As serras da Neblina e do Imeri ficam no Pantepui, uma região formada pelos vestígios de terras altas do escudo das Guianas, na porção norte da Amazônia.
Com informações da Revista Pesquisa Fapesp
Próximo à bandeira que marca o ponto mais alto do Brasil, em uma altitude de quase 3 mil metros no Pico da Neblina, Amazonas, em 2017 pesquisadores reviraram uma pedra e encontraram um pequeno sapo castanho com cerca de 2 centímetros (cm) de comprimento. Não tinham ideia de como classificá-lo. Cerca de mil metros mais abaixo, encontraram outro anfíbio enigmático, ligeiramente maior, em meio ao capim. Só com sequenciamento genético, seis anos depois, foi possível explicar a dificuldade de identificar os achados: eles pertencem a duas novas famílias – Neblinaphrynidae e Caligophrynidae –, conforme descrito em artigo publicado em novembro na revista científica Molecular Phylogenetics and Evolution.
O pico da Neblina, ponto mais alto do país, abriga fauna única. Foto: Miguel Trefaut Rodrigues/USP
Em cada uma delas, só são conhecidas (por enquanto) as espécies encontradas, que receberam os nomes de Neblinaphryne mayeri e Caligophryne doylei. Elas foram descobertas em ambientes abertos, sem a floresta que se imagina para a Amazônia. "São campos extensos de bromélias ou gramíneas", explica o zoólogo Miguel Trefaut Rodrigues, da Universidade de São Paulo (USP), coordenador da expedição. Ele lamenta não ter conseguido gravar o canto de nenhuma delas, o que os herpetólogos costumam fazer saindo depois do pôr do sol, munidos de gravadores. "Fomos às áreas à noite e não ouvimos nada que pudesse ser a vocalização desses animais".
O nome do primeiro sapo homenageia o general Sinclair James Mayer, responsável por contatos entre projetos universitários e o Exército. "Sem ele, não teríamos feito a expedição ao pico da Neblina em 2017 nem a seguinte, à serra do Imeri, em 2022", conta Trefaut. Ele ressalta que não há forma de viabilizar viagens desse tipo sem a contribuição do Exército, pelos custos altíssimos e pela logística desafiadora. "São necessários muitos voos de helicóptero, a universidade e os fundos de projetos não permitem nem pagar o combustível." No dia 14 de dezembro, Mayer recebeu a notícia no cinema do campus (Cinusp) durante a pré-estreia do documentário 'No topo da Amazônia – Em busca de novas espécies', sobre a expedição mais recente.
Imagem: Alexandre Affonso/Revista Pesquisa FAPESP
A segunda espécie faz referência ao livro 'O mundo perdido', do escritor escocês Arthur Conan Doyle (1859-1830). Na obra de ficção publicada em 1912 pelo autor já renomado pela criação do detetive Sherlock Holmes, um jornalista se junta a uma expedição científica para um estranho platô no Brasil, onde a fauna é tão inesperada que até dinossauros há. A conexão com o pico da Neblina e arredores salta aos olhos para os zoólogos versados em literatura.
As serras da Neblina e do Imeri ficam no Pantepui, uma região formada pelos vestígios de terras altas do escudo das Guianas, na porção norte da Amazônia. Em sua maioria, compreende terrenos sedimentares da formação Roraima, que há cerca de 1,5 bilhão de anos estava no mar e se soergueu, depois sofrendo erosão que escavou as bordas das elevações tabulares que hoje permanecem. "Na serra do Imeri não restou nada da camada de sedimentos da formação Roraima", explica Trefaut. "Na serra da Neblina ainda tem".
Caligophryne doylei vive em áreas cheias de bromélias e gramíneas. Foto: Miguel Trefaut Rodrigues/USP
O zoólogo da USP conta que as duas novas famílias de sapos são completamente diferentes das demais, das quais divergiram há pelo menos 45 milhões de anos. Neblinaphrynidae é o grupo-irmão da maior parte da superfamília Brachycephaloidea, que abriga cinco famílias de sapos da região tropical, subtropical e andina das Américas. Caligophrynidae tem como parente mais próximo a família Brachycephalidae, da Mata Atlântica, cujos representantes mais marcantes são os sapinhos-pingo-de-ouro. É um indício interessante da conexão antiga entre esse bioma e o amazônico.
"São linhagens tão antigas que as espécies aparentadas podem ter sido todas extintas", sugere Trefaut. Ele explica que o clima ali era muito diferente no passado, e só no final do Cretáceo, cerca de 60 milhões de anos atrás, as condições se tornaram favoráveis para o estabelecimento de uma fauna. "A montanha onde é hoje o pico da Neblina já foi muito mais alta", exemplifica.
Neblinaphryne mayeri, batizado em homenagem ao general que viabilizou a expedição. Foto: Renato Recoder/USP
Para o zoólogo especialista em anfíbios Célio Haddad, do campus de Rio Claro da Universidade Estadual Paulista (Unesp), esse cenário é provável. Ele também considera plausível que a linhagem tenha ficado por tanto tempo isolada no topo da montanha, que acabou se diferenciando em uma nova família. "As montanhas são locais onde há muito microendemismo", comenta, referindo-se à possibilidade de espécies existirem apenas em uma área muito restrita. "Sabemos que a chance é grande de encontrar coisas novas, e mais achados devem acontecer quando se conseguir chegar a outras áreas remotas, ou alguém retornar a esses pontos."
Haddad já investigou a formação de espécies de anfíbios anuros (sapos, rãs e pererecas) em ambientes de altitude, mas esbarrou em problemas logísticos: encontrar pilotos de helicóptero dispostos a enfrentar as condições para chegar a lugares inacessíveis. "As empresas não aceitavam", relata ele, que precisou se contentar com pontos mais fáceis de chegar. "Encontramos espécies novas, mas nada como aconteceu com o Miguel."
Novas expedições poderiam revelar outros integrantes desses grupos de sapos, mas elas não acontecem com frequência a montanhas tão remotas. Os animais e plantas coletados em 2022 na serra do Imeri ainda estão sendo analisados. Essa dualidade, de uma biodiversidade única com provável histórico de extinções, leva os pesquisadores a qualificarem a região montanhosa da Amazônia ao mesmo tempo como um berçário, onde surgem novas espécies, e um museu, que guarda testemunhos de outros tempos.
Projetos
1. Dimensions US-Biota São Paulo: Integrando disciplinas para a predição da biodiversidade da Floresta Atlântica no Brasil (nº 13/50297-0); Modalidade Programa Biota; Programa Dimensions-NSF; Pesquisadoras responsáveis Cristina Miyaki (USP) e Ana Carolina Carnaval (Cuny); Investimento R$ 3.573.188,86. 2. Filogeografia comparada, filogenia, modelagem paleoclimática e taxonomia de répteis e anfíbios neotropicais (nº 11/50146-6); Modalidade Programa Biota; Pesquisador responsável Miguel Trefaut Rodrigues (USP); Investimento R$ 6.166.498,96.
Estado apresentou a maior redução no desmatamento desde 2014. Capital rondoniense também registrou os menores índices de áreas desmatadas.
Com informações do g1 Rondônia
Foto: Reprodução/PF
Em 2023, Rondônia alcançou a menor taxa de desmatamento dos últimos dez anos, segundo dados do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
De acordo com a plataforma, em 2023 foram registrados 775,13 km² de áreas desmatadas em Rondônia: o índice mais baixo desde 2014, quando foram registrados cerca de 761,12 km².
Nos últimos dez anos, os índices de desmatamento no estado cresceram gradativamente até bater recordes. Em 2021, o registro atingiu o pico de 1.641,78 km², marcando a maior taxa desde o início da medição em 2008.
Ao todo, Rondônia desmatou 16.350,98 km² entre 2008 e 2023. Entre os Estados da Amazônia Legal, o Estado é o 4° lugar no ranking de mais desmatados.
A Amazônia Legal é uma região que corresponde a 59% do território brasileiro e que engloba a área de nove estados: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e uma parte do Maranhão.
Queda no desmatamento na capital
Em 2023, Porto Velho também registrou os menores índices de desmatamento em quase uma década, conforme indicado pelos dados da plataforma Prodes do Inpe.
O monitoramento da região aponta uma marca de 263,74 km² de áreas desmatadas em 2023, a menor desde 2014, quando foram desmatados 221,92 km².
O recorde de desmatamento na capital foi em 2021, quando 619,34 km² de floresta foram derrubados. No entanto, em dois anos esse índice reduziu mais de 60%.
Ainda assim, Porto Velho ocupa o terceiro lugar no ranking de municípios com maiores acumulados de desmatamento da Amazônia Legal entre 2008 e 2023. Veja:
- Altamira/PA (6.445,06 km²) - São Félix do Xingu/PA (5.836,89 km²) - Porto Velho/RO (5.096,88 km²) - Lábrea/AM (3.908,07 km²) - Novo Progresso/PA (2.910,96 km²) - Apuí/AM (2.908,54 km²) - Colniza/MT (2.878,13 km²) - Pacajá/PA (2.813,58 km²) - Novo Repartimento/PA (2.812,58 km²) - Itaituba/PA (2.533,49 km²)
Obras fazem parte do Novo Programa de Aceleração do Crescimento e têm como objetivo fortalecer a integração sul-americana.
Com informações do g1 Rondônia
Foto: Divulgação/Ministério dos Transporte
A construção da ponte binacional, que vai ligar o Brasil e a Bolívia, deve ficar pronta em 2027. A previsão foi anunciada pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), à Rede Amazônica, e pelo Ministério dos Transportes.
A ponte faz parte de um acordo de mais de 100 anos entre Brasil e Bolívia para a integração dos países, e integra o Novo Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC) do Governo Federal.
A estrutura, de 1,22 km, vai passar sobre o rio Mamoré e deve começar a ser construída em 2025, com um custo de R$ 429,5 milhões a serem pagos pelo Brasil. Também está prevista a instalação de uma aduana.
Além da importância estratégica para o Brasil, que passará a contar com um corredor logístico para o oceano Pacífico, a ponte também tem potencial de impulsionar as trocas comerciais com Rondônia.
Da Bolívia, o Brasil poderá importar principalmente lítio, usado em baterias e produtos usados na agricultura, como destacou o ministro de Obras Públicas da Bolívia.
"Essa ponte é importante porque nós temos para oferecer ao Brasil lítio, sal para o gado, e produtos exóticos que a Bolívia produz", afirma o ministro de Obras Públicas da Bolívia, Edgar Montaño.
Em uma nova tentativa de manipulação de resultados no futebol brasileiro, um goleiro do Nacional, cuja identidade permanece sob sigilo, recebeu uma oferta de R$ 10 mil para permitir que dois gols fossem marcados em uma partida da Copa São Paulo de Futebol Júnior, contra o Avaí. O jogador recusou a proposta e denunciou o incidente à Federação Paulista de Futebol.
O delegado César Saad, responsável pelo caso, informou que o apostador, identificado como Jiuliandro José da Silva Bezerra, confessou a tentativa de fraude e foi indiciado por manipulação de resultado. O áudio com a oferta foi enviado na noite de segunda-feira para o goleiro, que tomou a decisão de denunciar o ocorrido.
O aliciador pretendia que o goleiro permitisse dois gols propositais durante o primeiro tempo da partida, ocorrida na última terça-feira, 9. A vitória final do Avaí por 1 a 0 impediu a concretização do plano. A Federação Paulista de Futebol tomou medidas imediatas ao tomar conhecimento da tentativa de manipulação, acionando a Polícia Civil e a Stats Perform, empresa parceira da entidade responsável pelo monitoramento global de casas de apostas.
A legislação sancionada recentemente sobre apostas esportivas estabelece diretrizes para a integridade do jogo e prevenção à manipulação de resultados. A FPF tem realizado ações preventivas, como palestras para jogadores, comissões técnicas e diretores das equipes participantes da Copinha, visando conscientizar e informar sobre canais de denúncia anônima.
O arcebispo Charles Scicluna tem uma visão diferente do papa Francisco sobre o assunto
O arcebispo Charles Scicluna, secretário adjunto no escritório doutrinário do Vaticano e conselheiro do papa Francisco, defendeu a possibilidade da Igreja Católica Apostólica Romana permitir o casamento para padres. O religioso, natural de Malta, divulgou suas opiniões em uma entrevista concedida ao jornal Times of Malta, publicada no último domingo (7).
Scicluna destacou que a Santa Sé deveria considerar seriamente a revisão da exigência de celibato para os padres. Esta foi a primeira vez que o líder católico expressou sua opinião publicamente sobre o assunto.
– Se dependesse de mim, eu revisaria a exigência de que os padres sejam celibatários – declarou.
E completou:
– A experiência me mostrou que isso é algo em que precisamos pensar seriamente.
Scicluna também reconheceu a possível controvérsia de suas declarações e mencionou que tal posicionamento poderia ser considerado herético por alguns membros da instituição.
Argumentando a favor de sua proposta, o arcebispo fez menção à prática do casamento entre padres no primeiro milênio da história católica e apontou para a permissão da troca de alianças nas igrejas orientais.
Scicluna, de 64 anos, defendeu a existência de um espaço para o celibato na Igreja, mas também destacou a necessidade de compreender que os padres podem vivenciar o amor romântico. Ele mencionou o dilema enfrentado por alguns padres, que se veem obrigados a escolher entre o sacerdócio e a pessoa por quem se apaixonaram, resultando, em alguns casos, em envolvimentos secretos em relacionamentos afetivos.
A defesa do conselheiro é diferente do pensamento do papa Francisco que, em 2019, descartou quaisquer alterações na exigência do celibato para os funcionários da Igreja, porém, posteriormente, sugeriu que essa regra não é eterna e poderia ser revista como uma disciplina, não uma doutrina imutável.
Apesar de abrir a discussão sobre o tema, o papa Francisco rejeitou uma proposta específica que permitiria a ordenação de homens idosos casados na região amazônica, onde a presença de padres é limitada. Ele argumentou que a abstenção do matrimônio possibilita uma dedicação exclusiva à Igreja para cumprir com os propósitos do sacerdócio.