Ensino lúdico: a importância de transformar o aprendizado

Publicado em: 01/11/2025 20:50

Como brincadeiras podem ajudar a desenvolver diferentes aspectos da vida de crianças

O ato de brincar é natural para as crianças e faz parte do desenvolvimento humano. No ambiente educacional, brincadeiras aliadas ao ensino tornam o processo de aprendizagem mais envolvente e eficaz. De acordo com o site Edify Education, no contexto educacional, a ludicidade refere-se a utilização de elementos lúdicos como brincadeiras, jogos, atividades recreativas e desafios no processo de aprendizagem.

 

De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), estudos recentes revelam que os primeiros anos são os mais preciosos, pois, é nesse período que as sinapses cerebrais que definem as capacidades, habilidades e o potencial intelectual e social se formam com mais rapidez e consistência. Por meio de brincadeiras, as crianças reelaboram situações, enfrentam desafios, resolvem conflitos, desenvolvem o raciocínio e a criatividade.

 

a professora Andrea Serpa, do Departamento de Sociedade, Educação e Conhecimento da UFF e o professor e palestrante em Neurociência Pedagógica, André Codea, esclareceram os benefícios e como aplicar essas práticas na escola e em casa.

 

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André Codea: O lúdico é essencial porque ativa, de forma integrada, estruturas cerebrais relacionadas às redes de atenção, memória, controle executivo e recompensa.

 

Como a Ludicidade Pode Transformar o Aprendizado na Educação Infantil -  Blog Estude Sem Fronteiras

 

Quando brincamos, e especialmente quando a brincadeira é intencional, a novidade e o feedback imediato aumentam a liberação de neuromoduladores (como dopamina e norepinefrina), que facilitam a plasticidade sináptica, ou seja, a codificação e consolidação de memórias.

 

Junte-se a isso o fato de que o engajamento ativo e socialmente significativo típico do brincar recruta circuitos pré-frontais importantes relacionados às funções executivas cerebrais (como planejamento, controle inibitório e flexibilidade cognitiva), além de circuitos hipocampais (memória episódica e espacial) e estriatais (aprendizagem por reforço), construindo assim as bases sólidas para a aquisição da linguagem, funções executivas e autorregulação – competências que predizem bom desempenho acadêmico ao longo do processo de desenvolvimento.

 

Andrea Serpa: As atividades lúdicas – pedagógicas ou livres – ensinam a criança sobre si mesma, sobre o mundo e sobre as relações. Vigostky diz que todo jogo envolve: imitação, imaginação e regra.

 

A importância do lúdico no ensino fundamental e médio | Meer

 

Três aprendizados necessários a vida social: a criança imita os comportamentos dos adultos e isso permite que compreenda e elabore seu próprio grupo socio-cultural; fantasia produzindo narrativas e desenvolvendo criatividade; e por fim aprende que toda relação humana implica em combinados, em regras, ou seja, implica em ajustar seu comportamento, controlar suas emoções, aprender a interagir com o outro e lidar com as inevitáveis frustrações.

 

André Codea: Sempre há valores e contextos emocionais significativos embutidos nas brincadeiras. O faz?de?conta e os jogos cooperativos criam cenários de prática segura de empatia, perspectivas diferenciadas, negociação e solução de conflitos.

 

Esses contextos engajam redes sociais ligadas aos comportamentos (córtex pré-frontal medial, temporoparietal e circuitos de mentalização) e fortalecem circuitos de controle inibitório e monitoramento de erros (cíngulo anterior), essenciais para ética prática e autocontrole.

 

A explicitação de regras, papéis e consequências, aliadas à reflexão, promove internalização de valores e desenvolvimento de competências socioemocionais, que auxiliam na autorregulação, com base em experiências afetivamente significativas.

 

A importância do lúdico na aprendizagem - Blog do Portal Educação

 

Andrea Serpa: Como profissional da Educação a palavra “tradicional” é um conceito. Tradicional era o ensino Jesuíta: humanista, enciclopédico, catequista. No senso comum, abordagens tecnicistas (de cunho behaviorista) são também chamadas de “tradicionais”.

 

A principal diferença são séculos de pesquisas sobre a psicologia, sociologia e filosofia das infâncias. As abordagens tradicionais são de um tempo que se considerava as crianças uma folha em branco, uma caixa vazia onde iríamos depositar conteúdos para serem depois depositados em uma prova.

 

Hoje sabemos que crianças são sujeitos que pensam, constroem hipóteses sobre o mundo, fazem perguntas críticas, e sabemos que o Brincar é sua principal estratégia de aprendizado e desenvolvimento: brincando elaboram as informações sobre si e sobre o mundo.

 

A abordagem pedagógica que respeita a linguagem natural das infâncias ensina mais, ensina melhor porque ensina com mais significado e consistência, e forma um adulto psiquicamente saudável.

 

Qual a importância do "brincar" durante o processo de ensino-aprendizagem?  | Blog ETAPA Público

 

André Codea: São essenciais. O jogo simbólico e a imaginação ampliam a capacidade de operar com representações simbólicas, típicas do faz-de-conta, que, em qualquer idade, são fundamentais para o desenvolvimento do raciocínio abstrato, da linguagem e da resolução de problemas.

 

Simular cenários ativa redes de simulação interna e integração associativa, facilitando a formação de modelos mentais, previsão de consequências e transferência.

 

Esse treino de manipulação simbólica fortalece circuitos pré-frontais e temporais, favorecendo compreensão conceitual e flexibilidade cognitiva exigidas em leitura, matemática e ciências.

 

Neste sentido, a leitura é essencial em todas as fases do desenvolvimento escolar, especialmente em se tratando dos contos, fábulas e das situações imaginárias, justamente por estimular a criatividade imaginativa.

 

Andrea Serpa: A expressão “ensino lúdico” é interessante, entendo que ela remete a usar a ludicidade para “o ensino de”. Se é a linguagem universal de todo filhote, basta observar: todos os bebês brincam, brincar é inerente a infância, eles só param de brincar quando nós os cerceamos e os “entelamos” (aprisionamos em telas) para “dar sossego”.

 

Bebês saudáveis brincam com as mãos, com os pés, com as sombras, brincam de esconder e achar, de jogar e pegar, de imitar os bichos e os outros.

 

Nosso papel é dar-lhes espaço e interagir com eles nessa brincadeira, ampliando seus repertórios, ensinando as brincadeiras de nossa infância: cama de gato, pula corda, soltar pipa, varetas etc. Oferecendo materiais não estruturados: caixas, rolinhos, panos, fitas, pedacinhos de madeira para que possam exercitar sua imaginação.

 

À medida que crescem podemos ir complexificando os jogos, com desafios maiores e mais regras: aí temos cruzadinhas, forca, dominós, bingos, quiz com perguntas sobre um tema, produzir maquetes, teatralizações, jogos com letras, números e todos os “conteúdos” escolares. Tudo pode virar jogo.

 

André Codea: Brincar não é brincadeira. Mesmo o brincar livre, típico do que ocorre em casa e na comunidade, ajuda a fortalecer vínculos, amplia repertórios culturais locais e cria oportunidades de aprendizagem incidental (linguagem, numeracia cotidiana, funções executivas na rotina).

 

Essa diversidade contextual enriquece traços de memória e facilita a transferência, especialmente para o contexto escolar. Além disso, a consistência entre escola e família reforça hábitos de autorregulação e curiosidade, dando suporte à motivação intrínseca e resiliência frente a desafios.

 

Ensino Lúdico: tudo sobre essa área de atuação| Canal da Educação

Fotos:Reprodução

 

Andrea Serpa: Não precisa nada muito elaborado. Para as crianças tudo é brincadeira: fazer bolo, tirar pó da casa, lavar o banheiro, plantar sementinhas em vasos, ajudar arrumar as compras… até as atividades cotidianas podem ser fonte de muita diversão, feitas com alegria e leveza, enquanto cantamos suas músicas favoritas.

 

Podemos também desenhar, pintar, recortar e colar, fazer massinha, bolinha de sabão, dominó, bingo, pega varetas, boliche, quebra cabeças, jogos de encaixar e empilhar, brinquedos cantados, roda, etc.

 

 

Na verdade, elas gostam de partilhar, de estar junto conosco aprendendo, perguntando, conversando, sendo vistas e ouvidas, o que mais querem de nós é nossa presença.

Fonte:Ig

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