O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu um alerta para vendavais e ventos costeiros em quase todas as regiões do Brasil. Segundo o Climatempo, uma nova onda de calor está prevista para se estabelecer no país a partir da próxima segunda-feira (2), elevando o risco de queimadas florestais em setembro. A baixa umidade, classificada como “perigo potencial” pelo Inmet, pode atingir níveis extremos, comparáveis aos desertos do Atacama e Saara, especialmente em estados como Goiás, Tocantins, Rio de Janeiro, e São Paulo.
No Nordeste, os ventos podem chegar a 60 km/h em todos os estados, com alertas para ventos costeiros ao longo de toda a orla, que devem movimentar dunas de areia sobre construções. Já na Bahia, espera-se chuvas entre 20 e 30 mm/h, enquanto o restante da região segue sob o alerta de vendavais. Segundo o MetSul, o Centro-Oeste também deve enfrentar condições semelhantes, com destaque para Goiás, que combina vendaval com baixa umidade. No Norte, estados como Acre, Amazonas, Pará e Rondônia estão sob risco elevado de baixa umidade.
De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), a previsão é de que as condições meteorológicas extremas, como o calor intenso e a falta de chuvas, continuem favorecendo os incêndios florestais em diversas regiões. A cidade de São Paulo, por exemplo, deve enfrentar temperaturas de até 30°C sem previsão de chuvas, enquanto o Rio de Janeiro pode registrar até 35°C na próxima semana. Em Minas Gerais, Belo Horizonte pode ver uma variação de temperatura entre 11°C e 32°C nos próximos dias.
O alvo central da operação foi a facção criminosa originada em Vilhena, que iniciou suas atividades em 2023
Por PM/RO
Na manhã desta sexta-feira, 30, uma força-tarefa composta por cerca de 80 policiais civis e militares de Rondônia deflagrou a OPERAÇÃO PERSISTERE, uma ação de grande escala destinada a desmantelar uma facção criminosa responsável por uma série de homicídios e crimes violentos em Vilhena.
A operação, coordenada por força tarefa criada pela Secretaria de Segurança Pública de Rondônia, contou com o comando da Delegacia Regional da Polícia Civil de Vilhena, do Comando Regional de Policiamento III, e do Terceiro Batalhão da PM em Vilhena, além do apoio estratégico da Delegacia da Polícia Civil Especializada em Combate ao Crime Organizado de Rondônia (DRACO 1), Batalhão Especializado em Crime Organizado da PM (BPTAr) e das Secretarias de Finanças (SEFIN) e Justiça (SEJUS).
A operação integrada, que se estendeu por Vilhena, Porto Velho e também por Estados como Santa Catarina e Rio de Janeiro, resultou na expedição de 41 mandados de prisão temporária e 12 mandados de busca e apreensão, além do sequestro de bens, incluindo R$ 2.500.000,00 (dois milhões e quinhentos mil reais) e uma Land Rover blindada, veículo de luxo que foi apreendido no Rio de Janeiro e era utilizado pelo líder da facção criminosa.
O alvo central da operação foi a facção criminosa originada em Vilhena, que iniciou suas atividades em 2023 e foi responsável por uma onda de violência em Vilhena ao longo de 2024, incluindo mais de duas dezenas de homicídios, além de roubos de motocicletas, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, inclusive um atentado de tiros havido num balneário, próximo da cidade.
A operação de hoje é o ápice de uma investigação criminal de oito meses, que envolveu integração de unidades em um esforço conjunto para desarticular o grupo criminoso.
Entre os principais alvos da operação está Ítalo Brendo Gomes Neves, líder da fação criminosa vilhenense que já havia sido preso em uma ação anterior da força-tarefa de Vilhena, com o apoio de policiais do Rio de Janeiro. Com a deflagração da operação, Ítalo Brendo enfrenta agora novo mandado de prisão e sequestro de bens. Além dele, o pai e a esposa do líder da facção também foram alvos, sob a indícios de integrarem a organização criminosa e participarem ativamente de suas operações ilícitas.
A Operação Persistere representa um golpe significativo contra a criminalidade organizada em Rondônia, trazendo alívio à população de Vilhena e destacando a eficácia da cooperação entre as forças de segurança pública.
“Persistere” foi denominação estrategicamente nomeada para refletir a essência de sua missão no combate ao Crime Organizado em Vilhena. O termo “Persistere”, do latim, significa “perseverar” ou “manter-se firme”, simbolizando a determinação e a resistência das forças de segurança diante da onda de violência que assolou a cidade, provocada pelo confronto entre facções criminosas. Essa nomenclatura foi escolhida para transmitir a ideia de continuidade e firmeza nas ações policiais, reforçando o compromisso inabalável de restaurar a ordem e a paz pública na região.
Ministério Público do Estado de Rondônia (MPRO), por meio dos Promotores de Justiça Rafaela Afonso Barreto e Fábio Augusto Negreiros Parente Capela Sampaio, denunciou seis pessoas envolvidas com o tráfico de mais de uma tonelada de cocaína em Pimenta Bueno. A investigação é fruto de atuação conjunta da Promotoria de Justiça de Pimenta Bueno com a Polícia Federal.
No final do ano de 2022, mais de uma tonelada de drogas (cocaína) foi enterrada nas pastagens de uma propriedade rural, no Município de Pimenta Bueno. Com a apreensão da droga, iniciou-se investigação pela Polícia Federal para identificar a associação criminosa envolvida no crime.
Descortinou-se, então, a participação de seis integrantes dessa associação para o tráfico, os quais desempenhavam as funções de coordenação, guarda, distribuição e transporte dos entorpecentes. Houve mandado de busca e apreensão expedido na investigação, que resultou na apreensão de mais entorpecentes com um dos integrantes da associação.
Na denúncia, o MPRO requer que sejam notificados e citados os denunciados e testemunhas. Também foi pedido o perdimento dos bens, móveis e imóveis, utilizados para a prática do crime.
BR-319 é considerada vetor de desmatamento na região da AMACRO. Foto: Fábio Bispo/InfoAmazonia
A AMACRO, região que abrange 45 milhões de hectares na tríplice fronteira entre o Amazonas, Acre e Rondônia e ocupa 10% do bioma amazônico, avança rapidamente para ter mais área de agropecuária do que de floresta.
Uma análise exclusiva da InfoAmazonia, com base nos dados da rede MapBiomas, aponta que em 20 anos, de 2003 a 2022, a área destinada ao agronegócio na AMACRO mais que dobrou de tamanho e chegou a 7,2 milhões de hectares, um território maior do que o da Irlanda. Atualmente, em 13 dos 32 municípios que compõem a região, a agropecuária já ocupa uma área maior do que a floresta.
Leia também: Saiba o que é o projeto AMACRO
O projeto começou a ser discutido em 2018 e foi lançado durante o governo de Jair Bolsonaro para incentivar o agronegócio na região. Na prática, se tornou um dos principais motores do desmatamento no bioma Amazônia.
Ao todo, a região reúne 32 municípios. Em 2022, representou, sozinha, mais de 34% de todo o desmatamento da Amazônia brasileira.
A abertura de áreas para a agropecuária cresceu em média 5,61% por ano de 2018 a 2022, mais que o dobro da média para o bioma no Brasil.
Por dia, foram 4,2 mil hectares para novas pastagens e lavouras, que atingiram 7,2 milhões de hectares em 2022 – uma área maior do que a Irlanda.
Em 13 dos 32 municípios que formam a AMACRO, a agropecuária já ocupa mais áreas do que as florestas. São eles: Buritis. Plácido de Castro, Senador Guiomard, Monte Negro, Acrelândia, Alto Paraíso, Ariquemes, Campo Novo de Rondônia, Cujubim, Capixaba, Epitaciolândia, Rio Crespo e Porto Acre.
Nos próximos anos, pelo menos outros nove municípios devem ter o mesmo destino, incluindo as capitais Porto Velho, de Rondônia, que deve atingir 1,7 milhões de hectares em 2037, e Rio Branco, no Acre, onde as áreas de agropecuária devem cobrir mais da metade do município em 2041, segundo análise da InfoAmazonia.
Além dessas duas capitais, os seguintes municípios são os que estão mais perto de ter mais pasto do que floresta nos próximos anos: Nova Mamoré, Bujari, Machadinho D’Oeste, Lábrea, Candeias do Jamari, Xapuri e Itapuã do Oeste.
Entre os 32 municípios que formam a AMACRO, há um corredor ecológico vital formado por 49 terras indígenas e 86 unidades de conservação, que representam a última linha de defesa para a biodiversidade e os povos tradicionais da floresta.
A agropecuária, especialmente sua expansão entre 2018 e 2022, cercou muitas das terras indígenas e unidades de conservação na AMACRO, que agora estão diretamente ameaçadas pelo ritmo crescente dessas áreas sobre os territórios.
A Terra Indígena Karipuna, localizada entre os municípios de Porto Velho e Nova Mamoré, é um exemplo emblemático dessa pressão da agropecuária. Cercada por fazendas de gado, a comunidade Karipuna tem visto suas áreas tradicionais de subsistência serem destruídas para dar lugar ao pasto.
A data-chave, segundo a análise da InfoAmazonia (leia mais sobre a metodologia aqui), é 2067: ano em que a AMACRO como um todo, terá mais área de agropecuária do que floresta. Essas previsões foram feitas a partir de um modelo estatístico que analisa a variação da área de floresta e agropecuária ao longo dos anos.
A expansão da pastagem e da agricultura cresce duas vezes mais rápido nessa região do que no restante da Amazônia brasileira: enquanto em outras partes do bioma a abertura de novas áreas de agropecuária cresceu, em média, 2,63% ao ano, na AMACRO, esse crescimento anual foi de 5,61% entre 2018 e 2022.
Assim, o projeto da AMACRO, lançado no governo de Jair Bolsonaro como um polo de produção agropecuária para promover o “desenvolvimento sustentável”, torna-se, segundo o climatologista Carlos Nobre, um dos motores que podem levar a Amazônia ao ponto de não retorno — limite crítico para a sobrevivência da Amazônia como a conhecemos. Ao atingir este ponto, os rios, as florestas e os animais não terão mais as mesmas funções e condições de adaptação, perdendo a capacidade de regeneração e de manutenção dos serviços ecossistêmicos essenciais para o clima global.
“Ali [na AMACRO], se nada for feito, até 2050 a Amazônia passa do ponto de não retorno e perde sua capacidade de regeneração natural. Não existe mais nenhuma justificativa para mais desmatamento. Essa é a região mais crítica para a floresta, junto com o norte do Mato Grosso e o centro-sul do Pará, onde mais de 90% do desmatamento ocorre para abertura de pastagens e lavouras”, observou Nobre.
O climatologista explica que a Amazônia já perdeu 13% de sua cobertura florestal ao longo de mais de 50 anos de intensa exploração. Nas últimas décadas, segundo ele, a destruição atingiu níveis industriais. “Quando a perda de floresta chegar entre 20% e 25%, a Amazônia vai atingir o ponto de não retorno. Com o avanço do desmatamento nesta região [AMACRO], este risco é altíssimo”.
“Se nada for feito, até 2050 a Amazônia passa do ponto de não retorno e perde sua capacidade de regeneração natural. Não existe mais nenhuma justificativa para mais desmatamento”. – Carlos Nobre, climatologista
As mudanças climáticas estão intensificando fenômenos naturais e impactando não apenas as populações urbanas, mas também as comunidades rurais, com especial ênfase nas populações indígenas, quilombolas e agricultores familiares. É crucial reconhecer a vulnerabilidade desses grupos diante das alterações climáticas extremas.
Eventos como furacões, secas prolongadas e incêndios florestais, que fazem parte do que chamamos de emergência climática, estão se tornando uma realidade crescente em vários países. Esses eventos afetam de forma desproporcional as comunidades mais vulneráveis, frequentemente, as que menos contribuíram para a crise climática.
Em 2023, a seca prolongada trouxe uma série de dificuldades para as comunidades na Amazônia, afetando o manejo de recursos naturais como a coleta de castanhas e a produção de frutas, além de comprometer a pesca, causar perdas na produção agrícola e dificultar a locomoção.
Para 2024, espera-se uma estiagem ainda mais severa do que a do ano anterior, o que intensifica as preocupações com os impactos futuros. Esses impactos prometem ser significativos tanto do ponto de vista ambiental quanto econômico, impondo desafios adicionais às cadeias produtivas em diversos biomas.
Para Andreia Bavaresco, indigenista com mais de 20 anos de atuação com populações tradicionais e coordenadora executiva do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), o papel das comunidades tradicionais é fundamental para enfrentar os desafios dos desequilíbrios ambientais que impactam a rotina e a vida das comunidades, bem como a produção de alimentos, a mudança no calendário de rituais dos povos indígenas e a educação de novas gerações na transmissão dos conhecimentos ancestrais.
Com informações sobre os impactos, é possível traçar as estratégias de enfrentamento e sugerir formas de mobilizar recursos financeiros adequados. Algumas iniciativas já estão se formalizando, como é o caso da plataforma Povos e Comunidades Tradicionais para as Américas. Por meio dela, as comunidades indígenas conquistaram um espaço nas negociações de grandes chefes de estado, sendo este um mecanismo de voz para aqueles que vivem na pele os impactos negativos dessa nova realidade climática.
A antropóloga e indigenista da OPAN/projeto Raízes do Purus, Cristabell Lopez, conta que o povo indígena Paumari, localizado em Lábrea (AM), sofreu diferentes impactos em seu cotidiano em 2023. Por conta da longa estiagem e do calor extremo, o fogo tomou conta da região, afastando suas caças e impactando seus horários de trabalho na agricultura.
“Antes dava para trabalhar no roçado até meio dia, mas com o calor e a seca extremos, só era possível permanecer até as 10 da manhã, aumentando os dias de trabalho. Houve também, impacto na saúde dos indígenas, que tiveram mais casos de gripes e alergias”, conta Cristabell.
No manejo do pirarucu do povo indígena Paumari, a seca extrema ocasionou aumento em 20% no custo operacional da pesca, a seca nos rios afastou os peixes e prejudicou o escoamento, forçando a comunidade a traçar novas rotas, mais longas. Como consequência, houve o aumento dos custos e a queda no alcance da meta inicial, que passou de 600 para 495 peixes.
Este foi um dos principais impactos para os Paumari. Por conta das previsões para 2024, a comunidade está pensando em não realizar a pesca este ano.
“Não sabemos como serão as adaptações aos impactos das mudanças com relação à geração de renda e abastecimento dessas comunidades. Os desafios são grandes e percebemos que hoje nada é previsível”, destacou Cristabell.
Os impactos mexem no dia a dia, na renda e nas tradições das comunidades indígenas e como solução há a importância das parcerias, do diálogo e da troca de conhecimento por meio de intercâmbios, para que encontrem soluções conjuntas de acordo com suas realidades.
A especialista do IEB apontou estratégias e mecanismos que podem contribuir para esses desafios climáticos, como o de ocupar espaços políticos, apresentar sugestões de promoção da justiça climática, de mobilização e uso adequado dos recursos financeiros, a valorização do conhecimento e as experiências das comunidades tradicionais na construção de soluções climáticas, sustentáveis e inclusivas.
Por fim, ressaltou a importância de uma atuação de base comunitária e o protagonismo da mulher como um fato a se destacar para o enfrentamento à crise climática.