A prática regular de musculação não traz apenas o fortalecimento, mas também várias vantagens para a saúde do organismo
Muita gente vê a musculação como uma atividade destinada a fins estéticos, usada para ganhar músculos e definição. Porém, estudos ao longo dos anos mostraram que os benefícios dessa atividade para a saúde vão muito além disso.
Primeiramente, vale destacar que mesmo o fortalecimento dos músculos não é apenas uma questão estética. Com o passar do tempo, eles também envelhecem e, assim, o corpo tende a perder força e massa muscular, tornando-se mais frágil e suscetível a doenças e lesões.
“A prática regular de musculação permite o fortalecimento da musculatura, garantindo músculos mais resistentes, preparados para as atividades do dia a dia e menos propensos a lesões”, explica Monica Marques, sócia e diretora técnica da Cia Athletica.
A atividade é recomendada inclusive para pessoas acima dos 50 anos, justamente por essa ser a fase na qual os músculos mais começam a enfraquecer. E não é só isso! Confira quatro outros benefícios da musculação para a saúde:
Isso porque a modalidade ajuda a acelerar o metabolismo, o que é ótimo para controlar e prevenir a pressão arterial, diabetes e colesterol. Fazer musculação três vezes por semana pode contribuir para a redução da pressão arterial, segundo estudo realizado por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e publicado na revista Scientific Reports.
Historiadores revelam que foi durante a construção do maior patrimônio histórico da cidade, a Estrada de Ferro Madeira Mamoré, que a festividade começou na capital rondoniense.
Com informações do G1 Rondônia
O Baile Municipal abre alas para o período de folia mais esperado por muitos moradores de Porto Velho: o Carnaval. Historiadores revelam que foi durante a construção do maior patrimônio histórico da cidade, a Estrada de Ferro Madeira Mamoré (EFMM), que a festividade começou na capital rondoniense.
Foi a partir do movimento dos trabalhadores, com o 'Desfile de Mascarados', que festividade começou e evoluiu ao longo do tempo para os atuais e tradicionais blocos de rua. Este ano, mais de 20 blocos devem desfilar pelas ruas da capital, do dia 2 ao dia 17 de fevereiro.
História do Carnaval em Porto Velho. Foto: Rita Vieira/Acervo pessoal
De acordo com a pesquisadora e historiadora Rita Vieira, as primeiras manifestações carnavalescas surgiram em Porto Velho durante a construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré (EFMM), entre 1900 e 1912. Naquela época, a cidade era dividida entre: trabalhadores (mão de obra) e elite (engenheiros, médicos e empresários).
As celebrações passaram a ser organizadas por essas pequenas populações consideradas 'elitistas', em locais como o Clube Internacional (atualmente conhecido como 'Ferroviário'), e em vários outros "bordeis".
Os trabalhadores, ao observar as festas promovidas pela 'elite', sentiram o interesse de festejar também. A partir disso, surgiram as primeiras manifestações populares nas ruas, nas quais as pessoas se vestiam com cores vibrantes, fantasias e máscaras nos desfiles carnavalescos.
De acordo com o professor e historiador da Universidade Federal de Rondônia (Unir), Marco Teixeira, foi durante a ditadura Vargas, em 1930, que as práticas carnavalescas, vistas como 'imorais' em todo o país, passaram a ser 'disciplinadas'. "Foi inevitável que, após a ditadura, o Carnaval ganhasse novamente fortes contornos populares e de liberação corporal e mental', explica.
Após o período da ditadura, o Carnaval popular, como o 'Bloco de Mascarados', voltaram a tomar conta das ruas. Os bailes de salão, organizados pela elite, readquiriram suas características originais e surgiram vários outros clubes na cidade, como o 'Ipiranga' e o 'Garfo de Ouro'.
Foto: Rita Vieira/Acervo pessoal
Escolas de samba e os 'blocos sujos'
Influenciada pelo estilo carioca, surgiu em Porto Velho, em 1958, a escola de samba Grêmio Recreativo 'Os Diplomatas do Samba', que representava funcionários públicos e ferroviários.
Na mesma época, as rodas de samba e danças de terreiro também se tornaram comum nas periferias da cidade, que se formavam nos arredores dos bairros planejados da capital.
Segundo Marco, nesses bairros populares, os 'Blocos Sujos' e outros grupos começaram a organizar cortejos pela cidade. O primeiro registro é do bloco 'O Triângulo Não Morreu'. Em seguida, surgiram outros, como o 'Bloco da Cobra', no bairro Mocambo.
Nesse período, as figuras marcantes do carnaval eram a Dona Labibi Bartolo, Bola Sete (Eliezer Santos) - fundador do bloco 'Deixa Falar', que evoluiu para a primeira escola de samba exclusivamente masculina da cidade.
"Pouco tempo depois, a força dos Diplomatas do Samba levou à união da escola 'Deixa Falar' e do bloco 'Triângulo Não Morreu' à escola de samba", explica o historiador.
Foto: Livro 'História do Carnaval em Porto Velho'
Competições das escolas de samba
Com as cores vermelha e branca, os Diplomatas do Samba dominaram todos os títulos do carnaval de rua de Porto Velho. A hegemonia foi desde a sua fundação até 1970, quando surgiu uma escola 'rival', explicam os historiadores.
Em 1964, após o desfile da Diplomatas, moradores do bairro Caiari formaram a escola 'Os Pobres do Caiari', satirizando suas condições financeiras.
Marco Teixeira explica que esse evento e o surgimento de outras escolas, marcou o ápice dos desfiles de samba em Porto Velho, entre o final dos anos 60 e o início dos anos 90.
As competições entre as escolas passaram a ocorrer em diferentes avenidas da cidade, após o período de 7 de setembro.
Em 1971, surgiu também um novo 'bloco de sujos', formado por funcionários da antiga usina de asfalto localizada no bairro da Embratel, que decidiram realizar um desfile improvisado após concluírem o recapeamento de uma avenida.
Considerados pelo público do carnaval como sucesso, decidiram continuar o desfile por anos seguintes, até oficializarem a criação da entidade com o nome de 'Escola de Samba Asfaltão', em homenagem ao piche de asfalto em que trabalhavam no dia em que tudo começou.
Foto: Jaíne Quele Cruz/Rede Amazônica
'Na brincadeira entra quem quiser'
De acordo com o professor, a decadência do Carnaval de rua teve início nos anos 90, com o surgimento de eventos pagos, como o Carnaval na Praça. A insegurança gerou a busca por blocos mantidos por cordas de isolamento e com mais seguranças.
"Apesar desse declínio, a Banda do Vai Quem Quer, fundada em 1981, manteve-se como um evento de rua acessível a todas as classes sociais, desfilando nos sábados de carnaval até hoje", explica.
Em 1981, um grupo de amigos boêmios e apaixonados pela cultura discutia os problemas dos carnavais na capital. Assim, nasceu a 'Banda do Vai Quem Quer'. Entre os amigos, estava Manoel Mendonça, o Manelão, que ficou conhecido como o "General da Banda".
Segundo Silvio Santos, um dos fundadores do bloco carnavalesco, a Banda surge como uma espécie de protesto sob inspiração de um bloco carioca. A ideia deu tão certo que a Banda, hoje, é patrimônio cultural do estado.
Além disso, outros blocos surgiram para desfilar em dias específicos na semana carnavalescas e animar o período de festividades, como o 'Galo da Meia-Noite' do bairro do Caíari e 'Pirarucu do Madeira' dos bairros Arigolândia e o Caíari.
Conhecido pelas cores, os bonecos gigantes, fantasias e ausência de cordas e abadás, em 2023, o bloco 'Pirarucu do Madeira' se tornou Patrimônio Cultural de Porto Velho.
Um prato da culinária indígena simples e característico da Amazônia é o peixe assado na folha de bananeira. Ele é assado e comido na própria folha, sem o uso de talheres. Peixe, sal e limão compõem a receita do 'peixe moqueado' ou assado, que, segundo o engenheiro da etnia Munduruku, Ismael Munduruku, ajuda no rejuvenescimento.
"Nossa alimentação tem um grande significado para nós. Ela representa nossa forma de viver, e de como queremos nos apresentar aos demais, diz muito sobre a nossa cultura. O que comemos e como preparamos representa quem somos e o nosso modo de vida", explicou.
Aprenda:
Peixe é assado e servido na folha de bananeira. Foto: Rebeca Beatriz/Acervo G1 Amazonas
INGREDIENTES
2 kg de peixe da sua preferência (não recomendado peixes grandes, como pirarucu e tambaqui) 6 limões 3 colheres (sopa) de óleo 2 cebolas 2 dentes de alho amassados 1 e meia xícara (chá) de farinha de mandioca crua 1 folha de bananeira grande (pode substituir por papel alumínio)
PREPARO
Limpe o peixe e depois deixe de molho no sal e no limão por cerca de 40 minutos. Em uma panela, aqueça uma colher (sopa) de óleo e refogue a cebola e o alho.
Junte a farinha de mandioca e mexa até ficar levemente dourado. Recheie o peixe com a farofa.
Lave bem a folha de bananeira e unte-a com o óleo restante. Envolva o peixe na folha de bananeira, coloque-o numa forma e leve ao forno médio (180ºC), preaquecido, por cerca de 60 minutos. Retire do forno e sirva a seguir.
Nossas ações geram impactos que podem ser irreversíveis e, por vezes, é necessário um período de cerca de 100 anos para o Capital Natural se recuperar - dependendo do dano.
No coração do nosso planeta, resplandece a majestosa Amazônia, uma riqueza natural inestimável que transcende fronteiras e instiga a imaginação daqueles que não a conhecem e, tampouco, seus desafios contemporâneos.
Ao olhar para a Amazônia, é impossível ignorar sua importância econômica que desempenha um papel vital no equilíbrio global, fornecendo serviços ecossistêmicos que impactam diretamente setores econômicos fundamentais. A biodiversidade amazônica é uma fonte inestimável de recursos para a vida neste planeta.
Reprodução | Emanuel Pires / Tiago Corrêa/UGPE
Para além do aspecto econômico, devemos reconhecer o potencial do Capital Natural da Amazônia. Ele refere-se ao estoque de recursos naturais, ecossistemas e serviços ambientais que contribuem para o bem-estar das pessoas e do planeta - incluindo recursos como ar, água, solo, biodiversidade e ecossistemas, que fornecem diversos bens e serviços necessários para a sobrevivência humana e atividades econômicas.
A Amazônia enfrenta ameaças significativas causadas pelos interesses privados de grandes empresários que buscam explorar a região para ganhos imediatos e soberania de mercado. Contudo, a busca por lucros muitas vezes resulta em práticas insustentáveis, desmatamento desenfreado e desrespeito aos direitos das comunidades locais.
O Capital Natural desempenha um papel crucial na sustentabilidade e na economia porque é dele que vêm os recursos para a produção de alimentos e de bens de consumo, a regulação do clima, a água e a manutenção da biodiversidade que possibilita a vida no planeta.
Infelizmente, as nossas ações geram impactos que podem ser irreversíveis. Por isso a importância de desenvolver ações de sustentabilidade efetivas e assertivas, pois o Capital Natural tem um período mínimo de 100 anos para se recuperar (dependendo do dano).
Capital Natural versus Capital Manufaturado
Ao longo da última década, testemunhamos uma explosão de ações e projetos de inúmeras organizações em resposta às boas práticas em consonância aos ODS, ao ESG, à sustentabilidade e tantas outras narrativas.
Entretanto, você observou que após um determinado período, a grande maioria desses projetos caíram na obscuridade? Mas, por quê?
Sinceramente, motivos não faltam para justificar o fiasco apresentado por diversas organizações - sejam elas locais, sejam elas nacionais e/ou multinacionais. Ênfase em resultados financeiros de curto prazo, greenwashing, busca por emissão de debêntures "verdes", desafios econômicos, regulamentação insuficiente, pressão de acionistas, foco em setores tradicionais… são só alguns dos fiascos que temos vivenciado nas últimas décadas.
Essas organizações são as que praticam a sustentabilidade "fraca" - e uma das principais razões está na execução de projetos e de ações de ESG ou sustentabilidade que se baseiam na suposição de que o Capital Manufaturado (bens materiais e ativos fixos necessários para a produção e o Capital Natural, o estoque de materiais biológicos e abióticos) podem ser substituídos um pelo outro, ou seja, são projetos sem fundamentos e estão mais ligados ao "boom ESG" do que realmente embasados em uma matriz de materialidade bem elaborada.
Na contramão dessa corrente, estão os projetos fundamentados no conceito de sustentabilidade "forte", que reconhece que o Capital Manufaturado é completamente derivado do natural. Sendo assim, uma vez esgotados os recursos naturais, muitas formas de Capital Manufaturado deixarão de existir. A extinção de uma espécie animal, como o caranguejo-ferradura por exemplo, seria irreversível, pois o sangue dessa espécie é uma substância valiosa na indústria farmacêutica.
Quantas soluções para problemas reais estão na floresta? E se pelos nossos hábitos de consumo desenfreados gerarmos impactos no ecossistema de uma espécie diminuta de anfíbio que ainda não foi descoberta, mas que tem o potencial de erradicar o câncer e transformá-lo numa simples gripe?
Seria magnífico!
Mas, primeiro, precisamos começar a fazer o básico. Por exemplo, temos a maior bacia hidrográfica do mundo e um potencial extraordinário para piscicultura, mas não temos uma cadeia produtiva completa. Temos muitos recursos financeiros alocados em institutos de pesquisas que direcionam para elos específicos da cadeia… mas do que adianta desenvolver a capacidade de reprodução e crescimento, se não existem frigoríficos, fábricas de gelo e ração, infraestrutura logística, graxaria, curtume e até mesmo pesquisas acadêmicas capazes de contribuir de forma efetiva com o desenvolvimento da nossa região?
Quantas outras cadeias produtivas poderiam ser exaltadas, gerando desenvolvimento para toda a Amazônia? Sabemos que os departamentos de marketing das mais diversas organizações em todo o mundo compreendem o valor de rotular seus produtos e serviços como "sustentáveis" - às vezes com poucas evidências.
Para muitos, esta palavra perdeu o significado após suportar o peso de uma enxurrada de usos fantasiosos e enganosos - desde apelos para ações individuais ineficazes, até campanhas maciças de marketing corporativo. Esses tipos de usos são frequentemente chamados de "lavagem verde" (greenwashing).
No entanto, o conceito de "sustentabilidade" mantém um grande significado e continua sendo um princípio essencial que orienta as tendências emergentes em economia, ciência política e outras ciências sociais e naturais.
Um grande case de sucesso em nossa região é a Warabu Chocolate, que desenvolveu toda a cadeia produtiva: capacitando, certificando e levando desenvolvimento para comunidades originárias e ribeirinhas, ao mesmo tempo que respeitam e valorizam o Capital Natural.
O nosso poder de escolha e compra pode incentivar projetos como o da Warabu… ou podemos continuar alimentando indústrias que produzem projetos "para inglês ver", a fim obterem créditos, com o objetivo de atingir resultados financeiros de curto prazo e enriquecer seus acionistas.
Reflita e observe como as nossas ações individuais contribuem de forma positiva ou negativa para o todo!
Vitor Raposo é Humanista e Empreendedor. Fundador da Hayashi Consultoria, Sócio-Diretor da TravelCorp e da Sala VIP Harmony Lounge.
Atua como empreendedor, mentor e consultor. Foi gestor de grandes organizações no Brasil e no exterior. Articulista sobre Sociedade 5.0, Novos Negócios, Revolução Humana Individual, Sustentabilidade e ESG no Portal Amazônia. Idealizador e apresentador do Ser Humano Podcast, um programa sobre a essência das pessoas de valor e o impacto de ser genuíno.
Idealizador e realizador do Amazonia Forest Summit – fórum para debater as oportunidades para a Amazônia com diversidade e um olhar para o futuro da região com foco na inovação, na sustentabilidade, nos recursos humanos, no ESG, nos negócios, na tecnologia e nas tendências.
Doutor em Administração e Mestre em Ciências da Educação para a Sociedade 5.0 pela Facultad Interamericana de Ciências Sociales – FICS; Foresight Practitioner; Especialista em Sustentabilidade pelo MIT; em Inovação e Negócios pela Nova Business School, em Gerenciamento de Projetos pela FGV e em Gestão Estratégica de Negócios pela UCB.
Paralelamente, atua como voluntário e Presidente no Capítulo Amazônia do Project Management Institute (PMI-AM), foi por 14 anos como Diretor de Programas e Projetos Ambientais do Instituto Soka Amazonia. Recentemente, foi indicado e conduzido à função de Presidente do Conselho Fiscal da Fundação Opção Verde.
“Isso tudo que cês tão vendo é meu”, aponta o latifundiário Antônio La Selva, vivido por Tony Ramos da novela “Terra e Paixão”. Na cena, o vilão caminha em meio a uma plantação de soja e mostra, orgulhoso, seu império agropecuário. O cenário é a Fazenda Annalu, no município de Deodápolis (MS) — rebatizada na novela como Fazenda La Selva. Foi ali onde a equipe da Rede Globo passou o mês de fevereiro de 2023 trabalhando nas gravações.
Lelinho posa em jatinho junto ao avô, Nilton Rocha Filho, autuado por desmatamento em 2000. (Foto: Reprodução/Instagram)
Usando chapéu, casaco de couro e botas, Tony Ramos encarna um fazendeiro caricato, de fala agressiva e gestos brutos. Na vida real, os donos do imóvel têm fala mansa e pinta de empresários, mas compartilham com La Selva a fome por terras e o histórico de violações ambientais em série, que não se limitam ao imóvel onde foi gravada a novela.
Registrada em nome de Aurélio Rolim Rocha, o Lelinho, a Fazenda Annalu é a joia da coroa entre os mais de 50 mil hectares controlados pelo grupo Valor Commodities, uma das maiores empresas de plantio e comercialização de soja e milho do Mato Grosso do Sul. A soma equivale a mais da metade da área total de Deodápolis, onde fica a propriedade. O grupo possui imóveis rurais em outros cinco municípios sul-mato-grossenses: Nioaque, Porto Murtinho, Caracol, Corumbá e Douradina.
Na primeira reportagem da série, De Olho nos Ruralistas mostrou o histórico de desmatamento em Reserva Legal e degradação de Área de Preservação Permanente (APP) na Fazenda Annalu, constatado em 2019 por uma vistoria realizada pelo Ministério Público do Mato Grosso do Sul (MPMS), fruto de um inquérito civil aberto no ano anterior: “Fazenda de “Terra e Paixão” tem desmatamento de reserva e despejo ilegal de agrotóxicos“.
Irregularidades similares foram constatadas em outras propriedades do grupo. A partir do cruzamento de dados dos sistemas de monitoramento por satélite Prodes Cerrado e Prodes Mata Atlântica, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), com as bases georreferenciadas do Sistema de Gestão Fundiária (Sigef), do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), o núcleo de pesquisas do observatório identificou pelo menos 3.808,69 hectares de desmatamento em 24 de 45 fazendas identificadas. O número equivale a nove vezes o tamanho do Parque da Cidade, em Brasília (DF), o maior parque urbano do mundo.
FAZENDA DO COMPLEXO ANNALU FOI ALVO DE AÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO
A violação mais antiga data de 2000, quando Nilton Rocha Filho, avô de Lelinho, o atual proprietário da Fazenda Annalu, recebeu três autuações do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) por desmatar 194 hectares de uma reserva florestal no município de Dourados (MS). Dos R$ 364 mil em multas aplicados pelo órgão, o fazendeiro quitou R$ 160 mil. A principal autuação, de R$ 200 mil, foi baixada após deferimento da defesa. A infração menor, de R$ 4 mil, foi cancelada após análise jurídica.
Imagem de satélite mostra a colocação de logomarca da Annalu em galpão dentro da Fazenda Prateada, adquirida em 2022. (Imagem: Google Earth Pro)
Já falecido, Nilton foi proprietário da fazenda de “Terra e Paixão” entre 2003 e 2005, ano em que vendeu o imóvel para a distribuidora de grãos Granol. Onze anos depois, em 2016, Lelinho recomprou a propriedade junto ao primo Nilton Fernando Rocha Filho. São eles que assinam o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) proposto em 2022 pelo MPMS para recuperação dos passivos ambientais da Annalu.
Entre a assinatura do TAC e o cumprimento das obrigações, Lelinho e Nilton Fernando Rocha Filho adquiriram a Fazenda Prateada, de 633 hectares, localizada ao sul da Annalu e a anexaram ao complexo. Imagens aéreas da propriedade, datadas de 2023, capturaram a customização de galpões da fazenda anexada, onde é possível ler o nome Annalu.
A exemplo da fazenda que serviu de inspiração para a trama global, a Fazenda Prateada foi alvo de uma Ação Civil Pública movida pelo MPMS, por conta dos danos ambientais gerados pela instalação de drenos irregulares. A antiga proprietária, a Agropecuária Riber, firmou um TAC se comprometendo a realizar a recuperação ambiental das Áreas de Preservação Permanentes (APP) dos córregos Mutuca e Iretã, o que foi cumprido por Lelinho ainda em 2022.
No caso da Fazenda Annalu, foram instalados 54 drenos para abastecer o megaprojeto de piscicultura do grupo Valor Commodities. Embora a obra tenha sido realizada sem licenciamento, a criação de peixes prosseguiu durante três anos, até a emissão de uma licença de operação pelo Instituto do Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul (Imasul), em 2021. O caso foi detalhado na segunda reportagem da série: “Donos de fazenda de “Terra e Paixão” desviaram curso de rio e criaram peixes sem licenciamento“.
Mapa mostra a progressão do desmatamento nas fazendas que compõem o Complexo Annalu. (Cartografia: Eduardo Carlini/De Olho nos Ruralistas)
DO RIO DOURADOS AO RIO APA: IMPACTOS AMBIENTAIS SE MULTIPLICAM
Em 2015, Nilton Rocha Filho recebeu nova autuação do Ibama. Desta vez, o patriarca havia deixado de cumprir determinação do órgão ambiental que exigia medidas de controle para cessar a degradação ambiental na Fazenda Vaca Mocha, localizada no município de Caracol (MS), a 360 quilômetros de distância de Deodápolis, na região da Bodoquena, uma importante zona de transição ecológica entre o Cerrado e a Mata Atlântica.
Aeródromo privado na Fazenda Vaca Mocha, em Caracol (MS). (Foto: Divulgação/SinalizarMT)
De acordo com as imagens de satélite do Inpe consultadas pelo De Olho nos Ruralistas, a área degradada dentro do imóvel soma 1.862,74 hectares — mais da metade da área total, com 3.629,40 hectares. O número responde por 48,9% das manchas de desmatamento analisadas em imóveis da família Rocha. Pelo descumprimento das medidas, Nilton pagou ao Ibama uma multa de R$ 10 mil.
Em 2018, o fazendeiro foi implicado em um inquérito civil do MPMS, que apurava o dano ambiental causado às margens do Rio Apa, por não respeitar as APPs dos córregos intermitentes. O caso se assemelha à situação constatada na Fazenda Annalu naquele mesmo ano, com a construção irregular de benfeitorias no Rio Dourados.
A Fazenda Vaca Mocha é a sede da 3R Agropecuária, empresa registrada em nome de “três Rochas”, netos do patriarca por parte de seu filho Nilton Fernando Rocha. São eles: Anna Flávia Rocha, Felipe Guilherme Rocha e Nilton Fernando Rocha Filho, este último sócio de Lelinho na Annalu. A empresa faz parte do grupo Valor Commodities, que comercializa a produção das fazendas da família.
INFRAÇÕES SE ESPALHAM ATÉ A FRONTEIRA COM O PARAGUAI
As irregularidades ambientais se multiplicam. Em Dourados (MS), um inquérito civil foi instaurado pelo MPMS para apurar o desmatamento de “todas as áreas de preservação permanente e de Reserva Legal” da Fazenda Miya. Segundo a denúncia, o proprietário do imóvel seria Nilton Rocha Filho, mas foram citados como possíveis beneficiários do desmate o ex-governador Zeca do PT e o deputado estadual Zé Teixeira (PSDB).
Zeca é um tradicional ruralista do Mato Grosso do Sul, tendo sido denunciado pela Associação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) por sua atuação contra os Guarani Kaiowá e Terena. Foi durante sua gestão, entre 1999 e 2007, que foi deflagada a investigação do caso Campina Verde, envolvendo o grupo empresarial da família Rocha.
Zé Teixeira e Zeca do PT: relação com fazenda foi descartada pelo MPMS. (Foto: Alems)
Teixeira, por sua vez, é um dos 42 políticos identificados no relatório “Os Invasores: parlamentares e seus financiadores possuem fazendas sobrepostas a terras indígenas“, deste observatório, como proprietário de terras incidentes em áreas indígenas. No curso da investigação, nenhum documento comprovou a ligação dos políticos ao dano ambiental, tampouco ao imóvel citado.
Atualmente, a empresa SS Agronegócio, de um primo dos Rocha, Cássio Basalia Dias, é quem responde pela Fazenda Miya, renomeada como Pau D’Alho. O inquérito civil em andamento investiga o desmatamento de 29,58 hectares de vegetação em áreas de regeneração e de vegetação nativa primária de Mata Atlântica.
Apesar de não constar como proprietário da Fazenda Pau D’Alho, Nilton Fernando Rocha Filho, um dos donos da Fazenda Annalu, assinou como fiador e permutante o contrato de compra da fazenda em 2019, ao lado da SS Agronegócio. Um ano depois, em 2020, a propriedade foi alvo de infração e teve área embargada pelo Ibama, por destruir 9,20 hectares de fragmentos de vegetação secundária em estágio inicial de regeneração. As infrações estão em nome da esposa de Cássio, Alessandra Motta dos Santos Basalia Dias, sócia na SS Agronegócio.
Em nome dela, constam junto ao Ibama infrações pelo desmatamento de 76 hectares no Sítio Novo Oeste, em Caarapó, município vizinho de Dourados. Em Porto Murtinho, na fronteira com o Paraguai, Alessandra é responsável pelo desmatamento de 41,5 hectares da Fazenda Retiro da Conceição.
No mesmo município, a Fazenda Baía das Conchas, do primo Lelinho Rocha, proprietário da fazenda de “Terra e Paixão”, é alvo de uma investigação do MPMS, que apura o desmatamento de 256,62 hectares em área de Mata Atlântica. Segundo o laudo que identificou a destruição via imagens de satélite, o imóvel recebeu a Autorização Ambiental nº 1893/2021, referente a corte de árvores nativas isoladas, válida de 10 de setembro de 2021 a 10 de setembro de 2025. No entanto, parte do desmate ocorreu fora das áreas licenciadas.
VÍDEO DETALHA RELAÇÕES POLÍTICAS E ECONÔMICAS DO CLÃ
Apesar da longa lista de irregularidades identificadas na Fazenda Annalu, não foi pelos atos contra o ambiente que a família Rocha ficou conhecida na região de Dourados. Aurélio, que tem o mesmo nome do filho Lelinho, seu pai Nilton Rocha Filho e seu irmão Nilton Fernando Rocha foram presos em 2006 por sonegação fiscal de pelo menos R$ 79 milhões, durante a administração de Zeca do PT. Depois de doze anos de processo, somente um deles foi condenado, Aurélio.
Na época, o grupo familiar se chamava Campina Verde. Em fevereiro de 2020, no início da pandemia, a empresa passou a se chamar Valor Commodities e os acusados pelas fraudes deixaram de ser sócios para a entrada de Lelinho e de seu primo, Nilton Fernando Rocha Filho. O comando, no entanto, continuou nas mãos de Aurélio e Nilton Fernando.
Cássio Basalia Dias, dono da SS Agronegócio e primo dos Rocha, chegou a ser investigado durante o processo da Campina Verde, mas teve a punibilidade extinta por decisão da 3ª Vara Federal de Campo Grande.
As relações do clã são exploradas em vídeo publicado no canal do De Olho nos Ruralistas no YouTube, que relata a proximidade da família Rocha com figuras importantes da política nacional. Além das videorreportagens, o observatório produz documentários sobre questão agrária, como Elizabeth e SOS Maranhão, e mantém editorias fixas sobre História e sobre as ações da bancada ruralista no Congresso.