Com 22 cursos avaliados entre os 50 melhores do mundo em suas respectivas áreas, de acordo com o ranking de universidades QS World 2024, o Brasil alcançou um marco significativo no cenário educacional global. Divulgado nesta quarta-feira (10), o ranking destaca a excelência acadêmica de diversas instituições brasileiras, com destaque para o curso de Odontologia e Engenharia de Petróleo.
Em quatro universidades brasileiras classificadas entre as 50 melhores do mundo, a Odontologia é o curso que mais se destaca no cenário mundial. A Universidade de São Paulo (USP) lidera o ranking nacional, ocupando o 13º lugar global, seguida pela Unicamp (23º), Unesp (36º) e UFRJ (50º).
“A proeza do Brasil em odontologia é particularmente excepcional, um assunto no qual o país é um dos principais destinos de estudo do mundo, juntamente com a Austrália, o Reino Unido e os EUA”, afirmou Ben Sowter, vice-presidente sênior da QS.
Outra área em que o Brasil demonstra excelência é a Engenharia de Petróleo, com três universidades brasileiras entre as 50 melhores do mundo.
A Unicamp lidera as classificações nacionais, seguida pela USP e UFRJ. Esses resultados refletem o compromisso do Brasil com a formação de profissionais qualificados em setores-chave da indústria. A avaliação abrangeu mais de 16.400 programas universitários em 96 países, agrupados em 55 disciplinas.
A USP se destacou como a instituição brasileira com melhor desempenho, com 44 cursos entre os 100 melhores do mundo. Entre os cursos mais bem avaliados da USP, notou-se um avanço significativo em áreas como Educação, Contabilidade e Química. Já a Unicamp, que fica em segundo lugar, tem nove cursos no top 100.
No campo da Medicina, o Brasil possui 19 cursos classificados entre os melhores do mundo, com a USP novamente liderando o ranking nacional.
Nos primeiros lugares do ranking global estão as universidades americanas, com destaque para Harvard e MIT, seguidas pelo Reino Unido, liderado pela Universidade de Oxford.
MPF-AC ingressou com ação civil pública contra Assuero Veronez. Além dos danos morais coletivo, órgão pede a reconstituição da área degradada na Fazenda Crixá II, em Capixaba.
*Com informações de G1 Acre
Após quatro anos de investigação, o Ministério Público Federal no Acre (MPF-AC) decidiu processar o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Acre (Faeac), Assuero Doca Veronez, um dos maiores pecuaristas do estado, pordestruir geoglifos durante o processo de plantio de grãosna Fazenda Crixá II, em Capixaba, interior do Acre.
O pecuarista confirmou que recebeu com surpresa a ação civil pública, tendo em vista que já havia feito um acordo anterior, e que vai se defender na Justiça.
O MPF-AC foi acionado pelo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 2019. Para apurar os danos causados aos sítios arqueológicos na localidade, o órgão federal instaurou um inquérito civil público e requisitou que a Polícia Federal no Acre (PF-AC) também investigasse o caso.
Os geoglifos são estruturas milenares escavadas no chão com formas geométricas que surpreendem pela precisão e são protegidos por lei federal. Apenas no Acre já foram descobertos mais de 800 sítios arqueológicos. O estado é o que tem mais número de geoglifos no país.
Na época, imagens de satélites divulgadas pelo Iphan mostraram a área antes e depois do plantio com os geoglifos aterrados.
Assuero Veronez está sendo processado por destruir geoglifo durante plantio de milho — Foto: Arquivo/Faeac
Também na época do início das investigações, Assuero Veronez justificou que o aterro foi um 'acidente' no processo de aragem para o plantio. Segundo ele, os tratoristas não observaram a estrutura no chão e fizeram o aterro.
O empresário afirmou que chegou a alertar a equipe responsável pelo trabalho sobre a existência do geoglifo, mas que a informação foi esquecida na hora do processo.
Ação civil pública
Nesta quarta-feira (3), o MPF-AC divulgou que ingressou com uma ação civil pública contra o pecuarista e pede à Justiça Federal que o condene ao pagamento de R$ 200 mil por danos morais coletivos e à reconstituição da área degradada, conforme as determinações do Iphan.
O órgão federal determinou ainda que não seja feita qualquer intervenção no sítio arqueológico sem aprovação do Iphan. Ainda na divulgação, o MPF-AC destaca que foi confirmado o aterramento e aplainamento do sítio, causando danos irremediáveis.
"O Iphan informou, por meio de ofício, que, mesmo a propriedade estando embargada pelo Instituto, o empreendedor continuou com as atividades de plantio, realizou cercamento da área do sítio arqueológico de forma arbitrária, pois não foi realizado o estudo para saber o real limite do sítio, e colocou placas de sinalização, ambos em desacordo com as normativas do Iphan", ressalta na publicação.
Acordo em 2021
Em 2021, o presidente da Faeac firmou um acordo de não persecução penal com o MPF-AC e pagou a quantia de R$ 22 mil, além de admitir a participação no crime contra o patrimônio cultural, delimitou a área do geoglifo e se comprometeu a fazer mais nenhuma atividade na região.
Assuero Veronez afirmou que o processo foi arquivado e foi surpreendido ao saber da ação civil pública. Ele explicou que foi proposta a assinatura de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que previa a reconstrução do sítio arqueológico, contudo, segundo o pecuarista, a exigência é impossível cumprir.
"Não podia assumir esse compromisso de algo que é impossível porque querem, não apenas penas pecuniárias, mas também a restauração. Fizeram um projeto, tem que contratar arqueólogos e especialistas com currículo nessa matéria. Uma coisa difícil de se restaurar. É claro que os materiais antropológicos, objetos que estejam enterrados continuam lá porque ninguém cavou nada, foram apenas soterradas as valas. Mas, restaurar é impossível, não tem como deixar na forma original e por isso me recusei a assinar um TAC, sabendo que o MPF vai encaminhar para ser ajuizado", lamentou.
Assuero Veronez voltou a dizer que o soterramento foi um 'acidente', mas que está disposto a cumprir as medidas determinadas pela Justiça para reparar o dano. "Ajudar, por exemplo, na educação patrimonial, divulgação e instrução do pessoal da área de Capixaba para ressaltar da importância da preservação do geoglifo. O fato é que aconteceu um acidente, não foi nada premeditado e nem planejado", concluiu.
O estudo teve como objetivo analisar a diversidade dessa espécie e a epidemiologia da doença oncocercose ou cegueira dos rios, associada a essa espécie.
COM INFORMAÇÕES DE FAPEAM.
Com ampla distribuição na Amazônia, o inseto conhecido como pium ou borrachudo (Simulium guianense), foi o foco de uma pesquisa, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), desenvolvida no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). O estudo teve como objetivo analisar a diversidade dessa espécie ao longo de sua distribuição geográfica, conhecimento necessário para compreender a epidemiologia da doença oncocercose ou cegueira dos rios, associada a essa espécie.
O estudo intitulado "Caracteres moleculares e morfológicos para revelar diversidade críptica: o caso de Simulium guianense Wise (Diptera: Simuliidae)" foi coordenado pela doutora em Entomologia Neusa Hamada, do Inpa, que realizou coletas no Brasil, na Guiana Francesa e na Venezuela, com a colaboração científica de pesquisadores da Universidade Central da Venezuela e do Instituto Pasteur na Guiana Francesa (França).
Foto: Divulgação/Acervo da coordenadora da pesquisa, Neusa Hamada
Segundo a pesquisadora, a fase larval dessa espécie ocorre em rios de grande e médio porte, em áreas de corredeiras e cachoeiras. Esse inseto é responsável por transmitir o agente que causa a doença oncocercose ou cegueira dos rios, como também é popularmente conhecida. Os sintomas da doença são coceira, erupção cutânea e, no caso mais grave, pode levar à cegueira. Essa doença, atualmente, está restrita a áreas brasileiras e venezuelanas do povo indígena Yanomami.
Ela complementa ainda que devido à ampla distribuição, a espécie é suspeita de ser composta por espécies crípticas, que são espécies morfologicamente muito similares, mas, que podem diferir na sua biologia, ecologia e capacidade vetorial.
Foto: Divulgação/Acervo da coordenadora da pesquisa, Neusa Hamada
"Distinguir espécies crípticas é importante para compreender a epidemiologia das doenças causadas por patógenos transmitidos pelo vetor, uma vez que as diferentes espécies que compõem esse grupo podem ter diferentes capacidades vetoriais, biologia e ecologia. O apoio da Fapeam foi essencial para a obtenção de amostras de algumas populações de Simulium guianense e, por todo insumo e infraestrutura necessários para realizar as análises morfológicas e moleculares",
afirmou a pesquisadora.
Metodologia
A pesquisa teve início em campo para a obtenção das amostras de populações do inseto vetor. No laboratório, o material coletado foi analisado morfologicamente, sob microscópio uma vez que os piuns são muito pequenos, eles medem menos de meio milímetro. Em seguida, esses exemplares das diferentes populações foram levados para o laboratório molecular, onde passaram por vários processos, até chegar à amostra purificada de DNA de cada exemplar analisado. A análise molecular final (sequenciamento do gene COI), foi realizada no laboratório temático de Biologia Molecular do Inpa.
Foto: Divulgação/Acervo da coordenadora da pesquisa, Neusa Hamada
"O material de pium coletado durante as parcerias com a Venezuela e Guiana Francesa, que estava armazenado no freezer do nosso laboratório, foi incluído nas análises para termos uma amplitude geográfica maior no nosso estudo. No Brasil, praticamente todas as populações de Simulium guianense foram coletadas e incluídas na análise", disse Neusa Hamada.
Em Mato Grosso, a pesca esportiva movimenta cerca de R$ 500 milhões e a estimativa é atingir até R$ 2 bilhões anuais nos próximos cinco anos.
Uma das cidades mato-grossenses em que a pesca esportiva tem crescido é São Félix do Araguaia (1020 km ao Nordeste), que é famosa pelas belas praias de água doce e as temporadas de praia no mês de julho. O município tem se destacado na agricultura e a pecuária e agora encontrou na pesca esportiva uma modalidade rentável para a economia da cidade.
Uma das cidades mato-grossenses em que a pesca esportiva tem crescido é São Félix do Araguaia. Foto: Divulgação/Sedec
"Estamos fortalecendo o turismo através da pesca esportiva. Antes eram mais as temporadas de praia, mas que não eram tão rentáveis quanto a pesca esportiva, que tem deixado muito mais valor econômico agregado", avaliou a prefeita do município Janailza Taveira.
Outra mudança positiva apontada por ela é a transição dos pescadores tradicionais e ribeirinhos em guias de pesca. Ao invés de pescar os peixes para vender as peças por quilo, eles têm ganhado mais em levar os pescadores esportivos para encontrar as espécies mais procuradas no Rio Araguaia, como a pirara e a piraíba.
"Eles são os verdadeiros preservadores da natureza e dos peixes. A Lei do Transporte Zero trouxe esse incentivo ao turismo de pesca, melhorou a economia do município com a valorização dessa modalidade turística e sustentável. Nosso município hoje já vivencia uma nova realidade quando tem a pesca esportiva e não mais a pesca predatória", comentou a prefeita.
O vice-prefeito de Itaúba (580 km ao Norte), Douglas Aziliero, também é um entusiasta do turismo de pesca e os impactos econômicos na cidade. A atividade que movimenta cerca de R$ 8 bilhões no país tem mudado o cenário em Itaúba, cujas principais atividades econômicas são o setor madeireiro, pecuária e a agricultura.
Rio largo e caudaloso atrai turistas para a pesca — Foto: Prefeitura de Brasnorte - MT
"Itaúba mudou o cenário de turismo na nossa região, justamente por causa da pesca esportiva. Ela começou tem uns três anos e somente no último ano, a gente movimentou mais de R$ 5 milhões com a pesca esportiva. O segmento tem mudado a realidade de Itaúba, atraindo novos investidores não somente na pesca esportiva, mas também em outros setores porque estão vendo que a cidade vai se desenvolver através do turismo", disse Douglas, que também é proprietário da Pousada e Rancho Vem Ser Feliz, às margens do Rio Teles Pires.
Defensor da Lei do Transporte Zero, ele defende que os peixes vivos nos rios são muito mais economicamente importantes ao turista, aos pescadores extrativistas que podem se tornar guias de pesca e para geração de riqueza aos municípios.
"O peixe estava acabando nos nossos rios, e o governador acertou na maneira de fazer a lei. Precisamos defender porque daqui a cinco anos vamos colher o resultado de parar de matar os peixes. Com uma população maior, vamos conseguir atrair mais turistas não só do Brasil, mas do mundo todo".
Antes mesmo da legislação, Douglas Aziliero conta que os pescadores profissionais da cidade já tinham parado de abater peixes e começaram a trabalhar como guias, ganhando quase o dobro do que eles ganhavam quando mexiam só com a venda do peixe.
"Eles viram que essa vertente da pesca esportiva é mais lucrativa para eles do que propriamente a pesca extrativista, e estão conquistando coisas que antes eles não iam conseguir conquistar somente no ramo da pesca extrativista".
Setor arrecada cerca de R$ 500 milhões por ano – Foto: Divulgação
Presente em troca da preservação
Para evitar a morte de peixes no rio e preservar o turismo de pesca, o empresário Marcos Martins, de Sapezal (510 km a Oeste), tomou a iniciativa de remunerar com uma carretilha os pescadores que devolvem os peixes ao rio.
"Desde que nós começamos esse projeto, a nossa intenção era deixar o peixe vivo, pois assim ele tem mais valor. No momento que você solta um peixe no rio, deixa ele vivo e dá a oportunidade a outro pescador também se divertir. Eu vejo muito pescadores ir ao rio para matar o peixe. A brincadeira é ir pro rio, pegar o peixe, soltá-lo e se divertir com a família e os amigos", disse Marcos, que é proprietário da Reipar Caça, Pesca e Camping.
Ele adquiriu a loja em 2019 de um amigo e desde então tem promovido competições de pesca esportiva e tem premiado quem devolve o peixe.
"Eu mesmo era um matador de peixe, mas percebi que ele vivo tem mais valor agregado. Acredito que a lei do Transporte Zero é uma medida fundamental para o turismo, transforma a vida do ribeirinho trazendo mais oportunidade de ganho por meio da pesca esportiva".
Transporte Zero
Por meio da Lei 12.197/2023, conhecida como Transporte Zero, o Governo do Estado visa combater a pesca predatória nos rios. Estão vedados o transporte, armazenamento e a comercialização das espécies Cachara, Caparari, Dourado, Jaú, Matrinchã, Pintado/Surubin, Piraíba, Piraputanga, Pirara, Pirarucu, Trairão e Tucunaré pelo período de 5 anos.
A atividade pesqueira continuará permitida aos povos indígenas, originários e quilombolas, que a utilizarem para subsistência e, também para comercialização e o transporte de iscas vivas.
Além dessas atividades, o novo projeto, ainda libera a modalidade "pesque e solte" e a pesca profissional artesanal, desde que atendam às condições específicas previstas na lei, com exceção do período de defeso, que é a piracema.
Durante três anos, o Estado pagará indenização de um salário mínimo por mês para pescadores profissionais e artesanais inscritos no Registro Estadual de Pescadores Profissionais (Repesca) e no Registro Geral de Pesca (RGP) que comprovem residência fixa em Mato Grosso e que a pesca artesanal era sua profissão exclusiva e principal meio de subsistência.
Das 87 mulheres examinadas, 40,2% apresentaram alterações cognitivas causadas pela contaminação com o mercúrio usado por garimpeiros ilegais no maior território indígena do país.
*Com informações de g1 Roraima.
Mulheres Yanomami de comunidades indígenas próximas a áreas de garimpo ilegal são as que mais apresentaram déficit cognitivo causado pela contaminação com mercúrio, é o que aponta o estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Instituto Socioambiental (ISA).
Ao todo, 154 indígenas (87 mulheres e 67 homens) com 11 anos ou mais passaram por consultas neurológicas para entender as consequências da contaminação pelo mercúrio usado na extração ilegal de minério na Terra Indígena Yanomami.
Mulheres Yanomami passam por exames cognitivos — Foto: Fiocruz/Divulgação
Segundo o estudo, 40,2% das mulheres examinadas apresentaram alterações cognitivas, como alterações em reflexos profundos, sensibilidade tátil e força, enquanto os dados apontam 20,9% para os homens.
Usado por garimpeiros para separar o ouro de outros sedimentos e, assim, deixá-lo "limpo", o mercúrio é um metalaltamente tóxico ao ser humano. Após ser usado pelos garimpeiros, o mercúrio é jogado nos rios, causando poluição ambiental. Assim, entra na cadeia alimentar dos animais e afeta diretamente a saúde da população, principalmente os povos tradicionais.
Como consequência, o mercúrio no organismo pode causar graves problemas de saúde que afetam o sistema nervoso (potencial neurotóxico). O metal líquido fica retido no organismo devido à capacidade de bioacumulação.
De acordo com a pesquisa, um dos efeitos da contaminação com o mercúrio em pessoas é a alteração no Sistema Nervoso Central, o que causa o déficit apontado no estudo.
"Em adultos, os sintomas incluem perda de sensibilidade, tremores, alterações na marcha, fraqueza, tontura, convulsões, déficits na visão e na audição, cefaleia, zumbido, gosto metálico na boca, distúrbios do sono, ansiedade, depressão, entre outros",
destaca a pesquisa.
Nas crianças, os problemas podem começar na gravidez. Se os níveis de contaminação forem muito elevados, podem ocorrer abortos ou o diagnóstico de paralisia cerebral, deformidades e malformação congênita. Além disso, as crianças mais novas podem desenvolver limitações na fala e na mobilidade.
Exposição de grávidas ao mercúrio preocupa
O vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY), Dário Kopenawa explicou que os efeitos do mercúrio nas mulheres já são conhecidos pelas comunidades. Para ele, o que mais preocupa as lideranças indígenas é a exposição de mulheres grávidas ao metal.
"As mulheres estão mais vulneráveis durante a gravidez, ninguém sabe muito efeitos do mercúrio na gravidez, mas pode ser absorvido e afetar a mãe e o bebê. O contato com o mercúrio pode levar a problemas neurológicos, respiratórios, de infecção e uterinos nas crianças", disse o vice-presidente.
Dário relembra casos de crianças que nasceram com deformidades nas comunidades em 2021 e 2022. Para ele, isso está relacionado à contaminação por mercúrio.
"Há relatos de casos de crianças nascendo com deformidades e problemas de saúde devido à exposição materna ao mercúrio. Esses incidentes já ocorreram em comunidades como Palimiu e Maluca Papiu, com sintomas como queda de cabelo, coceira e infecções em mulheres, além de casos de bebês nascendo com malformações, como a ausência de braço e perna".
Dário.
As comunidades que participaram da nova pesquisa ficam às margens do Rio Mucajaí, um dos mais impactos pelo garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami. Localizada no Amazonas e em Roraima, o território abriga 31 mil indígenas, que vivem em 370 comunidades.
Pesquisadores coletaram amostras de cabelo — Foto: Fiocruz/Divulgação
O povo Yanomami é considerado de recente contato com a população não-indígena e se divide em seis subgrupos de línguas da mesma família, designados como: Yanomam, Yanomamɨ, Sanöma, Ninam, Ỹaroamë e Yãnoma.
As amostras foram coletadas em outubro de 2022 nas comunidades Caju, Castanha, Ilha, Ilihimakok, Lasasi, Milikowaxi, Porapi, Pewaú e Uxiú, todas na região do Alto Rio Mucajaí, onde vivem indígenas do subgrupo Ninam. A escolha das aldeias atendeu um pedido da Texoli Associação Indígena Ninam.
Além das alterações cognitivas, os indígenas também apresentaram danos em nervos nas extremidades, como mãos, braços, pés e pernas, com mais frequência.
Recuperação pode levar décadas
De acordo com a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, a recuperação das áreas degradadas pelo garimpo ilegal e da saúde dos indígenas contaminados por mercúrio podem levar décadas. Ela afirmou que as consequências do uso do metal são devastadoras.
"O êxito do combate ao garimpo ilegal é fundamental para garantir a recuperação da saúde dos povos e a recuperação ambiental das áreas degradadas. Este processo de recuperação pode levar décadas, já que a destruição e disseminação de doenças agem de maneira muito mais veloz do que a recuperação", disse.
Ela ressaltou ainda que o governo seguirá realizando ações para combater a atividade ilegal na Terra Indígena Yanomami. Além de ampliar os esforços de atendimentos à saúde para a reabilitação dos povos indígenas afetados.
Alto nível de contaminação por mercúrio
Pesquisadores da Fiocruz estiveram em comunidades na Terra Yanomami — Foto: Fiocruz/Divulgação
De acordo com o estudo, indígenas de nove comunidades da Terra Indígena Yanomami têm alto nível de contaminação por mercúrio. Ao todo, 94% dos indígenas que participaram da pesquisa estão contaminados pelo metal pesado.
O estudo coletou amostras de cabelo de 287 indígenas do subgrupo Ninam, do povo Yanomami, e revelou que os indígenas que vivem em aldeias mais próximas aos garimpos ilegais têm os maiores níveis de exposição ao mercúrio.
Das 287 amostras de cabelo examinadas, 84% registraram níveis de contaminação por mercúrio acima de 2,0 μg/g (micrograma). Outros 10,8% ficaram acima de 6,0 μg/g. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os níveis de mercúrio em cabelo não devem ultrapassar 1 micrograma por grama.
"Esse cenário de vulnerabilidade aumenta exponencialmente o risco de adoecimento das crianças que vivem na região e, potencialmente, pode favorecer o surgimento de manifestações clínicas mais severas relacionadas à exposição crônica ao mercúrio, principalmente nos menores de 5 anos",
explica o coordenador do estudo, Paulo Basta, médico e pesquisador da Fiocruz.
Mercúrio usado em garimpos no Amapá — Foto: Ipen/Divulgação
O estudo "Impacto do mercúrio em áreas protegidas e povos da floresta na Amazônia: uma abordagem integrada saúde-ambiente" também realizou a coleta de células de mucosa oral, o que totalizou cerca de 300 pessoas analisadas.
Todos os examinados, incluindo homens, mulheres, crianças, adultos e idosos apresentaram níveis de mercúrio no corpo.
Além da detecção do mercúrio, a pesquisa fez exames clínicos para identificar doenças crônicas não transmissíveis, como transtornos nutricionais, anemia, diabetes e hipertensão.
Ao cruzar os dados, foi observado que, nos indígenas com pressão alta, os níveis de mercúrio acima de 2,0 μg/g são mais frequentes do que nos indígenas com pressão arterial normal.
As 9 comunidades analisadas (veja mapa abaixo), no entanto, não são as únicas afetadas pela contaminação por mercúrio.
Terra Yanomami
Com 9,6 milhões de hectares, a Terra Yanomami é considerada o maior território indígena do Brasil em extensão territorial e enfrenta uma crise sem precedentes, com casos graves de indígenas com malária e desnutrição severa.
O território é alvo do garimpo ilegal há décadas, mas a invasão se intensificou nos últimos anos. A atividade impacta diretamente o modo de vida dos povos originários, isto porque a invasão destrói o meio ambiente, causa violência, conflitos armados e poluição dos rios devido ao uso do mercúrio. Só em 2022, a devastação do território chegou a 54%,
Em janeiro do ano passado, o governo federal começou a criar ações para enfrentar a crise, com o envio de profissionais de saúde, cestas básicas e materiais para auxiliar os Yanomami. Além disso, forças de segurança foram enviadas para a região para frear a atuação de garimpeiros no território.
Em março deste ano, 600 indígenas, entre pacientes e acompanhantes, estavam vivendo na Casa de Saúde Indígena Yanomami (Casai), na capital Boa Vista. O local recebe os indígenas que estão com doenças mais gravese precisam receber atendimento de saúde dos hospitais na capital.
Recomendações
Pesquisa apontou que 84% dos indígenas têm alto nível de contaminação pelo metal — Foto: Fiocruz/Divulgação
Para evitar e controlar a situação, os pesquisadores recomendam ações emergenciais como a interrupção imediata do garimpo e do uso do mercúrio, desintrusão de invasores e a construção de unidades de saúde em pontos estratégicos do território indígena.
O estudo indica como necessárias três ações específicas para as populações expostas e potencialmente expostas ao mercúrio. São elas:
rastreamento de comunidades cronicamente expostas ao mercúrio, para a realização de diagnósticos laboratoriais tempestivos a fim de avaliar pessoas com quadros sugestivos de intoxicação por mercúrio já instalados;
elaboração de protocolos e rotinas apropriadas para diagnóstico e tratamento de pacientes com quadro de intoxicação por mercúrio estabelecido;
criação de um centro de referência para acompanhamento de casos crônicos e/ou com sequelas reconhecidas.
Outra recomendação é a atualização da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas (PNASPI), que deve assegurar a presença regular de profissionais de saúde na região, além de investir na formação continuada de agentes indígenas de saúde.
*Reportagem produzida por Caíque Rodrigues, Yara Ramalho e Samantha Rufino.