Motor de popa elétrico criado por chineses será produzido em Manaus

Publicado em: 25/11/2025 16:13
A tecnologia é adaptada aos rios amazônicos (Foto: Thiago Gonçalves)
A tecnologia é adaptada aos rios amazônicos (Foto: Thiago Gonçalves/AM ATUAL)
Por Thiago Gonçalves, do ATUAL

MANAUS – Motores de popa elétricos para pequenas embarcações serão fabricados no Polo Industrial de Manaus a partir de 2026. O investimento é da Livoltek Brasil, fabricante de equipamentos elétricos. A empresa aposta na demanda pela nova tecnologia que proporciona redução de gastos com combustível.

Wilton Moura, funcionário do grupo Hexing, dono da Livoltek, explica que os equipamentos foram desenvolvidos pelos chineses, mas passaram por adaptações para funcionar nos rios amazônicos. “Foi desenvolvido na China pensando aqui também na nossa bacia hidrográfica da região amazônica, na densidade da nossa água, que é um pouco mais pesada que, por exemplo, a água do mar”.

Ribeirinhos e pescadores no Amazonas receberam os motores para testá-los durante seis meses. “Eles [chineses] vieram para cá [Manaus]. Nós estamos com engenheiros de produto aqui, fazendo desenvolvimento e melhorando o produto, pensando na nossa realidade”, disse Wilton Moura.

Segundo ele, a principal diferença está no tipo de energia. “Nós estamos falando aí de uma diferença bem substancial que é o motor a combustão e o motor elétrico. Um comparativo bem interessante são os carros – a combustão e elétrico. Aqui, especialmente, nós temos aí um benefício a mais. Por quê? Nós estamos navegando no rio”.

Zero poluição e ruído

Wilton Moura afirma que os efeitos ambientais são significativos. “Não vai ter queima de combustível fóssil, não vai ter o problema de jogar óleo na água poluindo os rios e evitando a mortandade de peixe”, disse. “Apesar dos barcos pequenos contribuírem pouco, mas são muitos barquinhos pequenos. Então, se a gente puder fazer essa substituição pelo motor elétrico, nós vamos ter aí um ganho do meio ambiente infinito”.

Outro diferencial é o silêncio. “Ruído zero, o que é muito legal também porque incomoda muito o barulho para quem está pilotando o barco.”

Potência

O motor elétrico tem capacidade comparável aos modelos a combustão. “A potência vai depender, obviamente, do tamanho do motor. Nós podemos fazer aqui um comparativo. Esse motorzinho elétrico aqui corresponde a um motor entre 12 a 15 HP se fosse uma combustão”, explica Wilton.

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O motor de popa é formado por um sistema em que os comandos são acoplados à peça central (Foto: Murilo Rodrigues/AM ATUAL)

A autonomia varia conforme o uso. “A autonomia, a gente vai mensurar com uma bateria, aproximadamente, de quatro horas. Vai variar em que? Peso que vai estar sendo colocado na embarcação, se ela vai estar subindo ou descendo o rio. Então, tudo isso vai impactar na autonomia”, disse o executivo

É possível ampliar a autonomia. “Porém, pode ligar mais de uma bateria no motor. Então, assim, com uma bateria, você tem a autonomia média de quatro horas. Se você pôr duas, você dobrou essa bateria, essa autonomia”, afirma Wilton.

Recarga com energia solar

Para quem mora em áreas remotas, a solução para carregar a bateria é a energia solar. “Você imagina que o ribeirinho tem realmente uma dificuldade de deslocamento para obter combustível. Ele não tem posto lá na comunidade e você pode fazer uma base aí com 4,5 painéis no sistema off-grid onde ele vai poder carregar a bateria. Então ele não vai ficar mais dependendo de ir ao posto de combustível ou ter que ficar carregando o combustível para a casa dele, o que também gera aí perigo para os familiares”, explica.

Conforme o funcionário do grupo Hexing , outra vantagem do equipamento é o custo zero de com combustível. “Isso também é personalizado. Em cada embarcação a pessoa usa um tamanho de tanque diferente. A pessoa tem um que tem um tanquezinho de 10 litros, tem um tanque dele de 15 litros, tem um de 20 litros e ele vai simplesmente zerar esse gasto com combustível utilizando os motores elétricos”, explica Wilton.

Ele detalha: “Então, a economia está realmente comparada ao gasto. Ou seja, se gasta hoje 10 mil reais por ano, ele não gastará mais nada. Veja bem: zero em combustível. Obviamente, vai depender de como ele vai fazer a carga. Se ele tem um sistema fotovoltaico, aí vai estar zerado. Se ele vai estar ligado em uma rede on grid, hoje o kilowatt está custando, se eu não me engano, 80 centavos numa ligação normal. E aí você tem aí, vai gastar 3, 4 reais para fazer a carga da bateria.”

Kit com bateria, motor e central de comando

O motor de popa elétrico é um sistema com três componentes principais. “A bateria tem uma aparência mesmo de bateria de carro, só que ela é um pouco maior. Há uma central em que você faz a aceleração, você vai jogar para frente e para trás, onde você vai fazer também a direção. Ela é acoplada na frente do motor. Ela é um encaixe na frente do motor, obviamente, com os fios, tudo direitinho”, descreve.

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Motores elétricos são para pequenas embarcações (Foto: Murilo Rodrigues/AM ATUAL)

O motor pode ser instalado de diferentes formas. “Ele pode ser utilizado tanto para a rabeta, como ela também vai poder ser utilizado fazendo a conexão dela na direção. Também vai poder estar na frente do barquinho com a direção e o motor de interligado”, explica Wilton.

A instalação em canoas de madeira também pode ser simples. “A adaptação é praticamente a mesma de um motor a combustão. Vai colocar a tábua e aqui vai fazer a presilha. Então a adaptação do motor a combustão e do motor elétrico é praticamente igual”.

Resistência ao ambiente amazônico

O equipamento suporta as condições dos rios da região. “Funciona parecido com o motor a combustão, porém com muito mais eficiência”, garante Wilton. “Nós estamos aí conversando com o pessoal do desenvolvimento para ver se a gente vai diminuir um pouco o calado porque a gente tem a época de vazante. E estamos pedindo aos nossos engenheiros de produto para desenvolver a hélice de rabeta também”.

O pescador artesanal Vilmar Pereira da Silva, de Careiro da Várzea, relatou sobre as características da rabeta tradicional. “Eu tenho rabeta. Na piracema a gente não gasta muito, porque é tudo aqui perto. Mas agora a água está subindo. Aí vamos pescar outro tipo de peixe. Por semana, nós vamos gastar uns 40, 50 litros de gasolina. Dá quase 400 reais. Por mês, vai lá em cima”, disse.

Sobre o motor elétrico, ele disse que a diferença seria grande. “Aí com um equipamento desse, motor elétrico, a diferença vai ser legal. Porque ninguém vai gastar com gasolina, com um material desse aí. Você fica até mais animado pra trabalhar.”

Experimento

A Livoltek, em parceria com o Instituto Somar, entregou 20 motores elétricos para pescadores artesanais de Careiro da Várzea na última sexta-feira (14). O Projeto Pixundé vai beneficiar 60 famílias.

O gerente da fábrica em Manaus, Márcio Sousa, explicou que o critério de escolha priorizou quem mais precisa. “São justamente pescadores que necessitam da pesca para sobreviver”.

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Na água, o motor é silencioso e tem autonomia de 4 horas, dependendo do tipo de uso (Foto: Murilo Rodrigues/AMATUAL)

“Projeto revolucionário”

O secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação, Serafim Corrêa, avalia a iniciativa como revolucionária. “Esse projeto é revolucionário, pois ele vai libertar o homem do interior do combustível fóssil ao qual nem sempre tem acesso, além do que ele é caro. Só que com um motor elétrico de rabeta, ele vai ter a sua autonomia, vai ter a sua independência, além de ter um ganho melhor”, avalia.

Serafim disse que a empresa terá apoio estatal para a produção em Manaus. “A empresa vai apresentar o projeto tanto na Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus) quanto na Sedecti. Os projetos serão aprovados e, por isso, eles vão ter direito aos incentivos fiscais. O preço vai diminuir cada vez mais, principalmente quando atingir a produção em alta escala. Isso é tudo que nós queremos”, projetou. “Isso é uma mudança de paradigma. Portanto, tudo de bom. Vamos em frente”.

A empresa ainda não fala em valores de mercado para o motor de popa, mas o ATUAL apurou que o preço do equipamento pode variar entre R$ 22 mil e R$ 25 mil.

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