma grande causa, de que só o Judiciário tem o papel de proteger minorias e gerações que nasceram. E, portanto, o conceito de justiça intergeracional que está presente na Constituição brasileira é uma das atuações do Poder Judiciário nessa matéria”, afirmou o magistrado nesta quarta-feira (21), em evento para o lançamento do Pacto pela Transformação Ecológica que foi assinado entre os Três Poderes da República.
O pacto inclui um marco legal do mercado de carbono, financiamento a projetos sustentáveis e rapidez do Judiciário para julgar processos da área. As informações estão em comunicado do Supremo Tribunal Federal (STF).
No tema, o Judiciário acelerará demandas judiciais da área ambiental, fundiária e climática. O Conselho Nacional de Justiça deve definir metas para esse processo. A Justiça também deverá integrar bancos de dados com o Executivo com informações sobre meio ambiente, mercado imobiliário e outros.
De acordo com Barroso, o Poder também pretende desenvolver um grande programa de descarbonização. “É com grande satisfação que o Poder Judiciário participa desse pacto pela transformação ecológica com medidas muito concretas”, avaliou o presidente do STF.
No discurso, o magistrado disse ser necessário superar um negacionismo que ainda persiste na pauta ambiental. Nesse sentido, ele citou a persistência, “por desconhecimento”, de avaliar como antagônicos o agronegócio e a preservação ambiental.
Pacheco: ‘Equilíbrio democrático’
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) disse que o desenvolvimento sustentável passa pelo equilíbrio democrático entre os Poderes. O senador participa de cerimônia no Palácio do Planalto para a assinatura de um pacto de transformação ecológica entre Executivo, Legislativo e Judiciário.
“Estamos erigindo o alicerce de novos patamares de preservação ambiental. Tenho convicção que o desenvolvimento sustentável passa por um equilíbrio democrático harmônico e colaborativo entre os Poderes institucionais”, declarou Pacheco.
O evento conta com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e outras autoridades.
BRASÍLIA – A cobertura e o uso da terra pela ação do homem no Brasil aumentam os riscos climáticos, aponta um mapeamento divulgado nesta quarta-feira (21) pela MapBiomas. De acordo com o estudo que analisa dados de 1985 a 2023, o país acumula um saldo negativo de 33% das áreas naturais de seu território, que incluem a vegetação nativa dos biomas, superfície de água e áreas naturais não vegetadas, como praias e dunas.
Nos últimos 39 anos, o Brasil perdeu 110 milhões de hectares dessas áreas, o que equivale a 13% do território do país, os outros 20% haviam sofrido mudança anteriormente.
Esse resultado também leva em consideração o mapeamento de vegetação nativa recuperada a partir de 2008, quando o Código Florestal foi regulamentado pelo Decreto nº 6.514 que estabeleceu mecanismos de sanção e compensação por danos ambientais.
Municípios
Enquanto no território de 37% dos municípios brasileiros houve ganho de vegetação nativa, 45%, ou seja, quase metade dos 5.570 municípios do país tiveram saldo negativo na cobertura de área natural no período. Os outros 18% se mantiveram estáveis entre 2008 e 2023, ou seja, o saldo entre o ganho e perda das áreas naturais foram menores que 2% ao longo do período.
“A vegetação secundária já está classificada como floresta, incluída na área nativa em 2023. Então, ele pode ter sido desmatada ou teve uma queima severa e foi mapeada como pastagem, mas depois que ela recupera ela volta a ser considerada como floresta”, informou o coordenador técnico da Mapbiomas, Marcos Reis Rosa.
Os dados da Coleção 9 de mapas anuais de cobertura e uso da terra foram consolidados a partir do monitoramento de 29 mapas com análises, por exemplo, da cobertura do solo e uso da terra, a partir de diferentes recortes de território, como biomas, municípios, terras públicas e privadas. Na publicação, há novos mapas como o recorte de fitofisionomias, que são as características das vegetações regionalizadas, por exemplo.
Biomas
A partir desse volume de informação, os pesquisadores chegaram à conclusão de que o Brasil manteve até 2023 apenas 64,5% da vegetação nativa, além das superfícies de água e áreas naturais não vegetadas, como praias e dunas, que correspondem a 2,5% do seu território. Dos 110 milhões de hectares de vegetação nativa suprimida, 55 milhões de hectares foram na Amazônia, 38 milhões de hectares no Cerrado, a Caatinga perdeu 8,6 milhões de hectares e 3,3 milhões de hectares perdidos estão no Pampa.
No Pantanal houve uma perda significativa na superfície de água, que em 1985 representava 21% dos 15,1 milhões de hectares do bioma no Brasil. Em 2023, a água passou a representar apenas 4% do território pantaneiro. Já as áreas de vegetação herbácea e arbustiva aumentaram de 36% em 1985 para 50% do bioma em 2023.
Pela primeira vez, foi realizado um recorte na perda de cobertura vegetal das florestas públicas não destinadas, ou seja, aquelas em que a União ainda não definiu o uso da terra, como Unidades de Conservação, Terras Indígenas e concessões florestais e que representam 13% da Amazônia Legal. Atualmente, essas florestas ainda mantêm 92% de sua área coberta por vegetação nativa.
Já nas florestas públicas destinadas, as Terras Indígenas são as áreas mais preservadas no país, onde a perda de vegetação nativa foi equivalente a menos de 1% em 39 anos. Elas correspondem a 13% de todo o território nacional.
Áreas privadas
As áreas naturais sofreram maior impacto em propriedades privadas, onde a perda foi de 28% em 39 anos. No total de 281 milhões de hectares convertidos pela ação do homem até 2023, 60% está em propriedades privadas. Houve uma expansão de 228% das áreas que foram convertidas em agricultura e 76% nas que passaram a ser pastagem, depois de 1985.
“Essa informação sobre a declividade pode ser um dos fatores para entendimento de outros processos como os erosivos, deslizamentos, infiltração da água no solo. Então, quando a gente pensa em risco climático, o tipo de terreno também é fundamental para pensar em zoneamento e áreas destinadas à conservação”, conclui a pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia e da Mapbiomas, Bárbara Costa.