Por que buscamos intencionalmente o medo em filmes de terror, se essa é uma emoção evolutiva para nos afastar do perigo? Este “paradoxo do terror” é um antigo enigma, observado desde Aristóteles. “É estranho como somos condicionados a evitar coisas perigosas, e ainda assim ficamos magnetizados por elas”, explica o pesquisador Mark Miller, da Universidade Monash em matéria da BBC News.

Nos últimos dez anos, a psicologia começou a solucionar esse mistério. O psicólogo Coltan Scrivner, autor de um livro sobre o tema, afirma que as histórias de terror interagem com processos cerebrais que nos ajudam a lidar com incertezas. “É uma adaptação para que qualquer animal, incluindo os seres humanos, compreenda e aprenda sobre os perigos”, afirma Scrivner.

Em um estudo com 400 pessoas, Scrivner identificou três perfis principais de consumidores de terror: os “dependentes de adrenalina”, que buscam a sensação física; os “apavorados”, que gostam da superação do medo; e os “negociadores sombrios”, que usam as histórias para enfrentar a vida real. A pesquisa mostrou que fãs do gênero tiveram maior resiliência durante a pandemia de Covid-19.

Os especialistas sugerem que o cérebro usa essas narrativas como “simulações refinadas” para aprimorar sua capacidade de prever e gerenciar ameaças futuras. Scrivner vai além e propõe que o terror poderia ser usado terapeuticamente. “Permite que as pessoas vivenciem o medo em um ambiente seguro, praticando a reavaliação cognitiva”, explica. Para iniciantes, ele recomenda começar com livros, onde se tem mais controle sobre a imaginação.