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Brasil : Estudo reforça importância das comunidades ribeirinhas nas adaptações às secas da Amazônia
Enviado por alexandre em 16/11/2023 14:27:02

Livro escrito por jovens pesquisadores reúne sugestões para o enfrentamento dos desafios da região e aponta novos caminhos para pesquisas.


Pesquisadores e instituições da sociedade civil de todo o Brasil se uniram a fim de revisitar as pesquisas focadas no desenvolvimento sustentável, na conservação e na inclusão social da região amazônica. Os resultados desse processo culminaram no livro 'Diálogos Amazônicos: contribuições para o debate da sustentabilidade e inclusão', publicado em 14 de novembro pela Escola São Paulo de Ciência Avançada Amazônia Sustentável e Inclusiva, com acesso gratuito em português, espanhol e inglês. A cerimônia de lançamento foi transmitida através do canal da Agência Fapesp.

Entre as questões enfrentadas no livro está a importância de metodologias participativas – encontro entre o conhecimento local com o científico – para o fortalecimento da perspectiva das comunidades ribeirinhas na adaptação às secas na região.

Segundo os autores, a centralidade da água e dos rios na rotina e no equilíbrio amazônico torna secas como as registradas em 2023 ainda mais prejudiciais. 

Com alterações severas no ciclo de chuvas e estiagens, o modo de vida da região é diretamente afetado e as perturbações podem ser sentidas de maneira mais clara nas populações mais próximas dos cursos d'água.

"Nunca foi tão evidente e assustador o quanto as mudanças climáticas estão alterando a sazonalidade das secas na Amazônia. Esse ano está marcado por uma seca excepcionalmente intensa, com quebras de registros históricos dos níveis dos rios, fazendo alguns afluentes simplesmente desaparecem e isso está impactando diretamente as comunidades ribeirinhas. Estudos futuros precisam levar em conta como estas comunidades estão lidando com esses eventos", 

ressaltou Ana carolina Pessôa, pesquisadora no Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e uma das autoras do livro.
Foto: Reprodução/IPAM Amazônia

Ouvindo as comunidades 

No livro, pesquisadores defendem que ouvir aqueles mais afetados pelos impactos de eventos climáticos amazônicos vai além da necessidade de conhecer seus relatos e pode apontar novos caminhos para a Amazônia. Dessa forma, o intercâmbio entre cientistas e povos tradicionais abre caminho para inovações que podem auxiliar no enfrentamento aos impactos das secas severas e outros dilemas que atingem a região.

"Essa metodologias permitem que o pesquisador capte a percepção local de dos eventos que atingem determinada região. Vai além da visão do pesquisador sobre os problemas e permite que, com essa percepção local, nossas propostas e soluções se tornam mais contextualizadas e se adequam melhor às comunidades que pretendemos ajudar", destaca Ana.

Dentre as soluções, nascidas da interação entre grupos e destacadas pela pesquisadora, estão o uso do calendário ecológico para melhorias no plantio, enriquecimento dos roçados por meio de fertilizantes agro ecológicos sustentáveis a fim de intensificar o uso do solo e a criação de sistemas de monitoramento e alerta precoce para prever eventos climáticos extremos na região.

Brasil : ONU: Mortes por calor extremo podem aumentar em quase 5 vezes até 2050, diz relatório
Enviado por alexandre em 16/11/2023 14:21:43


Mortes relacionadas ao calor extremo podem aumentar. (Foto: Reprodução)

Um relatório compilado por mais de 100 especialistas de 52 instituições de pesquisa e agências da ONU revelou projeções preocupantes sobre o impacto do calor extremo nas próximas décadas.

Publicado na revista The Lancet na última quarta-feira (15), o estudo adverte sobre um possível aumento dramático nas mortes devido ao calor extremo. Os especialistas alertam que “a saúde da humanidade está em grave perigo”.

No cenário previsto, com um aumento médio de temperatura de 2ºC até o final do século em comparação com o período pré-industrial, as fatalidades ligadas ao calor podem aumentar em 4,7 vezes até 2050, conforme aponta o relatório.

Marina Romanello, diretora executiva do estudo, destacou: “Nossas análises revelam que as ameaças crescentes das mudanças climáticas estão causando impactos severos nas vidas e subsistência em escala global. As projeções de um mundo 2°C mais quente delineiam um futuro perigoso, enfatizando a necessidade urgente de esforços de mitigação adequados para proteger a saúde das pessoas.”

Já enfrentamos um aumento de aproximadamente 1,1ºC na temperatura, resultando em cerca de 86 dias de temperaturas elevadas que representam riscos à saúde durante 2018-2022.

Indivíduos com mais de 65 anos são os mais suscetíveis ao aumento das temperaturas, com um aumento de 85% nas mortes relacionadas ao calor nesta faixa etária durante a última década (2013-2022), comparado ao período entre 1991-2000.

Calor
Termômetro marca 42 graus na capital paulista. Foto: reprodução

Previsões indicam que 2023 será o ano mais quente já registrado, enfatizando que o calor é apenas um dos fatores climáticos que podem contribuir para o aumento da mortalidade.

Ondas de calor mais frequentes podem resultar em aproximadamente 525 milhões de pessoas sofrendo de insegurança alimentar até meados do século, elevando o risco global de desnutrição. Além disso, doenças infecciosas transmitidas por mosquitos, como a dengue, podem registrar um aumento de 36%.

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, expressou preocupação com o relatório, destacando que “a humanidade enfrenta um futuro intolerável”.

“Já estamos vendo a catástrofe acontecendo para a saúde e a subsistência de bilhões de pessoas ao redor do mundo, ameaçados por ondas de calor recordes, secas devastadoras para as colheitas, níveis crescentes de fome, surtos crescentes de doenças infecciosas, tempestades e inundações fatais”, disse Guterres.



Brasil : Em 8 estados, uma pessoa negra foi morta pela polícia a cada 4 horas em 2022, diz pesquisa
Enviado por alexandre em 16/11/2023 14:19:05


Homem é abordado com truculência por agentes policiais. (Foto: Reprodução)

Um levantamento da Rede de Observatórios, divulgado nesta quinta-feira (16), revelou que uma pessoa negra foi morta por intervenção policial a cada 4 horas em 8 estados brasileiros no ano passado.

Os dados foram extraídos de informações disponibilizadas pelas secretarias de segurança pública através da Lei de Acesso à Informação (LAI).

Subnotificação e informação racial

Dos 3.171 registros de morte analisados no estudo “Pele Alvo: a bala não erra o negro”, em que a cor foi declarada, 87,35% eram pretos, totalizando 2.770 pessoas.

A pesquisa destacou ainda, a subnotificação da informação racial, com 1 em cada 4 ocorrências (25%) sem a informação sobre cor.

O destaque foi para o Maranhão, que não inclui esses dados pelo menos desde 2020. No Ceará, os registros foram feitos em apenas 30,26% do total. No Pará, em 33,75%.

No Ceará, ficou constatado que em 69,74% das 152 mortes não foram identificadas informações sobre cor. Nos casos que tinham o dado, 80,43% das mortes foram de pessoas negras e sete de cada dez vítimas tinham entre 18 e 29 anos – fato que chamou a atenção dos pesquisadores.

No Pará, a informação sobre raça foi omitida em 66,24% das vítimas. Mas, entre os casos em que é identificada, as pessoas negras representam 93,90% das mortes por intervenção policial. A capital, Belém, tem o maior número de mortes por intervenção policial, com 83 casos, seguida pela cidade de Parauapebas, com 41.

Bahia e Rio de Janeiro no foco

Os estados analisados foram Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, e São Paulo. A Bahia liderou o número de mortes de pessoas negras, com 1.121 casos, representando uma mudança no ranking entre 2021 e 2022. O Rio de Janeiro, que ocupava a liderança, ficou em segundo lugar, totalizando 1.042 mortes.

São Paulo: Redução e atribuições

São Paulo apresentou uma redução de 48,32% no número de mortes, passando de 867 vítimas em 2021 para 419 no ano passado. Os pesquisadores atribuem essa queda significativa a políticas de redução da letalidade e ao uso de câmeras corporais pela polícia.

Polícia do Estado de SP passou a incorporar câmeras corporais nos uniformes dos agentes da PM. (Foto: Reprodução)

A pesquisa, por fim, enfatizou a importância de considerar a letalidade de pessoas negras pela polícia como uma questão política e social. Os dados apontam para a necessidade de alocar recursos para políticas públicas que garantam segurança para toda a população.

“É necessário tomar a letalidade de pessoas negras causada por policiais como uma questão política e social. As mortes em ação também trazem prejuízos às próprias corporações que as produzem. Precisamos alocar recursos que garantam uma política pública que efetivamente traga segurança para toda a população”, afirmou Silvia Ramos, cientista social e coordenadora da Rede de Observatórios.

Brasil : "Dinastia do queijo": família mantém tradição centenária de produzir queijo coalho em Roraima
Enviado por alexandre em 15/11/2023 01:04:08

Fazenda na estrada da Serra do Tepequém vende queijo produzido pela quarta geração da mesma família. Método de produção artesanal garante singularidade da receita.


Foto: Caíque Rodrigues/g1 Roraima

"Paz, amor, gratidão". A placa com as três palavras divide espaço na parede da Fazenda Bacabal com outro aviso que diz: temos queijo e doce. Para quem vive na fazenda, localizada no Amajari, na estrada que leva ao principal ponto turístico de Roraima, a Serra do Tepequém, essas coisas estão interligadas. Isso porque, para a família de Sebastião de Sousa e Silva, de 62 anos, a tradição centenária do queijo atravessa gerações e é mais que parte da fonte de renda: "o queijo é nossa joia de família que passa como herança", diz ele.

Babazinho, como é conhecido Sebastião, é quem toca a produção da fazenda. Ele convive com a produção do queijo desde criança. Aprendeu com a mãe, Maria América de Sousa e Silva, matriarca da família, de 87 anos. Ela, por sua vez, também aprendeu com a mãe, que aprendeu com a avó. Agora, Babazinho passa os ensinamentos para a quinta geração da família, o pequeno Sebastião Filho, de 9 anos.

"Estamos vendendo a história de nossa família",

afirma, sobre o empreendimento que perdura por gerações.
Foto: Caíque Rodrigues/g1 Roraima

A Fazenda Bacabal virou quase que uma parada obrigatória para quem vai ao Tepequém. A propriedade pertence à família Sousa e Silva há mais de 60 anos. É lá que o tradicional queijo é feito em um trabalho conjunto que une a família. Na cozinha, todos colocam a mão na massa - ou melhor, no leite que vai virar queijo. Até a matriarca, dona América, como é conhecida, mesmo com a idade não deixa de ajudar na produção - ao contrário, ela põe em prática toda a experiência de anos fazendo a receita.

No propriedade, são mais de 70 vacas que produzem o leite para o queijo. A produção é feita do zero. O leite é tirado no curral e levado à cozinha para ser manipulado em um ambiente isolado, onde poucas pessoas podem entrar. A produção do queijo, para Babazinho, é o que mantém a família unida.

"É um processo de paciência que passou de geração para geração até a gente chegar em um produto que oferece qualidade para a comunidade. Qualidade é fundamental e requer muito cuidado em todos as etapas, desde o curral até as vacas", 

diz Babazinho.

O queijo feito na fazenda Bacabal é o coalho, um dos principais tipos de queijos produzidos em Roraima. De acordo com dados da Agência de Defesa Agropecuária de Roraima (Aderr), a produção de queijo no estado vive em uma crescente: só em 2021 foram 11,3 toneladas de queijo produzidos em Roraima.

Em 2022, esse número cresceu para 18,2 toneladas, um aumento de 61% na produção. No primeiros semestre de 2023, a produção atingiu a marca de 9,9 toneladas. A expectativa é que o ano feche com 19 toneladas no total.

O gerente de inspeção de produtos de origem animal da Aderr, Diego Costa, informou que ao todo no estado existem 10 queijarias registradas, sendo quatro empresas e seis agroindustria familiar de pequeno porte, como a da família de Babazinho. Ele explica que o queijo produzido em Roraima é geralmente consumido no estado.

"A Aderr tem leis que diminuem exigências estruturais e isenta produtores pequenos de taxas. Assim, as agroindustrias familiares podem legalizar seus produtos desde que cumpram as exigências estruturais e tecnológicas contidas na lei", explica o gerente, sobre os incentivos dados aos pequenos empreendedores.

Foto: Caíque Rodrigues/g1 Roraima

Tradição familiar ao longo dos anos 

Para a matriarca América, ver a tradição familiar ser mantida ao longo desses anos é motivo de orgulho. Roraimense nascida no município de Amajari, ela vê a fazenda - e o que é produzido dentro dela - como parte da história da família, como uma dinastia.

"Quando eu vejo meu filho aqui comigo, seguindo a tradição, agora meu neto, eu descrevo com muito carinho isso, pois uma pessoa como ele, que estudou fora do estado, e hoje ele faz o que faz aqui na fazenda. Me sinto orgulhosa de ter esse filho aqui, agora, com o neto que adora isso que é nosso", descreve Maria América.

Dinastia do queijo

Babazinho é bem conhecido em Boa Vista. É dele um dos portos à margem do Rio Branco mais famosos da capital: o Porto do Babazinho, onde há a travessia de barco para a Praia Grande.

Durante a pandemia, Babazinho decidiu deixar um amigo tomando conta do porto e se mudou de vez para a fazenda, distante cerca de 150 quilômetros da capital, para ficar junto da família. Ele levou a mãe, a mulher e o filho.

Na época, ele viu a necessidade de ficar mais perto da família e também de dar seguimento a tradição centenária de fazer o queijo.

"Muitas vezes, quando a gente é criança, cresce querendo sair. Aí, depois que se aposenta, volta para as origens. Eu vim antes de me aposentar, pois eu tinha essa vontade de voltar, de ter essa tranquilidade que não acha na cidade. Além do mais, você pode trabalhar aqui, você pode ter uma renda aqui, você pode ter uma qualidade de vida boa aqui. Eu acho que hoje com a evolução dos meios de comunicação meu filho vive aqui sem nenhum prejuízo na educação, com todas as oportunidades que ele teria na cidade. Não existe mais isso do campo ser algo distante",

avalia Babazinho.

'Simples, mas bem-feito'

Na avaliação do gerente da Unidade de Agronegócio do Sebrae Roraima (Uagro), do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-RR), Ricardo Belem, um dos desafios de empreendimentos tradicionais como o da família Sousa e Silva é equilibrar tradição e modernidade, sem perder a essência do produto.

"Hoje há uma tendência mundial da cultura do simples, mas bem-feito. Ou seja, as pessoas estão buscando mais consumir de empresas que remetam ao passado, onde os itens eram mais duradouros e exclusivos, e esse apelo à história pode ser um diferencial para o empreendedor", explica o gerente.

Além disso, Belem pontua que negócios que passam de geração para geração vão muito além da manutenção das propriedades - esse modelo proporciona o desenvolvimento econômico de comunidades, como a região onde está a fazenda Bacabal, por exemplo.

"É importante frisar que deve haver benefícios para o sucessor, para que este tenha interesse em permanecer no local, temos que proporcionar a este uma qualidade de vida melhor. Como ele está inserido no meio é muito mais fácil ter sucesso no empreendimento do que uma pessoa que venha de fora, sem conhecimento das necessidades e potencialidades do negócio. Este modelo de negócio só traz benefícios, tanto social como econômico para a região", cita.

Realidade rural 'valiosa'

Para América, ter Babazinho e o neto por perto cuidando da dinastia do queijo é "valioso". Ela conta que cresceu inserida em uma realidade rural junto com a família. Foi onde aprendeu a trabalhar com os derivados de leite.

"Minha família sempre foi envolvida com a produção rural. Meu pai ele tinha fazenda e a gente sempre ficou assim. Sempre a gente produziu queijo, doce de leite, doce de mamão, de banana, toda a fruta que se faz doce a gente fazia e até hoje faz. Aprendi isso com a minha mãe, que aprendeu com a minha avó. Sempre gostei do campo".

Foto: Caíque Rodrigues/g1 Roraima

Hoje, eles estão envolvidos na produção de queijo, doces de leite e de fruta - quando possuem disponibilidade. Mas, o queijo se destaca como o principal produto.

"Essa tradição da produção eu passei para os meus filhos. Agora é o Babazinho que cuida desde a pandemia, nós viemos para cá e tinha que ter uma renda, para não ser só o gado e ele com a vida dele no porto, achou bom fazer isso. A gente começou a investir nessa tradição até hoje", conta a matriarca.

Seis décadas na fazenda

A sede da fazenda Bacabal pertence à família de Maria América há, pelo menos, 63 anos. Porém a propriedade, já existia antes de ser adquirida por eles. América conta que os filhos resgataram documentos antigos do imóvel que datam de 1900, época que Roraima pertencia ao estado do Amazonas. O nome da fazenda, de acordo com eles, faz alusão ao igarapé Bacabal, que corta a propriedade.

O filho de Babazinho tem 9 anos e também se chama Sebastião. O menino, de acordo com o pai, é "completamente" inserido na realidade do campo e ajuda na produção de queijo. Mesmo que longe de um grande centro urbano, ele diz que em nada o filho é prejudicado.

"Hoje vivemos em um momento diferente, a era da internet. Agora ele já possui conhecimentos que eu não tinha antes. Quando eu era jovem, costumava viajar de carro de boi do campo para o rio. Hoje, vivemos na fazenda, e ele consegue pesquisar o que deseja no telefone e na internet. Ele também estuda inglês aqui na fazenda", conta o pai.

Babazinho sente orgulho de ver o filho seguindo os seus passos. Emocionado, ele diz que sente felicidade ao ver o pequeno Sebastião imerso na tradição da família. É como se o legado familiar estivesse sendo "cuidadosamente transmitido de geração em geração", diz ele.

"Essa parceria entre ele e eu é valiosa. Ele também é muito habilidoso na equitação e compreende as coisas de maneira incrível. Isso me traz muita felicidade. Sempre o trato com carinho, expressando meu amor por ele ao acordar e ao dormir. Sempre vejo o sorriso dele, e ele está feliz aqui, podendo andar a cavalo, andar de bicicleta e ser criativo com o que deseja".

"Durante a pandemia, achei que era um momento para repensar minha vida, meu propósito, e cuidar mais de mim e da minha família. Acredito que todos deveriam fazer essa reflexão. O mundo está passando por muitas mudanças, e cada um de nós precisa considerar qual é o nosso papel como cidadão nesse contexto".

Foto: Caíque Rodrigues/g1 Roraima

Produção familiar

Ao todo, são 70 cabeças de gado criados na fazenda Bacabal. A família participa de todas as etapas da produção, desde a coleta do leite até os processos feitos na cozinha. A média de produtividade das vacas, de acordo com Babazinho, ainda é pequena, mas já tem investimento chegando para aumentar a produção do leite.

Pela média, a família produz 4 kg de queijo por dia. O lucro mensal passa do R$ 7 mil só com queijo. A família também vende doces, faz café da manhã e vende o leite puro.

Entre as medidas para aumentar a produção está o melhoramento genético do rebanho com inseminação e a transferência de embriões. Porém, na fazenda, outras técnicas são aplicadas para que as vacas deem mais leite, entre elas o carinho aos animais.

Quanto menos estresse para as vacas melhor. Por isso, Babazinho faz de tudo: canta e até conversa elas. Algumas até receberam nomes de celebridades como: Iza, Juliana Paes e Gal Costa - esta última recebeu esse nome porque Babazinho gosta de cantar o hit "Vaca Profana", um sucesso na voz da artista.

"As vacas aqui são assim, quando chegam pessoas elas já ficam agitadas. Toda vaca de leite não gosta de movimento, pode ser a mais mansinha, ela vai se estressar. Quando muda o colaborador que lida com elas, elas estranham. Eu tenho que fazer com que elas se acalmem no momento que elas ouvem minha voz, pois o estressa influencia na produção de leite. Estresse tira a saúde delas".

"A gente precisa conquistar a confiança das vacas, depois disso é só correr pro abraço. Tem vaca aqui que eu consigo tirar o leite sem nenhuma dificuldade, sem sequer precisar amarrar o bezerro. E isso vem do carinho, eu canto para elas, dou nome. Aqui nós temos a Juliana Paz, a Iza, tem a Gal Costa. Às vezes elas até atendem pelo nome", conta sorrindo o produtor rural.

A criação de gado também é tradição de família. Babazinho conta que as vacas da fazenda fazem parte de uma linhagem que se originou com o avô, quando ele trouxe os bovinos de outro estado. Para ele, melhorar a genética desses animais é também valorizar "um traço cultural que não deve ser esquecido".

"Temos a capacidade de produzir produtos regionais e orgânicos neste estado, então devemos promovê-los como produtos de qualidade e de vida para as pessoas. Acredito que o mundo busca muito por isso hoje em dia, e nossa preocupação diária é produzir aquilo que comemos aqui na fazenda, na nossa casa, é vender uma tradição de 100 anos. Estamos vendendo a história de nossa família, aquilo que cresci vendo fazer e comendo. Isso é muito importante, e meu filho já entende e valoriza essas coisas desde cedo".

E do curral, o leite vai para a cozinha. Dentro da cozinha há um local apropriado para o tratamento até o leite virar queijo. O local é pequeno e coberto por uma tela para não entrar mosquitos. O acesso de pessoas também é restrito para evitar contaminações e sujeiras durante o processo.

O leite passa por um processo onde vira uma coalhada. Da coalhada é extraído um soro de onde é feito o queijo. Todo esse processo dura um dia inteiro e mobiliza toda a família, inclusive Maria América, que faz questão de botar a mão na massa também. E o principal ingrediente não é físico.

"O queijo, para ser bom, precisa ser feito com muito carinho, tudo o que a gente faz precisa ser feito com amor, com gosto, pois se fizer com má-vontade é melhor nem fazer. O amor é o melhor ingrediente de tudo", declara Maria América.

E é nesta rotina de fazer o queijo que a família da matriarca Maria América compartilha a "herança" da fazenda Bacabal e cativa clientes que sobem a serra rumo ao Tepequém.

*Por Caíque Rodrigues, do g1 Roraima

Brasil : Pesquisa revela que pesca do jaraqui está com futuro ameaçado na Amazônia
Enviado por alexandre em 15/11/2023 01:01:42


Uma pesquisa feita pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam) recomenda que o Jaraqui, peixe popular na região Amazônica, entre na lista de defeso. A espécie é responsável por 93% das capturas pesqueiras na Amazônia Central, sendo o peixe mais consumido na região.

Saiba mais: Entenda o que é e para quê serve o período de defeso

Além disso, redes de grande porte e pesca durante o período de reprodução têm causado reduções nos estoques naturais do Jaraqui. De acordo com os pesquisadores, a demanda crescente tem levado a sobrepesca em várias regiões do Amazonas.

"A nossa amostragem incluiu 11 pontos distribuídos ao longo da Amazônia. Pegando desde Tabatinga até o município de Jacareacanga no Pará. O que nós encontramos é que o Jaraqui forma uma única população em toda a Amazônia, no entanto, a diversidade genética do Jaraqui está sendo perdida muito rapidamente devido aos efeitos da sobrepesca", 

alerta a pesquisadora Ingrid Nunes.
Foto: Fernanda Preto/Acervo Musa

As amostras de Jaraqui foram coletadas ao longo da bacia Amazônica, abrangendo os rios de água preta, branca e clara. Ainda de acordo com a pesquisadora, a solução seria criar um período adequado de pesca para equilibrar os danos causados à espécie.

"A gente espera que antes de tudo, o Jaraqui entre na lista do defeso, pois é a única forma para ter uma pesca de fato sustentável da espécie", completou a pesquisadora.

O início do defeso é estabelecido durante o período reprodutivo dessas espécies e acontece anualmente. Segundo o Decreto Federal nº 6.514/2008, a multa para quem estiver pescando, transportando, comercializando ou armazenando as espécies ainda sob restrição de pesca durante o período do Defeso, vai de R$ 700 a R$ 100 mil, com acréscimo de R$ 20 por quilograma ou fração do produto da pescaria.

*Por Karla Mendes, da Rede Amazônica

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