As estradas na Amazônia e o desmatamento
Pesquisa compara três regiões amazônicas e mostra que estradas servem para atividades mais lucrativas e destrutivas, como gado e mineração
Um problema comum na Amazônia é que as estradas servem tanto para levar oportunidades econômicas quanto para a destruição ambiental. Elas são essenciais para o transporte de produtos florestais não madeireiros (PFNMs) para os mercados, como a castanha-do-pará e o açaí, mas também são responsáveis por abrir a floresta ao desmatamento causado pela agricultura, pecuária e mineração.
Então, será que a construção de mais estradas é o caminho para impulsionar a economia florestal sustentável da Amazônia? Nossa nova pesquisa, publicada na PLOS Sustainability and Transformatio n, sugere que é o contrário. Comparando uma década de dados em três regiões limítrofes na Bolívia, no Brasil e no Peru, descobrimos que o segredo para economias prósperas baseadas em PFNMs não é construir mais estradas – e sim melhorar a governança e os investimentos direcionados em infraestrutura e instalações de processamento desses produtos, para lhes dar um valor agregado.
Nosso estudo concentrou-se na região MAP, uma área de três fronteiras: Pando (Bolívia), Acre (Brasil) e Madre de Dios (Peru). Essas regiões compartilham ecossistemas semelhantes e um histórico de extração de PFNMs, mas seguiram caminhos de desenvolvimento diferentes, resultando em atividades econômicas e estruturas sociais e institucionais divergentes.
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Assim, entre 2010 e 2020, acompanhamos a expansão das estradas, o desmatamento e os volumes de produção de castanha-do-pará e açaí. Os resultados revelaram um contraste impressionante:
Em Pando, na Bolívia, a malha rodoviária permaneceu estável, a perda florestal foi mínima (menos de 1%) e a produção de castanha-do-pará e a produção de açaí cresceu vinte vezes depois que as fábricas de processamento locais foram estabelecidas na região.

No Acre, Brasil, a rede rodoviária se expandiu e a cobertura florestal caiu 13%. Enquanto isso, a produção de castanha-do-pará diminuiu significativamente.
Em Madre de Dios, no Peru, as estradas também se expandiram, a cobertura florestal caiu 9% e a produção de castanha-do-pará apresentou tendência de queda.

Fotos: Reprodução
O exemplo da Bolívia demonstra que é possível manter e até mesmo aumentar a produção de PFNMs sem uma onda de construção de novas estradas.
O problema é que as estradas raramente são construídas apenas para os PFNMs. Como nossas entrevistas com as partes interessadas locais revelaram, as novas estradas geralmente servem para atividades mais lucrativas – e destrutivas – como a criação de gado e a mineração de ouro.
Fonte: Portal IG




