AtlasIntel: 80% dos moradores de favelas no Brasil e 87% no Rio aprovam chacina

Uma pesquisa da AtlasIntel divulgada nesta sexta (31) revelou que 8 em cada 10 moradores de favelas no Rio de Janeiro aprovam a megaoperação policial realizada nos complexos da Penha e do Alemão. A ação, considerada a mais letal da história do país, deixou 121 mortos, incluindo quatro policiais, e mobilizou cerca de 2.500 agentes das polícias Civil e Militar.
De acordo com o levantamento, 87,6% dos moradores de comunidades cariocas disseram aprovar a operação, 12,1% a desaprovaram e apenas 0,3% não souberam ou não quiseram responder.
Entre os demais cariocas, a aprovação foi de 55%, enquanto 40,5% desaprovaram a ação e 4,5% não responderam. A diferença de percepção evidencia a distância entre as experiências de quem vive nas favelas e o restante da população em relação à presença do Estado e ao enfrentamento da criminalidade.
Em âmbito nacional, o cenário se repete: 80,9% dos moradores de comunidades em todo o país aprovaram a megaoperação, contra 19,1% que a desaprovaram. Já entre os brasileiros que não vivem em favelas, o apoio caiu para 51,8%, enquanto a desaprovação chegou a 45,4%.

A operação, batizada de “Contenção”, teve como alvo o Comando Vermelho (CV), facção que domina o tráfico em parte das comunidades do Rio. O objetivo era cumprir cerca de 100 mandados de prisão, incluindo 30 contra líderes de outros estados, e desarticular a estrutura de comando da organização criminosa.
Durante a ação, houve confrontos intensos e relatos de cenas de guerra em diversas regiões do Rio. Segundo a Polícia Civil, 113 pessoas foram presas — entre elas, Thiago do Nascimento Mendes, o “Belão”, apontado como braço direito de Edgar Alves de Andrade, o “Doca”, principal líder do CV, que conseguiu escapar.
Foram apreendidas 118 armas, incluindo 91 fuzis, além de pistolas e artefatos explosivos. O governo do estado classificou a operação como “um sucesso”, enquanto entidades de direitos humanos e a ONU pedem investigações independentes para apurar possíveis execuções e excessos cometidos pelas forças de segurança.
Chacina: ONU acusa polícia do Rio de “limpeza social” e pede investigação a Lula

Relatores da Organização das Nações Unidas enviaram uma carta ao governo do presidente Lula expressando “grande preocupação” com a operação policial realizada nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro. O grupo pediu uma investigação “imediata, independente e minuciosa” para garantir a responsabilização dos envolvidos e a proteção de testemunhas, familiares e defensores de direitos humanos.
O documento afirma que as mortes registradas durante ações policiais no Brasil “são generalizadas e sistemáticas, funcionando como uma forma de limpeza social contra grupos marginalizados”. Os especialistas alertam que a violência policial atinge de forma desproporcional comunidades negras e periféricas e pode configurar “homicídios ilegais”.
Na carta, os representantes da ONU pedem que o Brasil adote medidas emergenciais, suspenda operações que resultem em uso excessivo da força e preserve provas que possam ser usadas em investigações futuras. “As autoridades devem garantir exames forenses independentes, em conformidade com as normas internacionais de direitos humanos”, diz o texto.
Os relatores também relataram denúncias de corpos encontrados com as mãos amarradas e ferimentos na nuca, além de invasões de domicílios sem mandado judicial, prisões arbitrárias e uso de helicópteros e drones para disparos. Segundo o grupo, esses elementos indicam um padrão de violência institucional.

Outra preocupação destacada foi a tentativa do governo do Rio de Janeiro de investigar familiares e moradores que ajudaram a recolher os corpos após os confrontos. “Estamos particularmente preocupados com as represálias contra as famílias e testemunhas. As autoridades devem garantir sua vida, segurança e integridade pessoal”, afirmaram.
Os especialistas reforçaram que o Brasil vem sendo alvo de críticas recorrentes por parte de organismos internacionais devido ao uso excessivo da força policial. “Este trágico acontecimento ressalta a necessidade urgente de o Brasil reformar suas políticas de segurança, que continuam a perpetuar um modelo de violência policial brutal e racializada”, diz a carta.
O documento é assinado por cinco relatores e membros de mecanismos de direitos humanos da ONU, entre eles Akua Kuenyehia, Tracie Keesee e Victor Rodriguez, do Mecanismo Internacional de Justiça Racial; Bina D’Costa, do Grupo de Trabalho sobre Pessoas Afrodescendentes; e K.P. Ashwini, relatora sobre Racismo e Discriminação Racial.
Arsenal do CV tinha fuzis desviados dos exércitos da Venezuela, Argentina, Peru e Brasil

