O Ministério Público de Rondônia esteve reunido na última sexta-feira (25/8) com gestores de todos os Municípios integrantes da Comarca de Ouro Preto do Oeste para discutir ações de prevenção e combate às queimadas na região. Realizado em modalidade virtual, o encontro teve como principal deliberação a apresentação de plano de ação de cada município para enfrentamento ao problema, com detalhamento de atuação e cronograma de atividades.
A reunião foi coordenada pela 2ª Promotoria de Justiça e teve a presença de representantes do Corpo de Bombeiros; Secretaria de Estado de Desenvolvimento Ambiental (Sedam); Polícia Militar Ambiental; Emater e de gestores dos Municípios de Ouro Preto; Teixeirópolis; Vale do Paraíso; Nova União e Mirante da Serra.
O encontro teve como objetivo discutir medidas que visem à redução da prática de queimadas e os problemas dela decorrentes. Na ocasião, foi traçado um panorama da estrutura das cidades e debatidos pontos críticos para o enfrentamento ao problema e orçamento para ações ligadas à temática.
Durante as tratativas, a integrante do MP rondoniense pediu à Sedam, Emater e Bombeiros que apresentassem o cenário da região com relação à incidência de fogo irregular; áreas de maior registro; práticas vedadas e quais ações educativas podem ser adotadas pelos municípios.
A fim de averiguar a estrutura legislativa sobre a matéria, a Promotoria pediu aos representantes que informem o MP sobre a existência de legislação municipal que preveja sanção administrativa para prática de queimadas e incêndios em cada Município.
Além disso, pelos participantes ficou deliberada a necessidade de ações voltadas às localidades da zona rural em que há maior incidência de alertas de incêndio/queimadas, a fim de que os órgãos competentes desenvolvam ações diretas com os proprietários e produtores rurais, informando-os técnica e juridicamente acerca das melhores práticas a serem utilizadas e as consequências caso haja conduta em desacordo com a lei.
Militares negam há cinco meses explicações à Agência Pública sobre uma compra sem licitação de US$850 mil da Comissão do Exército Brasileiro em Washington, capital dos EUA. Divulgado no início do governo Lula, o contrato chama atenção pela fornecedora, a Cognyte Technologies Israel Ltd.
É a mesma fabricante de um software comprado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para vigiar a localização em tempo real de até 10 mil alvos simultâneos, com suspeita de uso ilegal nos governos Temer e Bolsonaro, segundo noticiado pelo O Globo.
O uso do software da Cognyte, chamado “First Mile”, está sob investigação da sede da Polícia Federal em Brasília e do Ministério Público Federal em Minas Gerais, sob olhares do Congresso Nacional. A PF disse à Pública por meio de sua assessoria que a investigação segue em andamento, sob cuidados da sede da corporação em Brasília. Já o MPF respondeu que só irá falar ao final da investigação.
O Exército tem negado explicações sobre seu contrato com a empresa israelense, firmado para a “renovação de licenças de interesse” dos militares, com gasto de mais de R$4 milhões na cotação atual. Também não se sabe quem, dentro do Exército Brasileiro nos EUA, tem acesso aos programas da Cognyte e quais seriam as ferramentas contratadas.
Mas a falta de respostas não se justifica. O Serviço de Informações ao Cidadão do Exército já respondeu a pedidos similares, relatando detalhadamente processos de avaliação para a compra de programas como os da Cognyte, além da quantidade de militares com acesso a softwares similares.
Dado que a Controladoria-Geral da União não analisou o mérito do sigilo imposto pelos militares ao contrato com a empresa israelense, o caso será julgado pela Comissão Mista de Reavaliação de Informações, última instância de recursos via Lei de Acesso à Informação, como manda a lei.
Em abril, a Pública apurou que, além do “First Mile”, existem outros programas com potencial de espionagem ilegal. É o que indica um levantamento interno obtido e publicado na reportagem “Abin de Ramagem gastou R$31 milhões com ferramentas de vigilância secretas e sem licitação“.
Só entre dezembro de 2019 e outubro de 2021, o então diretor-geral da Abin e hoje deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) gastou, sem licitação, pelo menos R$ 31 milhões em ferramentas espiãs sem nenhuma informação pública.
Somada a outros três contratos firmados com empresas divulgadas pela agência de inteligência, a cifra torna o ex-delegado da Polícia Federal (PF) – e homem de confiança do clã Bolsonaro – o ex-diretor-geral da Abin que mais gastou com tecnologias de espionagem nos últimos cinco anos.
Foto: Acervo do coordenador da pesquisa, pesquisador Ricardo Cerboncini
O estudo recebeu apoio do Governo do Amazonas por meio do Programa Fixam, fomentado pela Fapeam
O manejo florestal sustentável pode ser uma alternativa viável para a conservação da biodiversidade na Amazônia Central, em áreas de exploração madeireira que abrangem os municípios de Itacoatiara (distante 176 quilômetros de Manaus), Silves (a 204 quilômetros de distância de Manaus) e Itapiranga (a 227 quilômetros da capital amazonense). Foi o que apontou um estudo que mediu e avaliou os efeitos dessa exploração, frente aos impactos do desmatamento ilegal.
A pesquisa, intitulada “Manejo florestal sustentável como alternativa para a conservação da Amazônia: impactos da extração de madeira nativa sobre a biodiversidade”, coordenada pelo biólogo Ricardo Augusto Serpa Cerboncini, da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), recebeu apoio do Governo do Amazonas – via Programa de Apoio à Fixação de Doutores no Amazonas (Fixam), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).
O estudo apresentou resultados que indicam mudanças na composição da comunidade de aves nos primeiros anos após a exploração madeireira. E teve o objetivo de detectar impactos em comunidades de aves, mamíferos, besouros e, ainda, sobre o processo de deposição de material vegetal que forma a serapilheira.
De acordo com Ricardo Cerboncini, no caso das comunidades de aves, a exploração madeireira não afetou o número de espécies nem a quantidade de aves, porém mudou a composição de espécies, ou seja, a identidade das espécies presentes nas comunidades, que provavelmente ocorreu devido à exploração madeireira aumentar a quantidade de clareiras na floresta – o que pode beneficiar algumas espécies, como as mais generalistas ou as que se beneficiam da maior entrada de luz no interior das florestas.
“No entanto, esse impacto parece ser temporário, visto que os resultados mostraram que a similaridade na composição de espécies entre áreas exploradas e áreas íntegras aumentou com o passar dos anos após a exploração, tornando-se mais similares entre si a partir do quarto ano. Isso é um indicativo de que as comunidades de aves podem estar retornando a uma situação similar à encontrada anterior à perturbação da atividade madeireira, em processo de sucessão ecológica seguindo a regeneração florestal”, disse o biólogo.
Entre outros impactos observados no estudo estão as estimativas ecológicas de alguns grupos da fauna, como de aves e de besouros escarabeídeos. Além de mudanças em estimativas ecológicas como a composição e a estrutura das comunidades biológicas, alguns casos incluíram efeitos como a diminuição no número de espécies e no número de indivíduos após a exploração madeireira. Outros grupos, no entanto, como os mamíferos de médio e grande porte, parecem não sofrer impactos significativos. A taxa de deposição de serapilheira, que sofre grande influência da sazonalidade, com maior acúmulo de folhas e galhos durante a época mais seca do ano, também não apresentou efeitos significativos da atividade madeireira.
Ainda sobre os resultados, a pesquisa demonstrou que os efeitos negativos na biodiversidade, quando existentes, tendem a ser de baixa intensidade e temporários, como explica Cerboncini.
“Os objetivos do estudo foram, justamente, estimar os efeitos na biodiversidade relacionados ao corte seletivo de impacto reduzido, com a premissa de que as maiores diferenças nas condições ambientais entre as áreas estudadas estão relacionadas à atividade madeireira e ao tempo desde que essa atividade ocorreu”, disse o coordenador, acrescentando que as condições ambientais são modificadas após o corte, e é esperado que as comunidades biológicas respondam a essas mudanças.
“Para alguns grupos da fauna que foram avaliados em nossos estudos foi possível detectar algumas mudanças. Além disso, conforme esperávamos, os efeitos negativos nas comunidades biológicas parecem ser temporários. No geral, cinco ou seis anos após a exploração foi suficiente para que as estimativas ecológicas se tornassem similares àquelas encontradas em áreas íntegras não exploradas”, completou.
Segundo análise do pesquisador, apesar dos impactos observados, os resultados da pesquisa indicam que as comunidades biológicas podem se regenerar em poucos anos, sendo uma das condições necessárias para que uma atividade seja considerada sustentável.
“Nossos estudos sugeriram que a forma como a exploração madeireira foi realizada pode ser sustentável e, neste caso, pode se configurar como uma estratégia para o desenvolvimento da região Amazônica. No entanto, é importante ressaltar que, apesar de termos considerado os efeitos em diferentes estimativas da biodiversidade, estudos sobre diferentes aspectos ecológicos ainda são necessários”, frisou o pesquisador, observando que, devido aos impactos existentes, essas áreas manejadas não devem substituir o papel de áreas legalmente protegidas, como as Unidades de Conservação da Natureza de Proteção Integral e as Áreas de Preservação Permanente.
O biólogo acredita que, apesar do manejo florestal sustentável levar em seu nome o conceito atrelado ao de desenvolvimento sustentável, o conhecimento acerca dos efeitos do corte seletivo de impacto reduzido em diversos aspectos da biodiversidade ainda são incipientes, e deixa claro que o objetivo do estudo foi mensurar seus efeitos em alguns desses aspectos, principalmente em comunidades biológicas que participam de processos ecossistêmicos importantes para a regeneração florestal, como na dispersão de sementes, nas regulações de populações de herbívoros e na decomposição de material orgânico.
“Logo, as próprias árvores que produzem o recurso natural de interesse para a atividade madeireira dependem desses outros organismos para se regenerar e, consequentemente, a atividade apenas pode ser considerada sustentável se os impactos nesses organismos forem limitados”, destacou.
APOIO
O coordenador da pesquisa reconhece o papel importante desempenhado pelas Fundações de Amparo à Pesquisa e, no caso do estado do Amazonas, a atuação da Fapeam.
“Sem a atuação da Fapeam não seria possível fazer uma análise criteriosa dos efeitos em estimativas de biodiversidade que não são usualmente abordadas em estudos técnicos realizados pelas empresas que desenvolvem as atividades em questão. Com o apoio da Fapeam é possível dar publicidade aos resultados alcançados no estudo, permitindo que as informações sejam disponibilizadas e potencialmente utilizadas por gestores e tomadores de decisão no planejamento do desenvolvimento de atividades no estado do Amazonas”, concluiu.
SOBRE O PROGRAMA
Os recursos do Programa de Apoio à Fixação de Doutores no Amazonas (Fixam) são destinados a doutores, sem vínculo empregatício, para o desenvolvimento de pesquisas em instituições de ensino superior e/ou pesquisa, institutos de pesquisa, empresas públicas e privadas de pesquisa e desenvolvimento do interior do Estado.
Não se pode subestimar simplesmente como ridículas as ameaças do lobista Gunther Fehlinger, um propagandista da expansão da OTAN, para que essa aliança militar promova o “desmantelamento” do Brasil por causa de sua aproximação com a Rússia, no âmbito do BRICS. De fato, a OTAN não teve escrúpulo em virtualmente destruir países como Iugoslávia, Checoslováquia e Líbia por motivos geopolíticos. Isso, para os belicistas da organização, justifica o ataque também ao Brasil.
O nó da questão é Rússia e China. A OTAN – ou os EUA, que a controlam – veem o BRICS, agora com mais seis integrantes, como ameaça definitiva a seu domínio geopolítico absoluto do mundo. O objetivo de Fehlinger é, pois, liquidar com o BRICS, com a desculpa de defender a “democracia” contra o que chama do “genocida” Vladimir Putin. Como destruir todos os Estados do BRICS, militarmente, seria uma guerra mundial catastrófica, ele propõe começar pelo Brasil, um lado mais fraco.
Sua ameaça só seria absurda se, internamente, o país não estivesse efetivamente dividido. Mas está. O bolsonarismo é ainda uma parte relevante do eleitorado, até o ponto de seus integrantes honrarem como heroicos e “patriotas” os atentados de 8 de janeiro, num dos Estados mais importantes da Federação. Não só isso. A prova cabal da vulnerabilidade brasileira ao “desmantelamento” geográfico foi o “desmantelamento” temporário da democracia por ocasião do golpe contra Dilma Roussef em 2016.
Depois da derrota vergonhosa no Afeganistão, os EUA haviam proclamado solenemente, através do primeiro discurso de Joe Biden na Assemblia Geral da ONU, em setembro de 2021, o compromisso com a diplomacia como meio de solução dos conflitos entre os estados. Pouco depois, porém, ele tomou a iniciativa de articular contra o resto do mundo um bloco de mais de 100 países ditos “democráticos”, discriminados por serem dirigidos por líderes ou regimes supostamente autoritários.
Começou aí a segunda Guerra Fria. O instrumento principal dela já não é mais o confronto direto através da intervenção armada dos EUA contra estados simpatizantes do bloco rival, mas o “desmantelamento” desses mediante sublevações internas instigadas de fora. No Brasil, após a criação do BRICS, tivemos, em 2014/2015, grandes manifestações manipuladas, e a derrubada de Dilma, além do lawfare da Lava Jato contra Lula. Só isso basta para dar conta de nossa vulnerabilidade.
Portanto, se corremos o risco de “desmantelamento”, não será por conta das bravatas de Fehlinger. Será em razão de inimigos internos de nossa autonomia política, instigados pelos que pretendem segurar de qualquer forma, do exterior, a hegemonia geopolítica dos EUA no mundo. Devem, sim, ser levados a sério. Principalmente porque não se trata de um episódio isolado na história da Humanidade. É uma corrente que se forma com força crescente no planeta, pela retomada geral do fascismo.
É muito provável que o povo politicamente primata norte-americana eleja de novo, como presidente, o neofascista e criminoso confesso, Donald Trump. Na Europa já há neofascistas no poder na Hungria e na Itália. Na Argentina ainda não sabemos para onde vai a política, mas as perspectivas são sombrias, depois da vitória de Rafael Milei nas primárias. Portanto, mesmo fora do poder formal, mas inspirado de fora, Bolsonaro terá aliados para unir neofascismo, separatismo gaúcho e “desmantelamento” do país.
Por vivermos tradicionalmente num país pacífico, pelo menos desde a Segunda Guerra, nos acostumamos a acompanhar os eventos mundiais como situações que não nos dizem respeito. Jogamos um jogo inteligente na Guerra Fria, nos equilibrando entre os blocos em conflito, e tirando algum proveito disso. Agora nos defrontamos com um quadro inteiramente novo. Há hegemonias em disputa. A geopolítica e a econômica. O lado ocidental não quer nos dar o privilégio da neutralidade.
Para avaliar a originalidade da situação atual, é suficiente considerar que até um pequeno país tradicionalmente neutro durante a primeira Guerra Fria, como a Finlândia, foi forçado a tomar partido a seu favor pelos EUA, diante da guerra na Ucrânia. A firme posição brasileira de condenar a guerra, mas buscar a paz negociada, não é tolerada, na medida em que o ocidente exige a rendição incondicional da Rússia. Mesmo Kiev, em 2022, teve que rasgar um compromisso de paz com Moscou forçada pelos EUA.
É uma ilusão imaginar que os EUA desistirão, sem luta, de insistir em manter sua posição hegemônica nos países em que ainda a detêm. O Brasil é o alvo mais atrativo. Pertencente ao lado ocidental pela geografia, e culturalmente ligado a ele pela História, o país é visto por Washington como um vassalo a ser manietado. Por isso o Sul Global não foi levado muito a sério quando o BRICS foi criado, tendo em vista as diferenças fundamentais, em vários aspectos, entre o Brasil e seus integrantes orientais.
Contudo, a conferência de Johanesburgo mostrou que há mais interesses comuns entre os BRICS do que supunham os seus detratores. Com a expansão do bloco, ele se tornou quase metade do PIB mundial e o maior produtor de petróleo, de gás e de alimentos. É natural que figuras como Fehlinger vocalizem o desespero da Europa em sua posição de fraqueza relativa. O pior conselheiro do desespero é a temeridade. Daí que a ameaça estapafúrdia de “desmantelamento” do país deve ser levada a sério
Projeto une centenas de pesquisadores em esforço para compreender melhor a complexidade da vida na floresta amazônica - em todas as alturas.
Com informações do Jornal da USP
Maior parte da vida na floresta amazônica ainda está por ser conhecida. Foto: Andre Deak via Wikimedia Commons
Quando alguém derruba uma área da Amazônia, seja usando o fogo ou passando o "correntão" – técnica em que uma corrente é arrastada por dois tratores potentes – quantas espécies estão sendo impactadas? Ninguém ainda é capaz de responder a essa pergunta—basicamente, porque nenhum projeto ainda conseguiu contar quantos insetos diferentes vivem ali, ou pelo menos fez uma estimativa mais realista a respeito.
Munido de diferentes técnicas, coletando do solo às copas das árvores mais altas, e com um laboratório para sequenciar DNA sendo montado, um grupo grande de pesquisadores se propôs a cumprir essa tarefa. De fato, falamos cada vez mais de biodiversidade, mas qual o real tamanho dela? Para os insetos, que têm a maior diversidade entre todos os animais do planeta, há estimativas para um grupo ou outro, e às vezes essa estimativa do número de espécies em florestas tropicais mistura espécies que sequer vivem no mesmo lugar.
"Mesmo para outras partes do mundo, ninguém nunca conseguiu fazer esse cálculo, há apenas inferências, construídas com base em algumas premissas que mais tarde percebemos estarem erradas",
justifica o biólogo da USP Dalton de Souza Amorim, líder da empreitada que acaba de começar.
O "correntão" é usado para desmatar. Foto: Mayke Toscano/Gabinete de Comunicação do Mato Grosso
Ele menciona uma pesquisa feita em uma floresta tropical na Costa Rica que, coletando apenas no nível do solo, projetou uma diversidade de moscas de 8 mil espécies em dois hectares. Acontece que, em se tratando de insetos, as coletas ao nível do solo contam só uma parte da história. "Um estudo que já fizemos coletando em uma torre na Amazônia mostrou que 60% da variedade da fauna na floresta não ocorria no nível do solo".
Então, em uma conta rápida, naquela floresta poderia haver pelo menos 20 mil espécies só de moscas e mosquitos, e é possível que haja entre 50 e 100 mil espécies, incluindo todos os grupos de insetos – o que corresponde a milhões e milhões de indivíduos ocorrendo numa área. "É um número impressionante, importante tanto para a literatura científica quanto para que as pessoas tenham uma compreensão mais exata da dimensão da biodiversidade", explica Amorim, que é professor do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP.
Área de abrangência do projeto. Imagem: Cedida pelos pesquisadores
Uma outra questão que o projeto pretende responder é justamente qual a porcentagem dos insetos que são especializados em copas.
"Se coletamos bastante no nível do solo, quanto da fauna real da Amazônia estamos deixando de lado? Entender a especialização de insetos na copa também é essencial do ponto de vista da compreensão global da fauna. Será que retirar as árvores grandes, deixando as menores, de fato preserva a floresta? O quanto estamos perdendo?",
questiona Amorim.
As perguntas do projeto se expandem para além dos números. "Os insetos existem há 400 milhões de anos em todos os tipos de lugares e com diferentes formas de viver – desde parasitas a grupos com larvas aquáticas, a polinizadores, passando pelos que predam outros insetos ou organismos. Ao identificar todo o material, será possível ter uma ideia muito precisa da estrutura vertical da floresta, ou seja, não só números e nomes, mas com a biologia das espécies e qual a composição de cada grupo nos diferentes extratos da floresta", explica o pesquisador.
De maneira semelhante, os conhecimentos levantados vão permitir compreender a sazonalidade das espécies de insetos naquele bioma, isto é, como elas variam ao longo do ano. "Quais espécies aumentam sua população na estação seca? Quais as que só aparecem quando há chuva? As coletas serão feitas nos diferentes meses do ano e, com o acúmulo de informação, podemos começar a entender a complexidade da floresta".
Também está nos planos dos pesquisadores fazer uma comparação da composição da biodiversidade em diferentes partes da Amazônia—ou interflúvios, áreas da floresta separadas por grandes rios. A ideia é saber o quanto a fauna de insetos muda quando se atravessa, por exemplo, de uma margem do Rio Negro para a outra. Para isso, serão feitas coletas pelo menos em três lugares: na região de Manaus; a oeste do Rio Negro; e ao sul do Rio Amazonas. Esses dados estão sendo reunidos por um "projeto-irmão" cobrindo outras partes da Amazônia, em um novo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) que vai estudar a biodiversidade entre os grandes divisores de água na Amazônia.
Mãos na massa
Torre na reserva ZF2. Foto: Craig Cutler
Construída na década de 1980 na Amazônia, a torre da Reserva ZF2, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, tem sido aproveitada tanto para pesquisas em meteorologia quanto para estudos de biodiversidade. Sua estrutura já foi usada para coletar insetos, mas não de uma forma tão sistematizada, como explica o pesquisador.
"É muito difícil trabalhar com um volume tão grande de espécies, é preciso ter um grupo enorme de pesquisadores envolvidos, com técnicas apuradas. Um diferencial do nosso projeto é que vamos sequenciar o DNA de cerca de 320 mil indivíduos para, com isso, ter dados concretos para essas inferências. Em alguns outros projetos em outras partes do mundo, isso foi feito apenas para insetos coletados no nível do solo ou só para amostras mais pontuais de insetos na copa das árvores. Essa é a primeira vez que a gente vai ter o sequenciamento com uma amostra tão grande, com coletas tanto na copa das árvores quanto no nível do solo", enfatiza.
As amostras serão recolhidas em diferentes alturas durante 14 meses. Além de armadilhas de interceptação de voo na torre e fora dela, serão usados outros métodos de coleta. "Tem insetos que vivem naqueles 'copinhos' que se formam no meio das bromélias e acumulam água de chuva. Esses insetos não caem nas armadilhas, daí a gente precisa subir 25 metros para coletá-los na copa das árvores. Alguns vivem no meio das folhas acumuladas no solo, outros vivem nos igarapés. Então é necessário utilizar muitas técnicas adicionais para complementar as coletas na torre", detalha o pesquisador.
No laboratório de biologia molecular será feito o sequenciamento genético dos insetos coletados. "Conforme o material for sendo sequenciado, separamos as espécies e encaminhamos para os especialistas. Besouros vão para o coordenador de besouros e sua equipe; moscas para o coordenador de moscas, que distribui para sua rede, e assim por diante. Existe um processo de colocar nomes nos vários grupos, e aí a informação volta para ser analisada conjuntamente".
Lidar com um material desta dimensão exige não só especialistas em diferentes famílias e gêneros, mas de vários ramos da biologia – como taxonomia, ecologia, sistemática molecular, bioinformática, biologia evolutiva. "Temos 39 membros nucleares no projeto, cada um deles com sua rede de contatos, entre pesquisadores com mais experiência e estudantes, podendo chegar a mais de 400 pessoas envolvidas no total, além de colaboradores estrangeiros", diz Dalton Amorim. Ele prevê que todo este esforço resulte em muitos artigos científicos, desde trabalhos com análises amplas de dados a artigos de grupos particulares de insetos.
'Biodiversidade de insetos em uma floresta tropical amazônica – Riqueza de espécies, estrutura vertical e turnover faunístico' é um projeto temático apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) que tem duração prevista até 2028. Além de Dalton de Souza Amorim (FFCLRP/USP), formam a equipe nuclear José Albertino Rafael (INPA), Tatiana Torres (IB/USP), Marco A.T. Marinho (UFPel), Diego A. Fachin (FFCLRP/USP), Daniel D.D. Carmo (FFCLRP/USP), Rudolf Meier (Museum für Naturkunde Berlin), Darren Yeo (National Park Board, Singapura), Brian V. Brown (Los Angeles County Natural History Museum) e Eric Wood (UC-Los Angeles).
*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal da USP, com texto escrito por Luiza Caires, sob supervisão de Moisés Dorado.