Presidente do Master, Daniel Vorcaro construiu rede de contatos políticos. VEJA
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Banqueiro foi preso nesta segunda-feira pela Polícia Federal
Preso nesta segunda-feira pela Polícia Federal ao tentar deixar o país, Daniel Vorcaro, presidente e controlador do Banco Master, construiu ao longo dos anos uma rede de contatos que ultrapassa o setor financeiro, mantendo relações com a política. As conexões em Brasília eram apontadas por pessoas do mercado como um ativo do empresário, que teve uma trajetória de ascenção rápida no ramo financeiro, em que ele mesmo costuma se dizer como um “outsider”.
Entre os aliados próximos de Vorcaro na capital federal estão o senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente do partido e ex-ministro da Casa Civil no governo Jair Bolsonaro; e o presidente do União Brasil, Antonio Rueda. Ambos foram procurados e não se manifestaram.
As conexões políticas foram, inclusive, um dos fatores apontados no mercado para o interesse do BRB em comprar o Master, que já eram visto com desconfianças por vender títulos com altos rendimentos, acima do praticado pelas demais instituições. O BRB é um banco estatal, controlado pelo governo do Distrito Federal. A vice-governadora, Celina Leão (PP), é do mesmo grupo político de Ciro Nogueira e pré-candidata ao governo local no ano que vem.
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Com a decisão do Banco Central de vetar a venda do Master ao BRB, há cerca de dois meses, Vorcaro buscou outro nome influente na política, o ex-presidente Michel Temer, para tentar preservar ao menos parte da operação, como revelou à epoca a colunista do GLOBO Malu Gaspar.
De acordo com interlocutores do ex-presidente, a aproximação com o dono do Master foi feita pelo governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), que também tem uma relação antiga com Temer.
As conexões políticas de Vorcaro, porém, não viam cor partidária. Além da relação com Ciro Nogueira, um dos principais nomes da oposição ao governo Luiz Inácio Lula da Silva, o banqueiro também manteve contatos com pessoas próximas ao PT.
Entre os nomes da rede de Vorcaro está, por exemplo, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega. De acordo com o colunista Lauro Jardim, o ex-ministro também foi contratado para atuar pela aprovação da compra do Master pelo BRB.

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PRESSÃO SOBRE O BANCO CENTRAL
Após o Banco Central indicar que rejeitaria a operação entre Várcaro, do Master, e o BRB, houve uma forte reação no Congresso. Parlamentares passaram a ameaçar a votação de um projeto que revoga ou reduz a autonomia do Banco Central, numa tentativa de pressionar a instituição a rever a sinalização inicial.
Do mesmo partido de Ciro Nogueira, o deputado Cláudio Cajado (BA-PP) apresentou um requerimento de urgência para acelerar a tramitação de um projeto que reduz a autonomia do Banco Central. Líderes de PP, MDB, União Brasil, PL, PSB e Republicanos aderiram ao movimento.
A iniciativa não avançou: senadores da base e da oposição sinalizaram que não pretendem votar a mudança e defenderam manter a autonomia atual do BC. O projeto mais amplo sobre o tema — apresentado em 2021 — continua parado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.
O atual ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, por sua vez, fez parte do comitê consultivo estratégico do banco — antes de fazer parte do governo Lula. Mantega foi procurado, mas não se manifestou.
Já o Ministério da Justiça informou que Lewandowski, depois de deixar o Supremo Tribunal Federal (STF), em abril de 2023, retornou às atividades de advocacia. Além de vários outros clientes, prestava serviços de consultoria jurídica ao Banco Master.
“Ao ser convidado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para assumir o Ministério da Justiça de Segurança Pública, em janeiro de 2024, Lewandowski retirou-se de seu escritório de advocacia e suspendeu o seu registro na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)”, diz uma nota produzida pela pasta.
Em outubro do ano passado, em entrevista à revista “Piauí”, o banqueiro disse que seus contatos remodelaram sua própria forma de ver a política. Segundo ele, tornou-se “menos preconceituosa”.
Fonte: O Globo




