Desde o início de 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vem compartilhando questões relacionadas às suas dores na cabeça do fêmur, um problema com o qual tem lidado há vários anos. Essa constante desconforto o levou a tomar uma decisão: submeter-se a uma cirurgia de substituição da articulação do quadril, afetada pela lesão.
A artroplastia total de quadril, à primeira vista, pode parecer intimidadora, mas com índices notáveis de satisfação e uma taxa de complicações relativamente baixa, essa cirurgia já foi considerada o “procedimento do século XX”. Médicos afirmam que, após passar pelo procedimento, muitos pacientes se questionam por que não fizeram a cirurgia antes. Para se ter uma ideia, apenas no Sistema Único de Saúde (SUS), são realizadas cerca de 20 mil cirurgias desse tipo a cada ano.
Embora o procedimento seja complexo e envolva riscos, a taxa de mortalidade é baixa. Para minimizar efeitos adversos após a cirurgia, os pacientes precisam seguir rigorosamente um conjunto de cuidados.
Entendendo o Quadril
Os médicos explicam que o quadril é uma articulação, ou seja, um ponto de conexão entre dois ossos: a cabeça do fêmur (o osso mais longo do corpo, localizado na coxa) e a bacia, na área chamada acetábulo. Essa articulação é responsável por conectar a coluna vertebral aos membros inferiores e desempenha um papel fundamental em nossos movimentos diários, como caminhar, sentar, subir escadas e outros.
Doenças do Quadril
Existem duas categorias principais de doenças relacionadas ao quadril, sendo as relacionadas à articulação em si e aquelas extra-articulares, que ocorrem fora da articulação. As condições extra-articulares incluem tendinites e bursites. As doenças relacionadas à articulação, por outro lado, incluem a lesão labral, displasias e osteonecrose, além das artroses, que são o foco principal dessa matéria.
As artroses são caracterizadas pelo desgaste da cartilagem que reveste a articulação do quadril. Esse desgaste gradual pode resultar em dor e desconforto, pois, ao contrário da cartilagem, o osso é enervado e pode causar sensações dolorosas. A cartilagem age como uma almofada que absorve os impactos das atividades diárias. Quando a cartilagem se desgasta, o osso entra em contato com o osso, o que pode levar a uma série de problemas, incluindo dor, inflamação e limitações de mobilidade.
Tratamento Inicial e Indicação Cirúrgica
O tratamento inicial para doenças do quadril geralmente envolve abordagens conservadoras, como medicamentos analgésicos, fisioterapia e, em alguns casos, infiltrações na articulação. A cirurgia de substituição da articulação do quadril, conhecida como artroplastia de quadril, é considerada apenas quando os tratamentos conservadores não são eficazes ou quando a condição do paciente se deteriora.
A cirurgia é realizada em casos clínicos onde os pacientes relatam dores crônicas e incapacitantes relacionadas ao quadril. Os médicos consideram a saúde geral do paciente antes de indicar a cirurgia, e alguns pacientes podem precisar perder peso e fortalecer os músculos antes do procedimento, dependendo da gravidade da situação.
Como a Cirurgia de Quadril é Realizada
A cirurgia de quadril pode ser realizada sob anestesia geral, raquianestesia ou bloqueios periféricos. Os cirurgiões fazem uma incisão na perna, geralmente na região posterior, expondo o quadril. A cabeça do fêmur danificada é removida, e a cartilagem restante no acetábulo (na bacia) é raspada. Duas peças protéticas, que podem ser feitas de metal ou cerâmica, são inseridas para substituir as partes removidas. Uma peça é encaixada na cabeça do fêmur e a outra no acetábulo.
Após a cirurgia, o paciente é incentivado a caminhar logo que possível para evitar complicações, como trombose. O uso de medicamentos anticoagulantes e meias elásticas também pode ser recomendado.
Segurança e Complicações
Embora a cirurgia de quadril seja considerada segura, não está isenta de riscos. No entanto, os altos níveis de satisfação e a baixa incidência de complicações contribuíram para que fosse reconhecida como o “procedimento do século XX”. Complicações graves, como infarto agudo do miocárdio, embolia pulmonar e acidente vascular encefálico, são extremamente raras, com menos de 0,5% de mortalidade global relatada.
Complicações mais comuns incluem anemia, infecções e trombose. Esses problemas podem ocorrer nos primeiros dias após a cirurgia, enquanto o paciente ainda está no hospital. A infecção é uma complicação que ocorre em menos de 1% dos casos e é cuidadosamente gerenciada com antibióticos e técnicas de assepsia rigorosas.
Perspectivas Futuras
Apesar do sucesso geral da artroplastia total de quadril, os médicos continuam buscando maneiras de aprimorar o procedimento. Isso inclui a pesquisa de materiais mais duráveis e métodos para melhorar a recuperação pós-cirúrgica. A utilização de robôs para o planejamento cirúrgico também está se tornando mais comum e precisa.
Além disso, espera-se que o Programa Nacional de Redução das Filas, lançado pelo Ministério da Saúde, ajude a reduzir o tempo de espera para cirurgias de quadril no Sistema Único de Saúde (SUS) e melhore o acesso a esse procedimento.
Artrose no quadril: Lula passa por cirurgia nesta sexta-feira em Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) passará, nesta sexta-feira (29), por uma cirurgia no quadril para corrigir uma artrose.
O petista tem enfrentado intensas dores nessa região por vários meses e recorreu a dois procedimentos em julho, a fim de mitigar esses desconfortos antes da cirurgia: uma infiltração e uma deneverção.
A cirurgia está agendada para ocorrer no Hospital Sírio-Libanês, localizado em Brasília, na manhã de hoje, de acordo com a equipe de assessoria de Lula. No entanto, o horário exato da operação e a sua duração não foram divulgados pelo Palácio do Planalto.
Após a cirurgia, Lula deverá realizar suas atividades de trabalho a partir do Palácio da Alvorada, a residência oficial da Presidência da República, pelo período mínimo de três semanas. Além disso, ele deverá observar um período de recuperação de quatro a seis semanas durante o qual não poderá realizar viagens.
A expectativa é que o petista retome seus compromissos internacionais somente no final de novembro, quando planeja participar da COP 28 nos Emirados Árabes Unidos, após sua viagem ao Oriente Médio. Posteriormente, ele terá uma agenda programada na Alemanha.
O mandatário demonstrou otimismo em relação à cirurgia, enfatizando a importância dos cuidados pós-operatórios. A declaração foi feita durante a live semanal “Conversa com o Presidente”, na última terça-feira (26).
“Eu vou ter que ter um pouco de cuidado porque a operação parece simples, mas a recuperação, a fisioterapia e a dedicação, o tratamento, é fundamental. Então eu vou me cuidar com muito carinho. Estou muito otimista’, declarou.
Lula também mencionou que não será visto utilizando andador ou muletas após a cirurgia, pois seu fotógrafo pessoal, Ricardo Stuckert, se comprometeu a não registrar esse tipo de imagem. Stuckert também atua como secretário de Produção e Divulgação de Conteúdo Audiovisual do governo.
“O Stuckert não quer que eu ande de andador. Ele já falou: ‘Não vou filmar você de andador’. Então significa que vocês não vão me ver de andador, vocês não vão me ver de muleta. Vocês vão me ver sempre bonito como se eu não tivesse sequer operado”, disse Lula.
O presidente, além disso, revelou que sentia dores fortes desde a campanha presidencial de 2022 e que não fez a cirurgia logo após as eleições para não passar uma imagem de fragilidade.
“Durante o processo da campanha, naquela cena que vocês me viam pulando no carro de som, vocês não sabem a dor que eu sentia. Mas eu pulava, porque era preciso animar as pessoas. Se o candidato está lá, de cabeça baixa, ele não passa otimismo para a sociedade”, disse o presidente
“Depois, eu queria operar logo depois das eleições. Mas, aí, falei: ‘Bom, se eu operar agora, vão dizer que Lula está velho, ganhou a eleição e já está internado’”.
Combinação de métodos tem diminuído queixas como ressecamento vaginal e incontinência urinária
Os tratamentos íntimos estão em alta. Prova disso é que o Brasil se tornou o campeão em cirurgias íntimas, de acordo com a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS). No último censo da entidade, foram registradas 30 mil cirurgias plásticas na região genital do corpo feminino em clínicas brasileiras, 18 mil a mais do que nos Estados Unidos, segundo colocado no ranking.
Segundo a dermatologista, Joana Darc Diniz, diretora científica da Sociedade Brasileira de Medicina Estética, há diversos tratamentos que ajudam a melhorar a saúde e a vida sexual feminina. Um problema recorrente que acomete mulheres mais maduras, devido à queda hormonal, é o ressecamento vaginal.
"O tratamento indicado é o skinbooster, com ácido hialurônico, que estimula o rejuvenescimento íntimo de dentro para fora, através do aumento da hidratação vaginal, pois ativa a produção de colágeno", explica a médica.
A crescente procura por tratamentos para esta área se reflete também em clínicas de estética. Especialista em estética tecnológica e à frente da Dermopride, Hohana Herdina recomenda procedimentos não invasivos. "Um dos serviços mais buscados atualmente é o combo íntimo, com ultraformer, laser e sculptra", relata.
Segundo ela, o ultraformer promove o estímulo da produção de colágeno; já o sculptra é um bioestimulador de colágeno injetável à base de ácido polilático, substância sintética biocompatível com o organismo humano. “Essa combinação promove o aumento da lubrificação, a melhora da sensibilidade e a diminuição da incontinência urinária”, diz Hohana Herdina.
A procura por cirurgias pós-parto também aumentaram. “É comum que o corpo feminino passe por mudanças físicas significativas”, explica Márcio Teixeira, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Segundo o cirurgião plástico, entre as principais queixas estão o aumento da flacidez da pele, principalmente na região abdominal e dos seios.
“São fatores que podem afetar a autoestima. E, muitas vezes, só dieta e exercício não resolvem”, afirma ele, que adota um conjunto de técnicas, como por mamoplastias, mastopexia e lipoescultura, entre outras, conhecido nos Estados Unidos como mommy makeover.
Uma família de onças-pardas foi flagrada 'passeando' por um sítio de Porto Velho (RO). O registro raro foi feito por uma câmera instalada na propriedade rural, localizada no sentido assentamento Joana d'Arc. No vídeo é possível ver a mamãe onça e seus dois filhotinhos andando tranquilamente pelo terreno.
Gisele Souza, proprietária do sítio, contou que comprou a área em 2020 e desde então costuma ir com a família para curtir o fim de semana, num contato próximo com a natureza.
"No entanto neste último fim de semana tivemos uma surpresa. Quando chegamos lá e fomos olhar as câmeras instaladas, vimos em uma das gravações três onças-pardas andando pelo sítio, em plena luz do dia. Primeiro passa a mãe, e logo atrás as oncinhas",
As imagens foram feitas por uma espécie de câmera 'trap', que fica instalada em um ponto fixo e dispara quando o sensor detecta movimentos.
Segundo a moradora, a câmera bate uma foto quando os animais se aproximam e na sequência começa a gravar. No mesmo dia que a família da onça passou pelo sítio, a máquina registrou a presença de uma jaguatirica.
Gisele afirma ter sentido um misto de emoção quando viu a imagem do trio de onças no seu quintal.
"Senti aquela felicidade por saber que elas passaram ali, mas também aquele sentimento de medo, já que às vezes estamos lá no sítio dormindo em barraca e rede", diz.
diz.
A moradora afirma que neste ano já havia encontrado rastros de onça perto de um rio em Porto Velho. "A gente sabia que havia onça na região, mas não imaginava ser tão perto", brinca.
Foto: Arquivo pessoal/Gisele Souza
E cadê a onça pai?
De acordo com o biólogo Flávio Terassini, a família filmada de fato é composta por três integrantes. Isso porque a fêmea, depois da gestação, a onça-parda não deixa o macho ficar perto. "O pai não anda junto, pois a mãe coloca ele pra correr", afirma.
Terassini afirmou que, pelas imagens, os filhotes da onça estão com cerca de um ano de vida. "Geralmente eles andam atrás da mãe assim até completar dois anos, depois vão embora".
A onça-parda também é conhecido puma, onça vermelha e leão da montanha. O felino dessa espécie pode medir até 150 cm (sem a cauda) e pesar de 53 a 72 kg.
O biólogo acredita que quando passou na frente da câmera em Porto Velho, a mamãe onça estava caçando animais para alimentar seus filhotes.
Coletoras indígenas de sementes em Rondônia e Mato Grosso firmam parceria para evitar colapso de biomas
Base da cadeia de restauração, as redes de coletores são fundamentais para o Brasil alcançar a meta de restaurar 12,5 milhões de hectares de vegetação nativa até 2030. O foco da parceria é recuperação da Amazônia e do Cerrado.
Com informações da Mongabay*
O Rio das Mortes, afluente do Rio Araguaia que passa por Nova Xavantina (MT), já foi considerado um dos rios mais limpos do mundo. Hoje, alguns trechos sofrem com os agrotóxicos da soja que avança sobre pastagens no nordeste de Mato Grosso, entre outros impactos. Foto: Kevin Damasio
Em julho, 15 mulheres indígenas percorreram 1.600 quilômetros de Rolim de Moura, em Rondônia, até Nova Xavantina, no nordeste de Mato Grosso. Elas representavam as 146 coletoras da Rede de Sementes da Bioeconomia Amazônica (Reseba), criada em meados de 2021 e formada pelas etnias Aikanã, Gavião, Sabanê, Suruí, Tupari e Zoró. Após um dia de estrada, chegaram à zona de transição entre Amazônia e Cerrado para conhecer de perto o mais antigo grupo de coletores do Brasil, a Rede de Sementes do Xingu.
Base da cadeia de restauração, as redes de coletores são fundamentais para alcançar a meta nacional de recuperar 12,5 milhões de hectares de vegetação nativa até 2030 – 4,8 milhões na Amazônia e 2,1 milhões no Cerrado. Sem um programa governamental, intercâmbios com grupos estabelecidos são uma forma de novas redes adquirirem expertise e encontrarem os caminhos para se firmar.
"É muito importante para nós ter esse conhecimento através das outras pessoas que estão nos ensinando como produzir, limpar, coletar semente",
conta Rubithem Suruí, integrante da Reseba e representante das 56 coletoras da Terra Indígena (TI) Sete de Setembro.
Coletoras da Rede de Sementes da Bioeconomia Amazônica (Reseba), criada em meados de 2021, em Rondônia. Foto: Kevin Damasio
Aos 27 anos, Rubithem é liderança entre as mulheres da aldeia Gamir, cujo conhecimento sobre o potencial econômico das sementes se limitava às espécies utilizadas para artesanato, como tucumã. Até que membros da Ação Ecológica Guaporé (Ecoporé) propuseram a criação da primeira rede de coletores de Rondônia.
A Ecoporé é uma organização não governamental, sem fins lucrativos, que há 35 anos foca na restauração da Amazônia. Produz 600 mil mudas florestais por ano no viveiro da sede em Rolim de Moura, grande parte destinada a projetos de restauração.
"A Reseba surgiu para articular a compra e venda de sementes com os povos originários e suprir tanto a demanda do viveiro como a do estado",
diz Aline Smychniuk, analista socioambiental da rede.
Conhecimento prático
Durante a visita a Mato Grosso, as coletoras e técnicas da Reseba foram conhecer as árvores matrizes do grupo de coletores urbanos de Nova Xavantina, parte da Rede de Sementes do Xingu. "No trajeto, eu vou em pés de várias espécies, coletando tudo que conseguir e estiver na época", diz Milene Alves, 25 anos, bióloga e coletora desde os 16 na Rede de Sementes do Xingu. "O papel do coletor é monitorar a floração, para ver se a flor vai vingar, abrir, virar fruto, e se o fruto vai madurar."
Em praças públicas da cidade, Alves apontou matrizes de angelim, angico, paina-barriguda, caju, tamboril, ipês. Na BR-251, jatobás-do-cerrado e barus que restaram em alguns imóveis rurais, cujos proprietários liberaram o acesso – um grande desafio para os coletores urbanos.
"Isso é o que sobrou de mata para nós",
disse Alves, observando a paisagem dominada pela agropecuária, retrato de 60% do município.
Na borda de uma propriedade, as indígenas da Reseba aprenderam a selecionar os frutos de baru espalhados pelo chão. Na beira da estrada, coletaram jatobás-do-cerrado usando uma vara de bambu com um gancho de ferro na ponta. De volta à cidade, pararam em uma praça em busca de caroba – ou jacarandá, como é chamado na Amazônia.
Sementes de tamboril, uma das 150 espécies coletadas pela Rede de Sementes do Xingu. Nova Xavantina, Mato Grosso. Foto: Kevin Damasio
Em seguida, Alves e sua mãe, a coletora Vera Oliveira, ensinaram diferentes técnicas de beneficiamento das sementes. Deixaram a caroba secar ao sol, para desprender a ponta do fruto e poder abri-lo com um facão. Esfregaram as garapas – árvore que ocorre em diversos biomas brasileiros e, na Amazônia, pode alcançar 40 metros de altura – em uma peneira com um chinelo e separaram as pequenas sementes, além de utilizarem uma roçadeira para acelerar o processo. Em um chão firme, estenderam uma lona sobre a qual colocaram os jatobás, e passaram com as rodas do carro por cima para quebrá-los e extrair as sementes. Depois, formaram lotes destinados às casas de sementes, onde foram armazenadas em um ambiente controlado – frio, escuro e seco.
"O importante é ser uma semente vigorosa, limpa, que não está misturada com outra espécie, que não tem fungo, caruncho, broca. Isso é uma semente de qualidade", orientou Alves. "O olhar do coletor tem que ser minucioso", completa.
"Gostei muito. Conhecemos as árvores que lá na aldeia não tem. Agora vou falar pra minha filha, pro meu marido, passar tudo. É muito baixinha essa árvore. Agora, pra lá [na Amazônia] não é assim, é muito alto. Por isso é difícil pra nós",
comentou Lucilene Maparoka Tupari, coletora da aldeia Colorado, na TI Rio Branco.
Os desafios das redes
Ao longo do ano desde janeiro, as engenheiras florestais Aline Smychniuk e Joana Gomes visitaram cinco Terras Indígenas de Rondônia para estruturar a Reseba. Realizaram oficinas teóricas e práticas, depois foram para a mata identificar as espécies potenciais, como bandarra e copaíba, e definir as matrizes de coleta.
Nas apresentações da Rede de Sementes do Xingu, um elemento chamou a atenção das rondonienses: o "elo", liderança que representa cada grupo de coletores.
"O elo é a comunicação entre o grupo e a rede. Recebe as listas de potencial dos coletores, depois repassa para a rede. Faz reuniões para dividir os pedidos entre os coletores. Está de olho na qualidade da semente, que recebe e passa para o responsável da casinha [de sementes]. Recebe o pagamento e divide entre os coletores.",
detalha Roberizan Tusset, elo de Nova Xavantina há três anos.
Lucilene Maparoka Tupari, liderança da aldeia Colorado, na Terra Indígena Rio Branco, e coletora da Rede de Sementes da Bioeconomia Amazônica (Reseba), de Rondônia. Ela segura frutos de baru, espécie nativa do Cerrado. Foto: Kevin Damasio
A Reseba adotou uma estratégia semelhante. "Em cada território tem uma representante com a qual a gente trata diretamente, explica o máximo possível, para então repassar ao restante da comunidade", conta Gomes, analista socioambiental da rede.
Criada em 2007, a Rede de Sementes do Xingu engloba mais de 600 membros divididos em 25 grupos de indígenas, agricultores familiares e urbanos. Até 2022, a rede coletou 294 toneladas de sementes para a restauração de 7,4 mil hectares na Amazônia e no Cerrado. Nesses 15 anos, o trabalho rendeu R$ 5,3 milhões para os coletores.
Milene Alves atribui o sucesso da rede à valorização de diferentes povos, à parceria com o Instituto Socioambiental (ISA), ao pioneirismo da muvuca – método no qual um combinado de sementes de até 80 espécies é semeado diretamente no solo – e à capacitação técnica, com oficinas sobre qualidade de sementes e gestão, por exemplo.
Alves é técnica do Redário, uma articulação entre 24 redes brasileiras que abrangem cerca de 1.200 coletores, para promover assistência em questões como governança, mercado e logística. "Muitas alavancas, na maioria das redes, são a base. Tem muita dependência técnica dos grupos. Isso dá uma segurada no crescimento", observa.
Na TI Tubarão/Latundê, no sul de Rondônia, a falta de conhecimento atrapalhou a primeira experiência dos indígenas com a coleta. Em 2015, uma empresa encomendou sementes, mas não os instruiu, conta Dorvalina Sabanês, da aldeia Tubarão Gleba. "A gente só colhia e entregava. Não sabia como era para fazer, para guardar sementes. Vinha muito bicho, muita coisa."
Essa experiência desmotivou boa parte das 26 famílias da aldeia a aderir à Reseba, mas Dorvalina estava animada para retornar ao território e engajar seus parentes:
"Dessa vez, a gente aprendeu muita coisa e pode contribuir na aldeia, para não entregar semente toda estragada, toda bichada, aprender a cuidar das coisas",
conclui.
Casa de Sementes de Nova Xavantina (MT), onde as espécies coletadas são armazenadas em um ambiente controlado – frio, escuro e seco. Foto: Kevin Damasio
Políticas públicas
Fornecer uma capacitação técnica, ou extensão florestal, "estruturada e relevante", e aprimorar a cadeia de produção de sementes e mudas estão entre as promessas do Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg), criado em 2017, mas engavetado no governo Bolsonaro.
"A extensão florestal vai ser fundamental para o sucesso desses projetos de restauração", diz Rita de Cássia Mesquita, secretária de Biodiversidade, Florestas e Direitos Animais do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. Segundo Mesquita, o governo trabalha para restabelecer a comissão que trata das políticas de restauração, a Conaveg. Em seguida, revisará e implementará o Planaveg.
O plano prevê também o fomento ao mercado e o desenvolvimento de mecanismos financeiros para incentivar a recuperação da vegetação nativa. Hoje, essa frente da bioeconomia depende da "disposição a restaurar" dos proprietários rurais, avalia Mesquita.
O Código Florestal, aprovado em 2012, é a única lei que obriga proprietários a recuperar seus passivos ambientais, que somam mais de 20 milhões de hectares, segundo o Observatório do Código Florestal. As maiores áreas estão na Amazônia (aproximadamente 10 milhões de hectares) e no Cerrado (quase 5 milhões de hectares).
Angela e Rubithem Suruí, da aldeia Gamir, Terra Indígena Sete de Setembro, e coletoras da Rede de Sementes da Bioeconomia Amazônica (Reseba), de Rondônia. Nas mãos, sementes de tingui-do-cerrado. Foto: Kevin Damasio
Pela lei, todos os proprietários rurais deveriam se regularizar até 31 de dezembro de 2022. Mas, em junho, o Congresso Nacional tornou individual o prazo de adesão ao Programa de Regularização Ambiental (PRA). Agora, o período de um ano para aderir ao PRA passa a contar a partir da convocação do proprietário pelo órgão estadual responsável.
Essas alterações desestabilizam as redes de coletores, afirma Alves. "O cara tem uma área para restaurar, mas está segurando e esperando uma mudança no Código Florestal. Se tiver uma brecha, ele não precisa mais fazer".
"Nós ainda passamos por instabilidade quanto à venda das sementes. Vivemos problemas muito similares às redes que estão iniciando agora",
acrescenta Marcos Vinícius Lima, responsável comercial da Rede de Sementes do Xingu, cujos principais clientes são o Instituto Socioambiental, a Fazenda Brasil e o Instituto Pequi.
Essa inércia dos proprietários também é sentida em Rondônia. A Ecoporé tem um projeto com o governo do estado para recuperar 500 hectares degradados no eixo da BR-429, em pequenas propriedades com o Cadastro Ambiental Rural analisado pela Secretaria do Desenvolvimento Ambiental. A Ecoporé visita as áreas, identifica as necessidades, doa mudas e realiza acompanhamento técnico.
"Não estamos conseguindo adesão dos produtores", diz Joana Gomes. "Precisa ter mais incentivos e cobranças do governo. Já conseguimos fazer projetos dentro de áreas públicas, mas temos que voltar os olhos para as áreas privadas, as que mais precisam de restauração."
Feijão-de-porco, leguminosa que faz o recobrimento da área de vegetação nas restaurações e ciclagem de nutrientes no solo, no processo de adubação verde. Foto: Kevin Damasio
Ameaças externas
A agropecuária foi o vetor de 95,7% do desmatamento no Brasil em 2022, segundo o MapBiomas. Já o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou, na última década, 8,24 milhões de hectares desmatados na Amazônia e 9 milhões no Cerrado – somados, dá uma área equivalente à do Uruguai.
Luciana Gatti, pesquisadora do Inpe, alerta que a meta de zerar o desmatamento até 2030 pode não ser suficiente para evitar o colapso climático na Amazônia. Estudos estimam que isso acontecerá se o desmatamento alcançar de 20% a 25% da Pan-Amazônia, que engloba nove países e já perdeu 17% de sua cobertura original.
"Estamos caminhando cada vez mais rápido para o colapso. Não é só parar de desmatar, temos que recuperar floresta perdida",
diz Gatti.
Para a cientista, as ações de restauração na Amazônia precisam se concentrar onde a mortalidade tem superado o crescimento vegetal — e, ainda assim, a floresta já emite mais carbono do que absorve.
"Regiões de Mato Grosso, Pará, Rondônia e Acre estão com mais de 50% desmatados, então essas áreas precisam ser recompostas. Com a restauração florestal "aumenta a evapotranspiração, então ajuda a recuperar as chuvas e a diminuir a temperatura. Vai dar mais condição da floresta sobreviver, e aí conseguimos impedir o ponto de não retorno",
observa a pesquisadora.
Roberizan e Vilmar Tusset, coletores do grupo de Nova Xavantina, da Rede de Sementes do Xingu. O casal vive em uma chácara de 12 hectares, na zona rural do município, onde plantam espécies do Cerrado e buscam sementes em matrizes próximas. Foto: Kevin Damasio
Em Nova Xavantina, 52 mil hectares de formações savânicas e florestais deram lugar à agropecuária, com perda de 20% da vegetação. Os 180 mil hectares de pastagens degradadas (74% do total) têm sido substituídos por monoculturas de soja, cuja área triplicou desde 2000.
"Aqui bem em volta da rua a gente pegava muitas matrizes – acabou tudo", conta Vilmar Tusset, de 64 anos, pequeno produtor e coletor da Rede de Sementes do Xingu desde 2012.
"Agora tem que plantar pra coletar, senão não vamos dar conta mais. A soja tá vindo forte, e vai acabando o meio ambiente",
diz.
Há quatro anos, Tusset vive com a esposa, Roberizan, em uma chácara de 12 hectares que passa por uma transição. Ele já parou a produção de porcos e galinhas e deve terminar a de gado neste ano. Quer se dedicar apenas à coleta de sementes, à restauração e ao plantio de espécies nativas do Cerrado.
Ameaças externas também rondam as terras das coletoras de Rondônia. A TI Sete de Setembro, por exemplo, sofre com a ação de "garimpeiros, madeireiros, grileiros e latifundiários", diz Rubithem Suruí. A floresta ocupa 96,7% dos 248 mil hectares, mas houve perda de 2.718 hectares de 2018 a 2022, conforme o Inpe. Para chegar a algumas matrizes de coleta, é preciso atravessar pastagens de invasores.
As mulheres Suruí aguardam a concretização da primeira encomenda da Reseba para ir a campo. "A gente já andou nas matrizes, para ver quantas árvores tinham sementes para dar, e vamos coletar o que pedirem", diz Rubithem.
As sementes coletadas contribuirão para evitar o colapso da Floresta Amazônica, mas Rubithem considera efeitos locais importantes: geração de renda e autonomia para as mulheres, redução das pressões e a matéria-prima para restaurar os próprios territórios.
*O conteúdo foi originalmente publicado pela Mongabay, escrito por Kevin Damasio
Comissão especial da Câmara dos Deputados analisa, nesta terça-feira (26/9), texto de Antonio Carlos Rodrigues que estabelece cota feminina
Comissão Especial da Câmara dos Deputados analisa, nesta terça-feira (26/9), texto do deputado Antonio Carlos Rodrigues que estabelece cota de 15% para mulheres nos parlamentos brasileiros já nas eleições do ano que vem. Se aprovada, a medida, que ainda passará pelo crivo do plenário da Casa e do Senado, valerá para as 5.568 câmaras municipais em todo o Brasil.
Um levantamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de 2020, aponta que mais de 900 cidades do país não contam com sequer uma vereadora.
Já para as eleições de 2026, o texto de Rodrigues prevê aumento definitivo de cotas femininas para 20%, valendo para as assembleias legislativas e para a Câmara dos Deputados, Casas em que o sistema de votação, assim como nas câmaras municipais, é proporcional.
O Senado, no qual o sistema é majoritário, fica de fora.
“Sobre os 15% (de cotas) em 2024 e 20% em 2026, vou acompanhar a posição da maioria da Comissão Especial. O que for a vontade da maioria, para aumentar ou reduzir esse percentual, eu apoiarei”, disse Rodrigues à coluna.
As cotas serão votadas no âmbito da PEC que versa sobre a aplicação de sanções aos partidos que não destinarem a cota mínima de recursos para candidatos em razão de sexo e raça.
O objetivo da proposta é que o valor mínimo obrigatório para candidaturas de mulheres seja reduzido, uma vez que, em contrapartida, terão garantia de ocupar 15% (em 2024) e 20% (em 2026) das cadeiras no parlamento.
Após o discurso a retomada do protagonismo do Brasil em relação ao tema ficou marcada, novas perspectivas e cobranças foram feitas no discurso para a comunidade internacional.
Um dos momentos mais marcantes e simbólicos do terceiro mandato do presidente Lula foi seu discurso na COP27 (Conferência das Partes das Nações Unidas sobre mudanças Climáticas) no Egito no final de 2022. Diferente do antecessor, que ignorou completamente essa pauta, antes mesmo dele assumir a presidência foi convidado para o evento onde discursou sobre a Carta da Amazônia – uma agenda comum para a transição climática.
O discurso foi o primeiro do evento, levando assim a esperança de zerar o desmatamento na Amazônia, recuperar a credibilidade e protagonismo do Brasil em relação ao tema que fora perdido (e outros), reivindicar a COP30 em 2025 no Brasil e liderar os nove países que compõe a Amazônia Internacional: Brasil, Guiana Francesa, Suriname, Guiana Venezuelana, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia. Lembrando que aproximadamente 60% da Amazônia pertence ao território Brasileiro.
Após o discurso a retomada do protagonismo do Brasil em relação ao tema ficou marcada, novas perspectivas e cobranças foram feitas no discurso para a comunidade internacional, principalmente a Europeia. E alguns efeitos foram imediatos, como o aceno da Alemanha e Dinamarca para a liberação do Fundo Amazônia que estava congelado por causa do governo anterior, que é de suma importância para projetos na região. Nesse momento, acredito mais em Marina Silva, uma seringueira, guerreira e atual ministra do Meio Ambiente e em toda sua história de luta pela nossa região.
Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
Contudo, um imbróglio logo se fez com a perspectiva de exploração de petróleo pelo Brasil na Bacia da Foz do Amazonas. E não é por acaso que o debate está acirrado, quando falamos em Amazonas. Ainda não temos a consciência da importância da região para o planeta e para o próprio país, e tudo que está relacionado a nós é gigantesco. Para o nosso leitor ter uma pequena noção da nossa importância, o Rio Amazonas despeja 200 milhões de litros de água doce no oceano por segundo. O que equivale a 17% do total mundial de água continental e sedimentos em suspensão para todos os oceanos. Já imaginaram o impacto disso?
Em relação ao Brasil, a Costa Amazônica abriga 80% dos manguezais do nosso país, que são responsáveis para a preservação da biodiversidade e sustentabilidade da indústria pesqueira. Os recifes da região são o habitat de mais 90 espécies de peixes que sustentam as economias locais pela costa brasileira. E primordialmente esses ecossistemas ainda são responsáveis em sua contribuição do balanço de gás carbônico, que é de suma importância e responsável por frear o aquecimento global.
A desculpa de progresso e desenvolvimento, é só uma desculpa, esquecendo o debate e a necessidade de um novo projeto real de desenvolvimento sustentável para a região, que leve em consideração nossas características, potencialidades, nosso povo ribeirinho, quilombola, povos originários, nossa cultura e toda nossa riqueza. E temos trágicos exemplos de exploração que não trouxeram riquezas apesar de suas promessas, o que sobrou para nossa região? Vamos lembrar de Serra Pelada e as mais de 40 mil toneladas de ouro retiradas de lá, quem enriqueceu? A Companhia Vale do Rio Doce que recebeu uma indenização de 59 milhões de reais, por deter os direitos de exploração. Qual foi a sua herança? Para a região, nenhuma que boa herança. Quais os efeitos ambientais e sociais para a região? Catástrofe ambiental, pobreza na região com total esquecimento e desigualdade social.
A nossa riqueza está em alternativas de arranjos produtivos sustentáveis devidamente ligados ao século XXI, e não exploratórios antiquados. Alinhados ao respeito da a nossa cultura ribeirinha, quilombola, dos povos originários, da floresta e de todos nós da região e do planeta. Se o discurso do presidente foi verdadeiro, se o papel brasileiro de liderança dos países da Pan Amazônia será nosso, devemos seguir os exemplos do povo e dos governos da Colômbia e Equador, que já se recusaram a exploração de petróleo na Amazônia.
Devemos lembrar que temos capital humano e podemos nos associar com o capital humano internacional, além de reivindicar que a comunidade internacional participe na manutenção. Pois, os países desenvolvidos têm suas responsabilidades históricas da exploração das Américas e da África, muito foi retirado daqui e nada nos foi dado em troca nem monetariamente, nem em respeito ou solidariedade. E estamos chegando ao ponto do não retorno, depois não haverá volta e todos seremos responsáveis. Talvez a ambição dos políticos junto a determinados grupos e nosso silêncio como cidadãos seja julgado como os maiores cúmplices do que está por vir.
Nós somos a Amazônia, ela é nossa e somos responsáveis por ela, temos que assumir essa posição de protagonistas, debater, reivindicar e lutar por ela. E não esqueçamos nosso poeta Thiago de Mello, "quem sabe onde quer chegar escolhe o caminho certo e o jeito de caminhar". BORA REFLETIR meu povo.
Sobre o autor
Walace Soares de Oliveira é cientista social pela UEL/PR, mestre em educação pela UEL/PR e doutor em ciência da informação pela USP/SP, professor de sociologia do Instituto Federal de Rondônia (IFRO).