Por meio de instituto que se apresenta como “neutro”, fabricantes de agrotóxicos e de alimentos promovem pesquisadores com argumentos favoráveis à indústria. Alvo de denúncias de lobby em todo o mundo, o Ilsi se declara como científico e nega qualquer tipo de influência em políticas públicas
Por Julia Dolce | Edição Paula Bianchi e Diego Junqueira
EM SETEMBRO DE 2021, a toxicologista Eloísa Dutra Caldas participou remotamente de uma audiência da Comissão de Meio Ambiente do Senado para debater “mitos e verdades sobre uso de agrotóxicos”. Ela foi apresentada como professora titular da Unb (Universidade de Brasília) e perita associada da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura).
O que não foi dito na ocasião é que a especialista era também consultora de uma instituição financiada por gigantes do agronegócio, incluindo fabricantes de agrotóxicos com interesses financeiros diretos naquela audiência. Trata-se do Ilsi, o International Life Sciences Institute (ou Instituto Internacional de Ciências da Vida).
Fundado em 1978 pelo então vice-presidente da Coca-Cola, o Ilsi se apresenta como uma organização sem fins lucrativos de incentivo à pesquisa, com a proposta de unir ciência, indústria e governos em benefício público. Porém, seus críticos dizem que a entidade atua, na prática, em prol de interesses privados e por políticas públicas mais favoráveis a seus financiadores – no caso, as indústrias de bebidas, alimentos e agrotóxicos.
As polêmicas do instituto já foram tema dos jornais The New York Times e The Guardian, que mostraram a influência do Ilsi na definição de rótulos de alimentos industrializados na Índia, e sua participação em um painel da ONU sobre agrotóxicos.
No Brasil, além de publicar pesquisas próprias, financiar a participação de cientistas em eventos e realizar congressos, a instituição conta também com dezenas de consultores em fóruns públicos. Mas nem sempre esses pesquisadores declaram seus vínculos com o Ilsi. Foi o que se viu na audiência de 2021 sobre agrotóxicos.
Uma vez com a palavra, a pesquisadora Eloísa Caldas fez uma pergunta aos senadores: “É fato que pesticidas podem estar presentes nos alimentos, na água e no leite. Mas isso representa um risco para a saúde?”. Em seguida, declarou: “Minha resposta é que o risco é irrelevante, considerando o benefício do consumo de um bom prato de salada e o benefício da amamentação”.
Caldas integrava na época a força tarefa de Agroquímicos do instituto, responsável por pesquisas e eventos. Esse grupo é mantido pelas principais fabricantes de agrotóxicos, segundo o Ilsi, como Bayer, FMC Agrícola, Iharabras e UPL.
Apesar do currículo da especialista, a omissão de sua relação com o Ilsi é criticada por outros pesquisadores por se tratar de um potencial caso de conflito de interesses, o que levanta questionamentos sobre a sua fala.
“A ciência apoiada pela indústria é utilizada para defender sua narrativa, modificar medidas regulatórias, atrapalhar processos, atrasar ou derrubar discussões sobre políticas públicas”, critica a pesquisadora Laís Amaral, coordenadora do Programa de Alimentação Saudável e Sustentável do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
“Isso é bastante preocupante, porque essa ciência é colocada como evidência científica. Mas a população não sabe o que é uma pesquisa sem conflito de interesses e o que não é”, completa.
Procurada, Caldas declarou à Repórter Brasil que sempre se apresenta como professora e pesquisadora da UnB, pois é sua “única vinculação”. “Não vejo nenhum conflito de interesse na minha colaboração com a Ilsi, não tenho nenhum ganho pessoal nesta participação, e nenhum vínculo com empresas”, continua. Veja o posicionamento na íntegra.
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Nova lei enfraqueceu proteção à saúde e ao meio ambiente
Caldas já havia participado de outras duas audiências sobre agrotóxicos, em 2016, nas quais também minimizou os riscos dos pesticidas. Ela sempre foi apresentada como professora da Unb e nunca foram mencionados seus laços com o Ilsi.
Os eventos faziam parte das discussões envolvendo a nova Lei dos Agrotóxicos, cuja tramitação durou mais de 20 anos no Congresso, até a aprovação do texto em dezembro passado.
Embora o Ilsi anuncie como missão a defesa da vida, da saúde e do meio ambiente, seus cientistas atuaram em prol de uma lei que enfraqueceu a Anvisa e o Ibama, os dois órgãos públicos especializados na proteção da saúde e do meio ambiente. Tanto que o texto foi apelidado por ambientalistas de “PL do Veneno”, por afrouxar as regras de uso dos pesticidas.
Questionada, a pesquisadora afirmou, por e-mail, que “a presença de resíduos de agrotóxicos nos alimentos não significa necessariamente que exista risco para a saúde do consumidor, mesmo que o resíduo esteja acima do limite máximo [permitido]”. Ela sustenta a afirmação com base em testes em animais realizados em seu laboratório.
“Importante ressaltar que risco zero não existe em nenhuma situação na vida, então se trabalha com risco aceitável”, afirma. “O Laboratório de Toxicologia da UnB conduz estudos de avaliação de risco da exposição a agrotóxicos na dieta brasileira há 20 anos. Esses estudos têm demonstrado que a exposição não representa um risco apreciável à saúde”, continua. Leia as respostas na íntegra.
Para a toxicologista e pesquisadora da Fiocruz Karen Friedrich, é “lucrativo” para as empresas ligadas ao instituto “ter um grupo de ‘cientistas’ de plantão que defendem a segurança desses produtos”. “O Ilsi comporta uma ‘ciência’ enviesada para definir limites de tolerância cada vez maiores [de resíduos de agrotóxicos nos alimentos]”, afirma.
Cientistas do Ilsi e a bancada ruralista
A Repórter Brasil identificou outros consultores científicos do Ilsi que participaram de audiências públicas no Congresso sobre agrotóxicos. Em todos os casos, os cientistas eram convocados por deputados e senadores da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), o braço institucional da bancada ruralista.
Durante audiência em 2022 no Senado, o agrônomo da Unesp (Universidade Estadual Paulista) Caio Carbonari apresentou-se como professor da universidade e defendeu “pontos relevantes” da nova Lei de Agrotóxicos.
Na sua apresentação, disponível no site do Senado, Carbonari tocou em um dos pontos mais sensíveis da discussão, a respeito da reavaliação de agrotóxicos. “Se for cientificamente comprovado que algum produto pode causar dano para a saúde humana ou ao meio ambiente nas condições recomendadas de uso, o órgão regulador é responsável por manifestar-se através da reavaliação, podendo restringir ou mesmo banir o uso do produto no Brasil”, apresentou.
Procurado, Carbonari não respondeu ao pedido de entrevista da Repórter Brasil. O espaço segue aberto a manifestações.
Outro consultor do Ilsi, Ângelo Zanaga Trapé, médico toxicologista e professor aposentado da Unicamp, também foi convocado por membros da bancada ruralista para participar de debates em Brasília.
Em julho de 2020, a Repórter Brasilrevelou que uma pesquisa inacabada coordenada por Trapé – e financiada pela Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja) –, estava sendo usada pelo lobby do agro para reverter a proibição de uso do paraquate. Esse agrotóxico é capaz de gerar mutações genéticas e a doença de Parkinson. A pesquisa foi suspensa após a publicação da reportagem. Trapé também não respondeu aos questionamentos da reportagem.
Já em uma audiência em julho de 2012, Felix Guillermo Reyes, da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp, chegou a afirmar que, dependendo das circunstâncias, toda substância pode ser nociva: “Água mineral é tóxica se colocarmos no cérebro”, disse.
O debate abordava uma pesquisa que constatou resíduos de agrotóxicos em leite materno. Reyes foi apresentado na época apenas por sua filiação acadêmica, mas ele, que já tinha sido diretor do Ilsi, ocupava então cargo no Conselho Científico e de Administração do instituto.
Por e-mail, Reyes afirmou à Repórter Brasil que nunca participou no Congresso de qualquer audiência referente à nova Lei de Agrotóxicos, e que sua participação em 2012 foi a convite da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara, como docente da Unicamp, e sem relação com o Ilsi Brasil.
“No código de conduta do Ilsi, é explicitado que a instituição não pode advogar em favor das empresas associadas”, afirmou. “Cientistas contribuem com o Ilsi tão somente com conhecimentos científicos nas suas respectivas áreas de conhecimento, sem receber vantagens financeiras. Assim sendo, os acadêmicos e cientistas não têm qualquer vínculo com o Ilsi, a não ser contribuir com conhecimentos”, continua.Leia a resposta na íntegra.
Ultraprocessados e a nova Cesta Básica
A participação do Ilsi em debates públicos também se verifica em outros mercados, como o de produtos ultraprocessados. Reportagem d’O Joio e O Trigo mostrou que um comitê da Anvisa para alimentos funcionais composto por sete integrantes tinha quatro pesquisadores associados ao instituto.
O Ilsi costuma também patrocinar eventos e publicações a respeito dos alimentos industrializados, com patrocínio de empresas do setor, como Mars, General Mills, Nestlé, Kellogg e Unilever.
Os esforços da indústria alimentícia para desconstruir as políticas regulatórias foram denunciados em dossiê publicado em 2021 pelo Idec e pela ACT Promoção da Saúde, organizações que monitoram o lobby no setor.
Uma das estratégias adotadas pelas corporações é questionar a “NOVA”, uma classificação que categoriza os alimentos a partir do seu grau de processamento, diferenciando “in natura, processado e ultraprocessado”. A NOVA foi desenvolvida por pesquisadores do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (Nupens/USP) e passou a ser adotada como referência de política pública, mas vem recebendo críticas do setor industrial.
O Ilsi Brasil chegou a publicar uma vídeo-aula intitulada “Alimentos ultraprocessados: preocupação real ou medo infundado?”, na qual uma representante da Unilever questiona a classificação NOVA.
Na sessão, a palestrante, que é também integrante da diretoria do Ilsi, afirma que “a classificação de alimentos ultraprocessados não diz nada”. Ela chega a defender que uma lasanha ultraprocessada pode ter melhor valor nutricional do que uma caseira, “com base no teor de gorduras e proteínas, mas ignorando o excesso de sódio e presença dos aditivos químicos na versão industrializada”, ressalva o dossiê.
Procurada, a Unilever disse que colabora com estudos e artigos que possam contribuir para o debate e para o desenvolvimento de temas importantes da ciência (leia a nota na íntegra).
Segundo Laís Amaral, do Idec, apesar das crescentes evidências de que o padrão alimentar baseado em ultraprocessados é prejudicial à saúde, a indústria segue questionando a NOVA e as recomendações para se evitarem esses produtos. “A indústria nem reconhece a palavra ‘ultraprocessado’, falam que é uma invenção”, afirma.
Apesar dos ataques da indústria, a NOVA é adotada em políticas públicas de ao menos seis outros países – como Canadá, Israel e Uruguai – e norteia estudos da Agência Internacional do Câncer (IARC) e da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), ambas ligadas à OMS.
Entre as empresas associadas à Ilsi Brasil estão a Unilever, a Mondelez, a Piracanjuba e a Cargill, principal exportadora de soja. Funcionários dessas empresas também integram a diretoria do escritório brasileiro.
No mundo, o número de escritórios vem diminuindo ao longo dos anos: de 17, em 2019, para dez hoje. O instituto vem concentrando sua atuação em países do sul global, explica Ashka Naik, diretora da Corporate Accountability – organização que denunciou a suposta atuação do Ilsi no processo de atualização das diretrizes alimentares dos Estados Unidos.
“É mais fácil manipular a ciência e a elaboração de políticas em regiões onde as instituições científicas e regulatórias não são tão bem fomentadas”, diz Naik.
Governo planeja reforma na previdência dos militares para cessar déficit
Para o general da reserva Fernando José Sant’ana Soares e Silva, ex-chefe do Estado Maior do Exército, a reforma da previdência dos militares proposta pelo governo é “um passo para acabar com as Forças Armadas”.
Em entrevista ao site Poder360, Soares Silva comentou sobre a fala da ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, de que é necessário criar uma reforma na previdência dos militares por conta do déficit de R$ 49,7 bilhões registrado em 2023. Segundo ela, as despesas totais foram de R$ 58,8 bilhões e arrecadação de apenas R$ 9,1 bilhões.
O general diz que a discussão da reforma está sendo baseada em dados incorretos e que o tema não está sendo tratado com a devida profundidade e nem estão levando em conta as especificidades da carreira militar.
– Acho que o assunto está sendo tratado sem a profundidade necessária, dados mentirosos e sem levar em consideração as características diferentes da profissão militar. Se quiserem acabar com as Forças Armadas, um bom passo é essa reforma da Previdência – declarou o general que passou para a reserva em abril de 2024, sendo sucedido pelo general Richard Nunes.
Famosas como Kim Kardashian, Cameron Diaz, Kate Hudson e Pamela Anderson e muitas outras famosas parece que acharam uma forma mais prazerosa de emagrecer que não ir à academia. Elas aderiram ao que chamam de “dieta do sexo”.
Segundo praticantes, o ato consiste em realizar sexo intenso por horas consecutivas ao menos três vezes na semana. "Decidi adotar essa dieta após pesquisar sobre formas alternativas de exercício e notar que o sexo, além de ser prazeroso, poderia ser uma atividade física que contribuísse para a minha preparação para o Miss Bumbum”, disse Larissa Sumpani, uma das candidatas ao concurso no ano passado.
Outras influenciadoras adeptas da nova dieta disseram perder cerca de 8 mil calorias em 3 a 4 horas de sexo.
— O sexo deve ser considerado como mais um exercício, dependendo do estado físico variará em intensidade e duração e queimará mais ou menos calorias. Para quem não gosta muito de academia ou caminhada, o sexo tem os mesmos benefícios, e ainda mais, já que também são liberadas substâncias cerebrais que promovem a sensação de bem-estar, tranquilidade e alegria. Melhora a qualidade do sono, a imunidade e promove a liberação de antioxidantes, além dos benefícios que traz nas relações de casal — explica a urologista e especialista em medicina sexual, Pilar Ceballos.
A especialista, entretanto, afirma que as cinco horas de ato sexual, não deve ser feita sem uma pausa para comer algo, se hidratar e descansar. Além disso, o homem ou a mulher precisa ter acompanhamento médico em relação a nutrição e ter uma alimentação saudável.
A ginecologista e sexóloga Carolina Ambrogini pensa diferente e explica que o sexo intenso e prolongado deturpa o intuito do sexo e faz perder a conexão e cumplicidade entre o casal.
— Não recomendamos para essa finalidade. É como se fosse algo performático, ter que transar um número certo de vezes durante a semana por tantas horas, para perder peso e queimar calorias, vira obrigação e não prazer. Se quiser emagrecer, existem formas e lugares para isso, como ir à academia — diz.
A médica ainda afirma que o ato pode trazer riscos como o aparecimento de fissuras, irritações e até mesmo o surgimento de doenças sexualmente transmissíveis. Ambrogini explica ainda que após a prática, o casal geralmente fica com fome e deve comer e beber para repor energias e se hidratar.
Entre abril de 2023 e 2024, 90 retroescavadeiras foram confiscadas pelo Ibama em terras indígenas e unidades de conservação na Amazônia
PorIsabel Harari | Edição Bruna Borges
EM UM ANO, 90 retroescavadeiras foram apreendidas em terras indígenas e unidades de conservação na Amazônia. O maquinário de construção civil encontrado em áreas de garimpo é estimado em R$41,6 milhões.
A empresa sul-coreana Hyundai Construction Equipment foi a campeã do ranking, com pelo menos 26 retroescavadeiras detidas entre abril de 2023 e 2024. A estadunidense Caterpillar ficou em segundo lugar, com 13 máquinas detidas no período.
O uso de maquinário pesado no garimpo deu escala para a atividade ilegal na Amazônia, contribuindo para o avanço da destruição. Uma escavadeira realiza em 24 horas o mesmo trabalho que três homens levariam cerca de 40 dias para executar.
O levantamento foi feito pela Repórter Brasil com base nos dados de apreensões do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Nem sempre a marca dos equipamentos é anotada nos termos de apreensão. Duas das seis máquinas apreendidas na terra indígena Kayapó em junho de 2023, por exemplo, não têm identificação.
Apenas em 2022, cerca de 35 mil hectares de garimpo foram abertos, uma área do tamanho de Belo Horizonte, segundo o levantamento mais recente do MapBiomas. A área garimpada cresceu 190% em unidades de conservação e terras indígenas, em comparação ao cenário de 2018.
“As máquinas da Hyundai não servem só para os fazendeiros e para a construção civil, servem para destruir a floresta”, alerta Doto Takak Ire, presidente do Instituto Kabu e membro da Aliança dos Povos Contra o Garimpo – uma articulação dos indígenas Kayapó, Munduruku e Yanomami para combater a atividade ilegal.
Em abril do ano passado, Takak Ire foi até a Coreia do Sul cobrar a Hyundai após um relatório do Greenpeace flagrar 75 máquinas da multinacional nas terras indígenas Kayapó, Munduruku e Yanomami. “Mudou tudo com a chegada das máquinas”, explica a liderança indígena. “A PC [pá carregadeira] cava fundo na terra, come a beira dos igarapés e alarga o rio. É uma destruição enorme”.
Um ano depois da denúncia do Greenpeace, no entanto, máquinas da Hyundai continuam a atuar na destruição da floresta.
Além da Hyundai e Caterpillar, outras multinacionais foram flagradas abastecendo o garimpo ilegal com maquinário pesado. A CNH, dona da New Holland e da Case, ficou em terceiro lugar com oito apreensões, assim como a XCMG (China). As também chinesas Sany e LiuGong empataram na quinta posição com seis máquinas cada.
“O comércio dessas máquinas é livre, não tem nenhum tipo de restrição. Não tem controle nenhum e isso é incompatível com a importância que exercem nas atividades ilegais na Amazônia”, alerta Felipe Finger, coordenador do Grupo Especial de Fiscalização do Ibama.
Procurada pela reportagem, a Hyundai afirmou que vem colaborando com as autoridades públicas competentes e fornecendo informações e documentos que lhe são solicitados para auxiliar as investigações e identificar os supostos garimpeiros ilegais que estejam utilizando suas máquinas e equipamentos na região amazônica. Também disse que atualmente “há rigoroso processo de avaliação de idoneidade de clientes e imediato bloqueio de clientes e consumidores suspeitos de envolvimento em atividades de garimpo ilegal”. Segundo a companhia, o controle de vendas “contempla exigências de declaração de todos os clientes e consumidores de que as máquinas e equipamentos não serão utilizadas para fins de garimpo ilegal”.
Outras 14 fabricantes foram identificadas no levantamento. A reportagem procurou todas as companhias, mas apenas Volvo, Komatsu, Link Belt Excavators, John Deere e JBC responderam até a publicação desta reportagem.
As empresas afirmaram que a responsabilidade das atividades desempenhadas com as máquinas é do cliente após adquirir o equipamento. As que têm tecnologias de controle de localização, como Volvo, Link Belt e John Deere, disseram ainda que apenas poderiam acessar a informação com prévia autorização do cliente proprietário da escavadeira, em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Já a Komatsu afirmou ter sistemas que detectam quando o maquinário entra em áreas protegidas, mas que esse monitoramento “se torna mais complexo” quando os operadores “intencionalmente retiram diversos rastreadores e soluções eletrônicas dos mesmos”.
A íntegra das respostas das fabricantes está disponível neste link. O espaço segue aberto para manifestações das demais empresas.
Fiscalização do Ibama
As operações do Ibama chegaram a destruir escavadeiras novas – uma delas da marca Link Belt com apenas 44 horas de uso e avaliada em R$3,5 milhões. “Isso revela um investimento impressionante”, afirma Finger.
Os fiscais também encontraram uma máquina nova da Hyundai em uma situação inusitada: enterrada em um buraco e coberta com folhas de palmeira. Pintar as escavadeiras de cores neutras para esconder o amarelo típico desse maquinário ou mesmo trocar o turno de trabalho do dia para a noite são outras estratégias utilizadas para driblar a fiscalização.
Nambikwara sob pressão
A terra indígena com mais máquinas apreendidas foi a Sararé, ocupada pelo povo Nambikwara, que fica na fronteira entre Mato Grosso e Rondônia. No último ano, 29 escavadeiras foram apreendidas – 11 são da Hyundai.
O garimpo, que já era observado no sul do Pará, está migrando para o território. O aumento das ações de fiscalização nas imediações de Itaituba (PA) e a “fofoca do ouro” na terra indígena mato-grossense provocou um “uma saída em massa de garimpeiros e maquinário para a Sararé”, explica Finger, do Ibama.
Além disso, a facilidade de acesso por via terrestre na terra indígena Sararé pode explicar a explosão do garimpo na região. Levar escavadeiras para dentro das terras indígenas Munduruku e Yanomami, por exemplo, demanda uma complexa logística de transporte pelo rio e via aérea. “Os criminosos têm uma facilidade grande de organizar e prover a logística das atividades ilegais na Sararé”, alerta o fiscal.
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Descontrole na venda
Uma escavadeira nova custa entre R$ 800 mil e R$ 1,5 milhão, dependendo da marca e modelo, e uma usada não sai menos do que R$200 mil. “Não é igual ao pão que você compra todo dia, quem é que tem capital para comprar isso? A maioria de quem trabalha com garimpo hoje na Amazônia são grandes redes profissionalizadas e muito bem capitalizadas”, pondera Jorge Eduardo Dantas, coordenador da Frente de Povos Indígenas do Greenpeace.
A venda do maquinário é um dos pontos cegos no enfrentamento do garimpo ilegal, avalia o especialista. “Não existe controle. As máquinas continuam sendo vendidas e o pessoal está usando esses equipamentos de maneira criminosa”.
Em seu relatório, o Greenpeace destaca que existem tecnologias de monitoramento e bloqueio remoto que poderiam evitar o uso do maquinário em atividades criminosas.
Um exemplo é o “Código de Consciência”, programa que, inserido no computador de bordo de uma máquina, emite um alerta ou mesmo desliga o motor do veículo quando ele se aproxima de uma área protegida.
“Partimos de um insight muito simples: se nós não podemos impedir os humanos de destruírem as florestas, podemos impedir as máquinas que o fazem”, explicou Hugo Veiga, diretor criativo global da AKQA, empresa que desenvolveu o software.
A adesão das empresas, no entanto, é tímida. “Falta às empresas um maior compromisso com soluções a curto prazo. Se a empresa quiser realmente ter um compromisso de que sua frota não vai causar danos numa área protegida, poderia implementar o código hoje”.
Entorno de Itaituba em alerta
No sul do Pará, num raio de 380 quilômetros de Itaituba, foram apreendidas 34 máquinas em unidades de conservação ao largo do rio Tapajós: na Estação Ecológica Alto Maués, nas Florestas Nacionais do Jurupari, Crepori e Amaná e na Área de Proteção Ambiental (APA) Tapajós. As duas últimas foram as unidades de conservação com as maiores áreas de garimpo registradas em 2022, segundo o MapBiomas.
“O rio Creporizinho está morto”, lamenta Finger, do Ibama, se referindo ao rio que corre ao lado da APA Tapajós. Além do impacto sobre os recursos hídricos, o garimpo contribui para o avanço do desmatamento, por meio da abertura de pistas de pouso e ramais para acessar as áreas da atividade ilegal.
Essas unidades de conservação na bacia do Tapajós são vizinhas aos territórios do povo Munduruku. A atividade explodiu na região a partir de 2017, assim como os relatos de contaminação por mercúrio, substância usada para separar o ouro das impurezas.
A Repórter Brasil esteve nas aldeias no Alto Tapajós no ano passado e revelou os impactos do garimpo: crianças com problemas com malformações e atrasos no desenvolvimento. Em abril, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal para denunciar a contaminação por mercúrio entre os Munduruku.
“A contaminação realmente está pegando todo mundo. Muita gente já está perdendo crianças ou elas nascem deficientes por conta do mercúrio. Estamos preocupados com as futuras gerações”, alerta Doto Takak Ire, do Instituto Kabu.
Esta reportagem foi realizada com o apoio da Global Witness.
O Governo Federal assinou, na noite desta quarta-feira (19), em Brasília, a publicação de editais para contratação das dragagens de trechos dos rios Amazonas e Solimões. A previsão é de que a estiagem deste ano seja tão ou mais intensa quanto a de 2023.
“Felizmente temos uma resposta positiva do Governo Federal, do Ministro Silvio Costa, e também de toda a sua equipe, no sentido de iniciar esse processo para minimizar os impactos da seca que nós vamos ter este ano”, disse Wilson Lima.
Serão investidos R$ 505 milhões em obras para recuperar a capacidade de navegação dos rios, essencial no transporte de pessoas e no escoamento de mercadorias. A assinatura foi viabilizada pelos ministérios de Portos e Aeroportos e dos Transportes, por meio dos ministros Silvio Costa Filho e Renan Filho.
O edital prevê a contratação das dragagens em quatro trechos: Manaus-Itacoatiara; Coari-Codajás; Benjamin Constant-Tabatinga; Benjamin Constant-São Paulo de Olivença. Cobrança
A dragagem atende um pleito do governador que, desde o início do ano, vem se reunindo com ministros de Estado, a exemplo dos ministérios de Portos e Aeroportos, de Integração e Desenvolvimento Regional e de Meio Ambiente e Mudança do Clima, solicitando apoio na antecipação de ações, além de encontro com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin.
A dragagem de um rio consiste em remover sedimentos e resíduos decantados no fundo, que reduzem sua profundidade e prejudicam a navegabilidade. A dragagem evita que a seca dos rios tenha um impacto significativo e negativo na Zona Franca de Manaus e no comércio local.
Para o Polo Industrial, a estiagem afeta a logística, aumenta os custos de transporte, prejudica o abastecimento de água e acarreta desafios ambientais e socioeconômicos. E para o comércio local, causa dificuldades no abastecimento, eleva os custos operacionais, aumenta os preços e pode resultar na redução das vendas.
Na primeira quinzena de maio, o governador anunciou a emissão de licenças ambientais para a dragagem em quatro trechos de rios do Amazonas.
No domingo (16), Wilson Lima também cobrou o Governo Federal durante ligação aos ministros Waldez Góes (Integração e Desenvolvimento Regional), Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima) e Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos).
Na segunda-feira (17), o governador esteve em Brasília e aproveitou, também, para reiterar os pedidos de ações de combate às queimadas e para o enfrentamento da estiagem em 2024. Defesa Civil
A Defesa Civil também tem realizado, desde o mês de janeiro, reuniões com setores como indústria e comércio, poderes públicos, empresas de telecomunicações e concessionárias de água e energia para fornecer informações e coordenar ações de prevenção diante da possibilidade de outra severa estiagem em 2024. Situação de emergência
Durante a assinatura do edital, na qual o governador participou de forma on-line, Wilson Lima anunciou que no mês de julho o Governo do Amazonas irá decretar Estado de Emergência em três calhas: Solimões, Juruá e Purus. O objetivo, segundo o governador, é iniciar as tratativas com ministérios e outros órgãos do Governo Federal para iniciar ações de ajuda às famílias afetadas.