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Brasil : Uma vila jesuíta fundada em 1728 é o berço de Rondônia
Enviado por alexandre em 25/10/2024 15:11:37

Por Júlio Olivar – julioolivar@hotmail.com

O arraial de Santo Antônio das Cachoeiras – origem da cidade de Santo Antônio do Rio Madeira, berço de Porto Velho e de Rondônia – quando implantado, em 1728, situava-se em um território indígena, cenário de disputas entre Espanha e Portugal e frequentado por aventureiros de vários países. A presença lusitana na região era minoritária, causando preocupações ao reinado de D. João V, que temia a expansão da colônia espanhola.

Uma das expedições oficiais mais remotas de que se conhece à localidade do Madeira ocorreu em 1723, quando o sargento-mor luso-brasileiro Francisco de Melo Palheta liderou uma missão a mando da Coroa portuguesa. Ele havia deixado Belém em 11 de novembro de 1722 e atingiu o Madeira em fevereiro seguinte. No percurso, à altura da foz deste rio, os expedicionários acamparam em um lugar que, pouco depois, seria transformado numa vida criada por Padre João Sampaio, onde hoje é a cidade de Borba, no estado do Amazonas.

Ante à constatação que aqueles “sertões”, como eram referidos nos relatórios de viagens, constituíam-se em “terras de ninguém”, ferindo interesses de Portugal, surgiu a necessidade de se publicar o alvará-régio de 27 de outubro de 1733 – vigorado durante duas décadas; a medida proibia a navegação de outros países nesta região. Na prática, porém, pouca coisa mudou na hidrografia movimentada e cobiçada. Não havia fortificações e nem anteparos militares capazes de conter os aventureiros.

Nascido em Belém, por volta de 1670, Melo Palheta, foi um militar astuto. Em sua epopeia, narrou fatos interessantes como a existência de um caminho aberto na floresta, próximo do encontro dos rios Madeira com Mamoré, onde um indígena se apresentou como líder dos demais, em número de treze, e, “com arrogância”, se atracou com o indígena que vinha com a expedição; só desistiu de sua fúria ao perceber o poder bélico dos viajantes. Por fim, entraram em entendimento e o chefe recebeu presentes e até foi convidado a se inserir na campanha militar, mas recusou; o originário preferiu declarar paz e permanecer em seu lugar. Em outros pontos a caminho do Guaporé, houve mortes de moradores nativos que tentaram impedir o percurso dos enviados pelo rei.

Há sobre Palheta uma curiosidade: foi o primeiro produtor de café no Brasil, cultura iniciada em 1727 pelo Grão-Pará, na fazenda do próprio explorador que passou a ser conhecido como “O Pai do Café Brasileiro”. As sementes ele teria conseguido clandestinamente durante uma missão na Guiana Francesa.

A saga do sargento-mor foi pesquisada por Capistrano de Abreu (1853/1927), historiador cearense que se dedicou, principalmente, aos estudos acerca da ocupação do território brasileiro na fase da Colônia. Os relatos originais manuscritos por Melo Palheta estão em papéis hoje guardados pela Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, sob o título “Narração da viagem e descobrimento que fez o sargento-mor Francisco de Mello Palheta ao Rio da Madeira e suas vertentes (…)”.
João Sampaio: fundador

Apesar do pioneirismo de Palheta na navegação no Vale do Madeira, a vila primitiva de Santo Antônio foi fundada e nominada posteriormente, por jesuítas liderados pelo padre João de Sampaio, português de Coimbra, nascido em 1680, membro da Companhia de Jesus e estabelecido, a princípio, em Belém, desde 1710, tendo percorrido toda a região, até o Perú.

Em 1737, a vila contava com cerca de cem moradores, incluindo “índios mansos” da etnia Mura, caboclos e portugueses seguidores de Sampaio. Ao longo das margens do Madeira, foram contabilizadas 32 comunidades de etnias e troncos diversos, com predominância dos Mura; considerados grandes navegadores, eles falavam uma língua isolada até aderirem ao Nheengatu na comunicação com os entrantes.

O interesse de Portugal era convertê-los ao catolicismo e utilizá-los na extração de cacau, como forma de manter a rota ocupada no trajeto entre Belém e a área aurífera de Mato Grosso. Tudo ia bem no processo de exploração, apesar das dificuldades naturais nas relações com os povos tradicionais, com suas raízes milenares na região.

Em 1842, um falso emissário do líder jesuíta Padre Sampaio, aproveitando-se de sua ausência, levou alguns indígenas para serem vendidos como escravos no mercado de Belém. A notícia chegou ao vale do Madeira, desencadeando uma crise sem precedentes.

O episódio foi considerado uma traição ao povo originário. Em resposta, os casebres de palha de Santo Antônio foram incendiados e metade de seus moradores foi morta pelos Mura. Os outros “civilizadores do sertão”, como eram chamados, foram expulsos da região. Embora rotulados de bravios e canibais, na verdade, os indígenas eram as grandes vítimas da ganância dos colonizadores sem escrúpulos que percorriam a região, espalhando todas as mazelas possíveis, de doenças e estupros à escravidão e aos assassinatos.

No mesmo ano de 1842 uma bandeira vinda do Mato Grosso, comandada pelo minerador e comerciante português Manoel Félix de Lima, percorreu os vales dos rios Guaporé, Mamoré e Madeira. Ele estava acompanhado de garimpeiros falidos das minas de Cuiabá – que viveram o apogeu somente entre 1735 e 1739 –, além de indígenas e negros escravizados. Na travessia, ele relatou ter encontrado muitos espanhóis, alemães, húngaros, além dos “temidos índios Mura”.

Ao alcançar Santo Antônio, Félix de Lima constatou que a antiga vila jesuíta estava reduzida a destroços e nenhum morador restara. Em 22 de janeiro do ano seguinte, João Sampaio morreu no Pará, aos 62 anos, coincidindo com o declínio das missões jesuítas no Rio Madeira. Ambos, Sampaio e Félix de Lima, seriam, um século e meio mais tarde, considerados heróis [apesar de os interesses do segundo serem privados] e seus nomes foram dados às principais ruas de Santo Antônio, que sempre renegou sua condição de povoado emergido em território indígena, relegando os moradores ancestrais às margens de todo o desenvolvimento e da própria história oficial.

Em 1748, foi criada a Capitania do Mato Grosso, separada de São Paulo, como medida de proteção das fronteiras contra a Espanha e, assim, o território de Santo Antônio passou a integrar o imenso município de Vila Bela da Santíssima Trindade, a capital mato-grossense, da qual foi emancipado somente em 1908.

Dois anos depois da criação da Capitania, foi assinado o Tratado de Madri, em 1750, ratificando as fronteiras. Em 1759, o estadista português Sebastião José de Carvalho e Melo, o futuro Marquês de Pombal, expulsou os missionários jesuítas do Brasil, acusando a Companhia de Jesus de pretender edificar um estado dentro do estado português e de denunciar as práticas escravagistas patrocinadas pelo governo, resistindo ao poder do rei.

Muito tempo se passou. Vila Bela decaiu economicamente e, assim, Cuiabá passou a ser capital da província do Mato Grosso, em 1835. A instalação efetiva do município de Santo Antônio do Rio Madeira só ocorreu em 1912, com a posse do primeiro prefeito e dos vereadores, ainda na época do 1º Ciclo da Borracha. No mesmo ano, ocorreu a inauguração da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré que, dos seus 366 km de extensão, 559 km ficavam dentro do município de Santo Antônio, que fazia fronteira com a Bolívia pelos rios Mamoré e Guaporé e era o ponto final da linha telegráfica Cuiabá-Santo Antônio, implantado pela Comissão Rondon entre 1907 e 1915. Santo Antônio abarcava um imenso território onde é hoje quase todo o estado rondoniense. Era uma região repleta de seringais.

Em 1945 o município de Santo Antônio já havia perdido a importância com o fim da 2ª Guerra Mundial e a queda na exportações do látex que sustentava sua economia. Assim, foi oficialmente extinto e incorporado a Porto Velho, até então uma pequena cidade do sul do Amazonas, detentora de apenas sete quilômetros da Ferrovia M-M, mas com melhores condições portuárias.

Em 1943 havia sido criado o Território Federal do Guaporé pelo presidente Getúlio Vargas; nome alterado para Território de Rondônia em 1956, e elevado à condição de estado autônomo instalado em 1981.

Sobre o autor

Júlio Olivar é jornalista e escritor, mora em Rondônia, tem livros publicados nos campos da biografia, história e poesia. É membro da Academia Rondoniense de Letras. Apaixonado pela Amazônia e pela memória nacional.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista ... - Veja mais em https://portalamazonia.com/jotao-escreve/uma-vila-jesuita-fundada-em-1728-e-o-berco-de-rondonia/

Brasil : Planeta pode aquecer até 3,6 °C com emissões de gases do efeito estufa
Enviado por alexandre em 25/10/2024 15:05:23

Queimadas em Mato Grosso do Sul: emissão de gases do efeito estufa (Foto: Polícia Federal/MS)
Por Fabíola Sinimbú, da Agência Brasil

BRASÍLIA — Manter o aquecimento global em 1,5ºC ainda é possível, mas para isso os países precisam reduzir em 42% as atuais emissões de gases do efeito estufa até 2030 e 57% até 2035. A conclusão é do Relatório sobre Lacuna de Emissões 2024, divulgado pelo Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), nessa quinta-feira (24).

“A continuação do esforço de mitigação com as atuais políticas levam o aquecimento global a um máximo de 3,1°C ao longo do século, com 66% de probabilidade, e ainda restam 10% de probabilidade de que o aquecimento possa exceder 3,6°C”, destaca o relatório.

O estudo aponta ainda que os compromissos assumidos pelos signatários do Acordo de Paris, em suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) para 2030, não estão sendo cumpridos. E também seriam insuficientes para alcançar a meta de manter a temperatura do planeta em 1,5ºC acima do período pré-industrial.

De acordo com o relatório, o estrito cumprimento das NDCs até 2030 ainda resultaria em uma elevação de temperatura de 2,6 ºC. Esse cenário ocorreria com o cumprimento tanto das metas incondicionais, ou seja, que devem ser cumpridas obrigatoriamente, quanto das metas que foram condicionadas à disponibilidade de financiamento internacional.

A implementação apenas das NDCs incondicionais levaria o mundo a temperaturas 2,8 ºC mais elevadas. Já as atuais políticas conduziriam o planeta a 3,1°C de aquecimento.

Tempo

Para o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, é necessário agir agora, começando durante a próxima rodada de negociações que ocorrerá entre os dias 11 e 22 de novembro, na 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP29). “Estamos sem tempo. Fechar a lacuna de emissões significa fechar a lacuna de ambição, a lacuna de implementação e a lacuna financeira”, reforça.

O prazo máximo para a atualização das NDCs é fevereiro de 2025, antes da 30ª COP, que ocorrerá em Belém do Pará, no Brasil. Nas novas metas, o ano de 2019 passa a ser a referência para os compromissos de emissões de gases do efeito estufa pelos países.

Em um cenário com essa nova referência e para limitar o aquecimento global em menos de 2ºC, o relatório indica que as emissões precisariam cair 28% até 2030 e 37% até 2035. Os pesquisadores destacam ainda que as consequências no atraso das ações para viabilizar essa limitação já implicam em consequências que distanciam o planeta desse cenário, como o recorde de 57,1 gigatoneladas de CO₂ equivalente em emissões, atingido em 2023.

“Há uma ligação direta entre o aumento das emissões e os desastres climáticos cada vez mais frequentes e intensos. Em todo o mundo, as pessoas estão pagando um preço terrível. Emissões recordes significam temperaturas marinhas recordes que potencializam furacões monstruosos; o calor recorde está transformando as florestas em barris de pólvora e as cidades em saunas; chuvas recordes estão resultando em inundações bíblicas”, alerta Guterres.

Caminhos

Além de apontar os cortes necessários nas emissões, o relatório indica ainda possíveis caminhos, como o potencial de redução de 27% nas emissões em 2030 e 38% em 2035, com o incremento de tecnologias solar e eólica na geração de energia. Melhorar a gestão de florestas, com redução do desmatamento e aumento do reflorestamento tem potencial de reduzir as atuais emissões em 19% em 2030 e 20% em 2035, afirmam os pesquisadores.

Custo

Também foram calculados os investimentos necessários para financiar o caminho global até as emissões líquidas zero em 2050. De acordo com o relatório, seriam necessários US$ 0,9 a 2,1 trilhões por ano, de 2021 a 2050, “o que é substancial, mas administrável no contexto mais amplo da atual economia global e mercados financeiros de quase US$ 110 trilhões mercados financeiros”, destaca o relatório.



Brasil : Projeto institui emergência pública em caso de poluição por fumaça de incêndios
Enviado por alexandre em 25/10/2024 15:03:03

Fumaça em Manaus nesta terça-feira (27); efeito de queimadas no interior do Amazonas (Foto: Alice Lima)
Fumaça em Manaus no dia 27 de agosto: deputado propõe emergência pública em casos de poluição do ar (Foto: Alice Lima)
Da Agência Câmara

BRASÍLIA – O deputado federal Amom Mandel (Cidadania-AM) defende a decretação de estado de emergência diante de situação crítica de poluição do ar causada por fumaça tóxica de incêndios florestais. Ele apresentou a proposta no Projeto de Lei nº 3374/24.

A solicitação dessa declaração de emergência poderá ser feita pelos governadores ao presidente da República, ou pelos prefeitos ao governador e deverá ser fundamentada em critérios técnicos, como:

  • índices de qualidade do ar fornecidos por órgãos ambientais;
  • relatórios de saúde pública que evidenciem aumento de doenças respiratórias ou cardiovasculares relacionadas à poluição atmosférica; e
  • previsão de prolongamento da exposição à fumaça tóxica.

Medidas a serem adotadas

Declarada a situação de emergência por fumaça tóxica, a União, os estados, o Distrito Federal ou os municípios adotarão medidas de assistência, entre elas:

  • fornecimento de subsídios e doações de equipamentos e suprimentos;
  • envio de recursos humanos, incluindo a Força Nacional de Segurança Pública e o Exército, além de equipamentos de proteção individual e de combate aos incêndios florestais;
  • solicitação de ajuda da comunidade internacional, visando receber bombeiros e outros profissionais, além de equipamentos especializados para combater os incêndios;
  • disponibilização de abrigos temporários e purificadores de ar em locais públicos, como escolas, hospitais e centros comunitários;
  • fornecimento de equipamentos de proteção individual, especialmente para grupos vulneráveis;
  • implementação de estações de monitoramento da qualidade do ar nas áreas afetadas, com satélites, drones, sensores, câmeras e outros sistemas para identificar previamente as regiões mais suscetíveis aos incêndios; e
  • realização de campanhas de orientação sobre cuidados de saúde durante a emergência.

Planejamento integrado

“A fumaça tóxica liberada por incêndios florestais contém poluentes atmosféricos que colocam em risco a saúde humana, principalmente dos mais vulneráveis”, disse o autor da proposta, deputado Amom Mandel.

“Com as mudanças propostas, as respostas às emergências serão não apenas reativas, mas também proativas, com planos de ação integrados, desde a prevenção até a recuperação das áreas afetadas”, continuou o parlamentar.

O projeto tramita em caráter conclusivo e será analisado pelas comissões de Integração Nacional e Desenvolvimento Regional; de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.



Brasil : Brasileiro poderá sugerir propostas para combater mudança climática
Enviado por alexandre em 24/10/2024 15:27:30

Morador da Ilha do Marrecão, no AM: rio sumiu na seca. Governo fará consulta para adotar ações públicas (Imagem: WhatsApp/Reprodução)
Por Fabíola Sinimbu, da Agência Brasil

BRASÍLIA – A estratégia para adaptar o país à emergência causada pelas mudanças climáticas terá a participação da população, por meio de consulta pública.

A primeira proposta desenvolvida pelos ministérios do Meio Ambiente e Mudança do Clima e o de Ciência, Tecnologia e Inovação, com coautoria de outras 25 pastas, foi disponibilizada na Plataforma Brasil Participativo e receberá contribuições até o dia 13 de novembro.

A Estratégia Nacional de Adaptação prevê medidas de curto, médio e longo prazo que devem promover mudanças necessárias aos sistemas humanos, como cidades, e naturais, como florestas, garantindo o desenvolvimento sustentável e a Justiça climática. É uma parte do Plano Clima, que guiará a política pública brasileira no enfrentamento ao aquecimento global e suas consequências.

Na plataforma participativa, a estratégia é apresentada em documentos separados em sete capítulos que tratam respectivamente dos temas contexto; impactos, vulnerabilidade e adaptação; principais riscos, impactos e vulnerabilidades no Brasil; principais riscos, impactos e vulnerabilidades no mundo; princípios gerais + diretrizes, visão e objetivos; e gestão do plano.

Para contribuir, é preciso criar um perfil de usuário, com senha, e ter uma conta na plataforma gov.br. Em cada capítulo, é possível adicionar sugestões e comentários, por parágrafo.

Ao final do prazo, as contribuições serão analisadas e consideradas, em uma atualização da proposta, que será encaminhada à aprovação do Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima (CIM).

O Plano Clima será composto pela Estratégia Nacional de Mitigação, que tratará das medidas para a redução das emissões de gases de efeito estufa do país, responsáveis pelo aquecimento global, que levam às mudanças climáticas. Uma nova consulta pública tratará desta parte.

As estratégias terão ainda planos setoriais, desenhados para setores socioeconômicos de forma específica, sendo sete com medidas de mitigação e outros 16 com ações de adaptação. Esses documentos também terão participação da população.



Brasil : Extração ilegal de madeira aumentou 19% na Amazônia
Enviado por alexandre em 24/10/2024 09:53:59

A área com extração ilegal de madeira na Amazônia cresceu 19% em um ano, passando de 106 mil hectares entre agosto de 2021 e julho de 2022 para 126 mil hectares entre agosto de 2022 e julho de 2023. O total equivale à retirada de madeira em 350 campos de futebol por dia sem autorização dos órgãos ambientais. As informações lançadas durante o 8º Fórum de Soluções em Legalidade Florestal – O Futuro das Florestas na Amazônia, foram compiladas pelo Sistema de Monitoramento da Exploração Madeireira (Simex), a cargo de uma rede de organizações de pesquisa ambiental: ICV, Idesam, Imaflora e Imazon.

As áreas de exploração madeireira foram identificadas e mapeadas por meio de imagens de satélite e contrapostas às autorizações de exploração emitidas pelos órgãos ambientais. O Simex é o principal indicador da atividade madeireira legal e ilegal na região amazônica. Os índices reúnem informações de sete estados (Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Roraima).

No total, a área de florestas nativas explorada para fins madeireiros foi de 366 mil hectares, sendo 65% de forma legalizada. Mato Grosso liderou no quesito extensão de área florestal dedicada à exploração madeireira, com 60%, ou cerca de 200 mil hectares. Em seguida, ficaram Pará e Amazonas – 14%, cada um, na casa dos 50 mil hectares.
Veja o infográfico completo:
infografico_simex_amazonia_ago2022_jul2023_ptBaixar
Perfil da ilegalidade

A maior parte da extração ilegal (71%) aconteceu em imóveis rurais privados. Ou seja, os principais protagonistas dessa prática criminosa estão identificados em cadastros públicos e são passíveis de responsabilização. Nessa categoria, em torno de 650 imóveis estão envolvidos na extração ilegal, sendo que apenas 20 deles responderam por quase um terço dos ilícitos.

“O problema tem endereço bem conhecido e precisa ser combatido com eficácia”, aponta o coordenador de Inteligência Territorial do ICV, Vinícius Silgueiro. Ele lembra ainda que a ilegalidade não apenas cresceu, como se disseminou. “No ciclo anterior, Mato Grosso concentrava nove de dez municípios e áreas protegidas nos respectivos rankings de devastação ilegal. Esses postos agora estão ocupados também por regiões do Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima, o que mostra quão crônica é a atividade ilegal madeireira na Amazônia”.

O segundo tipo de território mais afetado pela extração criminosa foram as Terras Indígenas (com 16%), categoria mais atingida entre as áreas protegidas. As TIs Kaxarari e Tenharim Marmelos lideram o ranking e, não por acaso, ambas se situam em zona de influência da BR-319. As TIs são áreas de proteção integral, apenas para utilização indireta dos recursos naturais, com o objetivo de preservar os modos de vida dos povos tradicionais e a biodiversidade. No entanto, viram alvo fácil do crime, que invade esses territórios, promove degradação e ameaça os indígenas.
Ameaça ao mercado e às comunidades

André Vianna, diretor-técnico do Idesam, destaca que a exploração predatória afeta a oferta legal de madeira. “Há uma exposição a situações de risco para os trabalhadores que participam da atividade ilegal aliada a um impacto extremamente negativo para o mercado. O produto ilegal compete com a madeira licenciada, prejudicando todo o setor, tanto pelo achatamento do preço quanto em termos reputacionais, o que dificulta o acesso a mercados que valorizam o produto e pagam mais por ele.”

O cenário se agrava quando associado à constatação de uma queda de 17% na área de exploração autorizada, que passou de 288 mil hectares entre agosto de 2021 e julho de 2022 para 239 mil hectares entre agosto de 2022 e julho de 2023. Para Leonardo Sobral, diretor Florestal do Imaflora, aumentar o manejo florestal responsável é o caminho para combater as ilegalidades na extração madeireira e gerar benefícios para todo o planeta. “Com o acirramento das mudanças climáticas, o manejo florestal é fundamental para reduzir emissões e conservar a floresta em pé enquanto gera renda e desenvolvimento social. A extração ilegal leva à degradação, aumentando riscos de incêndios, perda de biodiversidade e conflitos fundiários.”

Dalton Cardoso, pesquisador do Imazon, destaca que a exploração madeireira realizada a partir de planos de manejo autorizados pelos órgãos ambientais precisa ocorrer de forma sustentável, gerar empregos e pagar impostos. “É muito importante que os governos criem mecanismos para incentivar a atividade legalizada e fiscalizá-la de forma efetiva. O aumento da ilegalidade gera danos ambientais, ameaça povos e comunidades tradicionais e enfraquece o setor madeireiro, além de prejudicar a imagem do país no mercado internacional”, afirma.
Forte queda na produção

A atividade madeireira foi objeto de um segundo mapeamento, também apresentado no 8º Fórum de Soluções. Produzido pela plataforma Timberflow, mantida pelo Imaflora e dirigida a operadores de mercado, esse mapeamento aponta recuo na produção madeireira da Amazônia. Segundo o levantamento, entre janeiro e dezembro de 2023, a extração de produtos madeireiros na região atingiu seu mais baixo patamar desde 2010, passando de uma média de 10 a 12 milhões de metros cúbicos de madeira em tora para 5,8 milhões de metros cúbicos.
Veja o estudo completo:
boletim_timberflow_15_julho_2024Baixar

Baseada em dados oficiais, como o Documento de Origem Florestal (DOF) e a Guia Florestal (GF), que registram origem e transporte de produtos madeireiros da Amazônia, a plataforma acaba de ser redesenhada, com apoio de especialistas da Universidade de São Paulo, para utilizar modelos matemáticos que permitem aos compradores da madeira amazônica  dimensionar a probabilidade do risco de ilegalidade em algum elo da sua cadeia de fornecimento.

Várias hipóteses se combinam para explicar a grande queda na produção em 2023. A primeira, apontada inclusive por produtores, é que a demanda caiu e os estoques estão altos no mercado interno, responsável por 92% do consumo. A segunda tem a ver com a imagem da madeira nativa. Poucos entendem que a produção madeireira sustentável é possível (e desejável), e o medo de envolvimento com madeira ilegal alimenta o surgimento gradativo de matérias-primas substitutas e mais baratas. “Um terceiro fator é a falta de uma estratégia para o setor, envolvendo atores públicos e privados. É preciso conectar as iniciativas públicas, como o impulso às concessões, a estratégias de valorização da atividade e de fomento do mercado, ou o futuro da atividade estará fortemente comprometido”, alerta Sobral.

A retração no consumo está presente no mercado interno e externo. E tem como agravante a concentração de 50% da demanda em apenas oito das mais de mil espécies madeireiras que a Amazônia oferece. As campeãs desse ranking são ipê, tauari e maçaranduba – o que prenuncia novos problemas para o setor. É que o ipê e o cumaru foram incluídos no Anexo 2 da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies de Fauna e Flora Selvagens em Perigo de Extinção. Com manejo responsável, elas podem ser exploradas, mas os produtores temem uma reação do mercado semelhante à que ocorreu quando o mogno brasileiro foi incluído nessa lista e simplesmente perdeu toda demanda.

Baseada em dados oficiais, como o Documento de Origem Florestal (DOF) e a Guia Florestal (GF), que registram origem e transporte de produtos madeireiros da Amazônia, a plataforma acaba de ser redesenhada, com apoio de especialistas da Universidade de São Paulo, para utilizar modelos matemáticos que permitem aos compradores da madeira amazônica dimensionar a probabilidade do risco de ilegalidade em algum elo da sua cadeia de fornecimento.

Várias hipóteses se combinam para explicar a grande queda na produção em 2023. A primeira, apontada inclusive por produtores, é que a demanda caiu e os estoques estão altos no mercado interno, responsável por 92% do consumo. A segunda tem a ver com a imagem da madeira nativa. Poucos entendem que a produção madeireira sustentável é possível (e desejável), e o medo de envolvimento com madeira ilegal alimenta o surgimento gradativo de matérias-primas substitutas e mais baratas. “Um terceiro fator é a falta de uma estratégia para o setor, envolvendo atores públicos e privados. É preciso conectar as iniciativas públicas, como o impulso às concessões, a estratégias de valorização da atividade e de fomento do mercado, ou o futuro da atividade estará fortemente comprometido”, alerta Sobral.

A retração no consumo está presente no mercado interno e externo. E tem como agravante a concentração de 50% da demanda em apenas oito das mais de mil espécies madeireiras que a Amazônia oferece. As campeãs desse ranking são ipê, tauari e maçaranduba – o que prenuncia novos problemas para o setor. É que o ipê e o cumaru foram incluídos no Anexo 2 da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies de Fauna e Flora Selvagens em Perigo de Extinção. Com manejo responsável, elas podem ser exploradas, mas os produtores temem uma reação do mercado semelhante à que ocorreu quando o mogno brasileiro foi incluído nessa lista e simplesmente perdeu toda demanda.
Virada estratégica

“As pesquisas divulgadas indicam que o mercado de madeiras nativas da Amazônia está diante de desafios importantes. O 8º Fórum de Soluções é um espaço voltado a pensar em como desenvolver e amadurecer estrategicamente a atividade madeireira legal”, afirma Sobral. Ele ressalta que o manejo florestal é uma solução, sobretudo para a região de maior pressão na Amazônia. “As áreas de interior, com floresta conservada e sem pressão para desmatamento, podem encontrar outros caminhos de desenvolvimento econômico e social. O desafio são as regiões florestais sob pressão de desmatamento, na fronteira da atividade ilegal e predatória”, explica.

A busca de conformidade legal, a melhoria na transparência de informações e a rastreabilidade da madeira nativa são parte fundamental de uma estratégia que visa expandir concessões florestais para realização de manejo florestal por empresas e cooperativas, impedindo que a extração ilegal e predatória se instale. “Além dos benefícios diretos que as concessões florestais trazem para as comunidades locais, elas também garantem a origem sustentável da madeira. Por isso, estabelecemos uma meta ambiciosa: expandir as concessões de 1,3 milhão para cerca de 5 milhões de hectares nos próximos anos”, diz Renato Rosenberg, diretor de Concessões Florestais e Monitoramento do Serviço Florestal Brasileiro.

*Com informações da Imazon ... - Veja mais em https://portalamazonia.com/meio-ambiente/extracao-ilegal-madeira-amazonia/

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