Humilhação e descaso no João Paulo II: pacientes dividem enfermarias com homens, mulheres e até presos com tornozeleira
Superlotação expõe idosos e mulheres à falta de privacidade e segurança no maior hospital público de Rondônia, em desrespeito a normas básicas do SUS e da dignidade humana

Por Felipe Corona – Da equipe TVC Amazônia
No Hospital e Pronto Socorro João Paulo II, em Porto Velho, o maior da rede pública estadual, a dor dos pacientes não vem apenas das doenças. Vem também da humilhação.
Em meio à superlotação crônica, idosos, mulheres, homens e até pessoas com tornozeleira eletrônica estão sendo mantidos nas mesmas enfermarias: um retrato do colapso estrutural e da violação de direitos dentro da principal unidade de emergência de Rondônia.
“Minha mãe está internada há uma semana. É idosa e está em uma ala onde ficam misturados homens, mulheres e até pessoas com tornozeleira. Dão banho nos pacientes na frente de todos, inclusive idosos e pessoas acamadas”, denuncia a filha de uma das pacientes. Ela conta que a situação se repete em diversas alas do hospital: “Está todo mundo misturado. Isso fere a segurança da mulher e o direito à privacidade. Precisamos de alas separadas, é uma questão de respeito e dignidade”.
O cenário é descrito como generalizado. A Ala 3 – Enfermaria 17 é apenas um exemplo do que acontece em todo o hospital, onde a superlotação obriga a improvisação de leitos e a mistura de perfis de pacientes completamente distintos. Há idosos acamados dividindo espaço com homens jovens e até com pessoas sob monitoramento judicial.
Apesar do caos, familiares reconhecem o esforço dos profissionais da saúde. “Não temos nada a denunciar sobre técnicos e médicos. Eles fazem o que podem, com amor e dedicação. O problema é estrutural, é de gestão e de política pública”, lamenta outra familiar.
A prática, porém, é ilegal e fere normas sanitárias e princípios básicos de dignidade humana. A Lei nº 8.080/1990, que organiza o Sistema Único de Saúde (SUS), e o Código de Ética Médica determinam que a internação hospitalar deve garantir privacidade, segurança e respeito à individualidade dos pacientes — o que inclui a separação de enfermarias por gênero.
Misturar homens e mulheres em um mesmo espaço de internação, especialmente fora de áreas críticas como UTIs ou salas de emergência, configura violação de protocolos de segurança e direitos humanos.

A exposição de mulheres e idosos em situações de vulnerabilidade, inclusive durante banhos e cuidados íntimos, revela a precarização das condições hospitalares e a omissão do poder público diante de um problema conhecido há anos.
“O governo precisa olhar para isso. É uma política pública que precisa ser refeita. Sei que não é exclusividade do João Paulo II, mas acontece em outros hospitais de Rondônia. É uma questão de dignidade humana”, conclui a denunciante.
O caso do João Paulo II é mais um reflexo do abandono do sistema de saúde estadual. Quando a linha entre urgência e indignidade se apaga, o hospital que deveria ser refúgio da dor se transforma em vitrine da negligência.

