“O agro é pop, o agro é tech, o agro é tudo” Por Paulo Miranda
“O agro é pop, o agro é tech, o agro é tudo” Por Paulo Miranda

Quem lembra da campanha que dizia: “o agro é pop, o agro é tech, o agro é tudo.” A frase virou bordão nacional, e, de certo modo, profecia. Hoje, o agro é ainda mais tech do que a propaganda supunha. Só esqueceram de acrescentar um detalhe essencial à lista: o agro também é digital, e, por conta disso, tornou-se vulnerável à ataques cibernéticos.
Entre drones que mapeiam as produções, tratores que se guiam sozinhos e sensores que monitoram cada gota d’água no solo, o campo virou um grande sistema conectado. E quando a fazenda entra na Nuvem, entra também em uma nova fronteira de riscos. Por trás da produtividade recorde, há uma infraestrutura tecnológica que precisa ser tão protegida quanto os servidores de um Data Center. Porque, no Brasil de hoje, o agro é tudo, inclusive alvo.
O agronegócio brasileiro vive uma transformação profunda, e, ao contrário do que muitos imaginam, não é silenciosa: é ruidosa, luminosa e visível em cada hectare conectado. A agricultura 4.0 deixou de ser promessa e se tornou infraestrutura essencial. Tratores autônomos, drones que fazem mapeamento de precisão, sensores que monitoram o solo em tempo real, plataformas meteorológicas conectadas à nuvem e redes 5G que chegam onde antes só havia rádio são hoje a espinha dorsal da produção rural.
O campo, que já foi dominado pela força física e pelo empirismo, agora é movido a algoritmos. O solo produz mais quando a informação flui. No entanto, quanto mais digital é esse ecossistema, mais exposto ele se torna a riscos que antes não faziam parte do vocabulário rural.
O fato é duro, mas inescapável: o agro brasileiro depende da Nuvem tanto quanto depende da chuva. A produtividade, a logística e até as exportações passam por sistemas digitais que, se forem comprometidos, podem paralisar a cadeia inteira. Basta imaginar o impacto de um ataque ransomware que tornem inutilizáveis os dados que orientam uma colheitadeira inteligente ou que desconecte os sensores responsáveis por irrigação automatizada. Não estamos falando de cenários distantes.
Nos Estados Unidos e na Europa, cooperativas agrícolas já foram alvo de ataques que atrasaram as safras, interromperam entregas e geraram prejuízos milionários. Se isso ocorre em países com alto nível de maturidade digital, o que dizer do Brasil, que avançou rapidamente na conectividade rural, mas ainda não consolidou a segurança como prioridade estratégica?
A vulnerabilidade nasce de um descompasso histórico: enquanto o agro se digitalizou em ritmo acelerado, a mentalidade de proteção permaneceu analógica. Muitos produtores, cooperativas e fornecedores tratam máquinas conectadas como se fossem simples equipamentos mecânicos, quando, na prática, são computadores sobre rodas. A lógica da cibersegurança ainda não está integrada à operação agrícola como está, por exemplo, à operação bancária. Essa lacuna é perigosa.
O Brasil é o maior exportador mundial de commodities agrícolas, e qualquer interrupção significativa pode desencadear efeitos em cascata na economia global, pressionando preços, afetando estoques e comprometendo contratos internacionais. Quando falamos de proteger o agro digital, falamos de proteger a segurança alimentar do planeta.
É justamente por isso que o setor precisa de uma estratégia de cibersegurança adaptada à sua realidade, não um modelo importado do mercado urbano, mas uma abordagem desenhada para ambientes híbridos que combinam TI, IoT e infraestrutura operacional (OT). O campo opera sob uma lógica diferente: máquinas distribuídas por áreas remotas, conectividade intermitente, equipes pequenas e, muitas vezes, ausência de especialistas em segurança dedicados. A solução precisa considerar esse ecossistema descentralizado.
O modelo eficaz e eficiente para este cenário, que deve unificar monitoramento inteligente, resposta a incidentes e proteção de OT em um único centro de controle, parte dessa compreensão. Ele cria uma camada integrada de defesa, onde dados de telemetria, redes de sensores e sistemas corporativos conversam entre si, permitindo detecção rápida e ação coordenada.
Proteger o agro digital não é apenas blindar dados, é garantir continuidade operacional. É impedir que uma plantadeira pare no meio da safra por causa de um ataque remoto. É evitar que um invasor manipule indicadores de irrigação ou roube informações estratégicas sobre produtividade e logística. É proteger propriedade intelectual, genética de sementes, previsões de colheita e análises de mercado que movem bilhões. E, sobretudo, é preservar a confiança internacional no produto brasileiro, um capital construído ao longo de décadas. O mundo compra do Brasil porque confia na qualidade e na escala de produção. Não podemos permitir que falhas de segurança arranhem essa reputação.
O desafio está posto: o agro se modernizou, mas sua segurança precisa correr para alcançá-lo. A frase que ouvimos com frequência, “o campo se tornou digital, mas ainda se pensa na segurança de forma analógica”, resume o dilema com precisão. O futuro da agricultura depende de sensores, dados e automação. Mas nenhum desses elementos prospera se estiver vulnerável. Proteger o agro como protegemos bancos e hospitais não é exagero; é necessidade urgente. A tecnologia já abriu novas fronteiras produtivas.
Agora, cabe ao país proteger essas fronteiras com inteligência, planejamento e visão de longo prazo. Porque, no Brasil, a lavoura é digital, e a segurança precisa ser também.
Via Alexandre Ribeiro

