Brasil : Pomada cicatrizante para pets é criada a partir de produtos naturais da Amazônia
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Enviado por alexandre em 03/05/2024 08:43:10 |
Pesquisadores acreditam que em até dois anos a pomada possa ser produzida e comercializada em grande escala. Com informações do g1 Acre Foto: Reprodução/Rede Amazônica A partir de produtos naturais da Amazônia, pesquisadores da Universidade Federal do Acre (Ufac) desenvolveram uma pomada cicatrizante para cães e gatos: a CicaPet. O medicamento, livre de petrolatos e parabenos, substâncias de origem do petróleo e comuns na indústria desse segmento, está em fase de testes e já se mostrou eficiente. Os pilares da bioeconomia e a soberania da Amazônia são os os temas da edição de 2024 do projeto 'Amazônia Que Eu Quero' que vai abordar a 'Amazônia Continental'. Os testes da pomada com alto poder cicatrizante para ser utilizada em pets, especialmente cães e gatos, estão sendo feitos por pesquisadores do laboratório Bionorte, da Ufac. O uso tópico da pomada totalmente natural, é feita com produtos da Amazônia ele foi capaz de regenerar o tecido da pele machucada de forma muito eficiente e muito mais rápido na comparação com produtos à base de petróleo. A pesquisa faz parte do trabalho de doutorado da Adna Maia. Ela conta que o estudo une o conhecimento empírico de comunidades tradicionais da Amazônia com a ciência. Foto: Reprodução Rede Amazônica "Já fizemos esse teste em vitro, testamos em laboratório para ver a ação bactericida, ação anti-inflamatória, e aí agora já partimos para em vivo, que foram testes em camundongos, e assim a gente tem seguido e tem observado de fato o processo de cicatrização acontecendo, com 60% mais ativo que as pomadas convencionais vinculadas no comércio. 100% natural, com a possibilidade de entrar no mercado, com potencial enorme de também gerar fontes de renda para a comunidade local",
explica Adna Maia. A planta que dá origem ao princípio ativo da pomada, ou seja, o principal produto que garante a cicatrização, não pode ser revelada agora porque a pesquisa está em fase de patenteamento. Já a base da pomada é feita a partir de outro produto que existe em abundância na região: o bambu. O professor do Ifac, Marcelo Ramon Nunes, explica o processo de desenvolvimento da pomada. "A gente conseguiu desenvolver no nosso laboratório a Carboximetilcelulose, que é a base dessa pomada, que substitui bases de pomadas convencionais à base de petróleo, que geralmente apresentam alto teor e toxicidade, e pode ser até cancerígeno, e a gente conseguiu desenvolver no IFAC, juntamente com a parceria da Bionorte, durante o meu estágio de doutorado",
esclareceu Nunes. Foto: Reprodução/Rede Amazônica O coordenador laboratório Bionorte/Acre, Luis Maggi, reforça que o mais importante do estudo é a agregar valores aos produtos naturais e levar melhores condições de vidas às comunidades indígenas e tradicionais que moram na Amazônia. "Esse é um dos grandes princípios da Bionorte hoje em dia. Nós sabemos que várias instituições internacionais vêm para o Brasil pegar nossos produtos e comercializar lá fora e deixando as comunidades sem seus grandes lucros, sem saber o seu valor agregado. Então, a ideia da Bionorte, bem como da UFAC e de todas as instituições que trabalham dentro da região Norte, é valorizar os produtos que são da Amazônia para dar maiores condições de vida às comunidades da Amazônia", concluiu.
Pesquisa amazonense aponta alternativa na produção de filmes de hidrogel para aplicação em doenças de pele O filme de hidrogel, ou biofilme, é muito utilizado na área biológica para a liberação controlada de água e princípios ativos que ficam retidos em sua rede cristalina. Com informações da Fapeam Uma pesquisa, realizada no Amazonas, analisa os óleos essenciais advindos da floresta amazônica com princípios ativos para aplicação em filmes de hidrogel com potencial para auxiliar no tratamento de doenças de pele. O estudo é realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), via Programa de Apoio à Ciência, Tecnologia e Inovação em Áreas Prioritárias para o Estado do Amazonas (CT&I Áreas Prioritárias), apoiada pelo Governo do Amazonas, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).
O filme de hidrogel, ou biofilme, é um polímero de cadeias longas de carbono, que formam uma rede entrecruzada, com a finalidade de reter uma grande quantidade de moléculas de água, que armazenam cerca de 90% de água em sua estrutura reticulada, e possuem eficiência durante sua aplicação. São muito utilizados na área biológica para a liberação controlada de água e princípios ativos que ficam retidos em sua rede cristalina.
No estudo coordenado pela doutora em Ciências, Cristina Gomes da Silva, da Ufam, a principal motivação do projeto é o desenvolvimento de materiais curativos inovadores, de modernas tecnologias e baixo custo, visando um produto final de aplicação tanto em ambiente hospitalar pós-cirúrgicos, quanto doméstico de uso comum.
Foto: Cristina Gomes da Silva/Acervo pessoal Segundo a pesquisadora, os óleos essenciais possuem princípios ativos em sua composição que agem no mecanismo de quebra da parede celular dos microrganismos, interrompendo seu processo de multiplicação e crescimento, promovendo a recuperação mais efetiva dos ferimentos e em menores intervalos de tempo, contribuindo para o bem-estar do paciente.
"Resultados preliminares apontam que o óleo essencial do pau rosa, extraído de árvore nativa da região amazônica, apresenta cerca de 97% do ativo de linalol, um importante componente que age efetivamente na ruptura da parede celular dos microrganismos", destacou Cristina Gomes. Foto: Cristina Gomes da Silva/Acervo pessoal O estudo contribuiu para a adequação da melhor concentração para o preparo dos filmes de hidrogel no combate aos fungos e bactérias que crescem em feridas dérmicas.
Os hidrogênios ativos com óleo essencial de pau rosa foram testados em relação às propriedades físico-químicas, composição química, resistência mecânica, capacidade de intumescimento e liberação de ativos controlados.
A pesquisa enfatiza que tanto os óleos essenciais quanto os filmes ativos foram testados com relação às propriedades biológicas, apresentando excelentes resultados de crescimento de zona de inibição e morte das bactérias. A pesquisadora afirma que o suporte aos projetos de pesquisa científicos é relevante para o desenvolvimento do conhecimento acadêmico, do estudo de novos materiais que tragam o bem-estar e evolução da sociedade. "O avanço das pesquisas científicas e a formação de novos profissionais capacitados para a pesquisa, no estado do Amazonas, corrobora para o desenvolvimento regional e o avanço da sociedade de maneira abrangente, em diferentes níveis socioeconômicos", acrescentou.
CT&I Áreas Prioritárias
O Programa visa apoiar propostas de pesquisa científica, tecnológica e de inovação, ou de transferência tecnológica, nas diferentes áreas do conhecimento, coordenadas por pesquisadores residentes no estado do Amazonas, vinculados às instituições de pesquisa ou ensino superior ou centros de pesquisa de natureza pública ou privada sem fins lucrativos, que busquem o avanço e o aprofundamento das áreas do conhecimento e o estudo de seus problemas e desafios, contribuindo com o desenvolvimento do ecossistema científico, tecnológico e de inovação no Amazonas. |
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Brasil : Expedição entre Amazonas e Roraima termina com mais de 130 espécies de peixes coletadas
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Enviado por alexandre em 03/05/2024 00:23:58 |
Grupo de pesquisadores do Museu de Zoologia da USP percorreu os rios Negro, Preto e Jauaperi ao longo de duas semanas. Com informações da Agência Fapesp* Equipe da Expedição DEGy Rio Negro, incluindo pesquisadores, tripulação e membros da Agência FAPESP. Foto: Phelipe Janning/Agência FAPESP Pelo menos 136 espécies de peixes foram coletadas durante as duas semanas da Expedição DEGy Rio Negro, que subiu o rio de Manaus até Santa Isabel do Rio Negro, passando pelos tributários Jauaperi e Preto, entre o Amazonas e Roraima. A Agência FAPESP acompanhou toda a viagem, ocorrida em fevereiro, que rendeu uma nova edição da série Diário de Campo. Só de Gymnotiformes, os peixes-elétricos que dão nome ao projeto apoiado pela FAPESP no âmbito do qual ocorreu a expedição, foram 27 espécies. Além desse grupo, foram reunidas durante a viagem pelo menos 48 espécies de caraciformes, como os lambaris; 40 de siluriformes, o grupo dos bagres; sete de ciclídeos, como o tucunaré; seis de raias (Potamotrygonidae) e nove de outras ordens. No entanto, esse número pode aumentar.
"O número pode estar subestimado, pois há uma grande quantidade de peixes da ordem Characiformes que não foram identificados no campo devido à dificuldade de diferenciar uma espécie de outra. É possível que cheguemos a algo como 150 espécies", explica Osvaldo Oyakawa, técnico de apoio à pesquisa do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZ-USP), que coordenou as coletas. Fora os lambaris, há pelo menos um indivíduo de peixe-elétrico e um de raia cuja identidade não está totalmente clara para os pesquisadores. As diferenças encontradas podem se tratar de variações dentro de espécies já descritas ou de novas espécies.
"Uma expedição sempre proporciona resultados importantes, tanto para o projeto em desenvolvimento quanto para os alunos de pós-graduação. Essa não foi exceção. Embora os peixes coletados ainda não tenham sido examinados em detalhe pelos pesquisadores, foi possível concluir que algumas espécies novas foram obtidas para enriquecer cientificamente os projetos em andamento", avalia Naércio Menezes, professor do MZ-USP que coordena o projeto.
Um tipo de análise que poderá eliminar dúvidas é o sequenciamento genético. Para isso, os pesquisadores retiraram amostras de tecido, que foram preservadas em álcool e posteriormente terão o DNA extraído. Depois, alguns genes de interesse são amplificados e, por fim, sequenciados. Essa parte do trabalho será realizada em São Paulo e ainda não tem prazo definido.
Fim de tarde em igarapé que desagua no rio Jauaperi: corpos d'água como esse, mas também os grandes rios, foram amostrados pelos pesquisadores. Foto: Phelipe Janning/Agência FAPESP Acelerando as descobertas Durante a expedição, numa parceria com a empresa Bento Lab, Carlos David de Santana, pesquisador associado ao Museu Nacional de História Natural, da Smithsonian Institution, nos Estados Unidos, testou pela primeira vez na Amazônia um procedimento que pode acelerar esse processo.
Com o uso de um aparelho, os pesquisadores extraíram DNA e amplificaram genes de interesse ainda no campo. Esses são dois passos anteriores ao sequenciamento que identifica as espécies em nível molecular.
"Num contexto de rápida redução da biodiversidade como o que estamos vivendo, é urgente diminuir o tempo entre a coleta dos exemplares e a publicação dos resultados. Por isso, aparelhos como esse podem acelerar a descrição de novas espécies, levando do campo o material genético pronto para o sequenciamento em laboratório ou mesmo já sequenciado", conta Santana. O aparelho de fabricação britânica, com 3,5 quilos, cabe numa bolsa de laptop e é ligado numa tomada comum. Um dos segredos é realizar em menos passos o que faz o equipamento normalmente presente em laboratórios.
"Com o equipamento, é possível extrair DNA e amplificar os fragmentos que se quer estudar com a redução e otimização de passos que normalmente se faria em laboratório, diminuindo assim o tempo de procedimento em campo e no laboratório", completa Laura Donin, doutoranda no MZ-USP que participou da expedição.
David de Santana e Laura Donin realizam extração de DNA e amplificação de genes a bordo do Comandante Gomes. Foto: Phelipe Janning/Agência FAPESP O sequenciamento em campo seria possível com outro equipamento portátil, que, no entanto, não estava presente na expedição.
Santana acredita que, em poucos anos, aparelhos como esses estarão disponíveis a preços mais acessíveis a mais pessoas. Com isso, comunidades e universidades distantes dos grandes centros poderão fazer seus próprios levantamentos da biodiversidade local, incluindo dados genéticos.
"Com a internet por satélite se popularizando na Amazônia, esses dados poderiam ser transmitidos para qualquer lugar do mundo. Seria possível ampliar o conhecimento sobre as espécies em muito menos tempo, sem depender necessariamente de expedições custosas como essa", diz Santana.
Coleta involuntária A noite de 27 de fevereiro vai alta quando Oyakawa, o pescador Roberval Ribeiro e o mestrando Vinicius Cardoso embarcam na voadeira para o último arrasto de fundo da expedição, no rio Preto.
À noite, muitas espécies migram da calha para as margens dos rios, o que aumenta as chances de os pesquisadores coletá-las. A lancha segue devagar puxando a rede, quando alguns peixes simplesmente começam a pular dentro do barco.
"Provavelmente estavam escapando de um jacaré ou um boto e acabaram no barco", explica Oyakawa, surpreso com a coleta involuntária. Um fecho e tanto para uma expedição de coleta de peixes.
Equipe durante último arrasto de fundo da expedição. Peixes pularam na embarcação. Foto: Phelipe Janning/Agência FAPESP No dia seguinte, algumas redes deixadas na noite anterior são recolhidas e o barco Comandante Gomes segue rio abaixo, em direção a Barcelos, última parada antes de Manaus. A embarcação atraca no meio da manhã do dia 2 de março, um sábado, no Porto da Panair.
Um caminhão do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) aguarda a equipe, que rapidamente descarrega o material coletado e os equipamentos. Aos poucos, todos se distribuem em carros em direção aos hotéis onde ficarão hospedados no fim de semana. Na segunda-feira, todos estarão no Inpa, preparando o material para o envio para o Museu de Zoologia da USP. É o fim da Expedição DEGy Rio Negro.
"Os alunos passaram por uma experiência valiosa, pois se familiarizaram com métodos de coleta de espécimes e com os ambientes aquáticos peculiares da Amazônia. O esforço realizado por toda a equipe que participou da expedição foi regiamente recompensado pelos resultados obtidos", encerra Menezes. Roberval Ribeiro e Osvaldo Oyakawa conferem as últimas redes de espera antes do fim da expedição. Foto: Phelipe Janning/Agência FAPESP Compartilhando os resultados Diante da grande quantidade de registros realizados durante a expedição, a Agência FAPESP, o Laboratório de Ictiologia e a Divisão de Difusão Cultural do Museu de Zoologia da USP vão preparar uma exposição sobre a Expedição DEGy Rio Negro. A mostra temporária deve ser aberta no final de 2024.
"Este é mais um desdobramento dessa rica parceria entre MZ-USP e Agência FAPESP. Mesmo com término da série Diário de Campo, não precisamos (ainda) lamentar o fim de nossos trabalhos conjuntos", diz Murilo Pastana, professor do MZ-USP.
Retrospectiva Antes da Expedição DEGy Rio Negro começar de fato, a maior parte do material foi preparado no Museu de Zoologia da USP e embarcado no Aeroporto Internacional de Guarulhos. Outra parte dos equipamentos e insumos se distribuía entre o Inpa e a Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
Com toda a equipe reunida, no dia 19 de fevereiro, a embarcação Comandante Gomes deixou o Porto da Panair, em Manaus, rumo ao rio Jauaperi. Neste tributário, a equipe fez as primeiras coletas. Naquele ponto da viagem, o objetivo principal era coletar exemplares de Iracema caiana, um peixe-elétrico coletado naquele local em 1968 e nunca mais visto na natureza. Não houve sucesso nessa empreitada em particular, talvez pela seca histórica vivida na região.
Mais conhecidos entre os peixes-elétricos, os poraquês vicejam no rio Preto. Em um igarapé apenas, existe um verdadeiro "condomínio" desses animais, que podem medir até 2,5 metros.
No entanto, os peixes-elétricos mais abundantes e que ocupam mais ambientes são os sarapós. Na expedição, foram 27 espécies coletadas durante duas semanas. Toda expedição tem contratempos, mas mesmo um acidente com raia, que poderia ser grave, não atrapalhou o ritmo das coletas.
Em momentos difíceis como esse, os amigos e as memórias de outras expedições podem ser um antídoto. Na DEGy Rio Negro, quatro membros tinham muitas histórias para compartilhar do Calhamazon, projeto dos anos 1990 pioneiro na pesca de arrasto de fundo em rios, ideal para coletar peixes-elétricos.
Lua cheia no rio Negro: expedição se encerra com mais de 130 espécies coletadas, algumas possivelmente nunca descritas. Foto: Phelipe Janning/Agência FAPESP |
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Brasil : Rios que banham a engenharia com poesia
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Enviado por alexandre em 02/05/2024 00:40:00 |
É pelas águas que chegamos aos nossos destinos, o que torna impossível não nos relacionarmos com ela. CONTATO@CONEXOESAMAZONICAS.ORG">Taína Martins Magalhães* - CONTATO@CONEXOESAMAZONICAS.ORG "O rio fala com o homem. O rio diz o que o homem deve fazer".
Thiago de Mello Quando as dúvidas aparecem, os caminhos tornam-se turvos e as respostas parecem não existir, fica o convite para ouvir atentamente o que o rio tem a dizer. Trabalhar com as águas é assim: pesquisa e vida se misturam numa conexão fluida, cíclica e maleável junto ao próprio rio. Rios que são caminhos, cuja lei "não cessa nunca de impor-se sobre a vida dos homens". Pesquisar na região amazônica é emaranhar-se no "império da água", ainda que o tema da pesquisa não esteja necessariamente vinculado a esse bem. É pelas águas que chegamos aos nossos destinos, o que torna impossível não nos relacionarmos com ela.
Nascer do sol no Rio Solimões. Foto: Taína Martins Magalhães No meu caso, essa relação é dupla. Atuando na área do saneamento ambiental, no grupo de pesquisa que atua com tratamento de esgoto nas várzeas da Amazônia, minha conexão com a água se dá quase automaticamente. Mas, para além dos aspectos mais técnicos relacionados à qualidade da água, à engenharia de sistemas de tratamento de esgoto ou tratamento e distribuição de água potável, convido o leitor a se conectar por meio da poesia, que me acompanha pelos caminhos fluidos sempre que entro numa voadeira, barco, lancha ou rabeta para realizar alguma ação da pesquisa. Para isso, lanço alguns trechos de versos do Thiago de Mello, poeta amazonense, que com tanta sensibilidade nos vincula à poética das águas.
Vem ver comigo o rio e suas leis. Vem aprender a ciência dos rebojos, vem escutar os cânticos noturnos no mágico silêncio do igapó coberto por estrelas de esmeralda. É com este primeiro verso que começo esse relato. Durante a pesquisa, muitas decisões precisam ser tomadas, mudanças de direção, cancelamento e retomadas, e muitas vezes as respostas não são claras e triviais. Aproveito o trajeto pelas águas para escutar o que elas têm a dizer, e isso vale também para assuntos que vão além da pesquisa, claro. Uma moradora da região certa vez me disse: "essas águas do Solimões curam". Com um pouquinho de atenção, conseguimos escutar nossas respostas e saber o que fazer.
Vamos avançando Amazonas abaixo. As águas estão mais crespas. O calor mais intenso. Cedros de bubuia. Ilhas de capim. Arquipélagos errantes e fictícios. O Sol tira esplendores ricos de um pobre casebre coberto de folhas de zinco. Uma canoa velha, semi-alagada na beira. Um boi estica o pescoço, encomprida o focinho e alteia o olhar, humilde muito, no rumo do céu. Uma velha mungubeira está de flores novas.
Paisagens do trajeto para coleta de amostra. Foto: Taína Martins Magalhães Cenas descritas pelo poeta que nos acompanham também em nossa jornada. Em muitos trabalhos de campo encontramos dificuldades, desconfortos e provações que nos testam em nossa missão. Embora trabalhar com esgoto possa ser muitas vezes cômico e cheio de trocadilhos – afinal, quem nunca fez uma merdinha na pesquisa? - nem sempre é a coisa mais agradável de se fazer no dia.
Coleta de amostra de esgoto. Foto: Miguel Monteiro Mas aquilo que saltou aos olhos do poeta, tornando-se versos em seus escritos, também ressalta em meu olhar durante os trajetos da pesquisa, me relembrando da minha conexão com a água.
Água que corre no furor da correnteza, água que leva, água que lava, água que arranca, água que se oferta cantando, água que se despenca em cachoeira, água que roda no rebojo, água que vai, ainda bem que começou a baixar, mas de repente volta em repiquete, água de rio que quase não corre, um perigo quando vento vem, o vento não avisa, água que se agarra no vento para poder voar, água que gosta de ficar parada no silêncio do igapó. [...] Água de doenças: água de ameba, água de febre negra. Mas também água de cacimba: no ardor úmido da selva, o olho-d'água se ofertando frio, nunca para de minar.
Essas são as várias "almas da água". Almas que conectam a engenheira – metódica, sistemática, regrada, meticulosa – com a poesia – anárquica, desregrada, sensível, maleável, encantadora. Dentre as almas, temos também a água de doença, que:
abriga animais e seres humanos. Da mesma água bebem porcos e crianças; uns chafurdam, outros brincam, barrigudos de vermes e amebas. Juntinho às casas, toscamente armados pela ignorância, flor cinzenta da miséria, estão os banheiros, cubículos de madeira sem telhado, rentes à água que apodrece estagnada. Uma água onde até o sol se afoga
As doenças de veiculação hídrica, causadas pela ingestão de água contaminada, são ainda muito comuns e muitas vezes negligenciadas, sendo a região Norte a mais afetada segundo dados da DATASUS. Contaminação que vejo consequências dia a dia em minhas vivências, e Thiago de Mello não deixou de registrar:
Sinto muito, leitor querido. Muito mesmo. É com pena, com indignação de permeio, que lhe digo que as águas amazônicas já não são as mesmas. [...] acontece que estão ficando sujas.
É por essas águas, que me levam, me alimentam, me inspiram, que atuo na pesquisa, e o rio me lembra disso. E quando retorno para a cidade, após o dia de campo, sob uma nova perspectiva de tempo mais fluida, dinâmica e flexível, tenho a certeza que:
[...] com essas águas convivo amorosamente de tal maneira, que elas viajam dentro de mim, quando a vida me leva para longe delas.
Obs.: Todas as citações (em itálico) são do poeta amazonense Thiago de Mello.
*Com a colaboração de:
Taína Martins Magalhães é engenheira química, e trabalha há um ano e meio na Amazônia com pesquisa em saneamento rural. Fez mestrado em Engenharia Civil no departamento de Saneamento e Ambiente pela Universidade Estadual de Campinas. Atualmente é bolsista do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e atua no Grupo de Pesquisa em Inovação, Desenvolvimento e Adaptação de Tecnologias Sustentáveis.
Sobre o autor
Ayan Fleischmann é pesquisador titular do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, sendo mestre e doutor em recursos hídricos. Em sua trajetória tem pesquisado as águas e várzeas amazônicas em suas múltiplas dimensões. É o presidente da ONG Rede Conexões Amazônicas e seu representante na coluna Conexões Amazônicas no Portal Amazônia, onde recebe pesquisadores convidados.
*O conteúdo é de responsabilidade do colunista Parque Estadual Chandless Localizado na região central do Acre, nos municípios de Manoel Urbano, Santa Rosa do Purus e Sena Madureira, sua principalmente característica são as florestas de bambu. jornalismo@portalamazonia.com">Redação - jornalismo@portalamazonia.com Foto: Odair Leal/Secom AC Única unidade de conservação de proteção integral de gestão estadual, o Parque Estadual Chandless foi criado em 2 de setembro de 2004, por meio de decreto estadual, possui plano de manejo e conselho gestor instituído.
Localizado na região central do Acre, nos municípios de Manoel Urbano, Santa Rosa do Purus e Sena Madureira, tem 695.303 hectares de área e ocupa 4,2% do estado. Sua principalmente característica são as florestas de bambu. Faz fronteira ao norte com a Terra Indígena Alto Purus (etnias Huni kuin e Madija), ao sul com a Terra Indígena Mamoadate (etnias Manchineri e Jaminawa), a oeste com o Parque Nacional Alto Purus (Peru) e Reserva Comunal Purus (Peru) e a leste com a Reserva Extrativista Cazumbá-Iracema. *Com informações da Agência Acre |
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Brasil : Parceria busca estimular desenvolvimento socioeconômico sustentável na Amazônia
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Enviado por alexandre em 02/05/2024 00:29:41 |
Acordo entre o MMA e o BB visa apoiar projetos de bioeconomia na região. Com informações do MMA O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e o Banco do Brasil (BB) firmaram um acordo de cooperação técnica para estimular o desenvolvimento socioeconômico sustentável de comunidades da região amazônica. A assinatura ocorreu no primeiro dia do workshop 'Impulsionando a Sociobioeconomia da Amazônia', dia 18 de abril, no Parque Zoobotânico Mangal das Garças, em Belém (PA). O objetivo é promover o fortalecimento e a inclusão produtiva de associações e cooperativas a partir de projetos de bioeconomia. A parceria terá como base o Plano Nacional de Sociobioeconomia, em elaboração pelos ministérios do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar e Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, e com previsão de lançamento para este ano. A iniciativa do governo federal é para aproximar o sistema financeiro da realidade dos povos e comunidades tradicionais. A articulação promoverá educação financeira, assistência técnica e oferta de crédito, sob a perspectiva integrada das cadeias de valor da sociobiodiversidade.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil A parceria dará apoio técnico e financeiro a projetos de bioeconomia que respeitem as boas práticas ambientais e a cultura locais. O uso de tecnologias sociais e ações nas áreas de geração de renda, educação e meio ambiente serão prioritários. O workshop foi promovido pelo BB e o Instituto Clima e Sociedade. Os dois dias de evento reuniram instituições financeiras, empresas-âncoras, empreendedores e representantes da sociedade civil e do governos. "Com esse acordo vamos ampliar as estratégias de distribuição de crédito. O banco tem uma capilaridade muito grande nas várias cadeias do agronegócio, mas para a bioeconomia precisamos trabalhar as especificidades e uma estrutura dedicada",
afirmou a secretária Nacional de Bioeconomia do MMA, Carina Pimenta. Segundo a secretária, técnicos do MMA e do banco cooperam para definir estratégias que não tratam apenas da concessão de crédito, mas de assessoria técnica às associações, cooperativas e empreendimentos que serão beneficiados. O vice-presidente de Governo e Sustentabilidade Empresarial do Banco do Brasil, José Ricardo Sasseron, destacou a importância que a instituição dá à bioeconomia na Amazônia. "Essa é uma solução de preservação para a Amazônia, respeitando o meio ambiente, trazendo práticas sustentáveis e, ao mesmo tempo, incentivando uma nova forma de economia para a região", afirmou. As articulação para a assinatura do acordo de cooperação técnica começaram durante a COP28, no fim do ano passado em Dubai, no Emirados Árabes Unidos. Na ocasião, o MMA assinou protocolo de intenções para formalizar a parceria. Desde fevereiro, foram realizadas várias reuniões entre Banco do Brasil e MMA para construção da parceria, que busca resolver gargalos históricos no acesso ao crédito para as cadeias da bioeconomia e da sociobiodiversidade. Há atenção especial para os públicos-alvo mais sensíveis, como empreendimentos que envolvem povos indígenas, quilombolas, povos e comunidades tradicionais e agricultura familiar, entre outros. Resultados esperados incluem a formação de rede de agentes de crédito socioambiental, uma das principais estratégias para promover educação financeira, orientação para acesso a crédito integrado aos sistemas produtivos e assistência técnica para organizações econômicas da cadeia de bioeconomia. Espera-se ainda o desenvolvimento de inovações nos serviços financeiros oferecidos para as cadeias da sociobiodiversidade, com apoio à inovação tecnológica, à certificação de produtos da sociobiodiversidade, à restauração produtiva e à transição agroecológica dos sistemas alimentares. Busca também apoio ao monitoramento ambiental, condição para atestar a sustentabilidade do manejo dos recursos naturais, entre outros objetivos.
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Brasil : Amazônia das Palavras: expedição literária navega 1.300 Km pelos rios Madeira, Amazonas e Negro
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Enviado por alexandre em 02/05/2024 00:27:23 |
A 3ª edição acontece entre 30 de abril e 17 de maio em municípios de Rondônia e do Amazonas jornalismo@portalamazonia.com">Redação - jornalismo@portalamazonia.com Uma programação voltada ao incentivo e fomento à leitura, ao livro e à educação foi preparada especialmente para o Amazônia das Palavras – Terceira Edição. A expedição literária começou em 30 de abril e segue até o dia 17 de maio navegando 1.300 Km pelos rios Madeira, Amazonas e Negro. As atividades são realizadas em escolas públicas da rede de ensino, atendendo estudantes, professores, profissionais da educação e comunidades e percorre municípios de Rondônia e do Amazonas: Porto Velho (30/04), Humaitá (02/05), Manicoré (06/05), Novo Aripuanã (08/05), Borba (10/05), Nova Olinda do Norte (13/05), no Rio Madeira, Itacoatiara (15/05), no Rio Amazonas e Manaus (17/05), no Rio Negro.
Oficinas literárias Em cada uma das oito cidades visitadas pelo projeto, as 'Oficinas literárias' são realizadas de forma gratuita, cada uma com oito horas/aula e com educadores da região amazônica e de outras regiões do país. Conheça as Oficinas:
'Mitos e Histórias Indígenas', com o professor Yaguarê Yamã; 'Slam – A Poesia Falada', com a professora Roberta Estrela D´Alva; 'Produção de Textos Literários', com o poeta Dori Carvalho; 'A Palavra Animada', com o professor Marcos Magalhães; 'Música e Literatura', com o professor Thiago Thiago de Mello; 'Como Utilizar o Cinema em Sala De Aula', com a professora Bete Bullara; e 'Literatura e a Moda', com a professora Marcela Kopanakis Segismundo.
No período noturno, o projeto conta com Aulas Magnas:
'Aula Magna Batalha de Slam', com a Professora Roberta Estrela D'Alva, nas cidades de Porto Velho/RO (30/04) e Nova Olinda do Norte/AM (13/05); 'Aula Magna: Poesia necessária para a vida – Leres, escreveres, dizeres e viveres', com o Professor Dori Carvalho, nas cidades de Humaitá/AM (02/05) e Novo Aripuanã/AM (08/05); 'Aula Magna: Basta se lembrar, nada vai sumir', com o Professor Thiago Thiago de Mello, na cidade de Borba/AM (10/05); 'Aula Magna: Identidade Amazônica', com o Professor Yaguarê Yamã, na cidade de Manicoré/AM (06/05); e 'Aula Magna da Babilônia à Amazônia, Uma História da Diáspora', com o Professor e Escritor Márcio Souza, nas cidades de Itacoatiara/AM (15/05) e Manaus/AM (17/05).
Em todas as cidades visitadas pelo 'Amazônia das Palavras – Terceira Edição', após as Aulas Magnas, acontece o Espetáculo Circense "Silêncio Total", com o Palhaço XUXU, interpretado pelo ator Luiz Carlos Vasconcelos. Na cidade de Manaus, no dia 17 de maio, acontece ainda a homenagem ao escritor Márcio Souza.
Nas oito escolas públicas, serão plantadas mudas de Pau-Brasil, como um compromisso de sustentabilidade do projeto com o objetivo de reduzir as emissões de carbono e contribuir com a restauração ambiental. Também serão realizadas doações de livros, como incentivo a leitura e o conhecimento.
O 'Amazônia das Palavras – Terceira Edição' conta com o patrocínio do Google, Governo Federal, Ministério da Cultura, Secretaria de Economia Criativa e Fomento Cultural através da Lei de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet. Marketing Cultural: BFV Cultura e Esporte. Apoio Cultural: Da Gaveta Produções, Byor Filmes, Agojie – Blacks Conscientes Bravos , Acapulco Filmes e INCENTIV Realizaçāo Associaçāo Mapinguari. |
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