Cláudio Castro promete 10 novas operações após população aprovar chacina

Publicado em: 05/11/2025 09:57
Cláudio Castro, governador do Rio de Janeiro. Foto: reprodução

Em meio à repercussão internacional da operação mais letal da história do Brasil, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), confirmou que pretende manter e ampliar as ações policiais no estado. Amparado por pesquisas que apontam aumento de popularidade após a chacina que deixou 121 mortos nos complexos da Penha e do Alemão, Castro afirmou que “tem mais dez operações agendadas” com autorização judicial.

Segundo Lauro Jardim, do Globo, o governador garante que as próximas ofensivas devem seguir o mesmo formato da Operação Contenção, realizada em 28 de outubro, mas sem ocupações permanentes nas comunidades. “Não acredito em ocupação”, disse.Ele adiantou que, já em dezembro, a polícia deve iniciar uma ação de retomada de territórios em Jacarepaguá, zona sudoeste da capital, e que a partir da próxima semana serão realizadas operações diárias na Baixada Fluminense para retirada de barricadas instaladas por facções criminosas.

Paralelamente, Castro enviou um relatório ao governo dos Estados Unidos pedindo que o Comando Vermelho (CV) seja incluído na lista de organizações narcoterroristas, segundo informações da colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo. O documento, intitulado “Análise Estratégica: Inclusão do Comando Vermelho nas listas de sanções e designações dos EUA”, foi encaminhado à embaixada estadunidense no início de 2025.

A medida, se aceita, permitiria a aplicação de sanções econômicas e bloqueios previstos na legislação antiterrorismo dos Estados Unidos.

Fila de corpos após chacina na Penha. Foto: Eduardo Anizelli/Folhapres

O texto também afirma que a designação “facilitaria pedidos de extradição de chefes do CV refugiados em países como Paraguai e Bolívia” e abriria caminho para cooperação com a Interpol, a DEA, o FBI e a ONU no combate ao tráfico internacional e ao comércio ilegal de armas.

Segundo o governo estadual, o status de grupo terrorista também “ampliaria o alcance de sanções para empresas de fachada e aliados econômicos do CV no exterior”.

A proposta, porém, gerou preocupação no governo federal. Integrantes da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) alertam que a classificação poderia atingir bancos e companhias brasileiras, dependendo de como Washington aplicasse as restrições. “Seria uma tremenda irresponsabilidade”, afirmou um assessor presidencial.

Além do pedido a Washington, Castro encaminhou um relatório contraditório de 26 páginas ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), detalhando a Operação Contenção.

O documento informa que 99 pessoas foram presas, sendo 82 em flagrante e 17 por mandado judicial, número inferior ao divulgado pela Secretaria de Segurança, que havia anunciado 113 detenções. Entre os detidos, 10 são menores de idade e 29 são de outros estados.

O relatório apresenta ainda discrepâncias nos dados sobre o material apreendido: foram registradas 122 armas (96 fuzis, 25 pistolas e um revólver), 260 carregadores, 5,6 mil projéteis e 12 artefatos explosivos — números superiores aos informados inicialmente à imprensa.

Chacina: relatório enviado por Castro ao STF tem contradição em número de presos

Presos na megaoperação nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio. Foto: Mauro Pimentel/AFP

O relatório entregue pelo governador do RJ, Cláudio Castro (PL), ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), revela discrepâncias nos dados sobre a megaoperação realizada no último dia 28 de outubro nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro.

Segundo o Globo, o documento oficial informa que 99 pessoas foram presas, sendo 82 em flagrante e 17 por mandado judicial, número inferior ao divulgado pelas autoridades de segurança, que haviam anunciado a prisão de 113 suspeitos logo após a ação. Entre os detidos, dez são menores de idade.

A Operação Contenção, que resultou em 121 mortes segundo o governo estadual, foi apresentada como uma das maiores ofensivas contra o Comando Vermelho (CV) já realizadas no Rio. No entanto, o balanço apresentado oito dias depois gerou questionamentos de órgãos públicos e de entidades civis.

A Defensoria Pública do estado e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ) afirmam que ainda não tiveram acesso à lista completa dos presos.

Em nota, a Polícia Civil reconheceu a divergência nos números e explicou que “alguns presos em flagrante já tinham mandados expedidos contra eles, por isso houve uma duplicação das informações iniciais”.

A OAB-RJ cobrou transparência sobre os dados e anunciou a criação do Observatório de Investigações para acompanhar o caso. “A OAB-RJ adotará as medidas cabíveis para a obtenção de informações precisas e consistentes sobre os fatos”, informou a entidade.

Para Rodrigo Mondego, coordenador da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, a falta de precisão demonstra falhas na condução da operação. “É uma amostra de como o governo não age de forma profissional. A operação contou com centenas de policiais, inclusive policiais civis, que têm o dever de investigar, fazer apuração e registros”, afirmou.

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (RJ). Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Discrepâncias e justificativas

O relatório de 26 páginas enviado ao STF detalha que, entre os 99 detidos, 29 são de outros estados e 17 tinham mandados de prisão em aberto. O objetivo da operação, segundo o documento, era capturar cem procurados. Já entre os 115 mortos identificados, que ainda conta com dois corpos em análise, havia 59 pessoas com mandados de prisão, mas o governo não esclareceu se elas estavam entre os alvos da ação.

Castro justificou o “uso proporcional da força” diante da “ameaça imposta pelo Comando Vermelho”. O texto cita que cerca de 500 integrantes da facção usavam roupas camufladas e “táticas típicas de guerrilha urbana”, com uso de granadas lançadas por drones.

O governo argumenta que as polícias Civil e Militar, que mobilizaram 2,5 mil agentes, enfrentaram criminosos “equipados com armas de uso restrito”.

Segundo o documento, os traficantes que atuam nos complexos da Penha e do Alemão têm entre 800 e mil fuzis. O texto descreve “técnicas de defesa territorial baseadas no conhecimento total do terreno, com rotas de fuga, túneis, minas terrestres, barricadas e pontos de observação”.

O governo afirma que, mesmo com limitações legais e logísticas, “as forças de segurança do estado atuam com planejamento, inteligência e respeito absoluto à lei”.

O relatório destaca o “elevado poder bélico” dos criminosos, mencionando o uso de fuzis automáticos e armas de “altíssima potência”, como os modelos .30 e .50, de uso militar. As polícias, por outro lado, estão limitadas ao uso de fuzis semiautomáticos 7,62 e 5,56, além de pistolas.

Rildo Anjos, consultor de segurança e ex-integrante das Forças Armadas, explica que os fuzis automáticos dão vantagem aos criminosos. “Com um fuzil semiautomático, é tiro a tiro: a cada disparo, é preciso apertar o gatilho. Já o automático dispara continuamente enquanto o dedo está no gatilho”, disse ao Globo.

Segundo o especialista, o fuzil .50 é de alta precisão e pode ser usado por atiradores de elite, enquanto o .30 tem capacidade antiaérea. “Essas armas são proibidas para as forças policiais, o que coloca os criminosos em posição de vantagem”, completou.

O relatório também apresenta números diferentes dos divulgados inicialmente sobre o material apreendido. Segundo o documento entregue ao STF, foram recolhidas 122 armas, contra as 118 anunciadas na coletiva após a operação. A lista inclui 96 fuzis, 25 pistolas e um revólver, além de 260 carregadores, 5,6 mil projéteis e 12 artefatos explosivos.

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